Artwork

Conteúdo fornecido por Rádio Jornal do Centro and Joaquim Alexandre Rodrigues. Todo o conteúdo do podcast, incluindo episódios, gráficos e descrições de podcast, é carregado e fornecido diretamente por Rádio Jornal do Centro and Joaquim Alexandre Rodrigues ou por seu parceiro de plataforma de podcast. Se você acredita que alguém está usando seu trabalho protegido por direitos autorais sem sua permissão, siga o processo descrito aqui https://pt.player.fm/legal.
Player FM - Aplicativo de podcast
Fique off-line com o app Player FM !

Ep 56 | As três repúblicas portuguesas: 16 anos + 48 anos + (50-3) anos

14:23
 
Compartilhar
 

Manage episode 294743128 series 2883235
Conteúdo fornecido por Rádio Jornal do Centro and Joaquim Alexandre Rodrigues. Todo o conteúdo do podcast, incluindo episódios, gráficos e descrições de podcast, é carregado e fornecido diretamente por Rádio Jornal do Centro and Joaquim Alexandre Rodrigues ou por seu parceiro de plataforma de podcast. Se você acredita que alguém está usando seu trabalho protegido por direitos autorais sem sua permissão, siga o processo descrito aqui https://pt.player.fm/legal.

Os militares deixaram que a primeira república durasse dezasseis anos e depois acabaram com ela, deixaram que a segunda república se arrastasse por quarenta e oito longos anos e depois, num “dia inicial inteiro e limpo”, acabaram com ela.
Foram também os militares que fizeram o parto da terceira república. Que entretanto cresceu e já é bem adulta. Tem quarenta e sete anos. Está quase a ultrapassar, em duração, os anos salazarosos. O actual regime está para durar. Os tempos são outros. Os militares agora já não fazem golpes de estado.
A terceira república prepara-se para festejar o seu meio século. E sem olhar a despesas. Já lá vamos a esse boyismo. Antes disso, façamos um scanning rápido, quase esquemático, pelos anos já vividos da nossa democracia.

1974 a 1986 — o tempo dos fundadores

Neste período turbulento, os fundadores do regime — MFA/Eanes, Soares, Cunhal, Sá Carneiro, Freitas — fizeram a descolonização, a desmilitarização do poder e prepararam a entrada na “Europa”.
Neste período, precisámos de pedir dinheiro duas vezes ao FMI:
— em 1977, empréstimo no valor de 1% do PIB, por causa do retorno das colónias; este resgate foi um sucesso, permitiu integrar rapidamente mais de meio milhão de concidadãos vindos de África;
— em 1983, 2,8% do PIB; desta vez foi traumático, houve muita fome e os rendimentos foram engolidos por inflações elevadíssimas; em 1983 o poder de compra caiu 7% e, no ano seguinte, 12,5%.

1986 a 2001 — o tempo dos sucessores

Numa boa parte desta década e meia tranquila, o pai do regime, Mário Soares, pontificou em Belém, mas foram os sucessores — Cavaco e Guterres — que trataram do essencial: infraestruturação do país, consolidação do poder local, aprofundamento do estado social, preparação para a entrada na moeda única.
Não houve nenhuma bancarrota durante este período, o que não admira se nos lembrarmos das receitas das privatizações e do fluxo dos fundos comunitários.

2002 a 2021 — o tempo dos funcionários

Nestas duas décadas, passámos a ser governados por líderes sem vida fora da política. Durão, Santana, Sócrates, Passos e Costa têm óbvias diferenças entre si, mas todos eles fizeram da política a sua profissão.
Nestes anos do pântano, tivemos aumentos de impostos, corrupção descarada e impune, parasitação partidária e degradação dos serviços do estado, centralismo, abandono do interior.
Entre 2011 e 2014, a bancarrota socrática obrigou a um resgate no valor de 45,5% do PIB (!), causando desemprego, emigração e desesperança.
As últimas gerações no poder pouco mais têm sido do que okupas do futuro. A dívida pública, que os nossos filhos e os nossos netos vão ter de pagar, não pára de aumentar. No virar do milénio, era de 78 mil milhões de euros (57,4% do PIB), agora mais do que triplicou, já ultrapassa os 270 mil milhões de euros (133,7%).
Levamos duas décadas seguidas de estagnação. Os países de leste — que entraram na UE nos alargamentos de 2004, 2007 e 2010 — ou já nos ultrapassaram ou preparam-se para o fazer.

Notas finais:
— as designações “tempo dos fundadores, dos sucessores, dos funcionários” são de Joaquim Aguiar, as três divisões temporais são minhas;
— a comemoração dos 40 anos do 25 de Abril custou ao todo 250 mil euros; agora, esse valor não chega sequer para pagar as mordomias de Pedro Adão e Silva, o comissário executivo para a comemoração dos 50 anos;
— o costume: fora da capital estado mínimo, na capital estado máximo; a corte centralista, tanto a política como a mediática, acha que assim é que é natural, assim é que está bem; é por isso que ninguém se deve admirar por a melhor e mais completa biografia daquele videirinho ter sido feita pelo Porto Canal e não por nenhum media alfacinha.

  continue reading

201 episódios

Artwork
iconCompartilhar
 
Manage episode 294743128 series 2883235
Conteúdo fornecido por Rádio Jornal do Centro and Joaquim Alexandre Rodrigues. Todo o conteúdo do podcast, incluindo episódios, gráficos e descrições de podcast, é carregado e fornecido diretamente por Rádio Jornal do Centro and Joaquim Alexandre Rodrigues ou por seu parceiro de plataforma de podcast. Se você acredita que alguém está usando seu trabalho protegido por direitos autorais sem sua permissão, siga o processo descrito aqui https://pt.player.fm/legal.

Os militares deixaram que a primeira república durasse dezasseis anos e depois acabaram com ela, deixaram que a segunda república se arrastasse por quarenta e oito longos anos e depois, num “dia inicial inteiro e limpo”, acabaram com ela.
Foram também os militares que fizeram o parto da terceira república. Que entretanto cresceu e já é bem adulta. Tem quarenta e sete anos. Está quase a ultrapassar, em duração, os anos salazarosos. O actual regime está para durar. Os tempos são outros. Os militares agora já não fazem golpes de estado.
A terceira república prepara-se para festejar o seu meio século. E sem olhar a despesas. Já lá vamos a esse boyismo. Antes disso, façamos um scanning rápido, quase esquemático, pelos anos já vividos da nossa democracia.

1974 a 1986 — o tempo dos fundadores

Neste período turbulento, os fundadores do regime — MFA/Eanes, Soares, Cunhal, Sá Carneiro, Freitas — fizeram a descolonização, a desmilitarização do poder e prepararam a entrada na “Europa”.
Neste período, precisámos de pedir dinheiro duas vezes ao FMI:
— em 1977, empréstimo no valor de 1% do PIB, por causa do retorno das colónias; este resgate foi um sucesso, permitiu integrar rapidamente mais de meio milhão de concidadãos vindos de África;
— em 1983, 2,8% do PIB; desta vez foi traumático, houve muita fome e os rendimentos foram engolidos por inflações elevadíssimas; em 1983 o poder de compra caiu 7% e, no ano seguinte, 12,5%.

1986 a 2001 — o tempo dos sucessores

Numa boa parte desta década e meia tranquila, o pai do regime, Mário Soares, pontificou em Belém, mas foram os sucessores — Cavaco e Guterres — que trataram do essencial: infraestruturação do país, consolidação do poder local, aprofundamento do estado social, preparação para a entrada na moeda única.
Não houve nenhuma bancarrota durante este período, o que não admira se nos lembrarmos das receitas das privatizações e do fluxo dos fundos comunitários.

2002 a 2021 — o tempo dos funcionários

Nestas duas décadas, passámos a ser governados por líderes sem vida fora da política. Durão, Santana, Sócrates, Passos e Costa têm óbvias diferenças entre si, mas todos eles fizeram da política a sua profissão.
Nestes anos do pântano, tivemos aumentos de impostos, corrupção descarada e impune, parasitação partidária e degradação dos serviços do estado, centralismo, abandono do interior.
Entre 2011 e 2014, a bancarrota socrática obrigou a um resgate no valor de 45,5% do PIB (!), causando desemprego, emigração e desesperança.
As últimas gerações no poder pouco mais têm sido do que okupas do futuro. A dívida pública, que os nossos filhos e os nossos netos vão ter de pagar, não pára de aumentar. No virar do milénio, era de 78 mil milhões de euros (57,4% do PIB), agora mais do que triplicou, já ultrapassa os 270 mil milhões de euros (133,7%).
Levamos duas décadas seguidas de estagnação. Os países de leste — que entraram na UE nos alargamentos de 2004, 2007 e 2010 — ou já nos ultrapassaram ou preparam-se para o fazer.

Notas finais:
— as designações “tempo dos fundadores, dos sucessores, dos funcionários” são de Joaquim Aguiar, as três divisões temporais são minhas;
— a comemoração dos 40 anos do 25 de Abril custou ao todo 250 mil euros; agora, esse valor não chega sequer para pagar as mordomias de Pedro Adão e Silva, o comissário executivo para a comemoração dos 50 anos;
— o costume: fora da capital estado mínimo, na capital estado máximo; a corte centralista, tanto a política como a mediática, acha que assim é que é natural, assim é que está bem; é por isso que ninguém se deve admirar por a melhor e mais completa biografia daquele videirinho ter sido feita pelo Porto Canal e não por nenhum media alfacinha.

  continue reading

201 episódios

Todos os episódios

×
 
Loading …

Bem vindo ao Player FM!

O Player FM procura na web por podcasts de alta qualidade para você curtir agora mesmo. É o melhor app de podcast e funciona no Android, iPhone e web. Inscreva-se para sincronizar as assinaturas entre os dispositivos.

 

Guia rápido de referências