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À Deriva #38 – 1990

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“1990”

Por Thiago Ibrahim

_______________________________________________

Era 1990. Eu nunca imaginei ser capaz de construir algo tão grandioso, de idealizar e desenvolver um projeto tão complexo. Agora, finalmente, estava chegando ao final da construção. Só eu sei o trabalho que deu, pois gastei um bom tempo e bastante dedicação para concluir algo que sempre tive em mente. Me sentia um privilegiado, porque nem todo mundo tinha condições e talento para fazer um daqueles. Agora eu era dono do meu próprio castelo. Aos meus olhos ele era lindo, era a sede de um reino que cresceria cada vez mais. O tempo passava e realmente o reino cresceu. Até o dia que ele chegou.

Não me lembro muito bem como nos conhecemos. Só sei que ele era intrigante, tinha um jeito estranho de ver o mundo. Sempre que conversava com ele aprendia algo novo sobre mim mesmo. Começamos a conversar constantemente. No início os encontros eram semanais. Depois nos encontrávamos diariamente e com o tempo, passamos a nos encontrar várias vezes ao dia. Era engraçado – e eu não sabia explicar porque -, mas cada encontro era diferente do outro.

Conforme a intimidade ia crescendo, eu confiava mais e mais nele. Gostava muito de ouvi-lo e parecia que ele sentia o mesmo. Durante as nossas conversas, nós dois sempre tivemos muito o que falar, tanto eu de mim mesmo quanto ele de si. O curioso é que ele falava de si mesmo de um jeito que não parecia pedante, diferente de todas as outras pessoas com quem eu havia me relacionado. A verdade é que eu o amava cada vez mais, só não queria admitir. Acho que era contra tudo o que havia aprendido.

A medida em que nos relacionávamos, eu ficava mais parecido com ele, tamanha era a influência que ele exercia sobre mim. Parecia que eu tinha nascido para ele. Até pescar ele me ensinou (coisa que eu nunca tinha feito antes na vida). Aos poucos fui aprendendo o que ele gostava. E se tem algo que ele gostava muito era de comer e beber, vinho de preferência. Toda refeição era uma oportunidade de me ensinar coisas que até então eu não tinha pensado e também de me ouvir, com toda a atenção que lhe era peculiar. E foi uma dessas ocasiões que ele escolheu para mudar a minha vida para sempre.

Até hoje eu não sei explicar o porquê, mas escolhi um restaurante no litoral para encontrar com ele. Era uma noite bem fria e eu estava tão ansioso que saí de casa bem cedo, pois queria chegar antes para pegar uma mesa próxima da lareira. Mas, para a minha surpresa, ao chegar ao restaurante, lá estava ele, sentado em outra mesa com pessoas que pareciam conhecê-lo há muito tempo.

-Com licença. Ele disse aos seus conhecidos.

-Claro. Eles disseram.

Ele veio em minha direção.

-Boa noite. Que bom que você veio.

-Boa noite, eu respondi.

Ele colocou a mão no meu ombro e me conduziu. Para a minha surpresa, ele havia escolhido uma mesa bem próxima à lareira (exatamente como eu havia planejado) e disse:

-Escolhi uma mesa bem próxima da lareira porque imaginei que você quisesse se aquecer.

Naquela noite comecei a contar-lhe sobre a minha vida. Começando pela minha infância, ia lhe falando meus maiores segredos e ele parecia ouvir ainda mais interessado do que das outras vezes. Eu tinha a sensação de que podia contar-lhe de tudo, mas o que me intrigava é que seu olhar para mim nunca era de julgamento. Eu lhe contava meus maiores segredos e ele me ouvia atento. Algumas vezes me fazia rir ou refletir por horas com as intervenções que fazia. Confesso que não vi a noite passar, e quando me dei por mim o dia estava clareando.

-Que tal a gente dar uma volta? Ele me perguntou.

-Vamos.

Eu estava empolgado. Andamos pela praia, mas dessa vez eu fiquei em silêncio, pois quem falava era ele.Contou-me histórias bem antigas, de pessoas que ele parecia ter conhecido pessoalmente. Foi aí, enquanto caminhávamos, que me lembrei de algo sobre o que ainda não havia lhe contado. Esperei que ele terminasse de contar a história de alguém que um dia tinha lutado com ele por uma noite inteira e então perguntei se ele gostaria de conhecer algo que eu ainda não havia lhe mostrado.

-Claro que sim. Foi o que ele disse.

-Então venha por aqui.

Ele me seguiu. Caminhamos pela areia e chegamos a uma área reservada da praia. Uma área bem conhecida por mim, quase um refúgio. À medida em que nos aproximávamos se revelava uma construção. Detalhes que eu conhecia muito bem. Era aquele meu castelo sobre o qual eu dizia lá no início. A sede do meu reino, meu cantinho particular.

-Então, esse é o meu…

Ele nem sequer esperou eu terminar de falar, e para a minha surpresa, ergueu o pé direito e o pisoteou, destruindo-o por completo. Só então me dei conta de que aquele meu castelo era de areia. Quando ergui de novo a cabeça e o olhei para o meu amigo, ele estava apontando para uma casa na colina, construída sobre a rocha.

______________________________________________

Texto “1990: Thiago Ibrahim
Edição e masterização: Chico Gabriel
Vitrine: Chico Gabriel
ZIP: para baixar o podcast zipado, clique aqui.

Duração: 00h08min20s

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Por Thiago Ibrahim

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Era 1990. Eu nunca imaginei ser capaz de construir algo tão grandioso, de idealizar e desenvolver um projeto tão complexo. Agora, finalmente, estava chegando ao final da construção. Só eu sei o trabalho que deu, pois gastei um bom tempo e bastante dedicação para concluir algo que sempre tive em mente. Me sentia um privilegiado, porque nem todo mundo tinha condições e talento para fazer um daqueles. Agora eu era dono do meu próprio castelo. Aos meus olhos ele era lindo, era a sede de um reino que cresceria cada vez mais. O tempo passava e realmente o reino cresceu. Até o dia que ele chegou.

Não me lembro muito bem como nos conhecemos. Só sei que ele era intrigante, tinha um jeito estranho de ver o mundo. Sempre que conversava com ele aprendia algo novo sobre mim mesmo. Começamos a conversar constantemente. No início os encontros eram semanais. Depois nos encontrávamos diariamente e com o tempo, passamos a nos encontrar várias vezes ao dia. Era engraçado – e eu não sabia explicar porque -, mas cada encontro era diferente do outro.

Conforme a intimidade ia crescendo, eu confiava mais e mais nele. Gostava muito de ouvi-lo e parecia que ele sentia o mesmo. Durante as nossas conversas, nós dois sempre tivemos muito o que falar, tanto eu de mim mesmo quanto ele de si. O curioso é que ele falava de si mesmo de um jeito que não parecia pedante, diferente de todas as outras pessoas com quem eu havia me relacionado. A verdade é que eu o amava cada vez mais, só não queria admitir. Acho que era contra tudo o que havia aprendido.

A medida em que nos relacionávamos, eu ficava mais parecido com ele, tamanha era a influência que ele exercia sobre mim. Parecia que eu tinha nascido para ele. Até pescar ele me ensinou (coisa que eu nunca tinha feito antes na vida). Aos poucos fui aprendendo o que ele gostava. E se tem algo que ele gostava muito era de comer e beber, vinho de preferência. Toda refeição era uma oportunidade de me ensinar coisas que até então eu não tinha pensado e também de me ouvir, com toda a atenção que lhe era peculiar. E foi uma dessas ocasiões que ele escolheu para mudar a minha vida para sempre.

Até hoje eu não sei explicar o porquê, mas escolhi um restaurante no litoral para encontrar com ele. Era uma noite bem fria e eu estava tão ansioso que saí de casa bem cedo, pois queria chegar antes para pegar uma mesa próxima da lareira. Mas, para a minha surpresa, ao chegar ao restaurante, lá estava ele, sentado em outra mesa com pessoas que pareciam conhecê-lo há muito tempo.

-Com licença. Ele disse aos seus conhecidos.

-Claro. Eles disseram.

Ele veio em minha direção.

-Boa noite. Que bom que você veio.

-Boa noite, eu respondi.

Ele colocou a mão no meu ombro e me conduziu. Para a minha surpresa, ele havia escolhido uma mesa bem próxima à lareira (exatamente como eu havia planejado) e disse:

-Escolhi uma mesa bem próxima da lareira porque imaginei que você quisesse se aquecer.

Naquela noite comecei a contar-lhe sobre a minha vida. Começando pela minha infância, ia lhe falando meus maiores segredos e ele parecia ouvir ainda mais interessado do que das outras vezes. Eu tinha a sensação de que podia contar-lhe de tudo, mas o que me intrigava é que seu olhar para mim nunca era de julgamento. Eu lhe contava meus maiores segredos e ele me ouvia atento. Algumas vezes me fazia rir ou refletir por horas com as intervenções que fazia. Confesso que não vi a noite passar, e quando me dei por mim o dia estava clareando.

-Que tal a gente dar uma volta? Ele me perguntou.

-Vamos.

Eu estava empolgado. Andamos pela praia, mas dessa vez eu fiquei em silêncio, pois quem falava era ele.Contou-me histórias bem antigas, de pessoas que ele parecia ter conhecido pessoalmente. Foi aí, enquanto caminhávamos, que me lembrei de algo sobre o que ainda não havia lhe contado. Esperei que ele terminasse de contar a história de alguém que um dia tinha lutado com ele por uma noite inteira e então perguntei se ele gostaria de conhecer algo que eu ainda não havia lhe mostrado.

-Claro que sim. Foi o que ele disse.

-Então venha por aqui.

Ele me seguiu. Caminhamos pela areia e chegamos a uma área reservada da praia. Uma área bem conhecida por mim, quase um refúgio. À medida em que nos aproximávamos se revelava uma construção. Detalhes que eu conhecia muito bem. Era aquele meu castelo sobre o qual eu dizia lá no início. A sede do meu reino, meu cantinho particular.

-Então, esse é o meu…

Ele nem sequer esperou eu terminar de falar, e para a minha surpresa, ergueu o pé direito e o pisoteou, destruindo-o por completo. Só então me dei conta de que aquele meu castelo era de areia. Quando ergui de novo a cabeça e o olhei para o meu amigo, ele estava apontando para uma casa na colina, construída sobre a rocha.

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