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#123 Lívia Franco - Que nova Ordem Mundial podemos esperar no pós guerra da Ucrânia?

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Lívia Franco é professora e investigadora no Instituto de Estudos Políticos da Universidade Católica Portuguesa (IEPUCP) e Investigadora Associada do think-tank pan-europeu European Center for Foreign Relations (ECFR). Leciona e investiga nos domínios da Política Internacional Contemporânea, Política Externa Portuguesa, Política Europeia e Questões de Democracia e Segurança e Defesa. Doutorou-se em Ciência Política pelo IEP-UCP e é Mestre em Relações Internacionais pela Universidade de Lovaina. Lívia Franco é ainda comentadora residente na SIC Notícias e comentadora habitual noutros media sobre Assuntos Internacionais e de Política Europeia.

-> Apoie este projecto e faça parte da comunidade de mecenas do 45 Graus em: 45graus.parafuso.net/apoiar

-> Livro «Política a 45 Graus».

_______________

Índice da conversa:

(06:09) Início da conversa: a guerra resulta de um erro de cálculo de Putin? | Ensaio de Putin sobre a Ucrânia. Os filósofos que influenciam Putin. | Motivações securitárias vs identitárias. Teoria realista das relações internacionais. | Discurso de Putin no “Dia da Vitória”.

(28:46) Que importância têm as populações russófonas da Ucrânia? Livro «O Choque das Civilizações e a Mudança na Ordem Mundial», de Samuel P. Huntington

(35:15) Cenários para o fim da guerra, compromissos possíveis. OSCE.

(50:40) Cenários para a Ordem Mundial pós-guerra. Livro «O fim da História», de Francis Fukuyama. | O efeito da pandemia

(56:46) É hoje mais provável uma invasão de Taiwan pela China?

Impacto no “resto do Mundo”. | Impacto na Europa: inquérito aos cidadãos europeus. | Conseguirá a China unir um polo por si dominado?

(1:06:21) É legítimo o alargamento da NATO à Finlândia e Suécia?

(1:09:44) Livro recomendado: Putin's World: Russia Against the West and with the Rest Hardcover, by Angela Stent

_______________

Desde a invasão da Ucrânia, a 24 de fevereiro, que a guerra tem dominado a discussão no espaço público. Tenho hesitado, porém, em trazer um tema tão volátil ao 45 Graus, tendo em conta um dos princípios do podcast: que cada episódio seja o mais perene possível -- isto é, que perca pouco em ser ouvido 1, 2 ou 5 anos depois de ter sido gravado.

E, no entanto, este é, de facto, um tema incontornável -- e um evento que, qualquer que venha ser o desfecho, veio alterar a Ordem Mundial de maneira irreversível.

E imprevisível, também? No início da guerra -- que apanhou (quase) todos de surpresa -- provavelmente sim, mas agora que passam já 3 meses do início da invasão, numa altura em que as posições da Rússia, da Ucrânia e o Ocidente e, igualmente importante, o resto do mundo começam já a ficar claras, achei que era uma boa altura para finalmente trazer o tema ao podcast.

Nesta conversa com Lívia Franco, abordámos três aspectos essenciais para compreender a guerra e as suas implicações geopolíticas:

Primeiro, as motivações da Rússia para a invasão.

Eu sei que este é um tema pisado e repisado, mas é mais complexo do que transparece da análise muitas vezes apressada das televisões, por isso vale a pena aprofundá-lo com a calma e profundidade que um podcast proporciona.

A verdade é que as motivações russas são complexas e difíceis de discernir. Há quem veja na invasão simplesmente a loucura de um déspota isolado pela pandemia, que vê neo-nazis em todo o lado. Mas essa explicação é, necessariamente, curta. Já todos vimos também a invasão ser descrita numa lógica mais consequente como a vontade de Putin em recuperar o território da antiga URSS; mas também é muitas vezes descrita como uma reacção à ameaça trazida pela suposta intenção da Nato de expandir a leste. Da mesma forma, há quem diga que a preocupação da cúpula russa está não tanto no território ou estritamente na ameaça bélica, mas sobretudo na aproximação dos governos e da política ucraniana nos últimos anos na direcção das democracias liberais ocidentais. E há mesmo quem sugira, como faz a convidada, que a guerra tem também a intenção de afirmar o poder russo num mundo a convergir para dois polos: EUA e China. Vale, por isso, a pena tentar perceber melhor estas explicações políticas e, sobretudo, o modo como se relacionam entre si.

O segundo aspecto que abordámos na conversa é o passo seguinte: qual poderá ser o desfecho da guerra? Nesta altura, parece quase certo que nem a Rússia nem a Ucrânia irão poder cantar vitória e que o desfecho terá de decorrer, por isso, pela via negocial. E aí, que cedências, que compromissos poderão estar em cima da mesa? O que poderá ser aceitável para ambos os lados e, desejavelmente, dar alguma estabilidade geopolítica.

E, finalmente, o terceiro tópico que discutimos, que está relacionado com este, é o mais importante de todos: que implicações terá esta guerra na Ordem Mundial?

A convidada lembra a certo ponto a famosa tese do cientista político norte-americano Francis Fukuyama, no seu livro de 1992, «O fim da História». Segundo esta tese, a queda da URSS, que acabava de ocorrer -- e, com ela, do modelo comunista -- trazia consigo a convergência do Mundo inteiro para a ordem liberal do modelo ocidental: com democracia, economia de mercado, defesa dos direitos humanos, respeito pela integridade territorial dos Estados e da auto-determinação dos povos. No meu livro, pego na tese de Fukuyama para mostrar que esta era demasiado optimista no que diz respeito à suposta superioridade prática das democracias, como tem ficado evidente com a expansão dos populismos este século.

Na nossa conversa, a convidada assinala como a tese de Fukuyama estava também errada na sua vertente geopolítica, uma vez que, apesar do sistema de instituições multilaterais que hoje existem, como a ONU, e da integração da economia mundial, ainda é possível a líderes autocráticos usar o seu poder e capacidade de acicatar sentimentos nacionalistas entre a população para invadir outros países, desrespeitando estes princípios.

A invasão da Ucrânia veio, assim, mostrar que esta expectativa era ingénua. Ao mesmo tempo, a acção da Rússia forçou os países, sobretudo aqueles com mais peso geopolítico, a porem as cartas na mesa: contra a Rússia (como a generalidade dos países ocidentais) ou a favor desta -- ou, pelo menos, assumindo uma postura ambígua, como países como a Índia têm tentado fazer. E o retrato que tem emergido é, aliás, menos harmonioso do que possa parecer aos olhos ocidentais, pois nem todos os países estão dispostos a alinhar na postura de condenação absoluta ao regime de Putin.

O que parece hoje quase certo é que a invasão da Ucrânia irá alterar a Ordem Mundial. Mas para onde? Segundo a convidada, a acção da Rússia, ao invés de dar um renovado peso na arena mundial pode, pelo contrário, precipitado a tendência que vinha ganhando forma este século: a emergência de um mundo bipolar dividido entre os EUA e a China.

_______________

Obrigado aos mecenas do podcast:

João Teixeira, Gualter Agrochão, Ricardo Evangelista, Julie Piccini, Ana Raquel Guimarães

Ricardo Santos, Bruno Heleno, Mário Teixeira, António Santos, bfdc, GalarÓ family, Manuel Canelas, Fernando Nunes, Luis Fernambuco, JosÉ LuÍs Malaquias, Francisco Hermenegildo, Nuno Costa, Abilio Silva, Salvador Cunha, Cesar Carpinteiro, Pedro Lima Ferreira, Miguel van Uden, JoÃo Ribeiro, Nuno e Ana, JoÃo Baltazar, Miguel Marques, Margarida Varela, Corto Lemos, Carlos Martins

Tiago Leite, Tomás Costa, André Gamito, Isabel Moita, B Cortez, João Teixeira, Miguel Bastos, Ricardo Leitão, Tiago Taveira, Diogo Costa, AntÓnio Rocha Pinto, Ana Pina, Alberto Alcalde, GonÇalo Morgado, Joao Alves, Geoffrey Marcelino, Luis, Maria Pimentel, RB, Gabriel Sousa, Mário LourenÇo, Andreia Esteves, Ana Cantanhede

Arune Bhuralal, Isabel Oliveira, Ana Teresa Mota, Francisco Fonseca, JoÃo Nelas, Tiago Queiroz, AntÓnio Padilha, Rita Mateus, Daniel Correia, Joao Saro, Pedro Gaspar, Dario Rodrigues, David Gil, Bernardo Pimentel, Tiago Parente, Emanuel Saramago, Daniel Pais, Miguel Jacinto, Luís Santos, Bernardo Pimentel, tati lima, Teresa Melvill de AraÚjo, FÁbio Videira Santos, Rui Martins, Helena Pinheiro, Tiago Agostinho, Miguel Jacinto, InÊs Ribeiro, Sofia Ferreira, JC Pacheco, Catarina Fonseca, Pedro On The Road, Carla Bosco, GonÇalo Baptista, Joana Pereirinha, ZÉ, JosÉ Fangueiro, Rita Noronha, Pedro RomÃo, JoÃo Pereira Amorim, SÉrgio Nunes, Telmo Gomes, Antonio Loureiro, Beatriz Bagulho, Tiago Stock, Gabriel Candal, FÁbio Monteiro, Joao Barbosa, Rita Sousa Pereira, HENRIQUE PEDRO, CloÉ Leal de MagalhÃes, Francisco Moura, Rui Antunes7, Joel, Pedro L, JoÃo Diamantino, Nuno Lages, JoÃo Farinha, Henrique Vieira, AndrÉ Abrantes, HÉlder Moreira, JosÉ Losa, JoÃo Ferreira, Rui Vilao, JoÃo Pereira, Goncalo Murteira Machado Monteiro, Luis Miguel da Silva Barbosa, Bruno Lamas, Diogo Rombo, Francisco L. Bermudes, Maria Francisca Couto, Alexandre Freitas, Afonso Martins, JosÉ ProenÇa, Jose Pedroso, Telmo , Francisco Vasconcelos, Duarte , Luis Marques, Joana Margarida Alves Martins, TomÁs Lucena, Margarida Costa Almeida, JoÃo Lopes, Bruno Pinto Vitorino, Margarida Correia-Neves, miguel farracho, Teresa Pimentel, GonÇalo de Paiva e Pona , Tiago Pedroso, GonÇalo Castro, InÊs InocÊncio, Hugo Ramos, Pedro Bravo, AntÓnio Mendes Silva, paulo matos, LuÍs BrandÃo, TomÁs Saraiva, Nuno Malvar, Ana Rita Laureano, Manuel Botelho da Silva, Wedge, Bruno Amorim InÁcio, Manuel Martins, Ana Sousa Amorim, Robertt Valente, Miguel Palhas, Maria Oliveira, Filipe Melo, Gil Batista Marinho, Cesar Correia, Diogo Silva, PatrÍcia EsquÍvel , InÊs PatrÃo, Daniel Almeida, Paulo Ferreira, Macaco Quitado, Pedro Correia, Francisco Santos, Antonio Albuquerque, Renato Mendes, JoÃo Barbosa, Margarida GonÇalves, Andrea Grosso, JoÃo Pinho , JoÃo Crispim, Francisco Aguiar , Joao Diogo, JoÃo Diogo Silva, JosÉ Oliveira Pratas, Vasco Lima, TomÁs FÉlix, Pedro Rebelo, Nuno GonÇalves, Mariana Barosa, Francisco Arantes, JoÃo Raimundo, Mafalda Pratas, Tiago Pires, Luis Quelhas Valente, Vasco SÁ Pinto, Jorge Soares, Pedro Miguel Pereira Vieira, Pedro F. Finisterra, Artur Castro Freire

_______________

Esta conversa foi editada por: Hugo Oliveira

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Bio: Lívia Franco é Professora Associada e Investigadora Principal no Instituto de Estudos Políticos da Universidade Católica Portuguesa (IEPUCP) e Investigadora Associada do think-tank pan-europeu European Center for Foreign Relations (ECFR). Leciona e investiga nos domínios da Política Internacional Contemporânea, Política Externa Portuguesa, Política Europeia e Questões de Democracia e Segurança e Defesa. É autora e coordenadora de obras e artigos nas suas áreas de especialização. Doutorou-se em Ciência Política pelo IEP-UCP e é Mestre em Relações Internacionais pela Universidade de Lovaina. Foi bolseira da FCT e da FLAD. Foi Visiting Scholar na Universidade de Brown e Fulbrighter PhD student no Boston College, EUA. Foi FLAD Visiting Professor na Universidade de Georgetown no semestre de Outono de 2021. Lívia Franco é ainda comentadora residente na SIC Notícias e comentadora habitual noutros media sobre Assuntos Internacionais e de Política Europeia.

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Lívia Franco é professora e investigadora no Instituto de Estudos Políticos da Universidade Católica Portuguesa (IEPUCP) e Investigadora Associada do think-tank pan-europeu European Center for Foreign Relations (ECFR). Leciona e investiga nos domínios da Política Internacional Contemporânea, Política Externa Portuguesa, Política Europeia e Questões de Democracia e Segurança e Defesa. Doutorou-se em Ciência Política pelo IEP-UCP e é Mestre em Relações Internacionais pela Universidade de Lovaina. Lívia Franco é ainda comentadora residente na SIC Notícias e comentadora habitual noutros media sobre Assuntos Internacionais e de Política Europeia.

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Índice da conversa:

(06:09) Início da conversa: a guerra resulta de um erro de cálculo de Putin? | Ensaio de Putin sobre a Ucrânia. Os filósofos que influenciam Putin. | Motivações securitárias vs identitárias. Teoria realista das relações internacionais. | Discurso de Putin no “Dia da Vitória”.

(28:46) Que importância têm as populações russófonas da Ucrânia? Livro «O Choque das Civilizações e a Mudança na Ordem Mundial», de Samuel P. Huntington

(35:15) Cenários para o fim da guerra, compromissos possíveis. OSCE.

(50:40) Cenários para a Ordem Mundial pós-guerra. Livro «O fim da História», de Francis Fukuyama. | O efeito da pandemia

(56:46) É hoje mais provável uma invasão de Taiwan pela China?

Impacto no “resto do Mundo”. | Impacto na Europa: inquérito aos cidadãos europeus. | Conseguirá a China unir um polo por si dominado?

(1:06:21) É legítimo o alargamento da NATO à Finlândia e Suécia?

(1:09:44) Livro recomendado: Putin's World: Russia Against the West and with the Rest Hardcover, by Angela Stent

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Desde a invasão da Ucrânia, a 24 de fevereiro, que a guerra tem dominado a discussão no espaço público. Tenho hesitado, porém, em trazer um tema tão volátil ao 45 Graus, tendo em conta um dos princípios do podcast: que cada episódio seja o mais perene possível -- isto é, que perca pouco em ser ouvido 1, 2 ou 5 anos depois de ter sido gravado.

E, no entanto, este é, de facto, um tema incontornável -- e um evento que, qualquer que venha ser o desfecho, veio alterar a Ordem Mundial de maneira irreversível.

E imprevisível, também? No início da guerra -- que apanhou (quase) todos de surpresa -- provavelmente sim, mas agora que passam já 3 meses do início da invasão, numa altura em que as posições da Rússia, da Ucrânia e o Ocidente e, igualmente importante, o resto do mundo começam já a ficar claras, achei que era uma boa altura para finalmente trazer o tema ao podcast.

Nesta conversa com Lívia Franco, abordámos três aspectos essenciais para compreender a guerra e as suas implicações geopolíticas:

Primeiro, as motivações da Rússia para a invasão.

Eu sei que este é um tema pisado e repisado, mas é mais complexo do que transparece da análise muitas vezes apressada das televisões, por isso vale a pena aprofundá-lo com a calma e profundidade que um podcast proporciona.

A verdade é que as motivações russas são complexas e difíceis de discernir. Há quem veja na invasão simplesmente a loucura de um déspota isolado pela pandemia, que vê neo-nazis em todo o lado. Mas essa explicação é, necessariamente, curta. Já todos vimos também a invasão ser descrita numa lógica mais consequente como a vontade de Putin em recuperar o território da antiga URSS; mas também é muitas vezes descrita como uma reacção à ameaça trazida pela suposta intenção da Nato de expandir a leste. Da mesma forma, há quem diga que a preocupação da cúpula russa está não tanto no território ou estritamente na ameaça bélica, mas sobretudo na aproximação dos governos e da política ucraniana nos últimos anos na direcção das democracias liberais ocidentais. E há mesmo quem sugira, como faz a convidada, que a guerra tem também a intenção de afirmar o poder russo num mundo a convergir para dois polos: EUA e China. Vale, por isso, a pena tentar perceber melhor estas explicações políticas e, sobretudo, o modo como se relacionam entre si.

O segundo aspecto que abordámos na conversa é o passo seguinte: qual poderá ser o desfecho da guerra? Nesta altura, parece quase certo que nem a Rússia nem a Ucrânia irão poder cantar vitória e que o desfecho terá de decorrer, por isso, pela via negocial. E aí, que cedências, que compromissos poderão estar em cima da mesa? O que poderá ser aceitável para ambos os lados e, desejavelmente, dar alguma estabilidade geopolítica.

E, finalmente, o terceiro tópico que discutimos, que está relacionado com este, é o mais importante de todos: que implicações terá esta guerra na Ordem Mundial?

A convidada lembra a certo ponto a famosa tese do cientista político norte-americano Francis Fukuyama, no seu livro de 1992, «O fim da História». Segundo esta tese, a queda da URSS, que acabava de ocorrer -- e, com ela, do modelo comunista -- trazia consigo a convergência do Mundo inteiro para a ordem liberal do modelo ocidental: com democracia, economia de mercado, defesa dos direitos humanos, respeito pela integridade territorial dos Estados e da auto-determinação dos povos. No meu livro, pego na tese de Fukuyama para mostrar que esta era demasiado optimista no que diz respeito à suposta superioridade prática das democracias, como tem ficado evidente com a expansão dos populismos este século.

Na nossa conversa, a convidada assinala como a tese de Fukuyama estava também errada na sua vertente geopolítica, uma vez que, apesar do sistema de instituições multilaterais que hoje existem, como a ONU, e da integração da economia mundial, ainda é possível a líderes autocráticos usar o seu poder e capacidade de acicatar sentimentos nacionalistas entre a população para invadir outros países, desrespeitando estes princípios.

A invasão da Ucrânia veio, assim, mostrar que esta expectativa era ingénua. Ao mesmo tempo, a acção da Rússia forçou os países, sobretudo aqueles com mais peso geopolítico, a porem as cartas na mesa: contra a Rússia (como a generalidade dos países ocidentais) ou a favor desta -- ou, pelo menos, assumindo uma postura ambígua, como países como a Índia têm tentado fazer. E o retrato que tem emergido é, aliás, menos harmonioso do que possa parecer aos olhos ocidentais, pois nem todos os países estão dispostos a alinhar na postura de condenação absoluta ao regime de Putin.

O que parece hoje quase certo é que a invasão da Ucrânia irá alterar a Ordem Mundial. Mas para onde? Segundo a convidada, a acção da Rússia, ao invés de dar um renovado peso na arena mundial pode, pelo contrário, precipitado a tendência que vinha ganhando forma este século: a emergência de um mundo bipolar dividido entre os EUA e a China.

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Obrigado aos mecenas do podcast:

João Teixeira, Gualter Agrochão, Ricardo Evangelista, Julie Piccini, Ana Raquel Guimarães

Ricardo Santos, Bruno Heleno, Mário Teixeira, António Santos, bfdc, GalarÓ family, Manuel Canelas, Fernando Nunes, Luis Fernambuco, JosÉ LuÍs Malaquias, Francisco Hermenegildo, Nuno Costa, Abilio Silva, Salvador Cunha, Cesar Carpinteiro, Pedro Lima Ferreira, Miguel van Uden, JoÃo Ribeiro, Nuno e Ana, JoÃo Baltazar, Miguel Marques, Margarida Varela, Corto Lemos, Carlos Martins

Tiago Leite, Tomás Costa, André Gamito, Isabel Moita, B Cortez, João Teixeira, Miguel Bastos, Ricardo Leitão, Tiago Taveira, Diogo Costa, AntÓnio Rocha Pinto, Ana Pina, Alberto Alcalde, GonÇalo Morgado, Joao Alves, Geoffrey Marcelino, Luis, Maria Pimentel, RB, Gabriel Sousa, Mário LourenÇo, Andreia Esteves, Ana Cantanhede

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Bio: Lívia Franco é Professora Associada e Investigadora Principal no Instituto de Estudos Políticos da Universidade Católica Portuguesa (IEPUCP) e Investigadora Associada do think-tank pan-europeu European Center for Foreign Relations (ECFR). Leciona e investiga nos domínios da Política Internacional Contemporânea, Política Externa Portuguesa, Política Europeia e Questões de Democracia e Segurança e Defesa. É autora e coordenadora de obras e artigos nas suas áreas de especialização. Doutorou-se em Ciência Política pelo IEP-UCP e é Mestre em Relações Internacionais pela Universidade de Lovaina. Foi bolseira da FCT e da FLAD. Foi Visiting Scholar na Universidade de Brown e Fulbrighter PhD student no Boston College, EUA. Foi FLAD Visiting Professor na Universidade de Georgetown no semestre de Outono de 2021. Lívia Franco é ainda comentadora residente na SIC Notícias e comentadora habitual noutros media sobre Assuntos Internacionais e de Política Europeia.

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