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“A diversificação económica vai mudar o paradigma de Angola”
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O ministro angolano das Relações Exteriores, Téte António, integrou a delegação do Presidente João Lourenço durante a visita de dois dias a Paris, capital francesa. Em entrevista à RFI, o responsável pela diplomacia angolana fez o balanço desta viagem de 48 horas, sublinhado que a diversificação económica vai mudar o paradigma de Angola.
Que peso tem esta visita para a diversificação da economia angolana? Uma promessa antiga do Presidente João Lourenço, que tarda a fazer sentir-se no país.
Não, eu não diria isso, que é uma promessa que tarda, porque o desenvolvimento é um processo. Portanto, nós não podemos medir o horizonte temporal do desenvolvimento. A razão pela qual, países ditos desenvolvidos, continuam desenvolver-se. Para nós, essa lógica também é válida. Temos estado a trabalhar para [esse desenvolvimento], tratando com todos os nossos parceiros, incluindo talvez o parceiro actual, que é a República Francesa que estamos a visitar.
Portanto, é um processo que está em contínuo. E temos estado a trabalhar para o efeito, porque acreditamos que a diversificação é o que vai mudar o paradigma.
É essa parceria que Angola quer com a França?
Com certeza. Portanto, a implicação dessas empresas francesas é também para nos diversificarmos com a França. Nós falamos da diversificação económica também para diversificar a parceria. Se olharmos para a nossa cooperação com França, o sector petrolífero tem um grande peso, mas queremos fazer com que essa parceria seja diversificada para outros domínios.
Como é o caso da agricultura, saúde, água e energia?
Sim, e também no domínio da formação. O instituto que está em Malanje, no ramo da agricultura, foi feito com cooperação francesa. Essa diversificação de que estamos a tratar é um processo que nasceu depois da nossa independência e que o Presidente João Lourenço continua a dar a sua contribuição para o efeito.
De que forma é que estes projectos que foram anunciados, 430 milhões euros em financiamento de contratos, vão ter impacto na vida dos angolanos e das angolanas?
Se falarmos do domínio que acabamos de citar, sobre a produção agrícola e para um país com uma população que continua a crescer - a soberania alimentar é um ponto essencial. Como dizia Agostinho Neto [Presidente do MPLA e em 1975 tornou-se o primeiro Presidente de Angola até 1979] o saco só fica de pé quando está cheio. A soberania alimentar é um ponto crucial para qualquer país que queira desenvolver-se. E isto não se pode ser resolvido com as importações, deve fazer-se com a produção local.
O senhor ministro assinou com o seu homólogo francês, Jean-Noël Barrot, um memorando para lutar contra o terrorismo, a criminalidade, tráficos de seres humanos, imigração ilegal. De que forma é que se vai traduzir este memorando? Qual é que será a sua aplicação?
A luta contra a criminalidade, justamente, tem uma natureza que é talvez o domínio que mais precisa de cooperação, porque nenhum país- hoje- pode fazer face ao terrorismo, sozinho ou sem a parceria de outros países. Foi essa razão que levou Angola a propor a realização de uma cimeira extraordinária da União Africana sobre o terrorismo que teve lugar em Malabo.
Temos feito não só na teoria, mas também na prática, na relação que temos com os outros, porque o crime sofisticou-se de tal forma que só a troca de informações e de conhecimentos pode fazer face a esse fenómeno- o terrorismo- que afecta muitos dos nossos países. O continente africano, a região do Sahel e Moçambique vivem confrontados com esse flagelo. Penso que é uma luta do mundo e Angola não pode ficar indiferente a este desenvolvimento.
Durante esta visita falou-se no conflito que opõe a RDC ao Ruanda. O que é que os dois chefes de Estado falaram sobre esta questão? O que foi decidido?
Não se trata de decidir. Trata-se, sim, de trocar impressões para ver quais são os esforços que devem ser feitos e onde os países podem complementar-se. Na procura de uma solução para este conflito que afecta a RDC, tendo em conta as consequências para o próprio país, mas também para toda a região. A morte de pessoas, deslocados internos, tudo isso afecta não só RDC, mas também os países vizinhos. A RDC é o pulmão económico do continente africano e só podemos aproveitar os recursos que tem esse país se estiver em paz. Além do outro aspecto humanitário que eu acabo de citar.
Angola assume, dentro de um mês, a presidência rotativa da União Africana e a França assume o G7, em 2026. Durante esta visita, as autoridades francesas mostraram-se disponíveis para trabalhar com Angola, nomeadamente numa melhor representação africana no Conselho de Segurança das Nações Unidas, no financiamento para o Desenvolvimento e na questão das mudanças climáticas O que é que podem fazer os dois países nessas matérias?
No que diz respeito à nossa presidência na União Africana, coincide justamente com a Cimeira da União Africana e União Europeia, que tem lugar em 2025. Do lado da África, portanto, Angola terá a liderança, penso que aí há uma ponte de cooperação, mas também é uma oportunidade para trocarmos não só impressões, mas também chegámos a adaptar essa parceria estratégica da União Africana às circunstâncias actuais. Temos estado a trabalhar, a nível bilateral, para que a presidência francesa em 2026, seja um momento de serem criadas pontes. Tendo em conta o peso económico que têm esses países do G7 e o facto desses países, cada vez que reúnem, abordarem questões relacionado com o continente africano. É importante estarmos alinhados com a França, mas também com os restantes países africanos e europeus.
Donald Trump assume a presidência dos Estados Unidos no próximo dia 20 de Janeiro. Angola receia que as relações possam ficar diferentes daquelas que mantinha com o Presidente Joe Biden?
Não. Foi talvez a primeira visita de um Presidente americano, mas a nossa relação com os Estados Unidos não começou com o Presidente Joe Biden. Começou muito antes. Isso é para dizer que olhamos para a relação com os Estados Unidos como uma relação entre Estados e não para uma relação entre pessoas. Há interesses comuns entre os dois países que vão prevalecer, seja qual for o sistema.
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O ministro angolano das Relações Exteriores, Téte António, integrou a delegação do Presidente João Lourenço durante a visita de dois dias a Paris, capital francesa. Em entrevista à RFI, o responsável pela diplomacia angolana fez o balanço desta viagem de 48 horas, sublinhado que a diversificação económica vai mudar o paradigma de Angola.
Que peso tem esta visita para a diversificação da economia angolana? Uma promessa antiga do Presidente João Lourenço, que tarda a fazer sentir-se no país.
Não, eu não diria isso, que é uma promessa que tarda, porque o desenvolvimento é um processo. Portanto, nós não podemos medir o horizonte temporal do desenvolvimento. A razão pela qual, países ditos desenvolvidos, continuam desenvolver-se. Para nós, essa lógica também é válida. Temos estado a trabalhar para [esse desenvolvimento], tratando com todos os nossos parceiros, incluindo talvez o parceiro actual, que é a República Francesa que estamos a visitar.
Portanto, é um processo que está em contínuo. E temos estado a trabalhar para o efeito, porque acreditamos que a diversificação é o que vai mudar o paradigma.
É essa parceria que Angola quer com a França?
Com certeza. Portanto, a implicação dessas empresas francesas é também para nos diversificarmos com a França. Nós falamos da diversificação económica também para diversificar a parceria. Se olharmos para a nossa cooperação com França, o sector petrolífero tem um grande peso, mas queremos fazer com que essa parceria seja diversificada para outros domínios.
Como é o caso da agricultura, saúde, água e energia?
Sim, e também no domínio da formação. O instituto que está em Malanje, no ramo da agricultura, foi feito com cooperação francesa. Essa diversificação de que estamos a tratar é um processo que nasceu depois da nossa independência e que o Presidente João Lourenço continua a dar a sua contribuição para o efeito.
De que forma é que estes projectos que foram anunciados, 430 milhões euros em financiamento de contratos, vão ter impacto na vida dos angolanos e das angolanas?
Se falarmos do domínio que acabamos de citar, sobre a produção agrícola e para um país com uma população que continua a crescer - a soberania alimentar é um ponto essencial. Como dizia Agostinho Neto [Presidente do MPLA e em 1975 tornou-se o primeiro Presidente de Angola até 1979] o saco só fica de pé quando está cheio. A soberania alimentar é um ponto crucial para qualquer país que queira desenvolver-se. E isto não se pode ser resolvido com as importações, deve fazer-se com a produção local.
O senhor ministro assinou com o seu homólogo francês, Jean-Noël Barrot, um memorando para lutar contra o terrorismo, a criminalidade, tráficos de seres humanos, imigração ilegal. De que forma é que se vai traduzir este memorando? Qual é que será a sua aplicação?
A luta contra a criminalidade, justamente, tem uma natureza que é talvez o domínio que mais precisa de cooperação, porque nenhum país- hoje- pode fazer face ao terrorismo, sozinho ou sem a parceria de outros países. Foi essa razão que levou Angola a propor a realização de uma cimeira extraordinária da União Africana sobre o terrorismo que teve lugar em Malabo.
Temos feito não só na teoria, mas também na prática, na relação que temos com os outros, porque o crime sofisticou-se de tal forma que só a troca de informações e de conhecimentos pode fazer face a esse fenómeno- o terrorismo- que afecta muitos dos nossos países. O continente africano, a região do Sahel e Moçambique vivem confrontados com esse flagelo. Penso que é uma luta do mundo e Angola não pode ficar indiferente a este desenvolvimento.
Durante esta visita falou-se no conflito que opõe a RDC ao Ruanda. O que é que os dois chefes de Estado falaram sobre esta questão? O que foi decidido?
Não se trata de decidir. Trata-se, sim, de trocar impressões para ver quais são os esforços que devem ser feitos e onde os países podem complementar-se. Na procura de uma solução para este conflito que afecta a RDC, tendo em conta as consequências para o próprio país, mas também para toda a região. A morte de pessoas, deslocados internos, tudo isso afecta não só RDC, mas também os países vizinhos. A RDC é o pulmão económico do continente africano e só podemos aproveitar os recursos que tem esse país se estiver em paz. Além do outro aspecto humanitário que eu acabo de citar.
Angola assume, dentro de um mês, a presidência rotativa da União Africana e a França assume o G7, em 2026. Durante esta visita, as autoridades francesas mostraram-se disponíveis para trabalhar com Angola, nomeadamente numa melhor representação africana no Conselho de Segurança das Nações Unidas, no financiamento para o Desenvolvimento e na questão das mudanças climáticas O que é que podem fazer os dois países nessas matérias?
No que diz respeito à nossa presidência na União Africana, coincide justamente com a Cimeira da União Africana e União Europeia, que tem lugar em 2025. Do lado da África, portanto, Angola terá a liderança, penso que aí há uma ponte de cooperação, mas também é uma oportunidade para trocarmos não só impressões, mas também chegámos a adaptar essa parceria estratégica da União Africana às circunstâncias actuais. Temos estado a trabalhar, a nível bilateral, para que a presidência francesa em 2026, seja um momento de serem criadas pontes. Tendo em conta o peso económico que têm esses países do G7 e o facto desses países, cada vez que reúnem, abordarem questões relacionado com o continente africano. É importante estarmos alinhados com a França, mas também com os restantes países africanos e europeus.
Donald Trump assume a presidência dos Estados Unidos no próximo dia 20 de Janeiro. Angola receia que as relações possam ficar diferentes daquelas que mantinha com o Presidente Joe Biden?
Não. Foi talvez a primeira visita de um Presidente americano, mas a nossa relação com os Estados Unidos não começou com o Presidente Joe Biden. Começou muito antes. Isso é para dizer que olhamos para a relação com os Estados Unidos como uma relação entre Estados e não para uma relação entre pessoas. Há interesses comuns entre os dois países que vão prevalecer, seja qual for o sistema.
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