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Jornalista e poeta Mussa Baldé lança novo álbum de poemas em Bissau neste sábado

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Em Bissau, Mussa Baldé que os nossos ouvintes conhecem sobretudo como correspondente da RFI, lança neste sábado a partir das 20 horas locais o seu segundo álbum de poemas no centro cultural franco bissau-guineense. Esta colectânea escrita em crioulo guineense e que tem a particularidade inédita de ser feita em áudio e vídeo, intitula-se “Guiné i ninki nanka, Fankanta di Mussá Baldé”.

Traduzido em imagem e som através dos meios da produtora 'Katumbi', estrutura fundada por Mussa Baldé, este projecto composto por 10 poemas pretende exaltar os valores e a resiliência das diversas comunidades guineenses.

A mais longo prazo, este álbum de poemas pode ser também visto como um patamar antes da concretização de outro projecto do jornalista, a rodagem prevista em 2025 do seu novo filme intitulado 'Minina di bandeja', uma fita que chega catorze anos depois da sua primeira experiência na sétima arte, 'Clara de Sabura', que na altura encontrou muito eco junto do público.

Em conversa com a RFI, Mussa Baldé falou de cinema, de aprendizagem, de música e, claro, do seu novo álbum de poemas.

RFI: Do que é que trata este álbum de poemas?

Mussa Baldé: O meu álbum “Guiné i ninki nanka, Fankanta di Mussá Baldé” é uma expressão idiomática da Guiné-Bissau, que quer dizer mais ou menos isto: a Guiné é um país grande, é um país para além do sobrenatural, para além do normal. Mas é a minha verdade perante esta Guiné-Bissau. É um álbum que eu pensei durante três anos. Nos últimos três anos dediquei-me à pesquisa sobre as expressões idiomáticas do crioulo da Guiné-Bissau, das nossas valências, do nosso crioulo, das nossas idiossincrasias, das nossas línguas nacionais, mas sobretudo, daquilo que é a nossa pertença, a nossa comunhão enquanto povo e nação. Nós somos um país com mais de 33 grupos étnicos, cada grupo étnico, com a sua própria idiossincrasia, com a sua particularidade, com a sua cultura, com o seu dialecto. Mas nós temos uma coisa em comum, que é a nossa pertença à Guiné-Bissau. Portanto, eu quis com este álbum de poesias, exaltar a nossa pertença a uma nação única. Apesar de sermos um mosaico, somos, no final do dia, um único país, uma única nação. Portanto, é isso que eu quis homenagear. Apesar de a Guiné-Bissau neste momento, atravessar situações muito complicadas nos últimos anos, derivado a muitas carências que o povo enfrenta. Mas nós não podemos perder de vista que nós somos e fomos e seremos um grande país, uma grande nação. Um país que fez a luta armada que nós fizemos, um país que fez a resistência anticolonial que nós fizemos, nunca pode ser um país pequeno. Um país que tem um nacionalista, um pensador, um revolucionário da craveira de Amílcar Cabral não pode ser um qualquer país. Portanto, é isso que eu quis com este álbum de poemas exaltar e recordar aos guineenses: aquilo que nós fomos, aquilo que nós somos e aquilo que nós poderemos vir a ser neste mundo.

RFI: Este álbum de poemas, que é o segundo álbum de poemas que fazes, tem a particularidade de a ser o primeiro álbum de poemas em vídeo. Porquê essa opção de sair da versão papel da poesia e ir para o ecrã?

Mussa Baldé: Este vai ser o segundo álbum de poemas, mas eu nunca publiquei poemas em livro, sempre publiquei em áudio. Antes, quando comecei a publicar os meus poemas, sempre gravei os meus poemas com a minha voz e soltei aqui nas rádios. Depois, com o advento das redes sociais, fui soltando nas redes sociais, no Facebook, no YouTube, sobretudo e agora no Tiktok. Mas em 2020 publiquei o meu primeiro álbum de poemas em áudio, que também foi uma novidade naquela altura. Era a primeira vez que se faz uma coletânea de muitos poemas em áudio e agora vou publicar em áudio e em vídeo, que será também a primeira vez que se vai publicar um álbum de poemas em vídeo. Tenho dez poemas, mas nove estarão ilustrados com vídeos. Não vídeos circunstanciais, mas vídeos pensados para poder acompanhar toda a dinâmica, toda a informação, toda a narrativa dos poemas. É algo cinematográfico que nós tentamos aqui trazer. As pessoas estão a ouvir, mas ao mesmo tempo estão a ver aquilo que se está a dizer no poema. É claro que não se consegue traduzir em vídeo tudo o que se está a dizer num poema, mas há muitas passagens da narrativa dos poemas que contêm aí fragmentos do vídeo devidamente gravados de propósito para ilustrar o trabalho.

RFI: Como é que foi a rodagem desses poemas em vídeo?

Mussa Baldé: Não foi nada complicado porque estou a trabalhar com um grupo de jovens empenhados, jovens abnegados, que querem participar no meu próximo filme, que se calhar vamos falar daqui a bocado. Portanto, é uma espécie de antecâmara daquilo que poderá vir a ser a rodagem do meu próximo filme. São jovens já treinados. Eu penso que o público vai gostar. Vai se surpreender porque há ali alguma ousadia da realização minha e do meu colega Peter Gomes. Nós é que fizemos a realização dos vídeos. Acho que eu é uma novidade que as pessoas vão gostar, porque nós temos que acompanhar a tendência mundial. Hoje em dia, o vídeo fala mais, a fotografia fala mais do que a palavra, mas eu acredito que o vídeo fale mais do que uma fotografia.

RFI: Estavas a falar do teu projecto de filme: do que é que trata este filme que tu pretendes rodar muito em breve?

Mussa Baldé: Muito em breve significa que logo nos primeiros três meses de 2025 vamos rodar o filme. O filme de certeza estará pronto, disponível nos ecrãs em 2025. As pessoas vão poder ver o meu próximo filme. Nós fizemos o filme 'Clara di Sabura' em 2011. Desde aquela altura nós andamos a aprender como é que se faz cinema de verdade. Viajamos para Portugal, para o Brasil, estudamos, falámos com realizadores, consultámos livros para poder perceber a técnica do cinema, como é que se faz cinema, já que nós não tivemos oportunidade de andar numa escola de cinema. Sou jornalista. Mas esse nosso filme é um filme que nós estamos a arquitectar já lá vão cinco anos. O filme chama-se 'Minina di bandeja', que quer dizer 'menina da bandeja'. Aqui na Guiné-Bissau, existe ainda a prática de colocar meninas a vender coisas nas ruas, a vender comida, a vender água, a vender refrescos, que é uma prática que nós condenamos enquanto pessoas, enquanto cidadãos, enquanto pessoas conscientes da nossa responsabilidade social. Nós consideramos que o lugar de uma menina é na escola ou a brincar. Apesar da existência da lei na Guiné-Bissau, que criminaliza o trabalho infantil, a prática do trabalho infantil ainda persiste na nossa sociedade. É isso que nós queremos denunciar com este filme. O filme 'Minina di Bandeja' vai querer denunciar a situação em que uma menina é obrigada a vender na rua, obrigada a vender por uma tia. Nessa actividade de venda nas ruas de Bissau, a vender amendoim, a vender água, banana, a vender outras coisas, a menina é sujeita a situações constrangedoras, como assédio, abusos físicos, como o impedimento de ir à escola e acaba por ser obrigada -isto em termos ficcionados- a aceitar um casamento com um senhor com idade para ser o seu avô. A menina, consciente por ter sido sensibilizada pelas organizações da sociedade civil, consciente dos seus direitos, foge da casa da tia, vai para um centro de acolhimento e nesse centro de acolhimento, ela acaba por ser enquadrada numa universidade. Ela acaba por estudar e forma-se como médica com umas colegas que também fugiram do casamento forçado. Acabam por formar uma associação que começa um trabalho de denúncia da prática do casamento forçado, da mutilação genital feminina, do casamento combinado, do casamento precoce. E essas meninas acabam por criar essa associação que começa um grande trabalho de sensibilização a nível nacional. Portanto, o filme quer, por um lado, denunciar práticas degradantes contra a condição das meninas e também quer mostrar que qualquer menina empoderada, a quem tenha sido dada a oportunidade, consegue se formar. Também é um filme que consegue mostrar que todos nós temos o direito de denunciar práticas degradantes contra a condição das meninas na Guiné-Bissau.

RFI: Como é que foi todo o processo de preparação para chegarmos a parte das filmagens? O processo de preparação, ou seja, o financiamento, os apoios, que é uma parte muito difícil para se chegar à parte se calhar mais engraçada que são as rodagens?

Mussa Baldé: O processo de angariação de fundos não tem sido fácil, mas tenho estado a conseguir alguma coisa, digamos. Neste momento, terei à volta de 40 a 45% já garantidos. Eu apresentei o projecto a várias entidades, sobretudo entidades que trabalham na temática ligada à promoção e à valorização dos direitos da mulher na Guiné-Bissau, a UNICEF, o FNUAP e outras agências das Nações Unidas. Prontamente, o FNUAP e a UNICEF abraçaram o projecto. Deram apoios. Digamos que no início do ano já vamos ter fundos para produzir o filme. Um banco, aqui também da nossa praça, o Banco da África Ocidental, o BAO, que tem sido o parceiro privilegiado da Katumbi desde o início, também abraçou o projecto do filme e deu algum apoio. Mas todo esse apoio que eu já tenho garantido não chega para produzir o filme até ao final. A verba que nós temos neste momento vai dar para rodar o filme. Agora, o filme vai ter legendas em português, em francês, em inglês, em mandarim. Portanto, é uma pós-produção que terá que ser feita num estúdio com melhor qualidade, se calhar em Portugal. O filme custa à volta de 20 mil Euros. Não é muito dinheiro. Se eu tivesse esse dinheiro pagava, mas na realidade da Guiné-Bissau, ainda assim é uma verba considerável. Mas eu estou em crer que vamos ter esse financiamento e vamos fazer o filme em 2025. O filme 'Minina di Bandeja' vai estar disponível para o grande público, não só da Guiné-Bissau, mas também da comunidade internacional. As pessoas vão poder ver o filme 'Minina di Bandeja'.

RFI: Relativamente, lá está, a toda aquela parte da produção, não é a primeira vez que estás envolvido num projecto de filme. Em 2011 houve 'Clara di Sabura'. Quais foram as lições que tiraste dessa experiência?

Mussa Baldé: Em termos de execução técnica, cometemos muitos erros, porque também na altura eu não tinha conhecimentos que hoje tenho de como é que se faz cinema. Digamos que hoje em dia tenho mais conhecimento. Tanto assim é, que não tive dificuldades em escrever o roteiro, escrevi o roteiro, escrevi a banda sonora que já está gravada. Nós cometemos muitos erros técnicos no filme 'Clara di Sabura'. O filme foi muito publicitado, foi muito falado junto das comunidades guineenses na diáspora. Mas em termos técnicos, o filme deixa muito a desejar. Essa experiência levou-me a uma grande reflexão. De 2011 a esta parte tive que parar, aprender, ainda que tenha em carteira vários projectos que poderiam ser já rodados para cinema.

RFI: Mencionaste que já escreveste a banda sonora de 'Minina di Bandeja', tal como sucedeu também com 'Clara di Sabura'. O que é que tu podes dizer sobre essa banda sonora?

Mussa Baldé: A banda sonora é um desafio que eu considero que é um desafio ganho. Eu fiz para mim mesmo desafio de que poderíamos fazer uma música de qualidade aqui na Guiné-Bissau. Eu tive de falar com o meu irmão, o grande Binham, que cantou uma música. Tive que falar com um jovem que está na berlinda da música moderna da Guiné-Bissau, o Airton que também cantou uma música. Tive que desencantar duas grandes pérolas da música moderna Guiné-Bissau. São duas jovens da Igreja Evangélica. A Adjania Gomes e a Lídia Imbine. São jovens da Igreja evangélica de 23 anos, 24 anos. Tive que convencê-las de que poderiam participar no projecto 'Minina di Bandeja'. As duas aceitaram prontamente. Pegaram nas minhas letras, nós arranjamos um produtor, o jovem Nabello, também da Igreja Evangélica, e convencemos estes três jovens a darem corpo a duas músicas. Por exemplo, agora no lançamento do CD de poemas, uma música do filme 'Minina di Bandeja' vai ser apresentada ao público, a música 'Vencedoras', que vai ser cantada pela Adjania e pela Lídia. Uma música da banda sonora foi gravada em Portugal. Três músicas foram gravadas aqui em Bissau. São músicas de que eu gosto particularmente, não por serem músicas escritas por mim, mas são músicas que inspiram, músicas que mostram a realidade daquilo que é a vida destas meninas que andam a vender pelas ruas da Guiné-Bissau.

RFI: Voltando ao começo da nossa conversa relativamente à apresentação do teu segundo álbum de poemas que vai acontecer neste sábado no Centro Cultural Francês, quais são as tuas expectativas relativamente a esta apresentação?

Mussa Baldé: Eu quero que os guineenses venham assistir. Vamos pôr à disposição áudios, mas também poemas em vídeo. É a primeira vez na Guiné-Bissau que se vai lançar 'vídeo-poemas', digamos assim. É um desafio também que eu fiz à minha equipa da Katumbi e ao meu amigo realizador Peter Gomes. Nós os dois realizámos os vídeos. Vamos tentar fazer uma festa bonita e mostrar que nós somos diferentes. Nós temos várias etnias, mas no final do dia somos de uma mesma nação. Portanto, é isso que eu quero. Quero que as pessoas venham. Pena é que nós não vamos poder aceitar toda a gente que quer participar na cerimónia do lançamento, porque o espaço é exíguo. Estamos a falar de 200 cadeiras e aproveito esta oportunidade para saudar a disponibilidade do director do Centro Cultural franco-guineense pela pronta disponibilidade. Quando nós apresentamos o projecto, ele entusiasmou-se com o nosso projecto, ainda que o lançamento esteja a acontecer numa altura em que o Centro Cultural franco-guineense está a celebrar os 20 anos da sua reabertura ao público. Portanto, estamos a associar o útil ao agradável com o lançamento do nosso segundo álbum de poemas.

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Em Bissau, Mussa Baldé que os nossos ouvintes conhecem sobretudo como correspondente da RFI, lança neste sábado a partir das 20 horas locais o seu segundo álbum de poemas no centro cultural franco bissau-guineense. Esta colectânea escrita em crioulo guineense e que tem a particularidade inédita de ser feita em áudio e vídeo, intitula-se “Guiné i ninki nanka, Fankanta di Mussá Baldé”.

Traduzido em imagem e som através dos meios da produtora 'Katumbi', estrutura fundada por Mussa Baldé, este projecto composto por 10 poemas pretende exaltar os valores e a resiliência das diversas comunidades guineenses.

A mais longo prazo, este álbum de poemas pode ser também visto como um patamar antes da concretização de outro projecto do jornalista, a rodagem prevista em 2025 do seu novo filme intitulado 'Minina di bandeja', uma fita que chega catorze anos depois da sua primeira experiência na sétima arte, 'Clara de Sabura', que na altura encontrou muito eco junto do público.

Em conversa com a RFI, Mussa Baldé falou de cinema, de aprendizagem, de música e, claro, do seu novo álbum de poemas.

RFI: Do que é que trata este álbum de poemas?

Mussa Baldé: O meu álbum “Guiné i ninki nanka, Fankanta di Mussá Baldé” é uma expressão idiomática da Guiné-Bissau, que quer dizer mais ou menos isto: a Guiné é um país grande, é um país para além do sobrenatural, para além do normal. Mas é a minha verdade perante esta Guiné-Bissau. É um álbum que eu pensei durante três anos. Nos últimos três anos dediquei-me à pesquisa sobre as expressões idiomáticas do crioulo da Guiné-Bissau, das nossas valências, do nosso crioulo, das nossas idiossincrasias, das nossas línguas nacionais, mas sobretudo, daquilo que é a nossa pertença, a nossa comunhão enquanto povo e nação. Nós somos um país com mais de 33 grupos étnicos, cada grupo étnico, com a sua própria idiossincrasia, com a sua particularidade, com a sua cultura, com o seu dialecto. Mas nós temos uma coisa em comum, que é a nossa pertença à Guiné-Bissau. Portanto, eu quis com este álbum de poesias, exaltar a nossa pertença a uma nação única. Apesar de sermos um mosaico, somos, no final do dia, um único país, uma única nação. Portanto, é isso que eu quis homenagear. Apesar de a Guiné-Bissau neste momento, atravessar situações muito complicadas nos últimos anos, derivado a muitas carências que o povo enfrenta. Mas nós não podemos perder de vista que nós somos e fomos e seremos um grande país, uma grande nação. Um país que fez a luta armada que nós fizemos, um país que fez a resistência anticolonial que nós fizemos, nunca pode ser um país pequeno. Um país que tem um nacionalista, um pensador, um revolucionário da craveira de Amílcar Cabral não pode ser um qualquer país. Portanto, é isso que eu quis com este álbum de poemas exaltar e recordar aos guineenses: aquilo que nós fomos, aquilo que nós somos e aquilo que nós poderemos vir a ser neste mundo.

RFI: Este álbum de poemas, que é o segundo álbum de poemas que fazes, tem a particularidade de a ser o primeiro álbum de poemas em vídeo. Porquê essa opção de sair da versão papel da poesia e ir para o ecrã?

Mussa Baldé: Este vai ser o segundo álbum de poemas, mas eu nunca publiquei poemas em livro, sempre publiquei em áudio. Antes, quando comecei a publicar os meus poemas, sempre gravei os meus poemas com a minha voz e soltei aqui nas rádios. Depois, com o advento das redes sociais, fui soltando nas redes sociais, no Facebook, no YouTube, sobretudo e agora no Tiktok. Mas em 2020 publiquei o meu primeiro álbum de poemas em áudio, que também foi uma novidade naquela altura. Era a primeira vez que se faz uma coletânea de muitos poemas em áudio e agora vou publicar em áudio e em vídeo, que será também a primeira vez que se vai publicar um álbum de poemas em vídeo. Tenho dez poemas, mas nove estarão ilustrados com vídeos. Não vídeos circunstanciais, mas vídeos pensados para poder acompanhar toda a dinâmica, toda a informação, toda a narrativa dos poemas. É algo cinematográfico que nós tentamos aqui trazer. As pessoas estão a ouvir, mas ao mesmo tempo estão a ver aquilo que se está a dizer no poema. É claro que não se consegue traduzir em vídeo tudo o que se está a dizer num poema, mas há muitas passagens da narrativa dos poemas que contêm aí fragmentos do vídeo devidamente gravados de propósito para ilustrar o trabalho.

RFI: Como é que foi a rodagem desses poemas em vídeo?

Mussa Baldé: Não foi nada complicado porque estou a trabalhar com um grupo de jovens empenhados, jovens abnegados, que querem participar no meu próximo filme, que se calhar vamos falar daqui a bocado. Portanto, é uma espécie de antecâmara daquilo que poderá vir a ser a rodagem do meu próximo filme. São jovens já treinados. Eu penso que o público vai gostar. Vai se surpreender porque há ali alguma ousadia da realização minha e do meu colega Peter Gomes. Nós é que fizemos a realização dos vídeos. Acho que eu é uma novidade que as pessoas vão gostar, porque nós temos que acompanhar a tendência mundial. Hoje em dia, o vídeo fala mais, a fotografia fala mais do que a palavra, mas eu acredito que o vídeo fale mais do que uma fotografia.

RFI: Estavas a falar do teu projecto de filme: do que é que trata este filme que tu pretendes rodar muito em breve?

Mussa Baldé: Muito em breve significa que logo nos primeiros três meses de 2025 vamos rodar o filme. O filme de certeza estará pronto, disponível nos ecrãs em 2025. As pessoas vão poder ver o meu próximo filme. Nós fizemos o filme 'Clara di Sabura' em 2011. Desde aquela altura nós andamos a aprender como é que se faz cinema de verdade. Viajamos para Portugal, para o Brasil, estudamos, falámos com realizadores, consultámos livros para poder perceber a técnica do cinema, como é que se faz cinema, já que nós não tivemos oportunidade de andar numa escola de cinema. Sou jornalista. Mas esse nosso filme é um filme que nós estamos a arquitectar já lá vão cinco anos. O filme chama-se 'Minina di bandeja', que quer dizer 'menina da bandeja'. Aqui na Guiné-Bissau, existe ainda a prática de colocar meninas a vender coisas nas ruas, a vender comida, a vender água, a vender refrescos, que é uma prática que nós condenamos enquanto pessoas, enquanto cidadãos, enquanto pessoas conscientes da nossa responsabilidade social. Nós consideramos que o lugar de uma menina é na escola ou a brincar. Apesar da existência da lei na Guiné-Bissau, que criminaliza o trabalho infantil, a prática do trabalho infantil ainda persiste na nossa sociedade. É isso que nós queremos denunciar com este filme. O filme 'Minina di Bandeja' vai querer denunciar a situação em que uma menina é obrigada a vender na rua, obrigada a vender por uma tia. Nessa actividade de venda nas ruas de Bissau, a vender amendoim, a vender água, banana, a vender outras coisas, a menina é sujeita a situações constrangedoras, como assédio, abusos físicos, como o impedimento de ir à escola e acaba por ser obrigada -isto em termos ficcionados- a aceitar um casamento com um senhor com idade para ser o seu avô. A menina, consciente por ter sido sensibilizada pelas organizações da sociedade civil, consciente dos seus direitos, foge da casa da tia, vai para um centro de acolhimento e nesse centro de acolhimento, ela acaba por ser enquadrada numa universidade. Ela acaba por estudar e forma-se como médica com umas colegas que também fugiram do casamento forçado. Acabam por formar uma associação que começa um trabalho de denúncia da prática do casamento forçado, da mutilação genital feminina, do casamento combinado, do casamento precoce. E essas meninas acabam por criar essa associação que começa um grande trabalho de sensibilização a nível nacional. Portanto, o filme quer, por um lado, denunciar práticas degradantes contra a condição das meninas e também quer mostrar que qualquer menina empoderada, a quem tenha sido dada a oportunidade, consegue se formar. Também é um filme que consegue mostrar que todos nós temos o direito de denunciar práticas degradantes contra a condição das meninas na Guiné-Bissau.

RFI: Como é que foi todo o processo de preparação para chegarmos a parte das filmagens? O processo de preparação, ou seja, o financiamento, os apoios, que é uma parte muito difícil para se chegar à parte se calhar mais engraçada que são as rodagens?

Mussa Baldé: O processo de angariação de fundos não tem sido fácil, mas tenho estado a conseguir alguma coisa, digamos. Neste momento, terei à volta de 40 a 45% já garantidos. Eu apresentei o projecto a várias entidades, sobretudo entidades que trabalham na temática ligada à promoção e à valorização dos direitos da mulher na Guiné-Bissau, a UNICEF, o FNUAP e outras agências das Nações Unidas. Prontamente, o FNUAP e a UNICEF abraçaram o projecto. Deram apoios. Digamos que no início do ano já vamos ter fundos para produzir o filme. Um banco, aqui também da nossa praça, o Banco da África Ocidental, o BAO, que tem sido o parceiro privilegiado da Katumbi desde o início, também abraçou o projecto do filme e deu algum apoio. Mas todo esse apoio que eu já tenho garantido não chega para produzir o filme até ao final. A verba que nós temos neste momento vai dar para rodar o filme. Agora, o filme vai ter legendas em português, em francês, em inglês, em mandarim. Portanto, é uma pós-produção que terá que ser feita num estúdio com melhor qualidade, se calhar em Portugal. O filme custa à volta de 20 mil Euros. Não é muito dinheiro. Se eu tivesse esse dinheiro pagava, mas na realidade da Guiné-Bissau, ainda assim é uma verba considerável. Mas eu estou em crer que vamos ter esse financiamento e vamos fazer o filme em 2025. O filme 'Minina di Bandeja' vai estar disponível para o grande público, não só da Guiné-Bissau, mas também da comunidade internacional. As pessoas vão poder ver o filme 'Minina di Bandeja'.

RFI: Relativamente, lá está, a toda aquela parte da produção, não é a primeira vez que estás envolvido num projecto de filme. Em 2011 houve 'Clara di Sabura'. Quais foram as lições que tiraste dessa experiência?

Mussa Baldé: Em termos de execução técnica, cometemos muitos erros, porque também na altura eu não tinha conhecimentos que hoje tenho de como é que se faz cinema. Digamos que hoje em dia tenho mais conhecimento. Tanto assim é, que não tive dificuldades em escrever o roteiro, escrevi o roteiro, escrevi a banda sonora que já está gravada. Nós cometemos muitos erros técnicos no filme 'Clara di Sabura'. O filme foi muito publicitado, foi muito falado junto das comunidades guineenses na diáspora. Mas em termos técnicos, o filme deixa muito a desejar. Essa experiência levou-me a uma grande reflexão. De 2011 a esta parte tive que parar, aprender, ainda que tenha em carteira vários projectos que poderiam ser já rodados para cinema.

RFI: Mencionaste que já escreveste a banda sonora de 'Minina di Bandeja', tal como sucedeu também com 'Clara di Sabura'. O que é que tu podes dizer sobre essa banda sonora?

Mussa Baldé: A banda sonora é um desafio que eu considero que é um desafio ganho. Eu fiz para mim mesmo desafio de que poderíamos fazer uma música de qualidade aqui na Guiné-Bissau. Eu tive de falar com o meu irmão, o grande Binham, que cantou uma música. Tive que falar com um jovem que está na berlinda da música moderna da Guiné-Bissau, o Airton que também cantou uma música. Tive que desencantar duas grandes pérolas da música moderna Guiné-Bissau. São duas jovens da Igreja Evangélica. A Adjania Gomes e a Lídia Imbine. São jovens da Igreja evangélica de 23 anos, 24 anos. Tive que convencê-las de que poderiam participar no projecto 'Minina di Bandeja'. As duas aceitaram prontamente. Pegaram nas minhas letras, nós arranjamos um produtor, o jovem Nabello, também da Igreja Evangélica, e convencemos estes três jovens a darem corpo a duas músicas. Por exemplo, agora no lançamento do CD de poemas, uma música do filme 'Minina di Bandeja' vai ser apresentada ao público, a música 'Vencedoras', que vai ser cantada pela Adjania e pela Lídia. Uma música da banda sonora foi gravada em Portugal. Três músicas foram gravadas aqui em Bissau. São músicas de que eu gosto particularmente, não por serem músicas escritas por mim, mas são músicas que inspiram, músicas que mostram a realidade daquilo que é a vida destas meninas que andam a vender pelas ruas da Guiné-Bissau.

RFI: Voltando ao começo da nossa conversa relativamente à apresentação do teu segundo álbum de poemas que vai acontecer neste sábado no Centro Cultural Francês, quais são as tuas expectativas relativamente a esta apresentação?

Mussa Baldé: Eu quero que os guineenses venham assistir. Vamos pôr à disposição áudios, mas também poemas em vídeo. É a primeira vez na Guiné-Bissau que se vai lançar 'vídeo-poemas', digamos assim. É um desafio também que eu fiz à minha equipa da Katumbi e ao meu amigo realizador Peter Gomes. Nós os dois realizámos os vídeos. Vamos tentar fazer uma festa bonita e mostrar que nós somos diferentes. Nós temos várias etnias, mas no final do dia somos de uma mesma nação. Portanto, é isso que eu quero. Quero que as pessoas venham. Pena é que nós não vamos poder aceitar toda a gente que quer participar na cerimónia do lançamento, porque o espaço é exíguo. Estamos a falar de 200 cadeiras e aproveito esta oportunidade para saudar a disponibilidade do director do Centro Cultural franco-guineense pela pronta disponibilidade. Quando nós apresentamos o projecto, ele entusiasmou-se com o nosso projecto, ainda que o lançamento esteja a acontecer numa altura em que o Centro Cultural franco-guineense está a celebrar os 20 anos da sua reabertura ao público. Portanto, estamos a associar o útil ao agradável com o lançamento do nosso segundo álbum de poemas.

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