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Ofensiva de Israel contra Gaza deixou mais de 400 mortos; Netanyahu é pressionado internamente
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A Defesa Civil em Gaza reportou 13 mortos e dezenas de feridos, incluindo mulheres e crianças, em bombardeios israelenses durante a noite desta quarta-feira (19). Determinado a forçar o Hamas a aceitar a libertação de mais reféns, o exército de Israel tem lançado, desde terça-feira, ataques sem precedentes ao enclave palestino desde a entrada em vigor, em 19 de janeiro, da trégua mediada pelo Catar, Estados Unidos e Egito, mais de 15 meses após o início da guerra.
Henry Galsky, correspondente da RFI em Israel
Mais de 400 palestinos foram mortos nos ataques aéreos israelenses na Faixa de Gaza, segundo o Ministério da Saúde controlado pelo Hamas. Embora a primeira fase do cessar-fogo tenha terminado de forma oficial no último dia 1 de março, a ação militar de Israel marca o fim também do processo de negociações em busca de algum caminho para encerrar a guerra.
O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu anunciou o fim do período de trégua argumentando que "o Hamas se recusa a libertar os reféns e também rejeita todas as propostas apresentadas pelo enviado especial norte-americano Steve Witkoff e pelos intermediários".
O Hamas afirma que estava comprometido com a segunda fase do acordo que previa a retirada israelense da Faixa de Gaza e o fim da guerra.
Após mais uma rodada de negociações em Doha, no Catar, na semana passada, as negociações seguiram estagnadas. Sucessivas pesquisas de opinião pública em Israel mostram que a sociedade israelense apoia o fim da guerra em troca da libertação dos 59 reféns que permanecem em cativeiro na Faixa de Gaza.
Em comunicado, o Fórum dos Familiares dos Reféns manifestou repúdio ao retorno às ações militares e acusou o próprio governo de "desistir da vida dos reféns". O Fórum também apelou ao presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, para continuar a buscar a libertação de seus entes queridos por meio de negociações.
Para além das condenações da ONU e da comunidade internacional de forma ampla, a decisão israelense de retomar os combates também foi duramente criticada por Catar e Egito, países diretamente envolvidos nos esforços de negociações.
O Hamas emitiu um comunicado oficial negando qualquer plano de atacar Israel antes da ação militar determinada por Netanyahu e disse que essa narrativa é "um pretexto para o retorno à guerra e à agressão sangrenta".
Avaliação israelense sobre o Hamas
Uma mudança importante na ofensiva atual está relacionada aos alvos israelenses na Faixa de Gaza. Para além de agentes da ala militar, Israel passou a atacar também membros do escalão político. Entre outros nomes, os ataques de Israel mataram Issam al-Dalis, primeiro-ministro do Hamas na Faixa de Gaza; Mahmoud Abu Watfa, ministro do Interior; Ahmad al-Khatta, diretor-geral do Ministério da Justiça; e Bahjat Abu Sultan, que chefiava as forças de segurança internas do Hamas.
Uma fonte militar israelense disse à RFI que "as lideranças políticas do Hamas se sentiam protegidas" e consideravam que tinham uma espécie de "imunidade". "Agora elas não têm mais", completou.
Outro aspecto é que, segundo essa fonte informou à RFI, a avaliação militar de Israel entende que o Hamas hoje "está desesperado e enfraquecido".
Em pronunciamento em cadeia de TV, o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu prometeu que os ataques representam "apenas o começo" e que o processo de negociações vai continuar "sob fogo".
As acusações contra assessores de Netanyahu
O retorno de Israel aos combates acontece dias após Netanyahu anunciar a intenção de demitir Ronen Bar, chefe do Shin Bet, o serviço de segurança interno. Segundo o primeiro-ministro, a decisão seria justificada na medida em que ele diz ter "perdido a confiança" em Ronen Bar.
No entanto, o público interno organiza grandes manifestações contra a decisão. Há acusações de que Netanyahu está tentando se livrar do chefe do Shin Bet por outras razões:
O Shin Bet investiga o escândalo que passou a ser conhecido internamente em Israel como “Catar Gate”. Ronen Bar é o responsável por liderar a investigação de denúncias contra alguns dos principais assessores de Netanyahu de que eles teriam recebido dinheiro do Catar ao mesmo tempo, em que lidam com questões relacionadas às negociações para a libertação dos reféns – o Catar é intermediário nessas negociações ao lado do Egito. Para além disso, Israel e Catar não mantêm relações diplomáticas, e o país árabe abriga algumas das principais lideranças do Hamas.
Gali Baharav-Miara, a procuradora-geral de Israel, argumenta que Netanyahu não pode prosseguir com a demissão porque há, segundo ela, um conflito de interesses claro nesta situação.
Já Ronen Bar declarou que só irá se demitir antes do fim de seu mandato em outubro de 2026, se todos os reféns israelenses mantidos em cativeiro pelo Hamas forem libertados, e se uma comissão pública vier a ser estabelecida para investigar as falhas do alto escalão político, inclusive de Netanyahu, relacionadas aos ataques do Hamas em 7 de outubro de 2023.
O líder do partido de esquerda Yair Golan expôs publicamente o sentimento de muitos israelenses:
"Netanyahu está usando as vidas dos nossos cidadãos e soldados porque ele teme os protestos contra a demissão do chefe do Shin Bet", escreveu na plataforma X.
29 episódios
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A Defesa Civil em Gaza reportou 13 mortos e dezenas de feridos, incluindo mulheres e crianças, em bombardeios israelenses durante a noite desta quarta-feira (19). Determinado a forçar o Hamas a aceitar a libertação de mais reféns, o exército de Israel tem lançado, desde terça-feira, ataques sem precedentes ao enclave palestino desde a entrada em vigor, em 19 de janeiro, da trégua mediada pelo Catar, Estados Unidos e Egito, mais de 15 meses após o início da guerra.
Henry Galsky, correspondente da RFI em Israel
Mais de 400 palestinos foram mortos nos ataques aéreos israelenses na Faixa de Gaza, segundo o Ministério da Saúde controlado pelo Hamas. Embora a primeira fase do cessar-fogo tenha terminado de forma oficial no último dia 1 de março, a ação militar de Israel marca o fim também do processo de negociações em busca de algum caminho para encerrar a guerra.
O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu anunciou o fim do período de trégua argumentando que "o Hamas se recusa a libertar os reféns e também rejeita todas as propostas apresentadas pelo enviado especial norte-americano Steve Witkoff e pelos intermediários".
O Hamas afirma que estava comprometido com a segunda fase do acordo que previa a retirada israelense da Faixa de Gaza e o fim da guerra.
Após mais uma rodada de negociações em Doha, no Catar, na semana passada, as negociações seguiram estagnadas. Sucessivas pesquisas de opinião pública em Israel mostram que a sociedade israelense apoia o fim da guerra em troca da libertação dos 59 reféns que permanecem em cativeiro na Faixa de Gaza.
Em comunicado, o Fórum dos Familiares dos Reféns manifestou repúdio ao retorno às ações militares e acusou o próprio governo de "desistir da vida dos reféns". O Fórum também apelou ao presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, para continuar a buscar a libertação de seus entes queridos por meio de negociações.
Para além das condenações da ONU e da comunidade internacional de forma ampla, a decisão israelense de retomar os combates também foi duramente criticada por Catar e Egito, países diretamente envolvidos nos esforços de negociações.
O Hamas emitiu um comunicado oficial negando qualquer plano de atacar Israel antes da ação militar determinada por Netanyahu e disse que essa narrativa é "um pretexto para o retorno à guerra e à agressão sangrenta".
Avaliação israelense sobre o Hamas
Uma mudança importante na ofensiva atual está relacionada aos alvos israelenses na Faixa de Gaza. Para além de agentes da ala militar, Israel passou a atacar também membros do escalão político. Entre outros nomes, os ataques de Israel mataram Issam al-Dalis, primeiro-ministro do Hamas na Faixa de Gaza; Mahmoud Abu Watfa, ministro do Interior; Ahmad al-Khatta, diretor-geral do Ministério da Justiça; e Bahjat Abu Sultan, que chefiava as forças de segurança internas do Hamas.
Uma fonte militar israelense disse à RFI que "as lideranças políticas do Hamas se sentiam protegidas" e consideravam que tinham uma espécie de "imunidade". "Agora elas não têm mais", completou.
Outro aspecto é que, segundo essa fonte informou à RFI, a avaliação militar de Israel entende que o Hamas hoje "está desesperado e enfraquecido".
Em pronunciamento em cadeia de TV, o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu prometeu que os ataques representam "apenas o começo" e que o processo de negociações vai continuar "sob fogo".
As acusações contra assessores de Netanyahu
O retorno de Israel aos combates acontece dias após Netanyahu anunciar a intenção de demitir Ronen Bar, chefe do Shin Bet, o serviço de segurança interno. Segundo o primeiro-ministro, a decisão seria justificada na medida em que ele diz ter "perdido a confiança" em Ronen Bar.
No entanto, o público interno organiza grandes manifestações contra a decisão. Há acusações de que Netanyahu está tentando se livrar do chefe do Shin Bet por outras razões:
O Shin Bet investiga o escândalo que passou a ser conhecido internamente em Israel como “Catar Gate”. Ronen Bar é o responsável por liderar a investigação de denúncias contra alguns dos principais assessores de Netanyahu de que eles teriam recebido dinheiro do Catar ao mesmo tempo, em que lidam com questões relacionadas às negociações para a libertação dos reféns – o Catar é intermediário nessas negociações ao lado do Egito. Para além disso, Israel e Catar não mantêm relações diplomáticas, e o país árabe abriga algumas das principais lideranças do Hamas.
Gali Baharav-Miara, a procuradora-geral de Israel, argumenta que Netanyahu não pode prosseguir com a demissão porque há, segundo ela, um conflito de interesses claro nesta situação.
Já Ronen Bar declarou que só irá se demitir antes do fim de seu mandato em outubro de 2026, se todos os reféns israelenses mantidos em cativeiro pelo Hamas forem libertados, e se uma comissão pública vier a ser estabelecida para investigar as falhas do alto escalão político, inclusive de Netanyahu, relacionadas aos ataques do Hamas em 7 de outubro de 2023.
O líder do partido de esquerda Yair Golan expôs publicamente o sentimento de muitos israelenses:
"Netanyahu está usando as vidas dos nossos cidadãos e soldados porque ele teme os protestos contra a demissão do chefe do Shin Bet", escreveu na plataforma X.
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