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Ep 55 | O dedo levantado de Ai Weiwei

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Durante o confinamento do início deste ano as coisas estiveram tão mal em Portugal que até a publicidade quase desapareceu das ruas. Um dos poucos cartazes que as pessoas podiam ver durante os seus “passeios higiénicos” era o anúncio da exposição RAPTURE, do artista chinês Ai Weiwei, na Cordoaria Nacional, em Lisboa.
“Rapture” abre este fim-de-semana, pode ser vista até 28 de Novembro e é “O” acontecimento cultural do ano no nosso país.
Esta exposição — a maior de sempre de Ai — vai ter trabalhos seus já conhecidos (por exemplo, a “Snake Ceiling” agarrada ao tecto, feita com centenas de mochilas, em homenagem às milhares de crianças mortas num terramoto na China) e vai ter trabalhos novos (vários incorporam materiais e técnicas portuguesas — azulejo, cortiça, tecido, pedra). O artista comprou uma casa em Montemor-o-Novo, no Alentejo, e tem estado cá a trabalhar com artesãos portugueses.
A obra de Ai Weiwei não é separável nem entendível fora do seu activismo pelos direitos humanos e a liberdade de expressão. Ele é um príncipe da liberdade e não pode, de maneira nenhuma, ser confundido com a fauna agora muito numerosa de “activistas” de teclado, chuis da linguagem e do politicamente correcto, que uiva nas universidades, nos media e nas redes sociais, perseguindo e cancelando gente por “delito” de opinião.
Ai Weiwei é perseguido no seu país. Enquanto lá governar a lógica neo-maoísta de Xi Jinping, se regressar será imediatamente preso.
O que não seria novo nem para ele nem para a sua família:
— em 1958, o seu pai, o poeta Ai Qing, foi acusado do “crime” de escrever poesia “formalista” e, por causa disso, foi posto a lavar retretes num campo de trabalho em Xinjiang (conhecida como a “pequena Sibéria” chinesa), enquanto jovens comunistas se entretinham a atirar-lhe tinta à cara e pedras ao corpo todo;
— por sua vez, Ai Weiwei (que tinha um ano quando o pai foi preso) também já conheceu as masmorras chinesas: esteve preso oitenta e um dias, em 2011, num local ainda hoje desconhecido, foi sujeito a cinquenta interrogatórios sempre algemado; algemas que, logo no ano seguinte, usou numas danças divertidas e bem-dispostas com uns amigos, num vídeo intitulado “Gangnam Style” facilmente achável no YouTube; três anos depois, o artista fez umas algemas em jade e uma réplica claustrofóbica da sua cela; essas duas obras estão em Berlim, no museu Martin-Gropius-Bau.

Só mais dois trabalhos de Ai Weiwei:

“CORONATION” — um filme sobre o “lockdown” de Wuhan, logo no início da pandemia. Este documentário não foi rodado por Ai mas por vários seus colaboradores que, clandestinamente, lhe fizeram chegar imagens e sons daquele enclausuramento total de uma cidade de onze milhões de habitantes.
Por pressão da China, “Coronation” não passou nas netflixes e nos festivais de cinema deste mundo, o que diz tanto das pulsões censórias do sr. Xi JinPing como da cobardia do mundo em geral e do ocidente em particular.

“STUDY OF PERSPECTIVE” — este “estudo de perspectiva” é uma longa série fotográfica em que Ai Weiwei mostra o dedo do meio da sua mão esquerda dirigido a instituições, monumentos, sítios marcantes ou icónicos. A ideia é imitar, de uma maneira corrosiva, as fotografias típicas que os turistas gostam de prantar nas redes sociais.
Weiwei já levantou o dedo dezenas de vezes por esse mundo fora: à Casa Branca em Washington, à Ópera em Sydney, à Mona Lisa no Louvre, à Sagrada Família em Barcelona, à Trump Tower em Nova York, à..., ao...
O primeiro pirete é de 1995 e foi feito ao retrato de Mao na Praça Tiananmen, em Pequim. Foi na praça a que o regime chama da “PazCelestial”, onde, seis anos antes, foram massacrados milhares de estudantes que lutavam pela liberdade.
Um pirete livre. Um pirete coragem. Enquanto houver Ai Weiweis neste mundo a liberdade não morre.

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“Rapture” abre este fim-de-semana, pode ser vista até 28 de Novembro e é “O” acontecimento cultural do ano no nosso país.
Esta exposição — a maior de sempre de Ai — vai ter trabalhos seus já conhecidos (por exemplo, a “Snake Ceiling” agarrada ao tecto, feita com centenas de mochilas, em homenagem às milhares de crianças mortas num terramoto na China) e vai ter trabalhos novos (vários incorporam materiais e técnicas portuguesas — azulejo, cortiça, tecido, pedra). O artista comprou uma casa em Montemor-o-Novo, no Alentejo, e tem estado cá a trabalhar com artesãos portugueses.
A obra de Ai Weiwei não é separável nem entendível fora do seu activismo pelos direitos humanos e a liberdade de expressão. Ele é um príncipe da liberdade e não pode, de maneira nenhuma, ser confundido com a fauna agora muito numerosa de “activistas” de teclado, chuis da linguagem e do politicamente correcto, que uiva nas universidades, nos media e nas redes sociais, perseguindo e cancelando gente por “delito” de opinião.
Ai Weiwei é perseguido no seu país. Enquanto lá governar a lógica neo-maoísta de Xi Jinping, se regressar será imediatamente preso.
O que não seria novo nem para ele nem para a sua família:
— em 1958, o seu pai, o poeta Ai Qing, foi acusado do “crime” de escrever poesia “formalista” e, por causa disso, foi posto a lavar retretes num campo de trabalho em Xinjiang (conhecida como a “pequena Sibéria” chinesa), enquanto jovens comunistas se entretinham a atirar-lhe tinta à cara e pedras ao corpo todo;
— por sua vez, Ai Weiwei (que tinha um ano quando o pai foi preso) também já conheceu as masmorras chinesas: esteve preso oitenta e um dias, em 2011, num local ainda hoje desconhecido, foi sujeito a cinquenta interrogatórios sempre algemado; algemas que, logo no ano seguinte, usou numas danças divertidas e bem-dispostas com uns amigos, num vídeo intitulado “Gangnam Style” facilmente achável no YouTube; três anos depois, o artista fez umas algemas em jade e uma réplica claustrofóbica da sua cela; essas duas obras estão em Berlim, no museu Martin-Gropius-Bau.

Só mais dois trabalhos de Ai Weiwei:

“CORONATION” — um filme sobre o “lockdown” de Wuhan, logo no início da pandemia. Este documentário não foi rodado por Ai mas por vários seus colaboradores que, clandestinamente, lhe fizeram chegar imagens e sons daquele enclausuramento total de uma cidade de onze milhões de habitantes.
Por pressão da China, “Coronation” não passou nas netflixes e nos festivais de cinema deste mundo, o que diz tanto das pulsões censórias do sr. Xi JinPing como da cobardia do mundo em geral e do ocidente em particular.

“STUDY OF PERSPECTIVE” — este “estudo de perspectiva” é uma longa série fotográfica em que Ai Weiwei mostra o dedo do meio da sua mão esquerda dirigido a instituições, monumentos, sítios marcantes ou icónicos. A ideia é imitar, de uma maneira corrosiva, as fotografias típicas que os turistas gostam de prantar nas redes sociais.
Weiwei já levantou o dedo dezenas de vezes por esse mundo fora: à Casa Branca em Washington, à Ópera em Sydney, à Mona Lisa no Louvre, à Sagrada Família em Barcelona, à Trump Tower em Nova York, à..., ao...
O primeiro pirete é de 1995 e foi feito ao retrato de Mao na Praça Tiananmen, em Pequim. Foi na praça a que o regime chama da “PazCelestial”, onde, seis anos antes, foram massacrados milhares de estudantes que lutavam pela liberdade.
Um pirete livre. Um pirete coragem. Enquanto houver Ai Weiweis neste mundo a liberdade não morre.

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