FOFOCA É UMA CONFISSÃO DE FRACASSO E FRUSTRAÇÃO - Episódio 490 – Fabio Flores

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A fofoca nasce do julgamento moral de que de um lado mora a perfeição e do outro mora a inadequação. Quem compartilha a fofoca está do lado do Bem e quem é fofocado está do lado do mal. Esta lógica binária abriga um mecanismo de defesa do Ego conhecido como Projeção. Na projeção eu passo a me incomodar com uma característica do outro que vive dentro de mim (ainda que eu não admita ou não reconheça conscientemente). Em muitos casos o combustível da fofoca é um desejo frustrado. É uma vida inteira reprimindo um desejo que se manifesta livremente na vida da pessoa que é alvo da fofoca. A gente pode citar como exemplo aquela pessoa que fiscaliza a vida íntima de uma vizinha. Aquele fofoqueiro que sabe que horas ela sai, com quem ela sai, em que carro ela vai, que horas ela volta e até fantasia sobre o que ela faz no carro. O que explicaria tanta dedicação de tempo e atenção na fiscalização da vida íntima de outra pessoa? Talvez este fofoqueiro queira reprimir na vizinha os seus desejos não realizados. Seria algo como se eu não posso ela também não vai poder. Um destaque especial que a gente precisa fazer é que muitas vezes isso acontece de maneira inconsciente. Não é uma decisão consciente ser fiscal do prazer alheio... Mas esta e outras frustrações vão se manifestar na vida cotidiana do fofoqueiro por ele não criar espaço pro diálogo com os próprios pensamentos e sentimentos. Dois grandes psicanalistas ajudam a gente a compreender esta dimensão da frustração do fofoqueiro. Karl Jung já dizia que: “Até você se tornar consciente, o inconsciente vai dirigir sua vida e você vai chamar isso de destino”. Eu vou repetir pra você pensar mais uma vez sobre a frase de Karl Jung: “Até você se tornar consciente, o inconsciente vai dirigir sua vida e você vai chamar isso de destino”. Como pode o fofoqueiro se conhecer ao ponto de reconhecer que talvez aquilo que ele mais julga e condena nos outros pode morar dentro dele numa gaveta chamada frustração? Como ele pode tomar esta consciência se o tempo livre está dedicado a olhar pros outros fugindo de si mesmo? O outro psicanalista que ajuda a gente a compreender a natureza da fofoca é o Pai da Psicanálise, Sigmund Freud. Ele deixou uma interessante provocação sobre este tema nesta frase... presta bem atenção no que ele disse: “Quando Pedro me fala de Paulo, eu sei mais de Pedro do que de Paulo”. Eu vou repetir pra você ouvir com muita atenção: “Quando Pedro me fala de Paulo, eu sei mais de Pedro do que de Paulo”. O conteúdo da fofoca diz mais sobre o fofoqueiro do que do fofocado. Muitas vezes o conteúdo da fofoca não é sobre o que está demais na vida do fofocado e sim o que está de menos na vida do fofoqueiro. A fofoca quase sempre é uma confissão de fracasso e frustração. Um bom motivo pra gente se afastar das rodas de fofocas é que sempre o assunto será a pessoa ausente. Isso leva a crer que quando você se afastar o assunto será você, sua vida e suas escolhas. Outra boa estratégia pra se afastar da fofoca é fazer uso dos 3 filtros de Sócrates. Sócrates foi um filósofo da Grécia Antiga que viveu há 400 anos antes de Cristo. Ele fez uma espécie de vacina anti-fofoca... esta vacina seria interromper o fofoqueiro antes dele começar a falar... interromper e pedir pra antes dele dizer qualquer coisa que ele passe a informação por 3 filtros. O primeiro filtro é o filtro da verdade. É se questionar se o que você vai dizer é mesmo uma verdade. É algo que você tem mesmo certeza ou é algo que você imagina que seja? Se a informação for comprovadamente verdadeira você passaria pro segundo filtro. O segundo filtro é o filtro da bondade. O que você quer dizer é uma coisa boa? Em que medida esta informação vai fazer o meu dia melhor? Se a informação for realmente boa você pode passar pro terceiro filtro. O terceiro filtro é o da utilidade. Em que vai ser útil esta informação que você quer dizer. Em que medida isso vai edificar a minha vida e a sua?