#146 Conversas de Ateliê - Por que temos que ser úteis? #44
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Na mesa temos Paulo Henrique Martins, Bia Martins, André Magnelli e Lucas Faial Soneghet. No primeiro bloco discutimos a questão: Por que temos que ser úteis?
A pergunta logo evoca outra. O que queremos dizer com “útil”? Essa palavra evoca o fantasma do utilitarismo que, nas palavras de Paulo Henrique Martins, é uma filosofia moral que propõe um individualismo fundado no cálculo interesseiro dos prazeres e dos sofrimentos. Esse modo de pensar teria consequências nefastas, tanto por trazer consigo uma imagem do ser humano como essencialmente egoísta e autointeressado, quanto por negar outros princípios de organização das relações sociais. Por outro lado, podemos pensar em um uso mais coloquial da palavra útil, quando por exemplo dizemos que alguma coisa ou alguém tem utilidade, ou seja, serve para atingir determinado fim. Aqui, o imperativo categórico de Kant nos interpela, pois segundo ele não deveríamos nunca tratar uma pessoa como meramente meio para um fim. Não obstante as reservas éticas, parece que há algo profundamente enraizado na vida em sociedade que nos impele a ser “útil”. Sem um papel social, sem estar imerso em relações de interdependências, onde nos sentimos necessitados e requisitados, o ser humano se sente perdido, desamparado e alienado.
Como exemplo, vale mencionar o livro “Bullshit Jobs” de David Graeber, notório pensador anarquista. Publicado em 2018, o livro teve ampla repercussão para além das esferas acadêmicas. O que tocou as pessoas? Muitos se identificaram com a descrição dos “bullshit Jobs” ou “empregos de mentirinha” que Graeber descreve. Aparentemente, muitas pessoas sentem que estão em empregos sem qualquer utilidade e que não contribuem para a sociedade de maneira significativa, o que causa sentimentos de angústia e vazio existencial. Aqui, o sentimento de ser “útil” pode ser compreendido como manifestação do impulso básico pela socialidade, a necessidade de pertencer em uma teia de relações significativas e compensadoras simbólica e materialmente. Em contraste, autores como Jonathan Crary e Hartmut Rosa argumentam persuasivamente que o mundo contemporâneo é caracterizado pela constante aceleração da vida e pela crescente pressão por performance. Somos incentivados (ou até mesmo forçados) a fazer cada vez mais em menos tempo, a transformar todos os momentos da vida, especialmente o “tempo livre” em “tempo útil”. Assim, gradativamente, o ócio, a contemplação e até mesmo o sono perdem espaço e legitimidade em nosso cotidiano.
Por que temos que ser úteis? De onde vem esse impulso pela atividade constante? Há espaço para a “inutilidade” na vida contemporânea?
No segundo bloco, conversamos sobre Philippe Chanial (in memoriam, 1967-2024), um intelectual importante no Movimento Anti-Utilitarista nas Ciências Sociais (M.A.U.S.S) e querido amigo.
Tópicos discutidos: Utilitarismo; Tempo; Ócio; Dádiva.
Vamos conversar?
No Youtube:https://youtu.be/eMy_qR_fGUc
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