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Ep. 20: A glamourização do fracasso

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Como nos orienta a máxima toda a ação tem uma reação, não posso deixar de notar o que chamo de glamourização do fracasso. Não é algo que ocorre somente nos meios religiosos, pelo contrário é um traço social determinante atualmente, que gera uma vivência e percepção equivocada do cristianismo e da realidade da vida.

A verdade que pode não ser fácil de aceitar, mas é a verdade, é que o fracasso não se torna menos fracasso porque foi glamourizado, enfeitado e poetizado. Seja lá em qual área for, seja um propósito grande ou pequeníssimo, o fato de enfeitar a realidade não muda a realidade, mas com certeza faz a absorção dela equivocada.

Explico com exemplos simples: o fulano quer acordar cedo, não conseguiu, isso foi um fracasso. Ele pode ter várias reações diante daquilo "vou tentar amanhã novamente", "poxa, acho que não consigo e não é pra mim", "amanhã eu foi acordar, go, go, Go", "ó céus, como as coisas são difíceis, pesadas". Cada uma dessas reações leva a uma absorção mais correta ou menos correta, do ponto de vista cristã, da realidade. Ver diante de si a oportunidade de fazer melhor no outro dia é o que faz compreender "que quando sou fraco é que sou forte", ou entender o louvor de santo Agostinho em as Confissões pelas graças e pelas tentações, pois o caminho cristão visa a superação, o "Go Go Go", visa sempre a ressurreição, "amanhã, Deus e eu faremos melhor".

Mas, a glamorização do fracasso, acrescida das redes sociais, transformou o caminho de ascensão em lamaçal de auto piedade. É interessante porque isso é sentimentalismo puro e simples e estamos, ao menos uma parcela de pessoas, fugir dele. O que torna a atitude assustadora. Para me fazer compreender, vou dar outros exemplos, que não se relacione coma diligência e prontidão como no exemplo anterior. O fulano quer ser mais paciente com a esposa, não conseguiu, fracasso. O beltrano quer ser mais justo nas contas e lembrar da caridade, não conseguiu fracasso. Ou seja, o nome que se dá para uma virtude ou propósito que não foi realizado é fracasso. Isso vale para todas as virtudes e outros empreendimentos humanos e espirituais: paciência, bondade, temperança, modéstia, pureza, castidade, caridade, confiança, reciprocidade, gratidão... Eu posso fazer um poema sobre isso, posso escrever lindamente a trajetória como se não fosse um fracasso, mas uma nova fase e mentalidade, mas a realidade nua e crua é que é um fracasso. Essas reações de glamourizar e enfeitar a realidade tem muitas camadas de significado e nenhuma delas é boa.

A mente revolucionária tem alguns pilares, o primeiro deles é alterar a realidade. Ou seja, eu tenho uma ideia na minha cabeça e preciso fazer com que a realidade se adapte a ela. No entanto, a mentalidade cristã diz o contrário, eu não posso manipular a partir de uma ideia que me agrade mais, as reações, a fala, os atos devem ser compatíveis com a realidade. Partindo do ponto que a maior parte das pessoas tem ideias sentimentais e de recusa do fracasso, embora se colocam constantemente em situações auto depreciativas, é comum a capacidade de manipular a realidade para se sentir melhor e, no caso da amplificação nas redes sociais, para amplificar essa ilusão.

A glamourização do fracasso é um efeito da mente revolucionária dentro do meio religioso, embora possa existir em outros meios, em que a jornada para êxito, para a superar, o Go Go Go de São Paulo e o louvado seja Deus pelas minhas pelejas de Santo Agostinho, abre espaço para uma ilusão de maturidade e crescimento, romanceando e poetizando o retrocesso.

Claro que retrocessos acontecessem, embora não exista nenhum santo que os acalente, Santa Teresa já nos ensina que parar já é retroceder, ou seja, parar é ruim, retroceder pavoroso. Mas retrocessos podem acontecer e acontecem, o ponto que desejo salientar é a reação diante disso. Criar uma ilusão de crescimento e maturidade é o ato mais insano que alguém pode fazer diante de si mesmo, é uma falta de honestidade interior, seria mais adequado dizer " realmente não consegui, pedi pra sair, não dei conta" - embora tragam um traço de esquecimento radicalmente grave num cristão, que quem "dá conta" é Deus em nós, com Ele tudo podemos fazer - mas é mais honesto do que iludir-se com os próprios fracassos.

Existem alguns temperamentos que possuem mais problemas com isso, melancólicos, principalmente, naturalmente poéticos, naturalmente dramáticos, naturalmente levados a criar narrativas ilusórias, e podem fazer isso com seus fracassos, já que lhes dói de forma singular fracassar, uma vez que possuem dificuldade em aceitar as coisas brutas do mundo. No entanto, isso é um defeito do temperamento - e no caso atual um defeito de uma geração toda - defeitos devem ser educados não acalentados. Acalentar isso irá lhe fazer distorcer a realidade de formas tão horríveis, acredite.

O fracasso é fracasso, é um propósito não feito pode romancear, glamourizar, poetizar, mas isso é somente uma fuga da realidade. E o caminho certo é simplesmente dois: "eu fracassei, mas com ajuda de Deus e meu esforço eu vou conseguir" ou "eu fracassei, não vou continuar, não vou enfeitar nada, eu me responsabilizo".

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A verdade que pode não ser fácil de aceitar, mas é a verdade, é que o fracasso não se torna menos fracasso porque foi glamourizado, enfeitado e poetizado. Seja lá em qual área for, seja um propósito grande ou pequeníssimo, o fato de enfeitar a realidade não muda a realidade, mas com certeza faz a absorção dela equivocada.

Explico com exemplos simples: o fulano quer acordar cedo, não conseguiu, isso foi um fracasso. Ele pode ter várias reações diante daquilo "vou tentar amanhã novamente", "poxa, acho que não consigo e não é pra mim", "amanhã eu foi acordar, go, go, Go", "ó céus, como as coisas são difíceis, pesadas". Cada uma dessas reações leva a uma absorção mais correta ou menos correta, do ponto de vista cristã, da realidade. Ver diante de si a oportunidade de fazer melhor no outro dia é o que faz compreender "que quando sou fraco é que sou forte", ou entender o louvor de santo Agostinho em as Confissões pelas graças e pelas tentações, pois o caminho cristão visa a superação, o "Go Go Go", visa sempre a ressurreição, "amanhã, Deus e eu faremos melhor".

Mas, a glamorização do fracasso, acrescida das redes sociais, transformou o caminho de ascensão em lamaçal de auto piedade. É interessante porque isso é sentimentalismo puro e simples e estamos, ao menos uma parcela de pessoas, fugir dele. O que torna a atitude assustadora. Para me fazer compreender, vou dar outros exemplos, que não se relacione coma diligência e prontidão como no exemplo anterior. O fulano quer ser mais paciente com a esposa, não conseguiu, fracasso. O beltrano quer ser mais justo nas contas e lembrar da caridade, não conseguiu fracasso. Ou seja, o nome que se dá para uma virtude ou propósito que não foi realizado é fracasso. Isso vale para todas as virtudes e outros empreendimentos humanos e espirituais: paciência, bondade, temperança, modéstia, pureza, castidade, caridade, confiança, reciprocidade, gratidão... Eu posso fazer um poema sobre isso, posso escrever lindamente a trajetória como se não fosse um fracasso, mas uma nova fase e mentalidade, mas a realidade nua e crua é que é um fracasso. Essas reações de glamourizar e enfeitar a realidade tem muitas camadas de significado e nenhuma delas é boa.

A mente revolucionária tem alguns pilares, o primeiro deles é alterar a realidade. Ou seja, eu tenho uma ideia na minha cabeça e preciso fazer com que a realidade se adapte a ela. No entanto, a mentalidade cristã diz o contrário, eu não posso manipular a partir de uma ideia que me agrade mais, as reações, a fala, os atos devem ser compatíveis com a realidade. Partindo do ponto que a maior parte das pessoas tem ideias sentimentais e de recusa do fracasso, embora se colocam constantemente em situações auto depreciativas, é comum a capacidade de manipular a realidade para se sentir melhor e, no caso da amplificação nas redes sociais, para amplificar essa ilusão.

A glamourização do fracasso é um efeito da mente revolucionária dentro do meio religioso, embora possa existir em outros meios, em que a jornada para êxito, para a superar, o Go Go Go de São Paulo e o louvado seja Deus pelas minhas pelejas de Santo Agostinho, abre espaço para uma ilusão de maturidade e crescimento, romanceando e poetizando o retrocesso.

Claro que retrocessos acontecessem, embora não exista nenhum santo que os acalente, Santa Teresa já nos ensina que parar já é retroceder, ou seja, parar é ruim, retroceder pavoroso. Mas retrocessos podem acontecer e acontecem, o ponto que desejo salientar é a reação diante disso. Criar uma ilusão de crescimento e maturidade é o ato mais insano que alguém pode fazer diante de si mesmo, é uma falta de honestidade interior, seria mais adequado dizer " realmente não consegui, pedi pra sair, não dei conta" - embora tragam um traço de esquecimento radicalmente grave num cristão, que quem "dá conta" é Deus em nós, com Ele tudo podemos fazer - mas é mais honesto do que iludir-se com os próprios fracassos.

Existem alguns temperamentos que possuem mais problemas com isso, melancólicos, principalmente, naturalmente poéticos, naturalmente dramáticos, naturalmente levados a criar narrativas ilusórias, e podem fazer isso com seus fracassos, já que lhes dói de forma singular fracassar, uma vez que possuem dificuldade em aceitar as coisas brutas do mundo. No entanto, isso é um defeito do temperamento - e no caso atual um defeito de uma geração toda - defeitos devem ser educados não acalentados. Acalentar isso irá lhe fazer distorcer a realidade de formas tão horríveis, acredite.

O fracasso é fracasso, é um propósito não feito pode romancear, glamourizar, poetizar, mas isso é somente uma fuga da realidade. E o caminho certo é simplesmente dois: "eu fracassei, mas com ajuda de Deus e meu esforço eu vou conseguir" ou "eu fracassei, não vou continuar, não vou enfeitar nada, eu me responsabilizo".

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