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Christiane Silva Pinto: inclusão e diversidade nas empresas

 
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Criadora do comitê de igualdade racial do Google Brasil, Chocochris dá o caminho para combater o racismo nas corporações Christiane Silva Pinto nunca pensou que seria exemplo pra ninguém, mas hoje abraça a responsabilidade de ter se tornado referência na luta por mais diversidade nas empresas brasileiras. Quando chegou ao Google Brasil, onde hoje é gerente de marketing, ela tinha apenas uma colega negra. Lá, fundou um comitê de igualdade racial, o AfroGooglers, e ajudou a criar projetos como o YouTube Black, que incentiva criadores de conteúdo negros, e o Next Step, programa de estágio exclusivo para pessoas negras que visa aumentar a representatividade na companhia. “As decisões das empresas trazem com elas os preconceitos e os conceitos que as pessoas têm”, diz. “Se você não está agindo intencionalmente para incluir, você está excluindo”. Embora 56% dos brasileiros se declarem pretos ou pardos, de acordo com o IBGE, essa parcela que representa mais da metade da população ainda é minoria no mundo corporativo. Os dados mostram ainda que profissionais negros ganham até 45% menos do que os brancos com a mesma qualificação, e estão sub-representados nos cargos de liderança, ocupando apenas 6% das posições de gerência entre as maiores empresas do país. Em entrevista à Trip, Chocochris, apelido pelo qual ficou conhecida nas redes sociais, conta como venceu obstáculos e alcançou espaços onde pessoas negras eram ausentes ou minoria, e dá o caminho para combater o racismo e a desigualdade de oportunidades de dentro das empresas. [IMAGE=https://revistatrip.uol.com.br/upload/2020/09/5f6e2a7f6410a/chocochris-christiane-silva-pinto-google-tripfm-materiahoriz4.jpg; CREDITS=Alex Batista; LEGEND=Christiane Silva Pinto] Trip. Como é a sua família, a sua origem, de onde você vem? Christiane Silva Pinto. Eu gosto muito dessa pergunta sobre a nossa história e trajetória de vida porque é aí que a gente vai entendendo o que contribuiu para chegar onde chegou. Definitivamente não é sorte, mas também não é só esforço, não é só talento. Tem muita coisa na vida de alguém que o faz chegar mais perto ou mais longe de um cargo de emprego, ou de um curso universitário, por exemplo. Meus pais, que são a minha grande inspiração, vêm de famílias bastante humildes. Nenhum dos meus avós era alfabetizado, nenhum deles sabia ler e escrever. Como duas gerações depois estou trabalhando numa das maiores empresas do mundo, numa multinacional? Tudo aconteceu justamente porque os meus pais, com a história deles, valorizaram muito a educação. A minha mãe é do interior de Minas, a segunda de 12 filhos. Imagina 60 anos atrás ser a filha mais velha: tinha que cuidar de todos os outros irmãos. Ela tinha que ir buscar o sustento, desde os cinco anos de idade já trabalhava e andava quilômetros por dia para ir no matadouro de carne de boi pegar o que sobrava de pé, de resto, e levar para a família dela poder comer. Eu realmente admirei muito a minha mãe sendo diarista, trabalhando de costureira, com vários problemas de coluna por toda essa história de trabalhar desde criança, mas que não desistiu de estudar. Já o meu pai é do interior de São Paulo e ele também vem de uma família bastante humilde. A diferença é que meu pai era o caçula de 15. Ele teve a ajuda dos irmãos mais velhos e até dos maridos das irmãs que foram casando. A família foi muito presente em ajudar ele a conseguir oportunidades, quem trabalhava em tal lugar recomendava ele. Meu pai hoje é aposentado, mas chegou até o mestrado. E porque os dois viram a transformação que um pouco de educação trouxe, eles sempre foram bem rígidos comigo e com meu irmão nesse quesito. A prioridade da minha família era pagar a melhor escola do bairro, o curso de inglês. E é claro que esse acesso que eu e meu irmão tivemos por causa da história dos meus pais nos colocaram em lugares onde não tinha outras pessoas negras. A gente fala muito dentro da comunidade negra sobre o descobrir-se negro, esse processo de se tornar negro. No meu caso, eu sempre soube que eu era negra, porque na escolinha já sofria racismo, crianças me chamando de macaca. Desde os dois anos de idade meus pais tiveram que ter essa conversa horrível, que infelizmente pais e mães negras tem que ter com seus filhos, de explicar a triste realidade que a gente vive. Mesmo sendo a única pessoa negra ocupando os lugares que eu ocupava, fosse a escola, o inglês, a faculdade ou trabalho, eu fui amadurecendo uma mulher negra e vendo o que eu podia trazer de transformação para esses espaços. [IMAGE=https://revistatrip.uol.com.br/upload/2020/09/5f6e2982a3650/chocochris-christiane-silva-pinto-google-tripfm-materiahoriz1.jpg; CREDITS=Arquivo pessoal; LEGEND=Christiane Silva Pinto e os pais] Você entrou na Universidade de São Paulo antes das cotas raciais nos vestibulares. Como foi? Nessa minha trajetória de admiração e de querer construir algo em cima daquilo que os meus pais fizeram, eu sempre fui muito preocupada em buscar uma educação de qualidade, mas gratuita. Descobri a Federal [Instituto Federal de São Paulo], que é uma escola pública que tem vestibulinho para entrar. Lá dentro tinha diversidade de raça, classe social, orientação sexual, mas ainda tinha bastante gente que, assim como eu, vinha de escolas particulares e que teve a oportunidade de ter pelo menos um bom ensino antes de acessar aquele espaço. E todo mundo ali também queria entrar na USP. Você não pode ser aquilo que nem imagina que pode ser, e ali naquele ambiente outras pessoas falavam sobre isso, tinham esse objetivo, o que só nutriu ainda mais em mim essa vontade de continuar minha educação numa universidade pública como a USP. LEIA TAMBÉM: "A mulher negra não pode errar", diz Pathy Dejesus Na época em que eu entrei na USP, em 2009, não tinha cotas raciais, era o começo das cotas socioeconômicas, e na sala de aula não tinha ninguém negro. Sempre tem aquela coisa de veterano e calouro, alguém ali que te acolhe, e eu grudei nas pessoas negras que já estavam lá. Nos anos seguintes, eu via uma menina negra e já trazia para o meu lado, porque se contasse quantas pessoas negras eu via circulando ali na Escola de Comunicação e Artes não enchia nem duas mãos. Na USP como um todo você só via pessoas de classes sociais diferentes nos cursos com menor concorrência. Realmente não tinham alunos que se pareciam comigo, não tinham professores que se pareciam comigo, e que entendiam que eu saía às cinco da manhã de casa para estar na aula às sete, oito da manhã. Eu passei pela USP achando uma experiência enriquecedora nesse sentido de senso crítico, de diversidade de relações, de conhecer pessoas, histórias. Mas no sentido de inclusão racial no ambiente onde eu estudava, eu tive só um professor negro, o Denis Oliveira, que admiro muito, um grande homem do nosso movimento negro no Brasil. E hoje eu olho para trás e consigo entender como foi que isso impactou o meu aprendizado. A grande importância das cotas é essa. Não dá para ser a única pessoa negra nas salas de aula. Eu estou falando de 2009, quando eu entrei, mas em 2020 as coisas não mudaram tanto assim. Então a grande importância das cotas realmente é democratizar esse acesso. Estudos mostram que, na mesma classe social, os brancos ainda acabam tendo mais vantagens e privilégios em relação às pessoas negras. É a gente ter a população brasileira realmente representada dentro das salas de aula e transformar o Brasil a partir disso. Você cursou uma faculdade que, teoricamente, é tida como mais progressista. Você se sentiu vítima de segregação em algum momento ou você foi acolhida? Como eu sempre estudei em escolas e ocupei espaços majoritariamente brancos, quando entrei na USP não foi diferente. Eu já sabia lidar e me adequar àquele espaço, e não senti racismo nas minhas relações ali. Pelo contrário, eu me senti bastante acolhida, foi uma época de muitas experiências incríveis, principalmente fora da sala de aula. Hoje, olhando para trás, eu acho que o racismo estava principalmente em qual era a narrativa estudada, quem são os autores, quem são os professores. Nunca sofri injúria, que a galera acha que é ao que o racismo se resume: xingar alguém. Mas eu já sabia mais ou menos hackear o sistema, então consegui me virar muito bem ali. [IMAGE=https://revistatrip.uol.com.br/upload/2020/09/5f6e2a5e8eddc/chocochris-christiane-silva-pinto-google-tripfm-materiahoriz3.jpg; CREDITS=Arquivo pessoal; LEGEND=Chris (ao centro), em ação do Afrogooglers] LEIA TAMBÉM: Consultorias mostram que igualdade racial é sinônimo de lucro Você trabalha no Google, uma das maiores empresas do mundo. Quando você entrou como estagiária, havia outros funcionários negros? Eu era a segunda funcionária negra, na verdade. Tinha eu e mais uma colega. É tão normatizado isso de você olhar pro lado e não ver outras pessoas negras que eu nem me assustei, para ser bem sincera. Ao que se deve esse cenário, num período tão recente e dentro de uma empresa que tem recursos financeiros e informação para ter diversidade? Ninguém tinha percebido isso? As decisões das empresas trazem com elas os preconceitos e os conceitos que as pessoas têm. Por mais que uma empresa fale "nós somos inclusivos, nós acreditamos na diversidade, nós queremos contratar mais mulheres, mais negras, mais trans", no fim das contas quem está fazendo o dia a dia são as pessoas, e essas pessoas precisam trabalhar os seus preconceitos, o que elas tomam por certo. É um gestor que vai tomar a decisão se aquela candidata negra vai entrar ou não, ou se vai ser outro, ou se vai ser da mesma faculdade em que ele estudou. Uma coisa que foi muito acertada na minha experiência é que o Google começou pelo treinamento das pessoas. Primeiro de tudo: treine as suas pessoas. Se você não começou a fazer isso ainda na sua empresa, na empresa em que você trabalha, está muito atrasado, porque começa no individual. A pessoa realmente tem que estar interessada em olhar o mundo, a olhar de uma forma nova e treinar o seu olhar, porque esse é o olhar de todas as nossas decisões, todos os dias. LEIA TAMBÉM: Adélia Sampaio, a primeira mulher negra a dirigir um longa metragem no Brasil Como fazer para ter mais igualdade nos cargos de peso, melhor remunerados? Digamos que eu seja o diretor e tenho cargos para preencher, grana para pagar, mas não encontro especialistas negros com a qualificação necessária. As cotas nas universidades são uma política recente, esses profissionais ainda não estão em grande número no mercado. O que um gestor deve fazer nesse caso? Para aumentar a diversidade em uma empresa você tem que investir em recurso. Seja recursos de dinheiro, seja de tempo dos seus funcionários. Se é importante, você vai investir. Se você não mudar nada na sua atitude, no que você vem fazendo, você definitivamente não vai ter resultados diferentes da situação que você já tem. Você tem que diagnosticar o problema, olhar para dentro, para a empresa: "Temos funcionários negros? Não temos? Quais são os requisitos que estamos pedindo pra contratar? Se eu não tenho funcionários negros, onde será que eu estou barrando eles?". Se você não está agindo intencionalmente para incluir, não intencionalmente você está excluindo, porque é assim, essa é a sociedade que a gente vive hoje. Entenda quem você já tem dentro de casa, quais cargos, como são os salários, se têm disparidade de salários entre funcionários negros e brancos ou não. Tem só os estagiários, ou tem gerentes negros? E aí começar a agir. É uma empresa que tem recursos? Contrate quem sabe fazer. Não acha que você já sabe fazer o que você não sabe. Você está aprendendo e precisa dessa humildade de quem está aprendendo, então traga quem entende do assunto. Traga especialistas como a Luana Genot, do Instituto Identidades do Brasil, que faz exatamente isso. LEIA TAMBÉM: Luiza Trajano fala sobre sucesso, poder e família Sobre cargos de liderança e cargos de entrada. O ideal é fazer os dois: trabalhar a entrada de jovens aprendizes, estagiários e posições de entrada, com estudantes negros. E você faz isso ativamente, se você ficar esperando o currículo chegar, não vai chegar. Vai lá onde estão as universidades que já têm cotas raciais, as faculdades de classe C, D e E, que é onde essa galera está. Eles existem! Não é que não chega, a sua marca não fala com elas, por isso que elas não estão aplicando para trabalharem na sua empresa. Para trabalhar com os estudantes que estão ali começando a carreira, é um pouco mais simples. Você vai ter oportunidades de desenvolver eles junto com a carreira deles, as habilidades que estão faltando, como o inglês, por exemplo. Já do lado dos profissionais mais seniores, realmente é um pouco complicado porque a gente está falando de uma geração anterior às cotas, então são poucos profissionais negros que vão ter o diploma, o nível de instrução ou de experiência que você está pedindo para seus cargos de gerência, executivos, de liderança. Não é a realidade. São menos profissionais e você acaba só mudando as pecinhas do jogo. Provavelmente você vai pegar alguém que já está em outra empresa e colocar na sua. Agora a sua tem um líder negro e a outra não tem mais. Não é uma mudança substancial de mercado. Tudo vem a partir de entender que é preciso investir nessa preparação, nessa capacitação de profissionais negros, seja contratando eles e desenvolvendo, seja criando programas pra desenvolver eles e depois contratar. Mas precisa de investimento, comprometimento, porque fazendo as coisas como sempre, nada muda. [IMAGE=https://revistatrip.uol.com.br/upload/2020/09/5f6e299acf31f/chocochris-christiane-silva-pinto-google-tripfm-materiahoriz2.jpg; CREDITS=Agência Ophelia; LEGEND=Christiane Silva Pinto na Casa Tpm] Você conseguiu alcançar uma posição e romper obstáculos que ainda estão fora da realidade de muitas pessoas negras no país. Eu já recebi aqui pessoas como Thaíde e Dexter, com as quais falei sobre o que acontece na cabeça quando se alcança esse sucesso, e se pode desfrutar de uma vida melhor, de viagens, de coisas materiais, mas as pessoas em volta ainda estão sofrendo com a desigualdade, com o racismo. Como é esse sentimento? O que você sente é exaustão. Porque o tempo inteiro você está sendo impactado pelo racismo e pelos preconceitos, por toda essa explosão institucional e estrutural para com o negro no Brasil. E ao mesmo tempo você está ali, batalhando, fazendo o seu. Um amigo meu falou uma frase que nunca esqueci: "Você tem que trabalhar o triplo para entregar o dobro e ser reconhecido como igual". Eu vivo isso todos os dias desde que eu nasci. E com certeza quem é preto e estiver me lendo aqui vai se reconhecer também. Eu acho que a saúde mental da população preta é um tema pouco falado e dos mais urgentes e importantes. Imagina o que é querer ser sem saber história do seu povo. Não no sentido de procurar a família, a ascendência e tal. Mas todo mundo que era igual a você não resistiu, parece que foi trazido de escravo porque era bobo, foi capturado e trazido. Aí foi mantido ali, nunca tentou se revoltar, sair dessa, e em algum momento veio a Princesa Isabel, uma santa, e deu a abolição para a gente. Então parece que foi ganhada essa liberdade. A gente não estuda sobre os reis, as rainhas, as formas de organização da sociedade africana, matriarcado, as várias contribuições da cultura negra e da história e existência negra para o Brasil. E aí quando você está nesse lugar de começar a fazer sucesso não tem saúde mental mesmo para lidar com isso. Você se sente cobrado, você se sente exausto e você tem medo de perder todo o tempo. Você leva o trabalho muito mais a sério porque uma demissão para você é "como é que vou pagar as contas?", "como é que eu vou continuar ajudando a minha mãe, a minha família?". Você está numa multinacional fazendo o seu home office em casa, mas o seu irmão sai para fazer entrega do iFood. A sua mãe está indo trabalhar no caixa do mercado todos os dias. Eu tenho vários colegas de AfroGooglers que tem essa realidade, e todo mundo realmente se sente culpado. A gente tem que sempre lembrar que, se o racismo e o machismo são mantidos até hoje, é porque tem narrativas que são criadas e mantidas, imagens que continuam subjugando a gente a esse lugar. Então a própria população também acaba acreditando que ela não merece, que ela não pode, que ela não pertence. É a síndrome do impostor. Tem vergonha até de compartilhar as coisas que conquistou de bom para ninguém ficar: "ah, mas você não é preta de verdade, você é Patrícia". Quem vê close não vê corre, não vê as horas não dormidas, não vê o burnout, a ansiedade, a depressão. Infelizmente essa é uma realidade de muitos dos colegas pretos que também estão alcançando lugares onde eles poderiam estar desfrutando felizes e comemorando, mas o racismo não deixa. Seja porque outras pessoas não deixam você desfrutar – "isso não é para você" – ou porque você mesmo não se deixa desfrutar, até porque você tem que continuar no corre, garantindo o seu lugar todos os dias. [QUOTE=1114] LEIA TAMBÉM: Thelminha: não dá para escolher entre o machismo e o racismo E por fim você ainda é exemplo de uma galera. Eu sofro muito com isso porque eu nunca me imaginei exemplo de ninguém, eu nunca quis ser ninguém. Pelo contrário, eu sempre fui a doidinha. A responsabilidade que isso traz para você. As pessoas te pedem ajuda, te trazem demandas. Pessoas negras e pessoas brancas que vem: "agora eu quero fazer alguma coisa Chris, pode me ajudar?" Principalmente a galera branca, que tem o melhor nível de acesso à educação, poderia muito bem procurar no Google o que é racismo, o que é anti-racismo, quais são os livros, os TED talks, mas acham mais conveniente vir perguntar. E é por isso que eu acho que não é responsabilidade do negro educar ninguém. Mas eu consegui acessar muitos lugares que pessoas negras não acessam, e realmente tomo pra mim um pouco essa responsabilidade como uma vocação, um propósito na minha vida de fazer o meu lugar um pouquinho melhor todos os dias através dessa ponte. Se você pudesse indicar só uma peça, pode ser um um filme, um livro, para alguém que genuinamente esteja querendo aprender sobre a questão do combate ao racismo, o que você indicaria? Sempre a gente vai para livros de intelectuais ou coisas um pouco complicadas que acabam afastando as pessoas, apesar de que nossos intelectuais negros devem ser reconhecidos – Djamila Ribeiro, Sueli Carneiro, Cida Bento, Lélia Gonzales, Silvio Almeida e todos esses nomes. Façam a lição de casa, procurem, conheçam e leiam. Ma,s pra facilitar, recomendo um filme que chama O ódio que você semeia. Só de lembrar já fiquei emocionada, várias coisas que acontecem ali mostram brutalmente a realidade de uma família negra. Esse filme mexeu comigo e pega em alguns pontos muito delicados da experiência de ser negro. No fim das contas, somos todos humanos e eu acho que quando você vê uma pessoa sendo morta, uma família, a saúde mental de alguém se destruindo por causa do racismo, não tem como isso não mexer com você, com a sua empatia.
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Criadora do comitê de igualdade racial do Google Brasil, Chocochris dá o caminho para combater o racismo nas corporações Christiane Silva Pinto nunca pensou que seria exemplo pra ninguém, mas hoje abraça a responsabilidade de ter se tornado referência na luta por mais diversidade nas empresas brasileiras. Quando chegou ao Google Brasil, onde hoje é gerente de marketing, ela tinha apenas uma colega negra. Lá, fundou um comitê de igualdade racial, o AfroGooglers, e ajudou a criar projetos como o YouTube Black, que incentiva criadores de conteúdo negros, e o Next Step, programa de estágio exclusivo para pessoas negras que visa aumentar a representatividade na companhia. “As decisões das empresas trazem com elas os preconceitos e os conceitos que as pessoas têm”, diz. “Se você não está agindo intencionalmente para incluir, você está excluindo”. Embora 56% dos brasileiros se declarem pretos ou pardos, de acordo com o IBGE, essa parcela que representa mais da metade da população ainda é minoria no mundo corporativo. Os dados mostram ainda que profissionais negros ganham até 45% menos do que os brancos com a mesma qualificação, e estão sub-representados nos cargos de liderança, ocupando apenas 6% das posições de gerência entre as maiores empresas do país. Em entrevista à Trip, Chocochris, apelido pelo qual ficou conhecida nas redes sociais, conta como venceu obstáculos e alcançou espaços onde pessoas negras eram ausentes ou minoria, e dá o caminho para combater o racismo e a desigualdade de oportunidades de dentro das empresas. [IMAGE=https://revistatrip.uol.com.br/upload/2020/09/5f6e2a7f6410a/chocochris-christiane-silva-pinto-google-tripfm-materiahoriz4.jpg; CREDITS=Alex Batista; LEGEND=Christiane Silva Pinto] Trip. Como é a sua família, a sua origem, de onde você vem? Christiane Silva Pinto. Eu gosto muito dessa pergunta sobre a nossa história e trajetória de vida porque é aí que a gente vai entendendo o que contribuiu para chegar onde chegou. Definitivamente não é sorte, mas também não é só esforço, não é só talento. Tem muita coisa na vida de alguém que o faz chegar mais perto ou mais longe de um cargo de emprego, ou de um curso universitário, por exemplo. Meus pais, que são a minha grande inspiração, vêm de famílias bastante humildes. Nenhum dos meus avós era alfabetizado, nenhum deles sabia ler e escrever. Como duas gerações depois estou trabalhando numa das maiores empresas do mundo, numa multinacional? Tudo aconteceu justamente porque os meus pais, com a história deles, valorizaram muito a educação. A minha mãe é do interior de Minas, a segunda de 12 filhos. Imagina 60 anos atrás ser a filha mais velha: tinha que cuidar de todos os outros irmãos. Ela tinha que ir buscar o sustento, desde os cinco anos de idade já trabalhava e andava quilômetros por dia para ir no matadouro de carne de boi pegar o que sobrava de pé, de resto, e levar para a família dela poder comer. Eu realmente admirei muito a minha mãe sendo diarista, trabalhando de costureira, com vários problemas de coluna por toda essa história de trabalhar desde criança, mas que não desistiu de estudar. Já o meu pai é do interior de São Paulo e ele também vem de uma família bastante humilde. A diferença é que meu pai era o caçula de 15. Ele teve a ajuda dos irmãos mais velhos e até dos maridos das irmãs que foram casando. A família foi muito presente em ajudar ele a conseguir oportunidades, quem trabalhava em tal lugar recomendava ele. Meu pai hoje é aposentado, mas chegou até o mestrado. E porque os dois viram a transformação que um pouco de educação trouxe, eles sempre foram bem rígidos comigo e com meu irmão nesse quesito. A prioridade da minha família era pagar a melhor escola do bairro, o curso de inglês. E é claro que esse acesso que eu e meu irmão tivemos por causa da história dos meus pais nos colocaram em lugares onde não tinha outras pessoas negras. A gente fala muito dentro da comunidade negra sobre o descobrir-se negro, esse processo de se tornar negro. No meu caso, eu sempre soube que eu era negra, porque na escolinha já sofria racismo, crianças me chamando de macaca. Desde os dois anos de idade meus pais tiveram que ter essa conversa horrível, que infelizmente pais e mães negras tem que ter com seus filhos, de explicar a triste realidade que a gente vive. Mesmo sendo a única pessoa negra ocupando os lugares que eu ocupava, fosse a escola, o inglês, a faculdade ou trabalho, eu fui amadurecendo uma mulher negra e vendo o que eu podia trazer de transformação para esses espaços. 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Você não pode ser aquilo que nem imagina que pode ser, e ali naquele ambiente outras pessoas falavam sobre isso, tinham esse objetivo, o que só nutriu ainda mais em mim essa vontade de continuar minha educação numa universidade pública como a USP. LEIA TAMBÉM: "A mulher negra não pode errar", diz Pathy Dejesus Na época em que eu entrei na USP, em 2009, não tinha cotas raciais, era o começo das cotas socioeconômicas, e na sala de aula não tinha ninguém negro. Sempre tem aquela coisa de veterano e calouro, alguém ali que te acolhe, e eu grudei nas pessoas negras que já estavam lá. Nos anos seguintes, eu via uma menina negra e já trazia para o meu lado, porque se contasse quantas pessoas negras eu via circulando ali na Escola de Comunicação e Artes não enchia nem duas mãos. Na USP como um todo você só via pessoas de classes sociais diferentes nos cursos com menor concorrência. Realmente não tinham alunos que se pareciam comigo, não tinham professores que se pareciam comigo, e que entendiam que eu saía às cinco da manhã de casa para estar na aula às sete, oito da manhã. Eu passei pela USP achando uma experiência enriquecedora nesse sentido de senso crítico, de diversidade de relações, de conhecer pessoas, histórias. Mas no sentido de inclusão racial no ambiente onde eu estudava, eu tive só um professor negro, o Denis Oliveira, que admiro muito, um grande homem do nosso movimento negro no Brasil. E hoje eu olho para trás e consigo entender como foi que isso impactou o meu aprendizado. A grande importância das cotas é essa. Não dá para ser a única pessoa negra nas salas de aula. Eu estou falando de 2009, quando eu entrei, mas em 2020 as coisas não mudaram tanto assim. Então a grande importância das cotas realmente é democratizar esse acesso. Estudos mostram que, na mesma classe social, os brancos ainda acabam tendo mais vantagens e privilégios em relação às pessoas negras. É a gente ter a população brasileira realmente representada dentro das salas de aula e transformar o Brasil a partir disso. Você cursou uma faculdade que, teoricamente, é tida como mais progressista. Você se sentiu vítima de segregação em algum momento ou você foi acolhida? Como eu sempre estudei em escolas e ocupei espaços majoritariamente brancos, quando entrei na USP não foi diferente. Eu já sabia lidar e me adequar àquele espaço, e não senti racismo nas minhas relações ali. Pelo contrário, eu me senti bastante acolhida, foi uma época de muitas experiências incríveis, principalmente fora da sala de aula. Hoje, olhando para trás, eu acho que o racismo estava principalmente em qual era a narrativa estudada, quem são os autores, quem são os professores. Nunca sofri injúria, que a galera acha que é ao que o racismo se resume: xingar alguém. Mas eu já sabia mais ou menos hackear o sistema, então consegui me virar muito bem ali. [IMAGE=https://revistatrip.uol.com.br/upload/2020/09/5f6e2a5e8eddc/chocochris-christiane-silva-pinto-google-tripfm-materiahoriz3.jpg; CREDITS=Arquivo pessoal; LEGEND=Chris (ao centro), em ação do Afrogooglers] LEIA TAMBÉM: Consultorias mostram que igualdade racial é sinônimo de lucro Você trabalha no Google, uma das maiores empresas do mundo. Quando você entrou como estagiária, havia outros funcionários negros? Eu era a segunda funcionária negra, na verdade. Tinha eu e mais uma colega. É tão normatizado isso de você olhar pro lado e não ver outras pessoas negras que eu nem me assustei, para ser bem sincera. Ao que se deve esse cenário, num período tão recente e dentro de uma empresa que tem recursos financeiros e informação para ter diversidade? Ninguém tinha percebido isso? As decisões das empresas trazem com elas os preconceitos e os conceitos que as pessoas têm. Por mais que uma empresa fale "nós somos inclusivos, nós acreditamos na diversidade, nós queremos contratar mais mulheres, mais negras, mais trans", no fim das contas quem está fazendo o dia a dia são as pessoas, e essas pessoas precisam trabalhar os seus preconceitos, o que elas tomam por certo. É um gestor que vai tomar a decisão se aquela candidata negra vai entrar ou não, ou se vai ser outro, ou se vai ser da mesma faculdade em que ele estudou. Uma coisa que foi muito acertada na minha experiência é que o Google começou pelo treinamento das pessoas. Primeiro de tudo: treine as suas pessoas. Se você não começou a fazer isso ainda na sua empresa, na empresa em que você trabalha, está muito atrasado, porque começa no individual. A pessoa realmente tem que estar interessada em olhar o mundo, a olhar de uma forma nova e treinar o seu olhar, porque esse é o olhar de todas as nossas decisões, todos os dias. LEIA TAMBÉM: Adélia Sampaio, a primeira mulher negra a dirigir um longa metragem no Brasil Como fazer para ter mais igualdade nos cargos de peso, melhor remunerados? Digamos que eu seja o diretor e tenho cargos para preencher, grana para pagar, mas não encontro especialistas negros com a qualificação necessária. As cotas nas universidades são uma política recente, esses profissionais ainda não estão em grande número no mercado. O que um gestor deve fazer nesse caso? Para aumentar a diversidade em uma empresa você tem que investir em recurso. Seja recursos de dinheiro, seja de tempo dos seus funcionários. Se é importante, você vai investir. Se você não mudar nada na sua atitude, no que você vem fazendo, você definitivamente não vai ter resultados diferentes da situação que você já tem. Você tem que diagnosticar o problema, olhar para dentro, para a empresa: "Temos funcionários negros? Não temos? Quais são os requisitos que estamos pedindo pra contratar? Se eu não tenho funcionários negros, onde será que eu estou barrando eles?". Se você não está agindo intencionalmente para incluir, não intencionalmente você está excluindo, porque é assim, essa é a sociedade que a gente vive hoje. Entenda quem você já tem dentro de casa, quais cargos, como são os salários, se têm disparidade de salários entre funcionários negros e brancos ou não. Tem só os estagiários, ou tem gerentes negros? E aí começar a agir. É uma empresa que tem recursos? Contrate quem sabe fazer. Não acha que você já sabe fazer o que você não sabe. Você está aprendendo e precisa dessa humildade de quem está aprendendo, então traga quem entende do assunto. Traga especialistas como a Luana Genot, do Instituto Identidades do Brasil, que faz exatamente isso. LEIA TAMBÉM: Luiza Trajano fala sobre sucesso, poder e família Sobre cargos de liderança e cargos de entrada. O ideal é fazer os dois: trabalhar a entrada de jovens aprendizes, estagiários e posições de entrada, com estudantes negros. E você faz isso ativamente, se você ficar esperando o currículo chegar, não vai chegar. Vai lá onde estão as universidades que já têm cotas raciais, as faculdades de classe C, D e E, que é onde essa galera está. Eles existem! Não é que não chega, a sua marca não fala com elas, por isso que elas não estão aplicando para trabalharem na sua empresa. Para trabalhar com os estudantes que estão ali começando a carreira, é um pouco mais simples. Você vai ter oportunidades de desenvolver eles junto com a carreira deles, as habilidades que estão faltando, como o inglês, por exemplo. Já do lado dos profissionais mais seniores, realmente é um pouco complicado porque a gente está falando de uma geração anterior às cotas, então são poucos profissionais negros que vão ter o diploma, o nível de instrução ou de experiência que você está pedindo para seus cargos de gerência, executivos, de liderança. Não é a realidade. São menos profissionais e você acaba só mudando as pecinhas do jogo. Provavelmente você vai pegar alguém que já está em outra empresa e colocar na sua. Agora a sua tem um líder negro e a outra não tem mais. Não é uma mudança substancial de mercado. Tudo vem a partir de entender que é preciso investir nessa preparação, nessa capacitação de profissionais negros, seja contratando eles e desenvolvendo, seja criando programas pra desenvolver eles e depois contratar. Mas precisa de investimento, comprometimento, porque fazendo as coisas como sempre, nada muda. [IMAGE=https://revistatrip.uol.com.br/upload/2020/09/5f6e299acf31f/chocochris-christiane-silva-pinto-google-tripfm-materiahoriz2.jpg; CREDITS=Agência Ophelia; LEGEND=Christiane Silva Pinto na Casa Tpm] Você conseguiu alcançar uma posição e romper obstáculos que ainda estão fora da realidade de muitas pessoas negras no país. Eu já recebi aqui pessoas como Thaíde e Dexter, com as quais falei sobre o que acontece na cabeça quando se alcança esse sucesso, e se pode desfrutar de uma vida melhor, de viagens, de coisas materiais, mas as pessoas em volta ainda estão sofrendo com a desigualdade, com o racismo. Como é esse sentimento? O que você sente é exaustão. Porque o tempo inteiro você está sendo impactado pelo racismo e pelos preconceitos, por toda essa explosão institucional e estrutural para com o negro no Brasil. E ao mesmo tempo você está ali, batalhando, fazendo o seu. Um amigo meu falou uma frase que nunca esqueci: "Você tem que trabalhar o triplo para entregar o dobro e ser reconhecido como igual". Eu vivo isso todos os dias desde que eu nasci. E com certeza quem é preto e estiver me lendo aqui vai se reconhecer também. Eu acho que a saúde mental da população preta é um tema pouco falado e dos mais urgentes e importantes. Imagina o que é querer ser sem saber história do seu povo. Não no sentido de procurar a família, a ascendência e tal. Mas todo mundo que era igual a você não resistiu, parece que foi trazido de escravo porque era bobo, foi capturado e trazido. Aí foi mantido ali, nunca tentou se revoltar, sair dessa, e em algum momento veio a Princesa Isabel, uma santa, e deu a abolição para a gente. Então parece que foi ganhada essa liberdade. A gente não estuda sobre os reis, as rainhas, as formas de organização da sociedade africana, matriarcado, as várias contribuições da cultura negra e da história e existência negra para o Brasil. E aí quando você está nesse lugar de começar a fazer sucesso não tem saúde mental mesmo para lidar com isso. Você se sente cobrado, você se sente exausto e você tem medo de perder todo o tempo. Você leva o trabalho muito mais a sério porque uma demissão para você é "como é que vou pagar as contas?", "como é que eu vou continuar ajudando a minha mãe, a minha família?". Você está numa multinacional fazendo o seu home office em casa, mas o seu irmão sai para fazer entrega do iFood. A sua mãe está indo trabalhar no caixa do mercado todos os dias. Eu tenho vários colegas de AfroGooglers que tem essa realidade, e todo mundo realmente se sente culpado. A gente tem que sempre lembrar que, se o racismo e o machismo são mantidos até hoje, é porque tem narrativas que são criadas e mantidas, imagens que continuam subjugando a gente a esse lugar. Então a própria população também acaba acreditando que ela não merece, que ela não pode, que ela não pertence. É a síndrome do impostor. Tem vergonha até de compartilhar as coisas que conquistou de bom para ninguém ficar: "ah, mas você não é preta de verdade, você é Patrícia". Quem vê close não vê corre, não vê as horas não dormidas, não vê o burnout, a ansiedade, a depressão. Infelizmente essa é uma realidade de muitos dos colegas pretos que também estão alcançando lugares onde eles poderiam estar desfrutando felizes e comemorando, mas o racismo não deixa. Seja porque outras pessoas não deixam você desfrutar – "isso não é para você" – ou porque você mesmo não se deixa desfrutar, até porque você tem que continuar no corre, garantindo o seu lugar todos os dias. [QUOTE=1114] LEIA TAMBÉM: Thelminha: não dá para escolher entre o machismo e o racismo E por fim você ainda é exemplo de uma galera. Eu sofro muito com isso porque eu nunca me imaginei exemplo de ninguém, eu nunca quis ser ninguém. Pelo contrário, eu sempre fui a doidinha. A responsabilidade que isso traz para você. As pessoas te pedem ajuda, te trazem demandas. Pessoas negras e pessoas brancas que vem: "agora eu quero fazer alguma coisa Chris, pode me ajudar?" Principalmente a galera branca, que tem o melhor nível de acesso à educação, poderia muito bem procurar no Google o que é racismo, o que é anti-racismo, quais são os livros, os TED talks, mas acham mais conveniente vir perguntar. E é por isso que eu acho que não é responsabilidade do negro educar ninguém. Mas eu consegui acessar muitos lugares que pessoas negras não acessam, e realmente tomo pra mim um pouco essa responsabilidade como uma vocação, um propósito na minha vida de fazer o meu lugar um pouquinho melhor todos os dias através dessa ponte. Se você pudesse indicar só uma peça, pode ser um um filme, um livro, para alguém que genuinamente esteja querendo aprender sobre a questão do combate ao racismo, o que você indicaria? Sempre a gente vai para livros de intelectuais ou coisas um pouco complicadas que acabam afastando as pessoas, apesar de que nossos intelectuais negros devem ser reconhecidos – Djamila Ribeiro, Sueli Carneiro, Cida Bento, Lélia Gonzales, Silvio Almeida e todos esses nomes. Façam a lição de casa, procurem, conheçam e leiam. Ma,s pra facilitar, recomendo um filme que chama O ódio que você semeia. Só de lembrar já fiquei emocionada, várias coisas que acontecem ali mostram brutalmente a realidade de uma família negra. Esse filme mexeu comigo e pega em alguns pontos muito delicados da experiência de ser negro. No fim das contas, somos todos humanos e eu acho que quando você vê uma pessoa sendo morta, uma família, a saúde mental de alguém se destruindo por causa do racismo, não tem como isso não mexer com você, com a sua empatia.
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