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Quinzena dos cineastas de Cannes destaca cinema português

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Começa nesta quarta-feira a Quinzena dos cineastas, prestigiosa mostra paralela do Festival de cinema de Cannes de 2024. Uma edição com forte presença lusófona: uma longa metragem brasileira, outra portuguesa e duas curtas metragens lusas. Caso de "O Jardim em Movimento" de Inês Lima.

Trata-se de uma visita da Serra da Arrábida, reputada região natural ao sul de Lisboa, que inclui um Parque natural. Uma visita pouco convencional, porém, entre a atracção pelas flores ou pelos corpos.

A realizadora Inês Lima refere-se à alegria de ter sido seleccionada para Cannes, num certame com tanta presença portuguesa.

"Naturalmente, com muita felicidade e muita alegria. Por várias razões, porque foi um filme que demorou cerca de dois anos a concluir que foi auto-financiado, que teve muitos constrangimentos financeiros e acho que, quer para mim, quer para toda a equipa que investiu muito no filme, acho que é mesmo e uma felicidade para todos nós poder ver este reconhecimento."

Ainda por cima num certame em que nesta edição de 2024 vai haver uma grande visibilidade do cinema lusófono e português, nomeadamente com um filme em competição na seleção oficial das longas metragens, outro nas curtas metragens e também no que diz respeito à Quinzena dos Cineastas, a uma ou outra curta metragem portuguesa, "Quando a Terra foge", de Frederico com o Lobo. Então, algum prazer especial efetivamente a partilhar de alguma forma os holofotes de Cannes com este cinema made in Portugal?

"Claro, claro, com certeza. Acho que é muito positivo ver esta presença em peso do cinema português e fico muito curiosa por ver todos estes trabalhos que ainda não tive oportunidade de ver e acho que também é uma forma de nos podermos reunir e também estar juntos nesta ocasião. Portanto, fico mais do que contente de partilhar estes holofotes."

E acha que este festival, ainda é diferente de outros mais se tivesse sido selecionada para Locarno, para Berlim ? Cannes é diferente a seu ver ?

"Eu não tenho uma experiência destes festivais, portanto este é o primeiro festival deste encargo em que eu passo um trabalho meu. Eu vejo estes festivais todos como festivais que são prestigiados e que têm cinema de qualidade e ficaria feliz de passar em qualquer um deles. Portanto, nesse sentido, acho que não. Acho que não, não. Não distingo o Festival de Cannes deste outros festivais que são também maravilhosos."

E então falemos um pouco do jardim em movimento. Em que medida é que estamos aqui a falar da embriaguez ou do poder das flores, da sensualidade floral que é aqui colocada também, frente à sensualidade corporal? O que é que pretendeu efectivamente com "O jardim em movimento" ? Como é que você interpreta esta obra?

"Este filme foi, sobretudo, uma das muitas possíveis interpretações ou hipóteses de retratar um espaço que eu conheço muito bem, porque nasci e cresci em Setúbal e, portanto, a Serra da Arrábida é um espaço que eu habitei desde que nasci. E, portanto, a forma como eu vejo este espaço está moldado por todas estas experiências que eu lá passei, quer de criança, quer como adulta. E que, para mim, é um espaço que vive numa dicotomia muito grande entre, por um lado, ter esta beleza idílica e que atrai muita gente e que é um espaço seguro. Mas por outro lado, é um espaço que à noite tem os seus perigos.

E a crescer também foram-me contadas histórias de certas coisas, da dimensão do oculto que se passam lá por ser um sítio considerado mais místico. E, portanto, para mim é inevitável ver este espaço sem ser dentro desta polarização. E por isso é que a mim sempre me interessou e acho que não conseguiria falar de outra forma.

É uma Serra da Arrábida dentro de moldes, digamos, da fábula, porque acho que é um sítio que está vivo, de muitas formas. E que mais do que nós, olharmos para ela, para esta paisagem que normalmente é isso que nós pensamos de nós próprios, que nós somos os únicos observadores. Eu queria retratar. Tinha a intenção de colocá-la também a olhar para nós. E acho que esse foi um dos principais objectivos ou pontos de partida."

Tem algo que ver com as temáticas de preservação do meio ambiente, que são mais do que candentes no século XXI ? Sobre a interacção, possível ou desejável entre os seres humanos e a flora ? Porque entramos aqui muito no campo da botânica e de toda a vasta gama das plantas que residem, que desabrocham de forma luxuriante na Serra da Arrábida.

"Sim, acho que também está sempre de mãos dadas este tema quando se fala da Serra da Arrábida, eu acho. Porque, não só pela presença já quase centenária da fábrica de cimento, que é um problema ambiental muito grande, mas que já existia antes da Serra da Arrábida ser considerada um parque natural.

E com essa designação vem um grande conjunto de leis e restrições que, infelizmente, esta fábrica não teve, ou pelo menos não teve se calhar os que deveriam.

E, ao mesmo tempo, também pela questão da recente privatização de alguns terrenos dentro do próprio parque, que é uma coisa muito recente e que não só aos habitantes de Setúbal, mas aos visitantes neste momento apresenta- se uma grande área restrita, que durante todos estes anos foi aberta e há espaço que faz parte do Parque Natural e, portanto, isto de certa forma, também apresenta uma ameaça.

Portanto, sim, acho que estes dois temas estão muito conectados e a narrativa que se tentou criar, tentei que espelhasse ou que se cruzasse um pouco com esses temas. Sim."

E como é que se chega então a este produto final? Implicou, obviamente, muita aplicação e muito investimento. Também os encargos financeiros que isso implicou !

Como é que você chega a este produto final? Você que já trabalhou, por exemplo, na programação do IndieLisboa, pode contar-nos um pouco o seu percurso até chegar a "O Jardim em Movimento" ?

"Eu estudei a Escola de Cinema de Lisboa e foi aí que realizei o meu primeiro filme, neste caso, filme de estudante, filme de escola.

Um pouco depois acabei por envergar mais pelo cinema experimental. E foi aí que eu encontrei Elias Querejeta Zine Eskola. Que é uma escola recente em São Sebastião, em Espanha, e aí estudei cerca de um ano, um ano e meio.

O cinema experimental é um tipo de cinema e de veículo no qual eu me comecei a identificar mais e, portanto, foi sair um pouco da narrativa.

A forma de pensar os filmes de forma mais narrativa para me deslocar a um universo mais experimental.

E aí realizei outro filme que foi "A Casa do Norte", que é o meu último filme antes do "Jardim em Movimento" e desde então, desde que voltei para Portugal, tenho estado a preparar este filme.

Portanto, há cerca de três anos mais ou menos. Que, apesar de ser o meu terceiro filme, é o meu primeiro fora de instituições e de forma profissional e auto-financiada com tudo o que isso acarreta. E que acho que também acaba por combinar um pouco da narrativa que se cruza com, se calhar, uma estética mais experimental ou mais sensorial, talvez.

De onde é que vinha o apetite pelo cinema e daquilo que se lembra e da sua mais tenra meninice? E se sim, quais são as minhas propostas com as quais sente maior proximidade? Propostas cinematográficas, claro.

"Por acaso não se trata de uma vocação ou de um sonho que eu tinha desde nova. Eu sempre me dividi entre muitas áreas e muitos interesses. Ainda hoje isso acontece.

Não querendo apenas fazer cinema ou imagem em movimento destinado para uma sala de cinema no contexto da sala de cinema e, portanto, no fundo, foi ir para a escola de cinema foi um pouco um salto de fé. Que não era uma certeza, mas acabou por se confirmar como uma decisão muito positiva.

E eu acho que também os meus interesses e o tipo de espectadora que eu sou hoje, ou o tipo de consumidora que eu sou hoje acho que também passou muito por esses anos de estudo na escola de cinema, mais do que anteriormente, sendo-lhe honesta, é isso."

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Trata-se de uma visita da Serra da Arrábida, reputada região natural ao sul de Lisboa, que inclui um Parque natural. Uma visita pouco convencional, porém, entre a atracção pelas flores ou pelos corpos.

A realizadora Inês Lima refere-se à alegria de ter sido seleccionada para Cannes, num certame com tanta presença portuguesa.

"Naturalmente, com muita felicidade e muita alegria. Por várias razões, porque foi um filme que demorou cerca de dois anos a concluir que foi auto-financiado, que teve muitos constrangimentos financeiros e acho que, quer para mim, quer para toda a equipa que investiu muito no filme, acho que é mesmo e uma felicidade para todos nós poder ver este reconhecimento."

Ainda por cima num certame em que nesta edição de 2024 vai haver uma grande visibilidade do cinema lusófono e português, nomeadamente com um filme em competição na seleção oficial das longas metragens, outro nas curtas metragens e também no que diz respeito à Quinzena dos Cineastas, a uma ou outra curta metragem portuguesa, "Quando a Terra foge", de Frederico com o Lobo. Então, algum prazer especial efetivamente a partilhar de alguma forma os holofotes de Cannes com este cinema made in Portugal?

"Claro, claro, com certeza. Acho que é muito positivo ver esta presença em peso do cinema português e fico muito curiosa por ver todos estes trabalhos que ainda não tive oportunidade de ver e acho que também é uma forma de nos podermos reunir e também estar juntos nesta ocasião. Portanto, fico mais do que contente de partilhar estes holofotes."

E acha que este festival, ainda é diferente de outros mais se tivesse sido selecionada para Locarno, para Berlim ? Cannes é diferente a seu ver ?

"Eu não tenho uma experiência destes festivais, portanto este é o primeiro festival deste encargo em que eu passo um trabalho meu. Eu vejo estes festivais todos como festivais que são prestigiados e que têm cinema de qualidade e ficaria feliz de passar em qualquer um deles. Portanto, nesse sentido, acho que não. Acho que não, não. Não distingo o Festival de Cannes deste outros festivais que são também maravilhosos."

E então falemos um pouco do jardim em movimento. Em que medida é que estamos aqui a falar da embriaguez ou do poder das flores, da sensualidade floral que é aqui colocada também, frente à sensualidade corporal? O que é que pretendeu efectivamente com "O jardim em movimento" ? Como é que você interpreta esta obra?

"Este filme foi, sobretudo, uma das muitas possíveis interpretações ou hipóteses de retratar um espaço que eu conheço muito bem, porque nasci e cresci em Setúbal e, portanto, a Serra da Arrábida é um espaço que eu habitei desde que nasci. E, portanto, a forma como eu vejo este espaço está moldado por todas estas experiências que eu lá passei, quer de criança, quer como adulta. E que, para mim, é um espaço que vive numa dicotomia muito grande entre, por um lado, ter esta beleza idílica e que atrai muita gente e que é um espaço seguro. Mas por outro lado, é um espaço que à noite tem os seus perigos.

E a crescer também foram-me contadas histórias de certas coisas, da dimensão do oculto que se passam lá por ser um sítio considerado mais místico. E, portanto, para mim é inevitável ver este espaço sem ser dentro desta polarização. E por isso é que a mim sempre me interessou e acho que não conseguiria falar de outra forma.

É uma Serra da Arrábida dentro de moldes, digamos, da fábula, porque acho que é um sítio que está vivo, de muitas formas. E que mais do que nós, olharmos para ela, para esta paisagem que normalmente é isso que nós pensamos de nós próprios, que nós somos os únicos observadores. Eu queria retratar. Tinha a intenção de colocá-la também a olhar para nós. E acho que esse foi um dos principais objectivos ou pontos de partida."

Tem algo que ver com as temáticas de preservação do meio ambiente, que são mais do que candentes no século XXI ? Sobre a interacção, possível ou desejável entre os seres humanos e a flora ? Porque entramos aqui muito no campo da botânica e de toda a vasta gama das plantas que residem, que desabrocham de forma luxuriante na Serra da Arrábida.

"Sim, acho que também está sempre de mãos dadas este tema quando se fala da Serra da Arrábida, eu acho. Porque, não só pela presença já quase centenária da fábrica de cimento, que é um problema ambiental muito grande, mas que já existia antes da Serra da Arrábida ser considerada um parque natural.

E com essa designação vem um grande conjunto de leis e restrições que, infelizmente, esta fábrica não teve, ou pelo menos não teve se calhar os que deveriam.

E, ao mesmo tempo, também pela questão da recente privatização de alguns terrenos dentro do próprio parque, que é uma coisa muito recente e que não só aos habitantes de Setúbal, mas aos visitantes neste momento apresenta- se uma grande área restrita, que durante todos estes anos foi aberta e há espaço que faz parte do Parque Natural e, portanto, isto de certa forma, também apresenta uma ameaça.

Portanto, sim, acho que estes dois temas estão muito conectados e a narrativa que se tentou criar, tentei que espelhasse ou que se cruzasse um pouco com esses temas. Sim."

E como é que se chega então a este produto final? Implicou, obviamente, muita aplicação e muito investimento. Também os encargos financeiros que isso implicou !

Como é que você chega a este produto final? Você que já trabalhou, por exemplo, na programação do IndieLisboa, pode contar-nos um pouco o seu percurso até chegar a "O Jardim em Movimento" ?

"Eu estudei a Escola de Cinema de Lisboa e foi aí que realizei o meu primeiro filme, neste caso, filme de estudante, filme de escola.

Um pouco depois acabei por envergar mais pelo cinema experimental. E foi aí que eu encontrei Elias Querejeta Zine Eskola. Que é uma escola recente em São Sebastião, em Espanha, e aí estudei cerca de um ano, um ano e meio.

O cinema experimental é um tipo de cinema e de veículo no qual eu me comecei a identificar mais e, portanto, foi sair um pouco da narrativa.

A forma de pensar os filmes de forma mais narrativa para me deslocar a um universo mais experimental.

E aí realizei outro filme que foi "A Casa do Norte", que é o meu último filme antes do "Jardim em Movimento" e desde então, desde que voltei para Portugal, tenho estado a preparar este filme.

Portanto, há cerca de três anos mais ou menos. Que, apesar de ser o meu terceiro filme, é o meu primeiro fora de instituições e de forma profissional e auto-financiada com tudo o que isso acarreta. E que acho que também acaba por combinar um pouco da narrativa que se cruza com, se calhar, uma estética mais experimental ou mais sensorial, talvez.

De onde é que vinha o apetite pelo cinema e daquilo que se lembra e da sua mais tenra meninice? E se sim, quais são as minhas propostas com as quais sente maior proximidade? Propostas cinematográficas, claro.

"Por acaso não se trata de uma vocação ou de um sonho que eu tinha desde nova. Eu sempre me dividi entre muitas áreas e muitos interesses. Ainda hoje isso acontece.

Não querendo apenas fazer cinema ou imagem em movimento destinado para uma sala de cinema no contexto da sala de cinema e, portanto, no fundo, foi ir para a escola de cinema foi um pouco um salto de fé. Que não era uma certeza, mas acabou por se confirmar como uma decisão muito positiva.

E eu acho que também os meus interesses e o tipo de espectadora que eu sou hoje, ou o tipo de consumidora que eu sou hoje acho que também passou muito por esses anos de estudo na escola de cinema, mais do que anteriormente, sendo-lhe honesta, é isso."

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