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Cimeira da paz com Ucrânia, mas sem Rússia e China

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A Suíça acolhe este sábado e domingo a Conferência para a Paz na Ucrânia, que junta representantes de mais de 90 países e organizações internacionais. A Ucrânia quer manter uma ofensiva diplomática para que ninguém se esqueça do que está a acontecer em Kiev. "Os resultados serão sobretudo no sentido de obter uma foto de família em torno do apoio à Ucrânia", aponta a especialista em Relações internacionais da Universidade do Minho, Sandra Dias Fernandes.

RFI: Cerca de 90 países e organizações internacionais marcam presença na cimeira para a paz na Ucrânia que decorre este fim-de-semana em Bürgenstock, na Suíça. A Rússia não foi convidada e a China decidiu não participar na cimeira. O que se pode esperar?

Sandra Dias Fernandes: Os resultados esperados são todos muito indirectos porque primeiro estão dois grandes ausentes a Rússia e a China. A Rússia porque não foi convidada e a China porque declinou o convite. Além disso, o objectivo de ter uma representatividade muito ampla em termos daquilo que se chama sul global também não foi alcançado. Ou seja, cerca de metade destas delegações são europeias. Os resultados são indirectos e serão sobretudo no sentido de obter uma fotografia de família em torno do apoio à Ucrânia. Uma fotografia de coligação, digamos assim, ou de um certo alinhamento mais amplo do que a coligação restrita que implica a Europa, a NATO e os Estados Unidos da América. E, sobretudo, provar que existe em torno da causa ucraniana uma perspectiva de médio longo prazo.

Zelensky acaba de fazer uma grande turnê em que encontrou os grandes dirigentes do mundo inteiro, em vários formatos, sendo o mais recente o que encerrou esta sexta-feira no G7, na Itália. Com esses encontros e a consolidação de acordos bilaterais, de empréstimos, de promessas de ajuda - e também os Estados Unidos, tendo na passada quarta-feira aprovado uma nova bateria de sancções, até bastante mais abrangentes do que as anteriores contra russos - faz com que esta Conferência para a Paz tenha sobretudo um contexto de preliminares; criar condições preliminares a uma eventual discussão mais séria, em que, obviamente, os russos têm de estar envolvidos em qualquer discussão de cessar-fogo.

Falou da ausência de grandes protagonistas na geopolítica global como é o caso da China, que é o principal comprador de petróleo da Rússia, que ajuda a alimentar a economia de guerra de Moscovo, mas também a ausência do Presidente brasileiro Lula da Silva, que disse que não ia estar presente, uma vez que esta conferência de paz sem uma parte do conflito não faz sentido?

Por parte do Presidente Lula da Silva há, de facto, uma relação muito fria com o presidente Zelensky. Desde o início da guerra, nas primeiras semanas depois da guerra ter começado em 2022, Lula da Silva disse que nesta guerra havia dois culpados e Zelensky era um deles. Há aqui um grande frio na relação interpessoal entre Lula da Silva e Zelensly, mas de sublinhar que o Brasil não deixa de estar representado. [Lula da Silva] Indicou que iria enviar um observador, portanto um diplomata brasileiro que iria servir de observador na conferência, mantendo, apesar de tudo, um canal aberto.

A China é obviamente mais problemática porque o alcance das conversações que vão ter lugar este sábado e domingo só é possível se a China estiver envolvida. O alcance é sempre muito difícil de ser mais abrangente, mais real, mais substantivo sem a China, que é de facto um dos países ou a única superpotência aliada da Rússia e que consegue pressionar a Rússia. Até porque há fortes interdependências que são desvantajosas para a Rússia e que colocam a Rússia numa posição de poder menos forte face ao parceiro chinês.

Para haver paz é preciso que a Rússia saia de todos os territórios ocupados, inclusive da Crimeia, disse Zelensky. Putin diz estar disposto a um cessar-fogo quase imediato no caso da Ucrânia sair, por sua vez, de territórios como Zaporizhia, Kherson, Donetsk e Luhansk, mas Zelensky não aceita a sugestão repetida de Putin. O impasse continua?

Estas duas posições negociais são neste momento irreconciliáveis. O Zelensky diz, por um lado, que um dos termos da paz é a recuperação da integridade territorial completa da Ucrânia, ou seja, pré 2014. O que a Rússia diz é que uma das condições para começar a negociar é que seja aceite que as cinco regiões especiais, que é assim que os russos chamam essas regiões, sejam reconhecidas como russas. Isto é um ponto de facto irreconciliável neste momento entre os dois actores.

Nesta Conferência para a Paz na Suíça, a Ucrâna está a tentar fazer com que saia uma declaração que mostre os pontos de consenso alargado a nível mundial, para além da Europa e dos Estados Unidos da América. Nesses pontos de consenso não está a questão territorial, mas sim a questão da segurança energética e nuclear, a questão da livre circulação no Mar Negro, para que possa haver escoamento de cereais, nós sabemos que a Rússia e a Ucrânia têm um grande monopólio na exportação de cereais, que são fundamentais, nomeadamente para países como o Egipto, que aliás, é um dos grandes ausentes também desta Conferência para a Paz. O último ponto que [Zelensky] gostaria que ficasse na declaração conjunta, é a continuidade da pressão para que as crianças ucranianas que foram deportadas para a Rússia sejam devolvidas à Ucrânia. Estima-se que cerca de 20.000 crianças tenham sido forçadas a deixar a Ucrânia para serem "acolhidas", é o termo utilizado pela Rússia, por famílias russas.

Mas há também a questão das ameaças nucleares?

O que está em cima da mesa não é tanto as ameaças nuclear. É a segurança nuclear, ou seja, que precisamente cesse devido aos ataques russos e a presença russa na região de Zaporizhia, que é uma das maiores centrais nucleares europeias, que cesse de pairar o espectro de uma catástrofe nuclear devido a uma bomba que exploda, a uma má manutenção da central, que este contexto de guerra de facto coloca um problema nuclear - que nem sequer vem da questão militar, mas vem da questão da energia nuclear civil. É essa dimensão de segurança nuclear que está em causa nesta cimeira.

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A Suíça acolhe este sábado e domingo a Conferência para a Paz na Ucrânia, que junta representantes de mais de 90 países e organizações internacionais. A Ucrânia quer manter uma ofensiva diplomática para que ninguém se esqueça do que está a acontecer em Kiev. "Os resultados serão sobretudo no sentido de obter uma foto de família em torno do apoio à Ucrânia", aponta a especialista em Relações internacionais da Universidade do Minho, Sandra Dias Fernandes.

RFI: Cerca de 90 países e organizações internacionais marcam presença na cimeira para a paz na Ucrânia que decorre este fim-de-semana em Bürgenstock, na Suíça. A Rússia não foi convidada e a China decidiu não participar na cimeira. O que se pode esperar?

Sandra Dias Fernandes: Os resultados esperados são todos muito indirectos porque primeiro estão dois grandes ausentes a Rússia e a China. A Rússia porque não foi convidada e a China porque declinou o convite. Além disso, o objectivo de ter uma representatividade muito ampla em termos daquilo que se chama sul global também não foi alcançado. Ou seja, cerca de metade destas delegações são europeias. Os resultados são indirectos e serão sobretudo no sentido de obter uma fotografia de família em torno do apoio à Ucrânia. Uma fotografia de coligação, digamos assim, ou de um certo alinhamento mais amplo do que a coligação restrita que implica a Europa, a NATO e os Estados Unidos da América. E, sobretudo, provar que existe em torno da causa ucraniana uma perspectiva de médio longo prazo.

Zelensky acaba de fazer uma grande turnê em que encontrou os grandes dirigentes do mundo inteiro, em vários formatos, sendo o mais recente o que encerrou esta sexta-feira no G7, na Itália. Com esses encontros e a consolidação de acordos bilaterais, de empréstimos, de promessas de ajuda - e também os Estados Unidos, tendo na passada quarta-feira aprovado uma nova bateria de sancções, até bastante mais abrangentes do que as anteriores contra russos - faz com que esta Conferência para a Paz tenha sobretudo um contexto de preliminares; criar condições preliminares a uma eventual discussão mais séria, em que, obviamente, os russos têm de estar envolvidos em qualquer discussão de cessar-fogo.

Falou da ausência de grandes protagonistas na geopolítica global como é o caso da China, que é o principal comprador de petróleo da Rússia, que ajuda a alimentar a economia de guerra de Moscovo, mas também a ausência do Presidente brasileiro Lula da Silva, que disse que não ia estar presente, uma vez que esta conferência de paz sem uma parte do conflito não faz sentido?

Por parte do Presidente Lula da Silva há, de facto, uma relação muito fria com o presidente Zelensky. Desde o início da guerra, nas primeiras semanas depois da guerra ter começado em 2022, Lula da Silva disse que nesta guerra havia dois culpados e Zelensky era um deles. Há aqui um grande frio na relação interpessoal entre Lula da Silva e Zelensly, mas de sublinhar que o Brasil não deixa de estar representado. [Lula da Silva] Indicou que iria enviar um observador, portanto um diplomata brasileiro que iria servir de observador na conferência, mantendo, apesar de tudo, um canal aberto.

A China é obviamente mais problemática porque o alcance das conversações que vão ter lugar este sábado e domingo só é possível se a China estiver envolvida. O alcance é sempre muito difícil de ser mais abrangente, mais real, mais substantivo sem a China, que é de facto um dos países ou a única superpotência aliada da Rússia e que consegue pressionar a Rússia. Até porque há fortes interdependências que são desvantajosas para a Rússia e que colocam a Rússia numa posição de poder menos forte face ao parceiro chinês.

Para haver paz é preciso que a Rússia saia de todos os territórios ocupados, inclusive da Crimeia, disse Zelensky. Putin diz estar disposto a um cessar-fogo quase imediato no caso da Ucrânia sair, por sua vez, de territórios como Zaporizhia, Kherson, Donetsk e Luhansk, mas Zelensky não aceita a sugestão repetida de Putin. O impasse continua?

Estas duas posições negociais são neste momento irreconciliáveis. O Zelensky diz, por um lado, que um dos termos da paz é a recuperação da integridade territorial completa da Ucrânia, ou seja, pré 2014. O que a Rússia diz é que uma das condições para começar a negociar é que seja aceite que as cinco regiões especiais, que é assim que os russos chamam essas regiões, sejam reconhecidas como russas. Isto é um ponto de facto irreconciliável neste momento entre os dois actores.

Nesta Conferência para a Paz na Suíça, a Ucrâna está a tentar fazer com que saia uma declaração que mostre os pontos de consenso alargado a nível mundial, para além da Europa e dos Estados Unidos da América. Nesses pontos de consenso não está a questão territorial, mas sim a questão da segurança energética e nuclear, a questão da livre circulação no Mar Negro, para que possa haver escoamento de cereais, nós sabemos que a Rússia e a Ucrânia têm um grande monopólio na exportação de cereais, que são fundamentais, nomeadamente para países como o Egipto, que aliás, é um dos grandes ausentes também desta Conferência para a Paz. O último ponto que [Zelensky] gostaria que ficasse na declaração conjunta, é a continuidade da pressão para que as crianças ucranianas que foram deportadas para a Rússia sejam devolvidas à Ucrânia. Estima-se que cerca de 20.000 crianças tenham sido forçadas a deixar a Ucrânia para serem "acolhidas", é o termo utilizado pela Rússia, por famílias russas.

Mas há também a questão das ameaças nucleares?

O que está em cima da mesa não é tanto as ameaças nuclear. É a segurança nuclear, ou seja, que precisamente cesse devido aos ataques russos e a presença russa na região de Zaporizhia, que é uma das maiores centrais nucleares europeias, que cesse de pairar o espectro de uma catástrofe nuclear devido a uma bomba que exploda, a uma má manutenção da central, que este contexto de guerra de facto coloca um problema nuclear - que nem sequer vem da questão militar, mas vem da questão da energia nuclear civil. É essa dimensão de segurança nuclear que está em causa nesta cimeira.

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