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Mais áreas verdes e menos barulho de trânsito evitariam milhares de mortes por ano, diz estudo francês
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Saúde e meio ambiente estão diretamente ligados. Medidas de urbanismo que contribuem para a preservação do planeta também salvam vidas, mostra um estudo francês. O aumento das áreas verdes, a diminuição da poluição atmosférica e do barulho dos transportes e o estímulo à mobilidade ativa são algumas das iniciativas que impactam na taxa de mortalidade de uma cidade, indica o relatório da Agência de Saúde Pública da França.
Lúcia Müzell, da RFI em Paris
A expansão das áreas verdes gera um efeito cascata em favor da saúde física e mental dos habitantes, constata a pesquisa, que fez estimativas para três metrópoles do país, de diferentes tamanhos: Rouen, com 481 mil habitantes, Montpellier, com 492 mil, e Lille, onde moram 1,17 milhões de pessoas.
"Os estudos mostram que quanto mais tem vegetação numa cidade, qualquer que seja ela, inclusive só mais arvores ao longo de uma rua, mais o risco de mortalidade diminui para as pessoas que moram nesta zona. São vários benefícios, mas para começar, a vegetação diminui a exposição a fatores desfavoráveis, como o calor ou a poluição do ar, já que algumas árvores conseguem absorver alguns dos poluentes do ar”, explica Mathilde Pascal, coordenadora científica do projeto.
Assim, se todos os bairros tivessem a mesma área verde daqueles que mais são vegetalizados, considerando a densidade populacional, haveria uma queda de 3% a 7% da mortalidade anual nestas cidades. A presença de vegetação reduz a sensação térmica durante picos de calor e estimula as interações sociais, com efeito positivo na saúde mental dos moradores – benefícios já documentados por uma série de evidências científicas, que baseiam recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS) para a redução da mortalidade nas zonas urbanas.
Impacto do barulho dos transportes
Frequentar espaços verdes diminuir o estresse e melhora a regeneração mental, enumera ainda Pascal. Além disso, a arborização contribui para limitar o barulho dos transportes rodoviário e ferroviário, que pode abalar a qualidade do sono das pessoas afetadas.
"Se reduzíssemos a quantidade de barulho, permitiríamos a milhares de pessoas dormirem melhor nas cidades – e uma pessoa que dorme melhor tem uma melhor saúde, riscos cardiovasculares menores, melhor capacidade de aprendizagem. O que a literatura também mostra é que, no sentido contrário, os sons ligados à natureza, como do vento nas árvores ou o canto dos pássaros, são muito positivos para a saúde”, observa Pascal.
Leia tambémModa tóxica: como os químicos das roupas afetam a saúde e poluem o meio ambiente
Abrir espaços verdes também significa facilitar hábitos saudáveis das populações, como caminhadas e corridas, com efeitos positivos comprovados para a saúde. Nas grandes cidades, a prática de esportes pelos adultos é insuficiente e uma das razões alegadas é falta de tempo, constata a pesquisa. A Agência de Saúde Pública recomenda medidas de estímulo à mobilidade ativa: favorecer os deslocamentos do cotidiano a pé, bicicleta ou ao menos de transporte público, que resulta em mais atividade física do que simplesmente pegar o carro.
"No nosso estudo, percebemos que muita gente ainda usa o carro para trajetos curtos, de até um quilômetro. Concluímos que se 80% destes deslocamentos curtos fossem feitos a pé, teríamos uma redução de 2% a 3% da mortalidade a cada ano nas cidades que analisamos, o que significa de 100 a 200 mortes a menos por ano”, comenta a pesquisadora. "Também estimamos que se cada adulto da cidade fizesse 10 minutos de bicicleta a mais por dia, a queda da mortalidade seria de 6%, ou entre 200 e 600 mortes por ano.”
Decisões urbanísticas que salvam vidas
Implementar essa transformação necessita impulso político dos governos, salienta Mathilde Pascal: não se trata apenas de uma mudança de hábito das pessoas, mas de promover a reorganização dos espaços urbanos para que elas aconteçam.
"Sabemos o quanto, em alguns lugares, é complicado não usar o carro: lugares onde não é agradável andar de bicicleta ou caminhar, ou é perigoso, ou porque não tem transporte público eficiente. A nossa mensagem, então, é incitar os gestores a criarem políticas favoráveis às mobilidades ativas”, destaca a coordenadora da pesquisa.
O estudo se limitou a identificar os efeitos concretos das decisões de urbanismo sobre as saúde das pessoas, mas não apresenta recomendações sobre como os governos devem fazê-las. O documento não menciona, por exemplo, a pertinência da redução da velocidade máxima dos veículos sobre a poluição atmosférica. A medida é cada vez mais comum nas cidades francesas, diante do dado que a poluição do ar mata 400 mil pessoas por ano no país.
Em Paris, a prefeitura realizou uma verdadeira transformação neste sentido, na última década: delimitou ou construiu mais de 1.000 quilômetros de ciclovias, baixou a velocidade para 30 quilômetros por hora em quase toda a cidade e, em novembro, também proibiu a entrada de carros de não residentes em uma zona central da cidade.
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Saúde e meio ambiente estão diretamente ligados. Medidas de urbanismo que contribuem para a preservação do planeta também salvam vidas, mostra um estudo francês. O aumento das áreas verdes, a diminuição da poluição atmosférica e do barulho dos transportes e o estímulo à mobilidade ativa são algumas das iniciativas que impactam na taxa de mortalidade de uma cidade, indica o relatório da Agência de Saúde Pública da França.
Lúcia Müzell, da RFI em Paris
A expansão das áreas verdes gera um efeito cascata em favor da saúde física e mental dos habitantes, constata a pesquisa, que fez estimativas para três metrópoles do país, de diferentes tamanhos: Rouen, com 481 mil habitantes, Montpellier, com 492 mil, e Lille, onde moram 1,17 milhões de pessoas.
"Os estudos mostram que quanto mais tem vegetação numa cidade, qualquer que seja ela, inclusive só mais arvores ao longo de uma rua, mais o risco de mortalidade diminui para as pessoas que moram nesta zona. São vários benefícios, mas para começar, a vegetação diminui a exposição a fatores desfavoráveis, como o calor ou a poluição do ar, já que algumas árvores conseguem absorver alguns dos poluentes do ar”, explica Mathilde Pascal, coordenadora científica do projeto.
Assim, se todos os bairros tivessem a mesma área verde daqueles que mais são vegetalizados, considerando a densidade populacional, haveria uma queda de 3% a 7% da mortalidade anual nestas cidades. A presença de vegetação reduz a sensação térmica durante picos de calor e estimula as interações sociais, com efeito positivo na saúde mental dos moradores – benefícios já documentados por uma série de evidências científicas, que baseiam recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS) para a redução da mortalidade nas zonas urbanas.
Impacto do barulho dos transportes
Frequentar espaços verdes diminuir o estresse e melhora a regeneração mental, enumera ainda Pascal. Além disso, a arborização contribui para limitar o barulho dos transportes rodoviário e ferroviário, que pode abalar a qualidade do sono das pessoas afetadas.
"Se reduzíssemos a quantidade de barulho, permitiríamos a milhares de pessoas dormirem melhor nas cidades – e uma pessoa que dorme melhor tem uma melhor saúde, riscos cardiovasculares menores, melhor capacidade de aprendizagem. O que a literatura também mostra é que, no sentido contrário, os sons ligados à natureza, como do vento nas árvores ou o canto dos pássaros, são muito positivos para a saúde”, observa Pascal.
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Abrir espaços verdes também significa facilitar hábitos saudáveis das populações, como caminhadas e corridas, com efeitos positivos comprovados para a saúde. Nas grandes cidades, a prática de esportes pelos adultos é insuficiente e uma das razões alegadas é falta de tempo, constata a pesquisa. A Agência de Saúde Pública recomenda medidas de estímulo à mobilidade ativa: favorecer os deslocamentos do cotidiano a pé, bicicleta ou ao menos de transporte público, que resulta em mais atividade física do que simplesmente pegar o carro.
"No nosso estudo, percebemos que muita gente ainda usa o carro para trajetos curtos, de até um quilômetro. Concluímos que se 80% destes deslocamentos curtos fossem feitos a pé, teríamos uma redução de 2% a 3% da mortalidade a cada ano nas cidades que analisamos, o que significa de 100 a 200 mortes a menos por ano”, comenta a pesquisadora. "Também estimamos que se cada adulto da cidade fizesse 10 minutos de bicicleta a mais por dia, a queda da mortalidade seria de 6%, ou entre 200 e 600 mortes por ano.”
Decisões urbanísticas que salvam vidas
Implementar essa transformação necessita impulso político dos governos, salienta Mathilde Pascal: não se trata apenas de uma mudança de hábito das pessoas, mas de promover a reorganização dos espaços urbanos para que elas aconteçam.
"Sabemos o quanto, em alguns lugares, é complicado não usar o carro: lugares onde não é agradável andar de bicicleta ou caminhar, ou é perigoso, ou porque não tem transporte público eficiente. A nossa mensagem, então, é incitar os gestores a criarem políticas favoráveis às mobilidades ativas”, destaca a coordenadora da pesquisa.
O estudo se limitou a identificar os efeitos concretos das decisões de urbanismo sobre as saúde das pessoas, mas não apresenta recomendações sobre como os governos devem fazê-las. O documento não menciona, por exemplo, a pertinência da redução da velocidade máxima dos veículos sobre a poluição atmosférica. A medida é cada vez mais comum nas cidades francesas, diante do dado que a poluição do ar mata 400 mil pessoas por ano no país.
Em Paris, a prefeitura realizou uma verdadeira transformação neste sentido, na última década: delimitou ou construiu mais de 1.000 quilômetros de ciclovias, baixou a velocidade para 30 quilômetros por hora em quase toda a cidade e, em novembro, também proibiu a entrada de carros de não residentes em uma zona central da cidade.
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