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Cabo-verdiana Denise Fernandes eleita melhor cineasta emergente em Festival de Locarno

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A primeira longa metragem de Denise Fernandes valeu à realizadora cabo-verdiana o prémio de melhor cineasta emergente no Festival de cinema de Locarno que terminou a 17 de Agosto. "Hanami" tem como palco a Ilha do Fogo, no sotavento cabo-verdiano, onde Nana assiste à partida, mas também ao regresso de muitos habitantes do território, caso da sua mãe.

A cineasta, nascida em Lisboa, crescida na Suíça de expressão italiana, volta a pegar em Cabo Verde, as suas raízes, para este novo filme, "Hanami", a sua primeira longa metragem.

Ela começou por comentar à RFI qual a sua reacção com o galardão obtido na edição de 2024 do Festival de cinema de Locarno, na Suíça.

Recebi a notícia por telefone alguns dias antes do festival terminar, mas disseram-me para não dizer mesmo a ninguém. E eu ainda estava com as actrizes do filme presentes em Locarno. Então, sabendo que eu não podia dizer a ninguém também, é quase como se não tivesse nenhuma reacção. E senti que o acontecimento se concretizou dois dias depois, quando foi possível fazer essa partilha de informação. E então, junto com as pessoas da equipa e com as actrizes, vivemos esse momento de felicidade que esperamos que vá dar alguma visibilidade ao filme em si.

Então, já falou das actrizes. Poderíamos falar, por exemplo, de uma delas, que é a Sanaya Andrade. Como é que você escolheu este elenco?

Foi um processo muito, muito longo. Eu comecei a viajar ao Fogo a partir de 2016 de forma regular, durante a escrita do filme. E em 2021, fiz uma primeira viagem com duas pessoas da equipa que foi uma área de "repérage" [reconhecimento] e nessa "repérage" conheci uma menina de cinco anos que afinal é a Nana, criança que aparece no filme, é a Daílma Mendes. E em 2023, quando o filme entrou quase em pré-produção, fizemos mesmo os "castings" oficiais do filme e confirmei a Daílma Mendes como Nana criança.

E então a minha equipa, a directora do casting local e a minha assistente de realização foram mesmo visitar todas, todas, todas as escolas de toda a ilha para encontrar um "match" com a Nana, criança que de alguma forma já tinha escolhido. E a Sanaya foi uma dessas pessoas e afinal foi a pessoa que foi escolhida para o papel de Nana adolescente.

Já referiu que de facto, a intriga ocorre nesta ilha do Sotavento cabo-verdiano, que é a Ilha do Fogo. É uma história de partidas, de regressos e daqueles que teimosamente ficam na ilha, não é?

Sim, acho que essas dinâmicas são dinâmicas, que são a essência, acho de ser uma pessoa cabo verdiana. Mesmo que seja uma pessoa cabo-verdiana que vive na ilha ou uma pessoa da diáspora cabo-verdiana. Esses movimentos nos acompanham muito durante a nossa vida. Que seja uma pessoa que nos visita, uma pessoa que nunca conhecemos antes, um tio, uma prima, seja pessoas que ficam na ilha e que quando ligam por telefone sonham, quase idealizam o mundo fora. E depois há pessoas da diáspora que sonham de voltar e alguns voltam e alguns não voltam. Porque, de alguma forma, o Ocidente torna-se a nova casa. Então o filme fala também desses movimentos e dessas dinâmicas.

Já referiu que foi um processo longo e ia-lhe perguntar como é que foi precisamente a escrita deste guião ? Eu sei que a senhora, embora tenha nascido na diáspora, precisamente no caso em Portugal e depois radicou-se na Suíça. A senhora a dada altura, ficava incomodada com a invisibilidade de Cabo Verde no mundo. Por ser um país pequenino, por ser um país arquipélagico que, muitas vezes, as pessoas nem sequer sabiam situar no mapa. Então fazia questão, de facto, em que a sua primeira longa metragem tivesse foco precisamente nesta terra, no Oceano Atlântico e, no caso, esta terra vulcânica !?

Digamos que eu acho que a infância é o ponto de partida do trabalho de muitos artistas, e de forma consciente ou inconsciente. E eu lembro-me de criança na Suíça. Cresci na Suíça, naquela altura, nos anos 90 Cabo Verde era muito, muito desconhecido. E, na verdade, ainda hoje, viajando pela Europa, dependendo um pouco das culturas e dos países, é um país que não é conhecido e eu sempre a nível verbalmente, tenho sempre muito prazer em abrir o Google Maps e é mostrar às pessoas onde é e contar coisas sobre Cabo Verde.

Mas lembro-me de, quando era pequena, confrontar-me com as reacções de quem não conhecia e também como ainda se utilizavam mapas e globos para ver o mundo. Lembro-me de que muitas vezes essas ilhas eram... Eu estava a ver o Oceano Atlântico à procura de Cabo Verde, porque Cabo Verde mesmo não estava presente ! Para mim é uma metáfora de uma pequena invisibilidade, mas que não só tem a ver com Cabo Verde. Acho que muitas ilhas do mundo pequeninas sofrem um bocadinho de um olhar que é um bocadinho imposto pelo turismo. Um olhar que muitas vezes vem de fora e não de dentro. E quando surgiu a vontade minha de fazer uma longa para mim, foi muito claro que ia ser filmada em Cabo Verde.

Já agora, conviria que recapitulássemos um pouco da sua trajectória. Eu dizia que já tinha ligação ao Festival de Locarno porque já em 2011 teve lá uma curta metragem, depois "Pão sem Marmelada" e "Idillyum". Foram projectos feitos em Cuba, aquando dos seus estudos nessa ilha das Caraíbas. Mas houve, logo a seguir, um projecto precisamente já sobre Cabo Verde, que foi o "Nha Mila", foi em 2020. Quer-nos fazer um pouco o fio condutor da sua trajectória?

Sim, tudo começou: comecei a filmar na Suíça porque é onde eu cresci e onde fiz a minha primeira formação.

A Suíça de expressão italiana, não é? Daí o "Buona Notte", por exemplo ?

Exactamente, eu sou da Suíça italiana. E então os meus primeiros trabalhos foram filmados na Suíça italiana. Depois eu estudei em Cuba, fiz mestrado em Cuba. Então os trabalhos seguintes foram feitos em Cuba. E depois, quando eu voltei à Suíça de Cuba, fiquei assim com uma espécie de "E agora?"... Então, na verdade é interessante porque existe uma espécie de "gap" [fosso] de sete anos entre o meu último trabalho de Cuba até 2020, que é a curta "Nha Milla", que foi filmada em Lisboa, e é sobre uma escala. Uma mulher que faz uma escala, uma mulher cabo-verdiana que faz uma escala em Lisboa.

E ao chegar a Lisboa encontra outras cabo-verdianas. E, pronto, são trajectórias que acabam por se cruzar.

Exactamente, de alguma forma, eu própria viajei com os meus filmes porque então, depois de ter estudado em Cuba, vivi noutros países, na Europa. Mas depois, em 2016, decidi mudar-me para Lisboa. E é também a cidade onde nasci... E alguns anos depois nasceu "Nha Mila". Então, na verdade, os meus filmes me conduziram de volta para Portugal, antes, e , depois, para Cabo Verde.

E neste momento, então, reside em Portugal ou na Suíça, ou entre um e outro ?

Agora, principalmente em Lisboa.

E qual é o percurso que antevê para este filme? Imagino que se pense em estreias, nomeadamente em Cabo Verde. Sei obviamente, que há um festival de cinema importante, precisamente na Ilha do Fogo. Como é que a senhora se projecta em relação à vida deste filme?

O filme... estamos a ter o grande privilégio de, depois do Festival de Locarno, vamos apresentar esse filme em outros festivais internacionais. Então, de alguma forma, Locarno é o ponto do início. E depois temos uma grande, grandíssima prioridade, que é também no próximo ano de apresentar o filme na Ilha do Fogo, em Cabo Verde. Ainda não sabemos muito bem em que altura. E, depois dessa estreia em Cabo Verde, acho que paralelamente, talvez ainda o percurso dos festivais poder fazer uma estreia nas salas. Mas como são coisas que mais ligadas à distribuição do filme, deixo um bocadinho à distribuição a palavra.

O Som e Fúria, nomeadamente ! A produtora é "O Som e a Fúria". Perguntar-lhe-ia para esta trajectória e chegou-se à sua primeira longa metragem... E é sempre uma referência muito importante na vida de um cineasta: Quais foram as referências que foram importantes para si? Quais são os filmes de que gosta? Quais são os cineastas de que gosta? Eu estou a falar de África ou do mundo em que se revê o que teve peso para si para esboçar a sua carreira?

Eu tenho muitas referências. As primeiras, as mais primordiais para mim, são. Tem a ver com a literatura, a literatura grega, os contos clássicos, que sejam os irmãos Grimm, La Fontaine, a mitologia. A arte do conto, para mim, desde criança, me fascinava, mesmo muito. Depois, na adolescência, mais uma vez, a literatura. Eu cresci também com muita literatura italiana e existem obras maravilhosas, Pinóquio e outras. Então, digamos, foi sempre uma pessoa que amou muito o "storytelling" ligado à literatura. E o cinema chegou depois. Os realizadores de que eu gosto muito são Kiarostami [iraniano], Kieslowski [polaco], a Alice Rohrwacher [italiana] e o Diop Mambéty. também. Acho que tenho mesmo referências muito, várias.

E em África há assim, algum nome que lhe venha à cabeça ?

Para mim o Diop Mambéty [senegalês]: gosto muito de dos seus filmes: o "Touki Bouki", "A Menina que ia à procura do Sol". Eu acho que os seus filmes são fortemente enraizados numa realidade e, ao mesmo tempo, têm uma grande parte de fantasia. Então, digamos que gosto mesmo muito do trabalho dele.

Imagino que não seja fácil projectar-se para uma vida no cinema. Devem ser muitas dificuldades, muitas barreiras por ultrapassar. A senhora está determinada agora que já chegou uma longa metragem de facto, de apostar na sétima arte e, se calhar de fazer outros projectos sobre Cabo Verde ou outras latitudes ?

O "Hanami" foi uma grandíssima parte da minha vida, mas é verdade que agora que o filme estreou, isto também me vai dar espaço para alguma coisa nova. A primeira longa é sempre para quem cria. É um objectivo muito grande.

É um parto difícil !?

E agora, para mim, o passo seguinte está tudo em aberto. Eu própria estou curiosa porque ainda não sei exactamente o que vai vir.

O tempo o dirá ?!

Sim.

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A primeira longa metragem de Denise Fernandes valeu à realizadora cabo-verdiana o prémio de melhor cineasta emergente no Festival de cinema de Locarno que terminou a 17 de Agosto. "Hanami" tem como palco a Ilha do Fogo, no sotavento cabo-verdiano, onde Nana assiste à partida, mas também ao regresso de muitos habitantes do território, caso da sua mãe.

A cineasta, nascida em Lisboa, crescida na Suíça de expressão italiana, volta a pegar em Cabo Verde, as suas raízes, para este novo filme, "Hanami", a sua primeira longa metragem.

Ela começou por comentar à RFI qual a sua reacção com o galardão obtido na edição de 2024 do Festival de cinema de Locarno, na Suíça.

Recebi a notícia por telefone alguns dias antes do festival terminar, mas disseram-me para não dizer mesmo a ninguém. E eu ainda estava com as actrizes do filme presentes em Locarno. Então, sabendo que eu não podia dizer a ninguém também, é quase como se não tivesse nenhuma reacção. E senti que o acontecimento se concretizou dois dias depois, quando foi possível fazer essa partilha de informação. E então, junto com as pessoas da equipa e com as actrizes, vivemos esse momento de felicidade que esperamos que vá dar alguma visibilidade ao filme em si.

Então, já falou das actrizes. Poderíamos falar, por exemplo, de uma delas, que é a Sanaya Andrade. Como é que você escolheu este elenco?

Foi um processo muito, muito longo. Eu comecei a viajar ao Fogo a partir de 2016 de forma regular, durante a escrita do filme. E em 2021, fiz uma primeira viagem com duas pessoas da equipa que foi uma área de "repérage" [reconhecimento] e nessa "repérage" conheci uma menina de cinco anos que afinal é a Nana, criança que aparece no filme, é a Daílma Mendes. E em 2023, quando o filme entrou quase em pré-produção, fizemos mesmo os "castings" oficiais do filme e confirmei a Daílma Mendes como Nana criança.

E então a minha equipa, a directora do casting local e a minha assistente de realização foram mesmo visitar todas, todas, todas as escolas de toda a ilha para encontrar um "match" com a Nana, criança que de alguma forma já tinha escolhido. E a Sanaya foi uma dessas pessoas e afinal foi a pessoa que foi escolhida para o papel de Nana adolescente.

Já referiu que de facto, a intriga ocorre nesta ilha do Sotavento cabo-verdiano, que é a Ilha do Fogo. É uma história de partidas, de regressos e daqueles que teimosamente ficam na ilha, não é?

Sim, acho que essas dinâmicas são dinâmicas, que são a essência, acho de ser uma pessoa cabo verdiana. Mesmo que seja uma pessoa cabo-verdiana que vive na ilha ou uma pessoa da diáspora cabo-verdiana. Esses movimentos nos acompanham muito durante a nossa vida. Que seja uma pessoa que nos visita, uma pessoa que nunca conhecemos antes, um tio, uma prima, seja pessoas que ficam na ilha e que quando ligam por telefone sonham, quase idealizam o mundo fora. E depois há pessoas da diáspora que sonham de voltar e alguns voltam e alguns não voltam. Porque, de alguma forma, o Ocidente torna-se a nova casa. Então o filme fala também desses movimentos e dessas dinâmicas.

Já referiu que foi um processo longo e ia-lhe perguntar como é que foi precisamente a escrita deste guião ? Eu sei que a senhora, embora tenha nascido na diáspora, precisamente no caso em Portugal e depois radicou-se na Suíça. A senhora a dada altura, ficava incomodada com a invisibilidade de Cabo Verde no mundo. Por ser um país pequenino, por ser um país arquipélagico que, muitas vezes, as pessoas nem sequer sabiam situar no mapa. Então fazia questão, de facto, em que a sua primeira longa metragem tivesse foco precisamente nesta terra, no Oceano Atlântico e, no caso, esta terra vulcânica !?

Digamos que eu acho que a infância é o ponto de partida do trabalho de muitos artistas, e de forma consciente ou inconsciente. E eu lembro-me de criança na Suíça. Cresci na Suíça, naquela altura, nos anos 90 Cabo Verde era muito, muito desconhecido. E, na verdade, ainda hoje, viajando pela Europa, dependendo um pouco das culturas e dos países, é um país que não é conhecido e eu sempre a nível verbalmente, tenho sempre muito prazer em abrir o Google Maps e é mostrar às pessoas onde é e contar coisas sobre Cabo Verde.

Mas lembro-me de, quando era pequena, confrontar-me com as reacções de quem não conhecia e também como ainda se utilizavam mapas e globos para ver o mundo. Lembro-me de que muitas vezes essas ilhas eram... Eu estava a ver o Oceano Atlântico à procura de Cabo Verde, porque Cabo Verde mesmo não estava presente ! Para mim é uma metáfora de uma pequena invisibilidade, mas que não só tem a ver com Cabo Verde. Acho que muitas ilhas do mundo pequeninas sofrem um bocadinho de um olhar que é um bocadinho imposto pelo turismo. Um olhar que muitas vezes vem de fora e não de dentro. E quando surgiu a vontade minha de fazer uma longa para mim, foi muito claro que ia ser filmada em Cabo Verde.

Já agora, conviria que recapitulássemos um pouco da sua trajectória. Eu dizia que já tinha ligação ao Festival de Locarno porque já em 2011 teve lá uma curta metragem, depois "Pão sem Marmelada" e "Idillyum". Foram projectos feitos em Cuba, aquando dos seus estudos nessa ilha das Caraíbas. Mas houve, logo a seguir, um projecto precisamente já sobre Cabo Verde, que foi o "Nha Mila", foi em 2020. Quer-nos fazer um pouco o fio condutor da sua trajectória?

Sim, tudo começou: comecei a filmar na Suíça porque é onde eu cresci e onde fiz a minha primeira formação.

A Suíça de expressão italiana, não é? Daí o "Buona Notte", por exemplo ?

Exactamente, eu sou da Suíça italiana. E então os meus primeiros trabalhos foram filmados na Suíça italiana. Depois eu estudei em Cuba, fiz mestrado em Cuba. Então os trabalhos seguintes foram feitos em Cuba. E depois, quando eu voltei à Suíça de Cuba, fiquei assim com uma espécie de "E agora?"... Então, na verdade é interessante porque existe uma espécie de "gap" [fosso] de sete anos entre o meu último trabalho de Cuba até 2020, que é a curta "Nha Milla", que foi filmada em Lisboa, e é sobre uma escala. Uma mulher que faz uma escala, uma mulher cabo-verdiana que faz uma escala em Lisboa.

E ao chegar a Lisboa encontra outras cabo-verdianas. E, pronto, são trajectórias que acabam por se cruzar.

Exactamente, de alguma forma, eu própria viajei com os meus filmes porque então, depois de ter estudado em Cuba, vivi noutros países, na Europa. Mas depois, em 2016, decidi mudar-me para Lisboa. E é também a cidade onde nasci... E alguns anos depois nasceu "Nha Mila". Então, na verdade, os meus filmes me conduziram de volta para Portugal, antes, e , depois, para Cabo Verde.

E neste momento, então, reside em Portugal ou na Suíça, ou entre um e outro ?

Agora, principalmente em Lisboa.

E qual é o percurso que antevê para este filme? Imagino que se pense em estreias, nomeadamente em Cabo Verde. Sei obviamente, que há um festival de cinema importante, precisamente na Ilha do Fogo. Como é que a senhora se projecta em relação à vida deste filme?

O filme... estamos a ter o grande privilégio de, depois do Festival de Locarno, vamos apresentar esse filme em outros festivais internacionais. Então, de alguma forma, Locarno é o ponto do início. E depois temos uma grande, grandíssima prioridade, que é também no próximo ano de apresentar o filme na Ilha do Fogo, em Cabo Verde. Ainda não sabemos muito bem em que altura. E, depois dessa estreia em Cabo Verde, acho que paralelamente, talvez ainda o percurso dos festivais poder fazer uma estreia nas salas. Mas como são coisas que mais ligadas à distribuição do filme, deixo um bocadinho à distribuição a palavra.

O Som e Fúria, nomeadamente ! A produtora é "O Som e a Fúria". Perguntar-lhe-ia para esta trajectória e chegou-se à sua primeira longa metragem... E é sempre uma referência muito importante na vida de um cineasta: Quais foram as referências que foram importantes para si? Quais são os filmes de que gosta? Quais são os cineastas de que gosta? Eu estou a falar de África ou do mundo em que se revê o que teve peso para si para esboçar a sua carreira?

Eu tenho muitas referências. As primeiras, as mais primordiais para mim, são. Tem a ver com a literatura, a literatura grega, os contos clássicos, que sejam os irmãos Grimm, La Fontaine, a mitologia. A arte do conto, para mim, desde criança, me fascinava, mesmo muito. Depois, na adolescência, mais uma vez, a literatura. Eu cresci também com muita literatura italiana e existem obras maravilhosas, Pinóquio e outras. Então, digamos, foi sempre uma pessoa que amou muito o "storytelling" ligado à literatura. E o cinema chegou depois. Os realizadores de que eu gosto muito são Kiarostami [iraniano], Kieslowski [polaco], a Alice Rohrwacher [italiana] e o Diop Mambéty. também. Acho que tenho mesmo referências muito, várias.

E em África há assim, algum nome que lhe venha à cabeça ?

Para mim o Diop Mambéty [senegalês]: gosto muito de dos seus filmes: o "Touki Bouki", "A Menina que ia à procura do Sol". Eu acho que os seus filmes são fortemente enraizados numa realidade e, ao mesmo tempo, têm uma grande parte de fantasia. Então, digamos que gosto mesmo muito do trabalho dele.

Imagino que não seja fácil projectar-se para uma vida no cinema. Devem ser muitas dificuldades, muitas barreiras por ultrapassar. A senhora está determinada agora que já chegou uma longa metragem de facto, de apostar na sétima arte e, se calhar de fazer outros projectos sobre Cabo Verde ou outras latitudes ?

O "Hanami" foi uma grandíssima parte da minha vida, mas é verdade que agora que o filme estreou, isto também me vai dar espaço para alguma coisa nova. A primeira longa é sempre para quem cria. É um objectivo muito grande.

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