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"Pirinha" mostra que há esperança para as vítimas depois do abuso sexual infantil

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Em Cabo Verde, o abuso sexual infantil, muitas vezes cometido por familiares ou pessoas próximas das crianças, é um flagelo que toca todos os anos centenas de menores. De forma a mostrar que este é um trauma real e que deve ser denunciado, mas que também é possível ter esperança num futuro melhor, Natasha Craveiro escreveu e realizou o filme-documentário "Pirinha".

Só nos primeiros seis meses de 2024, já foram denunciados em Cabo Verde 84 crimes de abuso sexual contra crianças, muitas vezes abusos cometidos dentro das próprias famílias. Para a realizadora Natasha Craveiro trata-se apenas da ponta do icebergue, já que muitas vítimas acabam por não denunciar os seus abusadores, sendo assim necessário começar um debate nacional sobre este tipo de abusos, algo que o filme "Pirinha" quer iniciar no arquipélago.

"Os abusos acontecem há imenso tempo. Não é nada novo. O que nós conseguimos agora ver é apenas a ponta do icebergue. As denúncias são só os casos que se sabem, porque há toda aquela outra parte do icebergue que está submerso, que ninguém sabe, que ninguém vê, que fica no segredo das famílias e que ninguém fala. A grande maioria destes abusos em Cabo Verde acontece dentro das famílias ou por pessoas muito próximas. Daí que eu acho que a qualquer momento é importante falar sobre isso, porque continua a ser tabu. As pessoas continuam a denunciar muito pouco. O trabalho que tem sido feito a nível da prevenção para mim, no meu ponto de vista, não tem surtido efeito. Daí que nós temos que falar sobre isso, temos que colocar esse assunto na mesa. E isso passa pela exibição de filmes como este, a ideia é levá lo a todas as ilhas", disse Natasha Craveiro.

O filme já passou na ilha de Santiago, na ilha do Maio e até Setembro será mostrado em todas as ilhas do arquipélago em sessões em escolas, universidades e edifícios públicos para abranger o máximo da população. Estas sessões são acompanhadas por um psicólogo, levando a debates entre a audiência.

"O filme tem sido muito bem recebido. Nós temos tentado fazer exibições em comunidades nas escolas, onde tentamos criar um espaço seguro para os alunos. Fazemos um debate logo depois do filme, com a presença de um psicólogo ou de uma psicóloga. Quando acontece nas escolas, nós tentamos evitar que os professores façam parte daquele diálogo exactamente para criar esse ambiente de segurança para para os adolescentes. E temos feito junto das comunidades como aconteceu na Ilha do Maio. Inicialmente, as pessoas não querem intervir, não querem começar a falar no debate. Mas depois percebe-se. Eu lembro-me na Calheta, foram as senhoras mais velhas que tomaram a palavra e que trouxeram as preocupações. Portanto, existem essas preocupações. Existe um grande tabu. As pessoas têm receio de falar. Muitas vezes para evitar que a vítima seja novamente vítima da sociedade e das comunidades. Mas tem sido muito bom esse contacto direto com as pessoas quando veem o filme", declarou a realizadora.

O filme-documentário "Pirinha" é narrado na primeira pessoa por uma vítima de abuso que conta as dificuldades da superação deste trauma, mostrando momentos ternos da infância com a avó ou a brincar, intercalando com lembranças obscuras dos abusos aos quais foi sujeita. No entanto, a mensagem é de esperança.

"A mensagem é que existe vida depois do abuso. Não é suposto acontecer. Não devia ter acontecido, não deve acontecer. Mas quando tudo falha e acontece, ainda há esperança. Ainda é possível ter uma vida. É preciso também ter um sistema preparado para ter todos os elementos necessários para percorrer esse caminho da cura. No filme, vemos aquelas memórias afectivas à volta da avó. Eu fui buscar os recursos internos dela. Foram as memórias afectivas dessa vida com a avó. A vida despreocupada, essa vida normal. A avó com afecto, com cuidado com as coisas que que devem fazer parte da vida de uma criança. Esses elementos têm que estar na vida da vítima. Ela tem que ter alguém para a ajudar a resgatar os recursos internos e também ter acesso a um especialista para a apoiar nesse sentido. Porque sozinha, a vítima não consegue chegar lá", indicou.

O filme já foi seleccionado para cinco festivais, entre eles o Lausanne African Film Festival, na Suíça, e continuará a ser exibido em todas as ilhas de Cabo Verde.

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Em Cabo Verde, o abuso sexual infantil, muitas vezes cometido por familiares ou pessoas próximas das crianças, é um flagelo que toca todos os anos centenas de menores. De forma a mostrar que este é um trauma real e que deve ser denunciado, mas que também é possível ter esperança num futuro melhor, Natasha Craveiro escreveu e realizou o filme-documentário "Pirinha".

Só nos primeiros seis meses de 2024, já foram denunciados em Cabo Verde 84 crimes de abuso sexual contra crianças, muitas vezes abusos cometidos dentro das próprias famílias. Para a realizadora Natasha Craveiro trata-se apenas da ponta do icebergue, já que muitas vítimas acabam por não denunciar os seus abusadores, sendo assim necessário começar um debate nacional sobre este tipo de abusos, algo que o filme "Pirinha" quer iniciar no arquipélago.

"Os abusos acontecem há imenso tempo. Não é nada novo. O que nós conseguimos agora ver é apenas a ponta do icebergue. As denúncias são só os casos que se sabem, porque há toda aquela outra parte do icebergue que está submerso, que ninguém sabe, que ninguém vê, que fica no segredo das famílias e que ninguém fala. A grande maioria destes abusos em Cabo Verde acontece dentro das famílias ou por pessoas muito próximas. Daí que eu acho que a qualquer momento é importante falar sobre isso, porque continua a ser tabu. As pessoas continuam a denunciar muito pouco. O trabalho que tem sido feito a nível da prevenção para mim, no meu ponto de vista, não tem surtido efeito. Daí que nós temos que falar sobre isso, temos que colocar esse assunto na mesa. E isso passa pela exibição de filmes como este, a ideia é levá lo a todas as ilhas", disse Natasha Craveiro.

O filme já passou na ilha de Santiago, na ilha do Maio e até Setembro será mostrado em todas as ilhas do arquipélago em sessões em escolas, universidades e edifícios públicos para abranger o máximo da população. Estas sessões são acompanhadas por um psicólogo, levando a debates entre a audiência.

"O filme tem sido muito bem recebido. Nós temos tentado fazer exibições em comunidades nas escolas, onde tentamos criar um espaço seguro para os alunos. Fazemos um debate logo depois do filme, com a presença de um psicólogo ou de uma psicóloga. Quando acontece nas escolas, nós tentamos evitar que os professores façam parte daquele diálogo exactamente para criar esse ambiente de segurança para para os adolescentes. E temos feito junto das comunidades como aconteceu na Ilha do Maio. Inicialmente, as pessoas não querem intervir, não querem começar a falar no debate. Mas depois percebe-se. Eu lembro-me na Calheta, foram as senhoras mais velhas que tomaram a palavra e que trouxeram as preocupações. Portanto, existem essas preocupações. Existe um grande tabu. As pessoas têm receio de falar. Muitas vezes para evitar que a vítima seja novamente vítima da sociedade e das comunidades. Mas tem sido muito bom esse contacto direto com as pessoas quando veem o filme", declarou a realizadora.

O filme-documentário "Pirinha" é narrado na primeira pessoa por uma vítima de abuso que conta as dificuldades da superação deste trauma, mostrando momentos ternos da infância com a avó ou a brincar, intercalando com lembranças obscuras dos abusos aos quais foi sujeita. No entanto, a mensagem é de esperança.

"A mensagem é que existe vida depois do abuso. Não é suposto acontecer. Não devia ter acontecido, não deve acontecer. Mas quando tudo falha e acontece, ainda há esperança. Ainda é possível ter uma vida. É preciso também ter um sistema preparado para ter todos os elementos necessários para percorrer esse caminho da cura. No filme, vemos aquelas memórias afectivas à volta da avó. Eu fui buscar os recursos internos dela. Foram as memórias afectivas dessa vida com a avó. A vida despreocupada, essa vida normal. A avó com afecto, com cuidado com as coisas que que devem fazer parte da vida de uma criança. Esses elementos têm que estar na vida da vítima. Ela tem que ter alguém para a ajudar a resgatar os recursos internos e também ter acesso a um especialista para a apoiar nesse sentido. Porque sozinha, a vítima não consegue chegar lá", indicou.

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