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Documentário sobre Venezuela coproduzido por brasileira está na disputa pelo Oscar

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O cenário é uma comunidade de palafitas às margens de um lago poluído por petróleo. As personagens são os moradores do lugar, que têm um cotidiano atrelado à uma disputa política. Esse é o pano de fundo do documentário “Era uma vez na Venezuela, Congo Mirador”, da diretora Anabel Rodríguez. A coprodução do filme, que concorre em duas categorias entre os pré-candidatos ao Oscar, está a brasileira Malu Campos, que conversou com a RFI.

Por Elianah Jorge, correspondente da RFI na Venezuela

“O documentário emociona tanto quanto um filme de ficção. Consegue com muito equilíbrio mostrar os dilemas e as mazelas enfrentadas pela comunidade: a degradação da natureza, o cotidiano dos moradores... Uma das cenas mais marcantes para mim é quando as crianças limpam o petróleo do corpo após uma tarde de brincadeiras na água. Tudo isso ela mostra com espaços, com respiro e muita poesia”, descreve Malu Campos.

A obra compartilha com o público de forma sutil e ao mesmo tempo impactante, a vida dos moradores do Congo Mirador, um lugar que parece saído de uma ficção. Inicialmente, eram centenas de casas móveis, instaladas nas águas do Lago de Maracaibo.

Até pouco tempo, deste local da Venezuela eram extraídos diariamente milhares de barris de petróleo. Hoje em dia, a jazida petrolífera derrama o óleo bruto nas águas, agora contaminadas.

Com poluição e sem saneamento básico, os moradores do Congo veem no assoreamento mais um motivo para transportar suas casas, com o auxílio de embarcações, rumo a destinos melhores.

Para a realização do documentário, a equipe gravou mais 400 horas de imagens durante cinco anos de filmagens. A gravação registrou desde o desenvolvimento das crianças, até a deterioração do vilarejo, passando pela realização das eleições anuais no país comandado por Nicolás Maduro.

Cerca de 700 famílias chegaram a morar no Congo Mirador. Não há dados atualizados, mas estima-se que cerca de 30 delas ainda resistem a buscar um melhor destino e continuam no local.

Encontro entre diretora venezuelana e produtora brasileira

A diretora Anabel descobriu a comunidade de palafitas por acaso. Ela foi filmar o Relâmpago do Catatumbo, fenômeno meteorológico em que se registram mais de um milhão de raios por ano. A atividade, que costuma atrair pesquisadores e documentaristas de todo o mundo, gera 10% do ozônio atmosférico do planeta.

Foi neste momento que a brasileira e a venezuelana se conheceram. Pouco depois, Malu se uniu a Anabel na coprodução do documentário “Era Uma Vez na Venezuela, Congo Mirador”.

“Esse fenômeno acontece no Lago de Maracaibo (região leste da Venezuela, perto da fronteira com a Colômbia). Lá a diretora aproveitou para filmar também os contrastes entre a riqueza da indústria petroleira e a pobreza da comunidade”, detalha Malu.

O título da obra remete às origens do nome Venezuela: a pequena Veneza, em tradução livre. Assim a região foi chamada por Américo Vespúcio (1454-1512), por volta de 1499. A denominação se popularizou, embora grande parte do território venezuelano nada tenha a ver com a cidade italiana.

A Venezuela empobrecida, imersa em um jogo político e com moradores sofridos, que insistem em sustentar no rosto um genuíno sorriso, foi documentada pela produção em pouco mais de 90 minutos.

O enfoque político da obra ganhou profundidade com a relação que a diretor Anabel construiu com uma das protagonistas do documentário. Com isso, ela teve acesso a figuras do chavismo, geralmente herméticas aos meios de comunicação não estatais, segundo a coprodutora brasileira.

“Ela (Anabel) esteve filmando durante cinco anos na comunidade, e terminou desenvolvendo uma amizade muito estreita com a Tamara, seu entorno e os representantes do partido (Socialista Unido da Venezuela), que iam trabalhar com a Tamara. Como representantes do Congo Mirador, eles tiveram a oportunidade de participar de um programa organizado pelo governador da época (o militar na reserva Francisco Árias Cárdenas) para mostrar um pouco do trabalho desses líderes comunitários. A diretora apenas estava atenta para captar aquele momento. Foi muito importante para o filme, eu acho.”

Pré-seleção do Oscar

A produção contou com um enxuto orçamento de US$ 150 mil. Para participar, no próximo 09 de fevereiro, da pré-seleção do Oscar nas categorias de melhor filme internacional e de melhor documentário foi preciso recorrer ao crowdfunding.

Malu conta que esta “campanha foi fundamental para ajudar a divulgação do filme junto aos representantes da Academia”.

Independentemente da nominação ou não ao Oscar, “Era Uma Vez na Venezuela, Congo Mirador” já fez história. Pela primeira vez no cinema venezuelano, um filme de não-ficção foi indicado para participar de duas pré-seleções, nessas categorias, na mais importante premiação do cinema mundial.

“A concorrência para o Oscar é enorme, mas (participar da competição) tem sido uma experiência incrível. Estamos tentando estabelecer contatos com a comunidade cinematográfica do mundo. A maioria dos filmes consegue apoio e contrata profissionais especializados para isso (fazer lobby). Estamos fazendo um trabalho de formiguinha, de corpo a corpo, explorando todos os nossos contatos pessoais. Mas no fundo, também com muita esperança e na torcida de que o nosso filme chegue lá”.

O Oscar seria a cereja do bolo para o documentário que já ganhou reconhecimentos mundo afora. Em dezembro passado no Cine Ceará a coprodução Venezuela-Reino Unido-Áustria-Brasil ganhou o prêmio da Crítica de Melhor Longa-Metragem e na categoria de Melhor Roteiro.

Malu comemora ter participado de um filme que mostra as entranhas da Venezuela e que ainda pode levar um Oscar: “Para mim foi uma honra colaborar com esse trabalho, essa exposição da opinião real dos venezuelanos sobre o contexto político do país”.

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Por Elianah Jorge, correspondente da RFI na Venezuela

“O documentário emociona tanto quanto um filme de ficção. Consegue com muito equilíbrio mostrar os dilemas e as mazelas enfrentadas pela comunidade: a degradação da natureza, o cotidiano dos moradores... Uma das cenas mais marcantes para mim é quando as crianças limpam o petróleo do corpo após uma tarde de brincadeiras na água. Tudo isso ela mostra com espaços, com respiro e muita poesia”, descreve Malu Campos.

A obra compartilha com o público de forma sutil e ao mesmo tempo impactante, a vida dos moradores do Congo Mirador, um lugar que parece saído de uma ficção. Inicialmente, eram centenas de casas móveis, instaladas nas águas do Lago de Maracaibo.

Até pouco tempo, deste local da Venezuela eram extraídos diariamente milhares de barris de petróleo. Hoje em dia, a jazida petrolífera derrama o óleo bruto nas águas, agora contaminadas.

Com poluição e sem saneamento básico, os moradores do Congo veem no assoreamento mais um motivo para transportar suas casas, com o auxílio de embarcações, rumo a destinos melhores.

Para a realização do documentário, a equipe gravou mais 400 horas de imagens durante cinco anos de filmagens. A gravação registrou desde o desenvolvimento das crianças, até a deterioração do vilarejo, passando pela realização das eleições anuais no país comandado por Nicolás Maduro.

Cerca de 700 famílias chegaram a morar no Congo Mirador. Não há dados atualizados, mas estima-se que cerca de 30 delas ainda resistem a buscar um melhor destino e continuam no local.

Encontro entre diretora venezuelana e produtora brasileira

A diretora Anabel descobriu a comunidade de palafitas por acaso. Ela foi filmar o Relâmpago do Catatumbo, fenômeno meteorológico em que se registram mais de um milhão de raios por ano. A atividade, que costuma atrair pesquisadores e documentaristas de todo o mundo, gera 10% do ozônio atmosférico do planeta.

Foi neste momento que a brasileira e a venezuelana se conheceram. Pouco depois, Malu se uniu a Anabel na coprodução do documentário “Era Uma Vez na Venezuela, Congo Mirador”.

“Esse fenômeno acontece no Lago de Maracaibo (região leste da Venezuela, perto da fronteira com a Colômbia). Lá a diretora aproveitou para filmar também os contrastes entre a riqueza da indústria petroleira e a pobreza da comunidade”, detalha Malu.

O título da obra remete às origens do nome Venezuela: a pequena Veneza, em tradução livre. Assim a região foi chamada por Américo Vespúcio (1454-1512), por volta de 1499. A denominação se popularizou, embora grande parte do território venezuelano nada tenha a ver com a cidade italiana.

A Venezuela empobrecida, imersa em um jogo político e com moradores sofridos, que insistem em sustentar no rosto um genuíno sorriso, foi documentada pela produção em pouco mais de 90 minutos.

O enfoque político da obra ganhou profundidade com a relação que a diretor Anabel construiu com uma das protagonistas do documentário. Com isso, ela teve acesso a figuras do chavismo, geralmente herméticas aos meios de comunicação não estatais, segundo a coprodutora brasileira.

“Ela (Anabel) esteve filmando durante cinco anos na comunidade, e terminou desenvolvendo uma amizade muito estreita com a Tamara, seu entorno e os representantes do partido (Socialista Unido da Venezuela), que iam trabalhar com a Tamara. Como representantes do Congo Mirador, eles tiveram a oportunidade de participar de um programa organizado pelo governador da época (o militar na reserva Francisco Árias Cárdenas) para mostrar um pouco do trabalho desses líderes comunitários. A diretora apenas estava atenta para captar aquele momento. Foi muito importante para o filme, eu acho.”

Pré-seleção do Oscar

A produção contou com um enxuto orçamento de US$ 150 mil. Para participar, no próximo 09 de fevereiro, da pré-seleção do Oscar nas categorias de melhor filme internacional e de melhor documentário foi preciso recorrer ao crowdfunding.

Malu conta que esta “campanha foi fundamental para ajudar a divulgação do filme junto aos representantes da Academia”.

Independentemente da nominação ou não ao Oscar, “Era Uma Vez na Venezuela, Congo Mirador” já fez história. Pela primeira vez no cinema venezuelano, um filme de não-ficção foi indicado para participar de duas pré-seleções, nessas categorias, na mais importante premiação do cinema mundial.

“A concorrência para o Oscar é enorme, mas (participar da competição) tem sido uma experiência incrível. Estamos tentando estabelecer contatos com a comunidade cinematográfica do mundo. A maioria dos filmes consegue apoio e contrata profissionais especializados para isso (fazer lobby). Estamos fazendo um trabalho de formiguinha, de corpo a corpo, explorando todos os nossos contatos pessoais. Mas no fundo, também com muita esperança e na torcida de que o nosso filme chegue lá”.

O Oscar seria a cereja do bolo para o documentário que já ganhou reconhecimentos mundo afora. Em dezembro passado no Cine Ceará a coprodução Venezuela-Reino Unido-Áustria-Brasil ganhou o prêmio da Crítica de Melhor Longa-Metragem e na categoria de Melhor Roteiro.

Malu comemora ter participado de um filme que mostra as entranhas da Venezuela e que ainda pode levar um Oscar: “Para mim foi uma honra colaborar com esse trabalho, essa exposição da opinião real dos venezuelanos sobre o contexto político do país”.

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