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Treinadora de golfinhos brasileira acredita que interação entre animais e público favorece preservação

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Aos 8 anos de idade, Cinthya Coutinho foi pela primeira vez a um parque aquático. Aquele momento despertou na brasileira o sonho de trabalhar com golfinhos, baleias orcas e outros cetáceos. Ela chegou a estudar veterinária, mas decidiu que biologia marinha seria o melhor caminho para chegar à meta. Também percebeu que precisaria morar fora do Brasil para trabalhar com o que sempre quis. Ainda na faculdade, ela foi preparando o terreno, fazendo contatos para consolidar a almejada carreira.

Elianah Jorge, correspondente da RFI na Venezuela

Cinthya conta que o começo da carreira foi bem difícil. "Quando cheguei nos Estados Unidos, fiz um trabalho voluntário no zoológico e depois entrei como estagiária no aquário. Vida de estagiário não é fácil. E aqui não é diferente", recorda. O estágio da brasileira incluía lavar, limpar, preparar os peixes para alimentação e monitorar os golfinhos. Mas ela conseguiu uma vaga e ficou satisfeita. No início, foi treinadora aprendiz até conquistar, etapa por etapa, o posto de treinadora sênior.

É no Miami Seaquarium, um dos parques aquáticos mais visitados da Flórida, que Cinthya trabalha. Ela vive seu sonho de infância, mas reconhece que o cotidiano como treinadora é exigente e a dedicação, praticamente integral.

“O que ninguém sabe é que a gente tem que estar no parque 24 horas por dia quando nasce um bebê. A gente não tem feriado, nem sábado e domingo, Natal ou Ano-Novo. A gente tem que trabalhar!", destaca. Mesmo tendo uma filha, Cinthya conta que há dias em que precisa trabalhar até a madrugada. "Tem vezes que eu trabalho 16 horas por dia, e as pessoas que estão do lado de fora não sabem disso. As pessoas só veem que a gente vai para o trabalho e que brincamos com os golfinhos.”

A rotina no parque começa bem cedinho, com o preparo da comida dos animais e com a limpeza dos tanques e piscinas. Além, claro, dos treinos e ensaios diários para que profissionais e bichos façam bonito na hora do show. Pela regra, é preciso que sempre um treinador esteja de plantão no parque. Para este profissional, não há sábado, domingo ou feriados.

A vida agitada é amenizada pelo contato diário com os animais. A brasileira cuida e treina golfinhos-nariz-de-garrafa, focas, leões marinhos e também uma baleia. O aquário onde Cinthya trabalha também abriga tubarões, tartarugas marinhas, aves, répteis e peixes-boi.

De cara com a orca

Para a brasileira, é um prazer interagir com os bichos. “A maior alegria que eu tenho é ver a carinha de cada um dos animais, passar o dia com eles, ver o reconhecimento deles e a relação que você cria, o convívio do dia a dia", avalia. "Você ensinar algo para eles, treinar algo que ajude na saúde deles... A relação com os animais é a melhor parte do trabalho”, declara.

Em 2010, uma experiente treinadora morreu após ser atacada pela orca Tilikum, no parque SeaWorld.

Batizada com o nome da famosa personagem do escritor Vladimir Nabokov (1899-1977), Lolita é a mais antiga orca cativa do mundo e atualmente a única do parque onde Cinthya trabalha. O show deste animal de quase seis metros de comprimento e de mais de três toneladas de peso é a atração mais esperada do aquário.

Mesmo lidando diariamente com um superpredador, como é o caso de Lolita, Cinthya garante não ter medo.

“No meu aquário nunca aconteceu nenhum acidente. Claro, trabalhando com animal é tudo sempre imprevisível. Os treinadores conhecem os animais muito bem. Mas, como eu digo, qualquer bicho tem boca pode morder. Isso faz parte do trabalho”, resume.

Conexão com animais

A treinadora explica que nesta carreira o prazer pela interação com os bichos é o que prevalece.

“A gente começa ganhando mal nessa profissão. É um trabalho que não se faz pelo dinheiro. É por amor! Para os outros departamentos e para os CEOs dos parques, eles não são tão focados nos animais. Para eles é um negócio. Mas para quem está ali todos os dias, e cuidando dos animais, é por amor”, enfatiza.

Parece complexo ensinar animais aquáticos a interagirem com humanos, mas a treinadora garante que a tarefa é fácil.

“Treinar golfinhos é o mesmo que treinar qualquer animal. Hoje em dia não se trabalha mais com punição e sim com reforço positivo. A gente só chama a atenção para aquilo que se quer e ignoramos o que é feito e a gente não quer. Se o golfinho fizer alguma coisa que vai chegar ao ponto do que quero, eu soo meu apito e ele ganha um peixinho. Tudo o que ele fizer e você não gostar, é ignorado.”

Após anos de estudos e prática, Cinthya chegou à categoria sênior dos demais treinadores. O tempo também a ajudou a consolidar uma relação de cumplicidade com os animais.

“A gente se comunica por sinais e por gestos. Cada coisa que a gente treina tem um gesto diferente. Mas dependendo da relação que se tem com o animal, dá para se comunicar pelo olhar, toques, brincadeiras... Às vezes eu olho para o meu golfinho e ele já sabe o que eu quero. É bem mágico trabalhar com eles”, diz encantada.

Embora os cetáceos e mamíferos do parque sejam animais com longa expectativa de vida, para Cinthya o mais difícil da profissão é quando um dos bichos morre.

“Estou trabalhando de novo com os golfinhos. Eu já trabalhei com foca, com leão marinho e é muito complicado quando a gente perde um animal, você perde um dos seus, essa é a parte mais complicada da profissão”, pontua.

Críticas dos defensores de animais

Além das centenas de pessoas que visitam diariamente o parque, ativistas de direitos dos animais costumam protestar nas imediações do local pedindo a libertação dos residentes do Miami Seaquarium.

Lolita, a orca e principal atração, foi protagonista de um documentário no qual ativistas pedem que ela seja reintroduzida na natureza. Eles afirmam que ela recebe treinamentos cruéis.

Mesmo com tantos cuidados e a intensa dedicação aos animais, Cinthya vez ou outra recebe críticas, as quais rebate.

“As pessoas julgam muito essa profissão dizendo que os animais não deveriam estar sob cuidados de humanos e que o bicho não deveria morar em uma piscina. Eu até entendo. Não deveriam tirar um bicho da natureza para colocar em parque para entreter humanos. Mas esses animais são todos nascidos lá (no aquário). Eu digo: eles não saberiam viver na natureza. A interação humana é o que eles sabem. Eles buscam a atenção humana. São totalmente diferentes dos animais que estão na natureza. As coisas na natureza também não estão nada bem. Acho que tendo esses animais para o público ajuda na preservação, afinal as pessoas só cuidam do que conhecem. Conhecer esses animais é fundamental para proteger a natureza.”

No dia 12 de setembro passado, cerca de 1.400 golfinhos-de-cara-branca foram mortos nas Ilhas Faroe, território autônomo do Reino da Dinamarca, sob a alegação das autoridades locais que a matança fazia parte da tradição local. A ação foi duramente criticada por defensores dos animais, que denunciaram a forma como o cruel abate foi orquestrado.

Na opinião da brasileira, a matança de centenas desses animais, que estão “sob ameaça”, demonstra que nem na natureza os bichos estão a salvo.

“Eu recebo muitas críticas com o que trabalho. Mas ninguém olha para a realidade do mundo. Eles (os críticos) não têm ideia de quão bem tratados são nos nossos animais”, conclui.

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Elianah Jorge, correspondente da RFI na Venezuela

Cinthya conta que o começo da carreira foi bem difícil. "Quando cheguei nos Estados Unidos, fiz um trabalho voluntário no zoológico e depois entrei como estagiária no aquário. Vida de estagiário não é fácil. E aqui não é diferente", recorda. O estágio da brasileira incluía lavar, limpar, preparar os peixes para alimentação e monitorar os golfinhos. Mas ela conseguiu uma vaga e ficou satisfeita. No início, foi treinadora aprendiz até conquistar, etapa por etapa, o posto de treinadora sênior.

É no Miami Seaquarium, um dos parques aquáticos mais visitados da Flórida, que Cinthya trabalha. Ela vive seu sonho de infância, mas reconhece que o cotidiano como treinadora é exigente e a dedicação, praticamente integral.

“O que ninguém sabe é que a gente tem que estar no parque 24 horas por dia quando nasce um bebê. A gente não tem feriado, nem sábado e domingo, Natal ou Ano-Novo. A gente tem que trabalhar!", destaca. Mesmo tendo uma filha, Cinthya conta que há dias em que precisa trabalhar até a madrugada. "Tem vezes que eu trabalho 16 horas por dia, e as pessoas que estão do lado de fora não sabem disso. As pessoas só veem que a gente vai para o trabalho e que brincamos com os golfinhos.”

A rotina no parque começa bem cedinho, com o preparo da comida dos animais e com a limpeza dos tanques e piscinas. Além, claro, dos treinos e ensaios diários para que profissionais e bichos façam bonito na hora do show. Pela regra, é preciso que sempre um treinador esteja de plantão no parque. Para este profissional, não há sábado, domingo ou feriados.

A vida agitada é amenizada pelo contato diário com os animais. A brasileira cuida e treina golfinhos-nariz-de-garrafa, focas, leões marinhos e também uma baleia. O aquário onde Cinthya trabalha também abriga tubarões, tartarugas marinhas, aves, répteis e peixes-boi.

De cara com a orca

Para a brasileira, é um prazer interagir com os bichos. “A maior alegria que eu tenho é ver a carinha de cada um dos animais, passar o dia com eles, ver o reconhecimento deles e a relação que você cria, o convívio do dia a dia", avalia. "Você ensinar algo para eles, treinar algo que ajude na saúde deles... A relação com os animais é a melhor parte do trabalho”, declara.

Em 2010, uma experiente treinadora morreu após ser atacada pela orca Tilikum, no parque SeaWorld.

Batizada com o nome da famosa personagem do escritor Vladimir Nabokov (1899-1977), Lolita é a mais antiga orca cativa do mundo e atualmente a única do parque onde Cinthya trabalha. O show deste animal de quase seis metros de comprimento e de mais de três toneladas de peso é a atração mais esperada do aquário.

Mesmo lidando diariamente com um superpredador, como é o caso de Lolita, Cinthya garante não ter medo.

“No meu aquário nunca aconteceu nenhum acidente. Claro, trabalhando com animal é tudo sempre imprevisível. Os treinadores conhecem os animais muito bem. Mas, como eu digo, qualquer bicho tem boca pode morder. Isso faz parte do trabalho”, resume.

Conexão com animais

A treinadora explica que nesta carreira o prazer pela interação com os bichos é o que prevalece.

“A gente começa ganhando mal nessa profissão. É um trabalho que não se faz pelo dinheiro. É por amor! Para os outros departamentos e para os CEOs dos parques, eles não são tão focados nos animais. Para eles é um negócio. Mas para quem está ali todos os dias, e cuidando dos animais, é por amor”, enfatiza.

Parece complexo ensinar animais aquáticos a interagirem com humanos, mas a treinadora garante que a tarefa é fácil.

“Treinar golfinhos é o mesmo que treinar qualquer animal. Hoje em dia não se trabalha mais com punição e sim com reforço positivo. A gente só chama a atenção para aquilo que se quer e ignoramos o que é feito e a gente não quer. Se o golfinho fizer alguma coisa que vai chegar ao ponto do que quero, eu soo meu apito e ele ganha um peixinho. Tudo o que ele fizer e você não gostar, é ignorado.”

Após anos de estudos e prática, Cinthya chegou à categoria sênior dos demais treinadores. O tempo também a ajudou a consolidar uma relação de cumplicidade com os animais.

“A gente se comunica por sinais e por gestos. Cada coisa que a gente treina tem um gesto diferente. Mas dependendo da relação que se tem com o animal, dá para se comunicar pelo olhar, toques, brincadeiras... Às vezes eu olho para o meu golfinho e ele já sabe o que eu quero. É bem mágico trabalhar com eles”, diz encantada.

Embora os cetáceos e mamíferos do parque sejam animais com longa expectativa de vida, para Cinthya o mais difícil da profissão é quando um dos bichos morre.

“Estou trabalhando de novo com os golfinhos. Eu já trabalhei com foca, com leão marinho e é muito complicado quando a gente perde um animal, você perde um dos seus, essa é a parte mais complicada da profissão”, pontua.

Críticas dos defensores de animais

Além das centenas de pessoas que visitam diariamente o parque, ativistas de direitos dos animais costumam protestar nas imediações do local pedindo a libertação dos residentes do Miami Seaquarium.

Lolita, a orca e principal atração, foi protagonista de um documentário no qual ativistas pedem que ela seja reintroduzida na natureza. Eles afirmam que ela recebe treinamentos cruéis.

Mesmo com tantos cuidados e a intensa dedicação aos animais, Cinthya vez ou outra recebe críticas, as quais rebate.

“As pessoas julgam muito essa profissão dizendo que os animais não deveriam estar sob cuidados de humanos e que o bicho não deveria morar em uma piscina. Eu até entendo. Não deveriam tirar um bicho da natureza para colocar em parque para entreter humanos. Mas esses animais são todos nascidos lá (no aquário). Eu digo: eles não saberiam viver na natureza. A interação humana é o que eles sabem. Eles buscam a atenção humana. São totalmente diferentes dos animais que estão na natureza. As coisas na natureza também não estão nada bem. Acho que tendo esses animais para o público ajuda na preservação, afinal as pessoas só cuidam do que conhecem. Conhecer esses animais é fundamental para proteger a natureza.”

No dia 12 de setembro passado, cerca de 1.400 golfinhos-de-cara-branca foram mortos nas Ilhas Faroe, território autônomo do Reino da Dinamarca, sob a alegação das autoridades locais que a matança fazia parte da tradição local. A ação foi duramente criticada por defensores dos animais, que denunciaram a forma como o cruel abate foi orquestrado.

Na opinião da brasileira, a matança de centenas desses animais, que estão “sob ameaça”, demonstra que nem na natureza os bichos estão a salvo.

“Eu recebo muitas críticas com o que trabalho. Mas ninguém olha para a realidade do mundo. Eles (os críticos) não têm ideia de quão bem tratados são nos nossos animais”, conclui.

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