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Angélica Liddell vai abrir Festival de Avignon

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Desvendado o programa da 78°edição do Festival de Avignon, que vai decorrer de 29 de Junho a 21 de Julho. Destaque para o regresso da Comédie-Française ao sudeste de França, com Tiago Rodrigues a apresentar a sua primeira criação depois de ter assumido o cargo de director do Festival, “Hécube, pas Hécube”, numa escrita livre entre realidade e ficção a partir da Hécuba de Eurípides.

Foi desvendado esta semana o programa da 78°edição do Festival de Avignon, que vai decorrer de 29 de Junho a 21 de Julho, uma semana mais cedo do habitual devido à realização dos Jogos Olímpicos de Paris.

Em 2024, a língua convidada é o espanhol, com Angélica Liddell a ter honras de abertura. Destaque para o regresso da Comédie-Française ao sudeste de França, com Tiago Rodrigues a apresentar a sua primeira criação depois de ter assumido o cargo de director do Festival, “Hécube, pas Hécube”, numa escrita livre entre realidade e ficção a partir da Hécuba de Eurípides.

Este ano, o evento conta com um “artista cúmplice”: o bailarino e coreógrafo francês Boris Charmatz, atualmente director da companhia alemã Tanztheater Wuppertal, a histórica companhia de Pina Bausch.

Inês Barahona e Miguel Fragata regressam a Avignon, agora com "Terminal (O estado do mundo)", um espetáculo em torno da crise climática, que questiona se a crise climática não é também uma crise da imaginação.

RFI: Porquê o espanhol como língua convidada?

Tiago Rodrigues, director do Festival de Avignon: O primeiro critério que nos leva a escolher línguas e convidar línguas é uma forma de olhar o mundo organizado, ligado ou desorganizado por línguas, em vez de o ver dividido por fronteiras e nacionalidades.

Há demasiadas instituições, manifestações e organizações no mundo que veem o mundo dividido e separado. A nós interessa-nos ver essa cola que são as línguas carregadas de história, de imaginação e de futuro também.

Depois o critério para convidarmos uma língua é que haja uma grande vitalidade, qualidade e diversidade nos países que falam essa língua, no que toca a artes performativas, teatro, dança, performance, circo, música. É o caso da língua espanhola, entre Espanha e América do Sul há uma enorme diversidade e qualidade de criação teatral e coreográfica.

Há também, depois, a riqueza patrimonial. Penso, por exemplo, em Cervantes, que vai marcar com o seu Dom Quixote esta edição do Festival de Avignon. Temos encenações em francês de Dom Quixote, o escritor Enrique Vila-Matas que vem falar sobre literatura espanhola e, certamente, também sobre Dom Quixote, que é uma das suas paixões. Temos uma manhã com artistas que vão falar só sobre Dom Quixote e encomendas de novos textos novos de Dom Quixote por autores franceses.

Temos também a diversidade e a riqueza contemporânea desta língua, com novos autores como o uruguaio Gabriel Calderón, a dimensão de uma escrita que se impôs radical no teatro europeu, que é a de Angélica Liddell, que abre este festival [com a peça “Dämon, el funeral de Bergman”] na Cour d’honneur du Palais des Papes (Pátio de honra do Palácio dos Papas).

É uma escolha radical?

É uma escolha radical porque, no tempo em que vivemos, é absolutamente necessário sabermos encontrar equilíbrios numa programação, mas nesses equilíbrios continuarmos de uma forma feroz e intransigente a defender a liberdade artística.

Angélica Liddell apresentada no maior palco do Festival de Avignon, um dos maiores palcos do mundo, é também um reconhecimento, obviamente, do seu génio - julgo que é uma das grandes escritoras de espectáculos do nosso tempo - mas, também, uma radical intransigente defesa da liberdade artística e da liberdade de expressão.

Há também a polaca Marta Górnicka, com “Mothers. A song for wartime”, com mulheres ucranianas, polacas e bielorrussas, sobre exílio e a guerra. É uma forma de o teatro fazer pensar o mundo de hoje e aquilo que se está efectivamente a passar? Para não se esquecer esta guerra na Ucrânia que pode cair no esquecimento por se prolongar no tempo?

Os grandes artistas são sempre criadores que conseguem aliar a sofisticação e a exigência artística a um olhar do mundo que não tenta apagar as injustiças.

Marta Górnicka, parece-me - eu acredito - uma grande artista do nosso tempo, relativamente jovem ainda, mas uma polaca que vai marcar, continuar a marcar o teatro europeu.

Com este espectáculo ela decidiu regressar à sua Polónia Natal, onde já não vivia há alguns anos e dedicar se a trabalhar com mulheres, na sua maioria no exílio, ucranianas que fugiram à guerra, mas também bielorrússias, polacas e formar um coro que se inspira de canções tradicionais ucranianas e das suas histórias de resistência e de sobrevivência para nos oferecer um espectáculo que tem tanto de difícil, duro - porque nos devolve à realidade da guerra - como de humano e capaz de reconstruir a nossa confiança na humanidade.

A Comédie-Française regressa ao festival. Apresenta a sua primeira criação depois de ter assumido o cargo de director do Festival, “Hécube, pas Hécube”, numa escrita livre entre realidade e ficção a partir da Hécuba de Eurípides. É uma escolha arriscada esta de mexer em dois lugares “sacrossantos” da cultura francesa: Avignon e Comédie-Française?

O risco é quase o nome do meio do Festival de Avignon. Podia chamar-se Festival de risco de Avignon, porque é um festival de criação e um festival que aposta sempre em criar e acompanhar os artistas quando eles só têm uma ideia.

A hipótese de trabalhar com a Comédie-Française nasce de um convite da parte da Comédie-Française, mesmo antes de eu me tornar director do Festival de Avignon. O projecto, aliás, teve que ser adiado porque eu me tornei director do Festival de Avignon.

Mas é com um grande prazer, com uma grande honra, obviamente, que faço a minha primeira criação enquanto director do Festival de Avignon, em Avignon, com a Comédie-Française. De alguma forma, é estar a tocar de forma efémera, com toda a humildade, em dois dos grandes símbolos da cultura francesa.

Obviamente, para um filho de um exilado político que estava no final dos anos 1960 em França, em Paris, em condições muito precárias, fugido à ditadura, para um sobrinho de pessoas que emigraram de Portugal nos anos 50 e 60 por razões económicas e ainda vivem em França, saber que uma geração depois tenho o privilégio, a sorte de poder estar a dirigir um dos grandes símbolos culturais deste país e estar a trabalhar com outro dos grandes símbolos culturais não só deste país, como da Europa e do mundo, conta qualquer coisa sobre a história das nossas democracias. Eu tenho muita sorte de pertencer a esta geração e não à geração do meu pai.

A participar neste festival estarão também Inês Barahona e Miguel Fragata, com o espectáculo "Terminal (O estado do mundo) ". Porquê esta escolha?

Miguel Fragata e Inês Barahona são dois grandes artistas do teatro português e esta peça é uma pesquisa feita sobre paisagens desaparecidas, urgência climática, mas também uma crise da imaginação que eles acreditam existir, associada à crise climática. Foi feita entre França e Portugal.

Enquanto director do Teatro Nacional D. Maria II, tive a sorte de poder acompanhar, apresentar e apoiar o trabalho da Inês Barahona e do Miguel Fragata e, obviamente, não é o facto de eu ter a nacionalidade portuguesa e dirigir o Festival de Avignon que por uma questão de pudor, impedir que grandes artistas portugueses possam ser visíveis e estar presentes e ser apoiados também pelo Festival de Avignon.

Portanto, é o mérito e a qualidade de Inês Barahona e de Miguel Fragata que lhes dão o espaço que eles merecem no Festival de Avignon.

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Foi desvendado esta semana o programa da 78°edição do Festival de Avignon, que vai decorrer de 29 de Junho a 21 de Julho, uma semana mais cedo do habitual devido à realização dos Jogos Olímpicos de Paris.

Em 2024, a língua convidada é o espanhol, com Angélica Liddell a ter honras de abertura. Destaque para o regresso da Comédie-Française ao sudeste de França, com Tiago Rodrigues a apresentar a sua primeira criação depois de ter assumido o cargo de director do Festival, “Hécube, pas Hécube”, numa escrita livre entre realidade e ficção a partir da Hécuba de Eurípides.

Este ano, o evento conta com um “artista cúmplice”: o bailarino e coreógrafo francês Boris Charmatz, atualmente director da companhia alemã Tanztheater Wuppertal, a histórica companhia de Pina Bausch.

Inês Barahona e Miguel Fragata regressam a Avignon, agora com "Terminal (O estado do mundo)", um espetáculo em torno da crise climática, que questiona se a crise climática não é também uma crise da imaginação.

RFI: Porquê o espanhol como língua convidada?

Tiago Rodrigues, director do Festival de Avignon: O primeiro critério que nos leva a escolher línguas e convidar línguas é uma forma de olhar o mundo organizado, ligado ou desorganizado por línguas, em vez de o ver dividido por fronteiras e nacionalidades.

Há demasiadas instituições, manifestações e organizações no mundo que veem o mundo dividido e separado. A nós interessa-nos ver essa cola que são as línguas carregadas de história, de imaginação e de futuro também.

Depois o critério para convidarmos uma língua é que haja uma grande vitalidade, qualidade e diversidade nos países que falam essa língua, no que toca a artes performativas, teatro, dança, performance, circo, música. É o caso da língua espanhola, entre Espanha e América do Sul há uma enorme diversidade e qualidade de criação teatral e coreográfica.

Há também, depois, a riqueza patrimonial. Penso, por exemplo, em Cervantes, que vai marcar com o seu Dom Quixote esta edição do Festival de Avignon. Temos encenações em francês de Dom Quixote, o escritor Enrique Vila-Matas que vem falar sobre literatura espanhola e, certamente, também sobre Dom Quixote, que é uma das suas paixões. Temos uma manhã com artistas que vão falar só sobre Dom Quixote e encomendas de novos textos novos de Dom Quixote por autores franceses.

Temos também a diversidade e a riqueza contemporânea desta língua, com novos autores como o uruguaio Gabriel Calderón, a dimensão de uma escrita que se impôs radical no teatro europeu, que é a de Angélica Liddell, que abre este festival [com a peça “Dämon, el funeral de Bergman”] na Cour d’honneur du Palais des Papes (Pátio de honra do Palácio dos Papas).

É uma escolha radical?

É uma escolha radical porque, no tempo em que vivemos, é absolutamente necessário sabermos encontrar equilíbrios numa programação, mas nesses equilíbrios continuarmos de uma forma feroz e intransigente a defender a liberdade artística.

Angélica Liddell apresentada no maior palco do Festival de Avignon, um dos maiores palcos do mundo, é também um reconhecimento, obviamente, do seu génio - julgo que é uma das grandes escritoras de espectáculos do nosso tempo - mas, também, uma radical intransigente defesa da liberdade artística e da liberdade de expressão.

Há também a polaca Marta Górnicka, com “Mothers. A song for wartime”, com mulheres ucranianas, polacas e bielorrussas, sobre exílio e a guerra. É uma forma de o teatro fazer pensar o mundo de hoje e aquilo que se está efectivamente a passar? Para não se esquecer esta guerra na Ucrânia que pode cair no esquecimento por se prolongar no tempo?

Os grandes artistas são sempre criadores que conseguem aliar a sofisticação e a exigência artística a um olhar do mundo que não tenta apagar as injustiças.

Marta Górnicka, parece-me - eu acredito - uma grande artista do nosso tempo, relativamente jovem ainda, mas uma polaca que vai marcar, continuar a marcar o teatro europeu.

Com este espectáculo ela decidiu regressar à sua Polónia Natal, onde já não vivia há alguns anos e dedicar se a trabalhar com mulheres, na sua maioria no exílio, ucranianas que fugiram à guerra, mas também bielorrússias, polacas e formar um coro que se inspira de canções tradicionais ucranianas e das suas histórias de resistência e de sobrevivência para nos oferecer um espectáculo que tem tanto de difícil, duro - porque nos devolve à realidade da guerra - como de humano e capaz de reconstruir a nossa confiança na humanidade.

A Comédie-Française regressa ao festival. Apresenta a sua primeira criação depois de ter assumido o cargo de director do Festival, “Hécube, pas Hécube”, numa escrita livre entre realidade e ficção a partir da Hécuba de Eurípides. É uma escolha arriscada esta de mexer em dois lugares “sacrossantos” da cultura francesa: Avignon e Comédie-Française?

O risco é quase o nome do meio do Festival de Avignon. Podia chamar-se Festival de risco de Avignon, porque é um festival de criação e um festival que aposta sempre em criar e acompanhar os artistas quando eles só têm uma ideia.

A hipótese de trabalhar com a Comédie-Française nasce de um convite da parte da Comédie-Française, mesmo antes de eu me tornar director do Festival de Avignon. O projecto, aliás, teve que ser adiado porque eu me tornei director do Festival de Avignon.

Mas é com um grande prazer, com uma grande honra, obviamente, que faço a minha primeira criação enquanto director do Festival de Avignon, em Avignon, com a Comédie-Française. De alguma forma, é estar a tocar de forma efémera, com toda a humildade, em dois dos grandes símbolos da cultura francesa.

Obviamente, para um filho de um exilado político que estava no final dos anos 1960 em França, em Paris, em condições muito precárias, fugido à ditadura, para um sobrinho de pessoas que emigraram de Portugal nos anos 50 e 60 por razões económicas e ainda vivem em França, saber que uma geração depois tenho o privilégio, a sorte de poder estar a dirigir um dos grandes símbolos culturais deste país e estar a trabalhar com outro dos grandes símbolos culturais não só deste país, como da Europa e do mundo, conta qualquer coisa sobre a história das nossas democracias. Eu tenho muita sorte de pertencer a esta geração e não à geração do meu pai.

A participar neste festival estarão também Inês Barahona e Miguel Fragata, com o espectáculo "Terminal (O estado do mundo) ". Porquê esta escolha?

Miguel Fragata e Inês Barahona são dois grandes artistas do teatro português e esta peça é uma pesquisa feita sobre paisagens desaparecidas, urgência climática, mas também uma crise da imaginação que eles acreditam existir, associada à crise climática. Foi feita entre França e Portugal.

Enquanto director do Teatro Nacional D. Maria II, tive a sorte de poder acompanhar, apresentar e apoiar o trabalho da Inês Barahona e do Miguel Fragata e, obviamente, não é o facto de eu ter a nacionalidade portuguesa e dirigir o Festival de Avignon que por uma questão de pudor, impedir que grandes artistas portugueses possam ser visíveis e estar presentes e ser apoiados também pelo Festival de Avignon.

Portanto, é o mérito e a qualidade de Inês Barahona e de Miguel Fragata que lhes dão o espaço que eles merecem no Festival de Avignon.

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