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Autárquicas: "Resultados representam uma viragem na vida política turca"

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O Presidente turco reconheceu a histórica vitória da oposição nas eleições autárquicas. Segundo Recep Tayyip Erdogan os resultados representam um “ponto de viragem, mas não um fim”, para o seu campo, no poder desde 2002. O Partido Popular Republicano, CHP, social-democrata, mantém as grandes cidades, nomeadamente da capital, Ancara, e da megalópole Istambul, onde Ekrem Imamoglu garantiu um segundo mandato “inesperado”. Os resultados representam "uma viragem na vida política turca", defende Dejanirah Couto historiadora, especialista do Médio Oriente e professora na Escola de Altos Estudos de Paris.

RFI: Este é um golpe inesperado para Recep Tayyip Erdogan?

Dejanirah Couto: Sim, até certo ponto é porque, embora ele já tenha indicado que não se iria apresentar para um último mandato, aparentemente, o que apesar de tudo é uma espécie de coquetterie porque ele ainda tem a possibilidade de modificar a Constituição e de se apresentar num próximo mandato. Em termos gerais é uma é uma surpresa porque se não pensava que a oposição fosse capaz não só de liderar num certo número de grandes cidades, como acabou de enumerar, mas também de estender a sua influência, o seu voto em regiões que eram tradicionalmente da AKP, portanto o partido do Presidente.

Esta é a primeira vez desde que Erdogan chegou ao poder, há vinte e um anos, que o seu partido foi derrotado nas urnas em todo o país?

Isto representa realmente uma viragem muito considerável, muito, muito, muito importante porque nas últimas eleições, como se verificou, ele ganhou por uma larga maioria, como era de esperar. Portanto, esta recomposição política num curto espaço de tempo é bastante surpreendente. É claro que ela pode ter razões internas e externas, mas não há dúvida nenhuma que isto vai representar uma viragem na vida política turca. E como a Turquia é ao elemento importante não só da NATO, mas igualmente do ponto de vista regional, este novo voto pode significar uma viragem igualmente do ponto de vista da sua política externa. Vamos ver, portanto, o que sucede.

Para a oposição, estes resultados vão mudar alguma coisa?

Estes resultados para a oposição vão mudar de dois pontos de vista. Por um lado, vão psicologicamente ter um efeito muito positivo porque nas últimas eleições ganhas por Erdogan, a oposição ficou efectivamente num estado, digamos, de prestação de depressão mesmo, eu diria, sentindo-se incapaz de modificar a dinâmica que o Presidente lançou há 20 anos. Portanto, psicologicamente, isto representa uma vitória muito grande a ser digerida, cuidadosamente, pela oposição, mas tem grandes, grandes efeitos psicológicos. Por outro lado, vai pôr esta mesma oposição diante de um aspecto muito mais prático que é o de saber se eles vão ser capazes e ponho-me aqui um pouco, digamos, na pele dos interessados, se vão ser capazes de gerir toda uma série de zonas ou de manter a sua influência em toda uma série de zonas que tradicionalmente não lhes pertenciam, digamos assim, sociologicamente falando, nem politicamente. Estou a falar aqui de zonas rurais, fora daquelas grandes cidades e fora daquela zona costeira do oeste da Turquia, que é uma zona que tradicionalmente se encontrava nas mãos da oposição. Tudo isto vai significar uma nova vida para a oposição.

Os eleitores não votam da mesma forma em eleições presidenciais e autárquicas. No verão passado, os turcos votaram para a imagem do país no plano internacional. Agora votaram para ver questões de proximidade resolvidas?

Sim, sem dúvida. Eu penso que aqui o peso deste escrutínio é realmente as questões de proximidade. E, em primeiro lugar, a questão económica. O facto de a inflação se manter muito alta, o facto de efectivamente as contas públicas estarem num estado realmente difícil de compreender, sobretudo depois das múltiplas medidas e de um grande número de ministros da Economia que foram nomeados. O último episódio desta saga económica tem sido o afastamento, por exemplo, dos líderes de direcção do Banco Central da Turquia e da senhora que foi presidente do Banco Central até há relativamente pouco tempo e que foi efectivamente afastada pelo poder. Portanto, estamos aqui realmente, como disse e concordo plenamente, diante de um voto de reacção a uma situação económica que se tem vindo a deteriorar de uma maneira impressionante desde 2010.

Hoje quando se chega à Turquia, são realmente impensáveis os tempos em que o euro ou o dólar significavam um pequeno punhado de liras turcas. Quando se olham agora para os índices, uma lira turca são 35 €. Uma coisa verdadeiramente de enlouquecer. Do ponto de vista do balanço económico é altamente negativo. Apesar do Banco Central ter tomado algumas medidas há relativamente pouco tempo, no último ano. O problema é que a Turquia é um país imenso. É um país com uma população muito importante e muito elevada e portanto, estas medidas são assim uma espécie de gotas no oceano que não vêm modificar estruturalmente a questão. O voto de ontem, os resultados são efectivamente para mostrar ao partido e ao Presidente que a questão económica se está a tornar realmente uma questão fundamental. Já o era sem dúvida nenhuma. Está-se a atingir o limite do que os habitantes e as famílias podem suportar em matéria de desgaste económico.

O terramoto de 6 de Fevereiro do ano passado pesou neste acto eleitoral?

Terrivelmente. Eu acho que não houve ainda uma apreciação internacional porque há um problema mediático. A questão do do grande terramoto emergiu durante aquelas semanas e mesmo nos primeiros meses do ponto de vista internacional, da informação internacional, mas o desgaste também provocado por este terramoto, não somente no Leste, nas zonas atingidas concretamente, mas o terramoto foi também um terramoto social. E é isso que é necessário compreender. É que em todas as províncias da Turquia, em todas as cidades, em Istambul, em Ancara, em Izmir, nas grandes cidades, praticamente toda a população foi afectada durante o último ano ou de maneira directa ou de maneira indirecta, foram altamente afectados pelo terramoto.

Eu vou dar apenas dois pequenos exemplos que dão para se ter uma ideia de como é que se vive no interior, qual é a percepção da população sobre essas questões. Por exemplo, as somas que tinham sido indigitados a grande número de instituições públicas, de educação, de formação, essas somas que tinham sido praticamente postas de parte, bloqueadas para esses efeitos foram completamente desviadas para atender justamente aos efeitos do terramoto. Portanto, houve escolas, academias, universidades, liceus que ficaram completamente sem receberem o que deveriam receber porque essas somas foram desviadas.

Um outro segundo exemplo que eu queria dar, que é extremamente importante, que é todo o sector da construção. Na Turquia, o sector da construção, que é um sector blindado e altamente comandado e dirigido pelo grupo governamental, tanto a matéria-prima como a mão-de-obra, com todas as direções relativas à construção civil foram completamente distorcidas e revistas, desviadas justamente para a prioridade que foi o terramoto. E isto em zonas que nada têm a ver com o Leste, quer dizer, em zonas da Turquia Central e zonas da Turquia do Oeste, em determinadas zonas até bastante ricas financeiramente falando, como por exemplo a zona de Esmirna ou zona de Antália. Esse sector da construção civil, viu-se completamente ou abandonado ou bloqueado com centenas e milhares de pessoas sem emprego porque, por exemplo, as matérias-primas utilizadas para a construção civil; a areia, o cimento, etc.. foi tudo monopolizado por ordem governamental para as zonas do terramoto, mas depois nas zonas do terramoto, devido a problemas vários de gestão e já nem diria de corrupção, mas de priorização de organização. Acabaram por não ser afectadas de maneira profícua para essas zonas e portanto, isso foi sabendo-se em zonas muito longínquas do terramoto e causando um péssimo efeito na opinião pública.

Apesar dos resultados, o poder vai continuar centrado em Ancara, no palácio presidencial. As próximas eleições presidenciais estão marcadas para 2028. Erdogan já disse que não se recandidata, mas esta questão ainda está em aberto. Pode haver mudanças políticas na Turquia depois do escrutínio de ontem?

A nível das cúpulas, digamos assim, governamentais, acredito que não. Hoje, nos jornais turcos, houve uma série de declarações em que o Presidente disse 'isto é uma grande vitória da nossa democracia'. Portanto, ele está a tentar confiscar estes resultados em seu proveito, dizendo que finalmente acabou um partido altamente democrático e que, portanto, os resultados em que ele perdeu nestas zonas apenas significam que a democracia turca está bem enraizada, que é forte, etc.

Não sei até que ponto este tipo de discurso vai durar, mas penso que realmente vai durar. De qualquer modo, não estou a ver que a nível das decisões centrais haja grandes modificações. Não creio, mas a nível local, a nível das municipalidades, a nível de uma vida regional e local eu penso que vai haver modificações daqui até 2028, até mesmo porque o partido AKP que não vai desmobilizar, eles são extremamente motivados, não vai desmobilizar, mas vai ter que ceder algum terreno desse ponto de vista de gestão local ou da gestão municipal. E, portanto, é aí que há uma espécie de brecha na qual a oposição actual pode realmente entrar e confiscar também o seu proveito. Resta saber se serão capazes de o fazer, porque a vida política na Turquia é extraordinariamente complicada. Estou a falar das instâncias da base porque há um trabalho feito pelo partido do poder durante cerca de 20 anos a nível local e, portanto, essa transferência de poderes e hipoteticamente falando, vai dar lugar a uma série de lutas de influência a nível local. É ainda muito cedo para se poder observar ou dizer que efectivamente vai ter consequências desse ponto de vista.

Penso que poderemos dizer que teoricamente se poderá esperar agora uma certa modificação a nível das bases, a nível da população em determinados sectores, mas que o aparelho todo se desloque depois destas eleições, creio que não porque até mesmo as cúpulas vão continuar perfeitamente fiéis, que haja resultados favoráveis ou desfavoráveis ao poder da propaganda do partido do Presidente, que é extraordinariamente importante também. A contar com a acção concreta desses promotores da propaganda do AKP, que, tendo agora perdido influência em muitas zonas que normalmente lhes pertenciam, eles vão certamente também reagir.

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O Presidente turco reconheceu a histórica vitória da oposição nas eleições autárquicas. Segundo Recep Tayyip Erdogan os resultados representam um “ponto de viragem, mas não um fim”, para o seu campo, no poder desde 2002. O Partido Popular Republicano, CHP, social-democrata, mantém as grandes cidades, nomeadamente da capital, Ancara, e da megalópole Istambul, onde Ekrem Imamoglu garantiu um segundo mandato “inesperado”. Os resultados representam "uma viragem na vida política turca", defende Dejanirah Couto historiadora, especialista do Médio Oriente e professora na Escola de Altos Estudos de Paris.

RFI: Este é um golpe inesperado para Recep Tayyip Erdogan?

Dejanirah Couto: Sim, até certo ponto é porque, embora ele já tenha indicado que não se iria apresentar para um último mandato, aparentemente, o que apesar de tudo é uma espécie de coquetterie porque ele ainda tem a possibilidade de modificar a Constituição e de se apresentar num próximo mandato. Em termos gerais é uma é uma surpresa porque se não pensava que a oposição fosse capaz não só de liderar num certo número de grandes cidades, como acabou de enumerar, mas também de estender a sua influência, o seu voto em regiões que eram tradicionalmente da AKP, portanto o partido do Presidente.

Esta é a primeira vez desde que Erdogan chegou ao poder, há vinte e um anos, que o seu partido foi derrotado nas urnas em todo o país?

Isto representa realmente uma viragem muito considerável, muito, muito, muito importante porque nas últimas eleições, como se verificou, ele ganhou por uma larga maioria, como era de esperar. Portanto, esta recomposição política num curto espaço de tempo é bastante surpreendente. É claro que ela pode ter razões internas e externas, mas não há dúvida nenhuma que isto vai representar uma viragem na vida política turca. E como a Turquia é ao elemento importante não só da NATO, mas igualmente do ponto de vista regional, este novo voto pode significar uma viragem igualmente do ponto de vista da sua política externa. Vamos ver, portanto, o que sucede.

Para a oposição, estes resultados vão mudar alguma coisa?

Estes resultados para a oposição vão mudar de dois pontos de vista. Por um lado, vão psicologicamente ter um efeito muito positivo porque nas últimas eleições ganhas por Erdogan, a oposição ficou efectivamente num estado, digamos, de prestação de depressão mesmo, eu diria, sentindo-se incapaz de modificar a dinâmica que o Presidente lançou há 20 anos. Portanto, psicologicamente, isto representa uma vitória muito grande a ser digerida, cuidadosamente, pela oposição, mas tem grandes, grandes efeitos psicológicos. Por outro lado, vai pôr esta mesma oposição diante de um aspecto muito mais prático que é o de saber se eles vão ser capazes e ponho-me aqui um pouco, digamos, na pele dos interessados, se vão ser capazes de gerir toda uma série de zonas ou de manter a sua influência em toda uma série de zonas que tradicionalmente não lhes pertenciam, digamos assim, sociologicamente falando, nem politicamente. Estou a falar aqui de zonas rurais, fora daquelas grandes cidades e fora daquela zona costeira do oeste da Turquia, que é uma zona que tradicionalmente se encontrava nas mãos da oposição. Tudo isto vai significar uma nova vida para a oposição.

Os eleitores não votam da mesma forma em eleições presidenciais e autárquicas. No verão passado, os turcos votaram para a imagem do país no plano internacional. Agora votaram para ver questões de proximidade resolvidas?

Sim, sem dúvida. Eu penso que aqui o peso deste escrutínio é realmente as questões de proximidade. E, em primeiro lugar, a questão económica. O facto de a inflação se manter muito alta, o facto de efectivamente as contas públicas estarem num estado realmente difícil de compreender, sobretudo depois das múltiplas medidas e de um grande número de ministros da Economia que foram nomeados. O último episódio desta saga económica tem sido o afastamento, por exemplo, dos líderes de direcção do Banco Central da Turquia e da senhora que foi presidente do Banco Central até há relativamente pouco tempo e que foi efectivamente afastada pelo poder. Portanto, estamos aqui realmente, como disse e concordo plenamente, diante de um voto de reacção a uma situação económica que se tem vindo a deteriorar de uma maneira impressionante desde 2010.

Hoje quando se chega à Turquia, são realmente impensáveis os tempos em que o euro ou o dólar significavam um pequeno punhado de liras turcas. Quando se olham agora para os índices, uma lira turca são 35 €. Uma coisa verdadeiramente de enlouquecer. Do ponto de vista do balanço económico é altamente negativo. Apesar do Banco Central ter tomado algumas medidas há relativamente pouco tempo, no último ano. O problema é que a Turquia é um país imenso. É um país com uma população muito importante e muito elevada e portanto, estas medidas são assim uma espécie de gotas no oceano que não vêm modificar estruturalmente a questão. O voto de ontem, os resultados são efectivamente para mostrar ao partido e ao Presidente que a questão económica se está a tornar realmente uma questão fundamental. Já o era sem dúvida nenhuma. Está-se a atingir o limite do que os habitantes e as famílias podem suportar em matéria de desgaste económico.

O terramoto de 6 de Fevereiro do ano passado pesou neste acto eleitoral?

Terrivelmente. Eu acho que não houve ainda uma apreciação internacional porque há um problema mediático. A questão do do grande terramoto emergiu durante aquelas semanas e mesmo nos primeiros meses do ponto de vista internacional, da informação internacional, mas o desgaste também provocado por este terramoto, não somente no Leste, nas zonas atingidas concretamente, mas o terramoto foi também um terramoto social. E é isso que é necessário compreender. É que em todas as províncias da Turquia, em todas as cidades, em Istambul, em Ancara, em Izmir, nas grandes cidades, praticamente toda a população foi afectada durante o último ano ou de maneira directa ou de maneira indirecta, foram altamente afectados pelo terramoto.

Eu vou dar apenas dois pequenos exemplos que dão para se ter uma ideia de como é que se vive no interior, qual é a percepção da população sobre essas questões. Por exemplo, as somas que tinham sido indigitados a grande número de instituições públicas, de educação, de formação, essas somas que tinham sido praticamente postas de parte, bloqueadas para esses efeitos foram completamente desviadas para atender justamente aos efeitos do terramoto. Portanto, houve escolas, academias, universidades, liceus que ficaram completamente sem receberem o que deveriam receber porque essas somas foram desviadas.

Um outro segundo exemplo que eu queria dar, que é extremamente importante, que é todo o sector da construção. Na Turquia, o sector da construção, que é um sector blindado e altamente comandado e dirigido pelo grupo governamental, tanto a matéria-prima como a mão-de-obra, com todas as direções relativas à construção civil foram completamente distorcidas e revistas, desviadas justamente para a prioridade que foi o terramoto. E isto em zonas que nada têm a ver com o Leste, quer dizer, em zonas da Turquia Central e zonas da Turquia do Oeste, em determinadas zonas até bastante ricas financeiramente falando, como por exemplo a zona de Esmirna ou zona de Antália. Esse sector da construção civil, viu-se completamente ou abandonado ou bloqueado com centenas e milhares de pessoas sem emprego porque, por exemplo, as matérias-primas utilizadas para a construção civil; a areia, o cimento, etc.. foi tudo monopolizado por ordem governamental para as zonas do terramoto, mas depois nas zonas do terramoto, devido a problemas vários de gestão e já nem diria de corrupção, mas de priorização de organização. Acabaram por não ser afectadas de maneira profícua para essas zonas e portanto, isso foi sabendo-se em zonas muito longínquas do terramoto e causando um péssimo efeito na opinião pública.

Apesar dos resultados, o poder vai continuar centrado em Ancara, no palácio presidencial. As próximas eleições presidenciais estão marcadas para 2028. Erdogan já disse que não se recandidata, mas esta questão ainda está em aberto. Pode haver mudanças políticas na Turquia depois do escrutínio de ontem?

A nível das cúpulas, digamos assim, governamentais, acredito que não. Hoje, nos jornais turcos, houve uma série de declarações em que o Presidente disse 'isto é uma grande vitória da nossa democracia'. Portanto, ele está a tentar confiscar estes resultados em seu proveito, dizendo que finalmente acabou um partido altamente democrático e que, portanto, os resultados em que ele perdeu nestas zonas apenas significam que a democracia turca está bem enraizada, que é forte, etc.

Não sei até que ponto este tipo de discurso vai durar, mas penso que realmente vai durar. De qualquer modo, não estou a ver que a nível das decisões centrais haja grandes modificações. Não creio, mas a nível local, a nível das municipalidades, a nível de uma vida regional e local eu penso que vai haver modificações daqui até 2028, até mesmo porque o partido AKP que não vai desmobilizar, eles são extremamente motivados, não vai desmobilizar, mas vai ter que ceder algum terreno desse ponto de vista de gestão local ou da gestão municipal. E, portanto, é aí que há uma espécie de brecha na qual a oposição actual pode realmente entrar e confiscar também o seu proveito. Resta saber se serão capazes de o fazer, porque a vida política na Turquia é extraordinariamente complicada. Estou a falar das instâncias da base porque há um trabalho feito pelo partido do poder durante cerca de 20 anos a nível local e, portanto, essa transferência de poderes e hipoteticamente falando, vai dar lugar a uma série de lutas de influência a nível local. É ainda muito cedo para se poder observar ou dizer que efectivamente vai ter consequências desse ponto de vista.

Penso que poderemos dizer que teoricamente se poderá esperar agora uma certa modificação a nível das bases, a nível da população em determinados sectores, mas que o aparelho todo se desloque depois destas eleições, creio que não porque até mesmo as cúpulas vão continuar perfeitamente fiéis, que haja resultados favoráveis ou desfavoráveis ao poder da propaganda do partido do Presidente, que é extraordinariamente importante também. A contar com a acção concreta desses promotores da propaganda do AKP, que, tendo agora perdido influência em muitas zonas que normalmente lhes pertenciam, eles vão certamente também reagir.

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