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França e Europa sustêm respiração com segunda volta das eleições legislativas

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A França vota este domingo para a segunda volta das eleições legislativas. E isto após uma campanha renhida com muitas desistências, da esquerda, ao centro e à direita, visando bloquear a chegada ao poder da União Nacional [Rassemblement National, RN].

A expectativa é grande, neste novo xadrez político, parece inverosímil que se obtenha uma maioria absoluta.

Um cenário de tensão ao qual começar por se referir o historiador Victor Pereira.

Como olha para a campanha que antecedeu esta segunda volta, mais de 50 pessoas teriam sido agredidas !

Houve vários relatos de violência contra candidatos e sempre aconteceu, há momentos mais violentos entre militantes de partidos opostos. Mas parece que o número aumentou e também a sua visibilidade.

Para muitos, [é de temer] um eventual surto de violência depois dos resultados. Obviamente que a esquerda teme mais uma violência vinda de extrema direita. Nos últimos meses ou anos há grupos de extrema direita que fazem manifestações que, por vezes, atacam pessoas na rua, obviamente pessoas racializadas, como se diz.

E o facto de a extrema direita poder ganhar pode tornar mais importante e talvez mais impune essa violência. E obviamente que o Ministério do Interior, ele, vai temendo é uma violência que viria da rua, de grupos de extrema esquerda ou de jovens que contestariam o resultado, se manifestariam depois de uma vitória da extrema direita.

Então, esses momentos são importantes. Obviamente, eles são talvez instrumentalizados pelo governo. O próprio Macron falou de guerra civil, mas o campo político francês tornou-se muito mais bipolarizado. Os médias também. Então, esse clima de violência sempre parece pairar um pouco.

O primeiro ministro Gabriel Attal dizia nesta sexta feira que estava disposto a manter-se no poder enquanto não houvesse, de facto, novo governo. O que pode deixar a entender que provavelmente poderá haver dificuldades em viabilizar rapidamente o novo governo.

As últimas sondagens, de facto, não apontam para nenhuma maioria absoluta, seja com a extrema direita, seja com a esquerda, seja com a maioria presidencial. Acha que, de facto, avançamos aqui para um cenário de uma maioria muito relativa da extrema direita?

Sim, estamos numa situação nova para a Quinta República, Quinta República, que foi feita para assegurar maiorias no Parlamento. Charles de Gaulle, quando instituiu a Quinta República, tinha como contra exemplo a Terceira e a Quarta República, que eram regimes parlamentares...

E que não é um sistema proporcional !

Não é de todo proporcional e foi feito para ter uma maioria clara e absoluta. E mesmo quando houve períodos de coabitação havia maiorias absolutas.

Então, neste caso, muito provavelmente o Rassemblement National não vai ter uma maioria absoluta, ou vai estar longe de uma maioria absoluta, mesmo contando com alguns deputados republicanos que poderiam apoiá-lo.

Uma vitória, uma maioria absoluta da esquerda unida parece difícil e uma maioria absoluta do Macron/Ensemble parece complicado.

Então, o que pareceu aventado é, como disse com Gabriel Attal, tentar encontrar uma frente republicana que iria, mais ou menos, dos republicanos à direita até aos comunistas.

Excluiria a França Insubmissa e a União Nacional.

Sim, isso mesmo. É esse discurso que se ouve bastante, que é de luta contra os extremismos, colocando em quase equivalência o Rassemblement National e LFI [La France Insoumise, A França insubmissa, extrema esquerda].

É o que participa dessa desdiabolização do Rassemblement National que existe há alguns meses. Mas isso parece pouco provável.

A França não é a Alemanha. A França não tem de todo, a cultura do consenso. Tanto os deputados LR [Les Républicains, os republicanos, direita moderada], como os deputados do PS têm muito pouca confiança em Emmanuel Macron porque vêem Emmanuel Macron como alguém que tentou acabar com os partidos tradicionais e buscar deputados, ministros.

Portanto, a esquerda e a direita, eles vão ter muitas reservas em participar numa frente dessas. Cujo perigo é o perigo, que já é uma das causas da subida do Rassemblement National ! Isto é, o Emmanuel Macron diz que não é nem de esquerda nem de direita, e vai buscar pessoas à esquerda e à direita. Disse que a melhor forma de governar, é governar com pessoas que vinham da direita e da esquerda.

O que fica em caso de fracasso? A única alternância era as pessoas votarem no Rassemblement National, ou com essa ideia que se ouve, muitos. "Nós nunca tentámos. Temos que tentar. São os únicos que nunca tentámos!"

Fazer essa nova grande frente republicana para muitas pessoas de esquerda ou de direita... E se não funcionar, o é que é muito provável, porque vai ser complicado governar com o apoio de deputados da LR ou do Partido Comunista, ou dos Verdes, ou de Horizons [Horizonte, partido de direita moderada]. Parece muito difícil.

A França Insubmissa vai sentir-se atraiçoada porque viabilizou aqui uma coligação de esquerda: a Nova Frente Popular.

Sim, sim. Nesse caso, se essa grande frente falhar... o que não é de todo impossível. De facto, para muitos eleitores, a única alternativa que ficará será o Rassemblement National.

Então será que ela é uma solução viável que pode permitir governar a França de forma mais ou menos eficiente e fazer recuar o perigo que constitui o Rassemblement National parece pouco provável?

Há muita perplexidade por parte dos eleitores, não é? Como é que se pode agora votar na extrema esquerda quando há pouco tempo ela era diabolizado !

É o que eles dizem, por exemplo, em relação ao partido do governo, que tinha até muito recentemente um discurso extremamente crítico em relação à França insubmissa. E que agora que diz caso haja duelo com a União Nacional e a França insubmissa há que não apoiar a União Nacional, logo votar, mesmo que seja na França insubmissa.

Isso nota-se também em relação ao voto judaico. E a França continua a ter a maior comunidade judaica da Europa. Ainda nesta sexta-feira se ouvia rabinos a dizer que "Nem um, nem outro". Mas também já se ouviu algumas pessoas do sector judaico a dizer entre um e o outro... talvez a União Nacional, mas nunca França Insubmissa ! Portanto, esta questão do anti-semitismo ficou a pairar sempre sobre estas eleições também !

A questão do anti-semitismo teve um papel importante nessas eleições porque foi usada como uma forma de deslegitimar a França Insubmissa.

Que eu saiba, não houve nenhum homem político da França insubmissa a assumir que foi condenado por anti-semitismo, o que não é o caso de pessoas mais ligados à extrema direita.

Mas uma posição da função assumida de apoio à causa palestiniana. O facto de a France insoumise [França insubmissa, extrema esquerda] terem como candidata as eleições europeias Rima Hassan, que é uma franco-palestiniana que tem um papel forte na defesa da causa palestiniana...

E Jean-Luc Mélenchon disse que o anti-semitismo era residual em França.

Sim, ele disse que o anti-semitismo é residual em França e tudo isso participou na construção de uma imagem da França insubmissa como anti-semita, o que obviamente eles a recusam.

E o Mélenchon e outras figuras políticas da França insubmissa sempre contestaram essa acusação, que é muito grave, obviamente. E dizendo que ser contra a política de Israel no quadro da guerra contra o Hamas não é ser anti-semita. Houve também casos horríveis, como o caso de uma jovem que foi violada em Courbevoie, perto de Paris, porque seria de origem judaica e os adolescentes que a violaram eram as motivações para esse crime horrível...

Então é o próprio Serge Klarsfeld que é um militante importante, que foi um caçador de nazis, que encontrou, por exemplo, o Klaus Barbie, que foi um dos que participaram na repressão da resistência em Lyon.

Também apoiou o Rassemblement National, dizendo que seria uma defesa para os judeus em França. Essa questão do anti-semitismo foi muito importante. Participou na polarização muito forte desta campanha, onde se multiplicaram insultos à volta desta questão.

A Europa sustém a respiração. Como é que explica este tão grande interesse, pelo menos na Europa, em relação a estas eleições francesas?

A França é uma das potências europeias, é membro do Conselho de Segurança da ONU. É uma potência nuclear e, obviamente, é um dos países com mais população europeia dentro da União Europeia.

E, obviamente, se a extrema direita ganhar, isso provoca muitos problemas diplomáticos nesse sentido que.. Qual será a política ucraniana de um governo Rassemblement National, partido que foi apoiado financeiramente e tem ligações com a Rússia do Vladimir Putin?

Será que vai continuar o apoio à Ucrânia ou vai reduzi-la? Também se coloca perguntas de defesa da soberania. Será que documentos confidenciais não chegarão até Moscovo?

E, obviamente, numa Europa onde a extrema direita tem uma influência em crescendo, estando no poder em alguns países, como na Itália...Será que se na França passar a extrema direita, os países, os partidos da extrema direita vão ganhar força, mostrando que se a França já é de extrema direita, nós vamos sê-lo em breve. Ultrapassar, o limite que até agora não foi ultrapassado.

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A França vota este domingo para a segunda volta das eleições legislativas. E isto após uma campanha renhida com muitas desistências, da esquerda, ao centro e à direita, visando bloquear a chegada ao poder da União Nacional [Rassemblement National, RN].

A expectativa é grande, neste novo xadrez político, parece inverosímil que se obtenha uma maioria absoluta.

Um cenário de tensão ao qual começar por se referir o historiador Victor Pereira.

Como olha para a campanha que antecedeu esta segunda volta, mais de 50 pessoas teriam sido agredidas !

Houve vários relatos de violência contra candidatos e sempre aconteceu, há momentos mais violentos entre militantes de partidos opostos. Mas parece que o número aumentou e também a sua visibilidade.

Para muitos, [é de temer] um eventual surto de violência depois dos resultados. Obviamente que a esquerda teme mais uma violência vinda de extrema direita. Nos últimos meses ou anos há grupos de extrema direita que fazem manifestações que, por vezes, atacam pessoas na rua, obviamente pessoas racializadas, como se diz.

E o facto de a extrema direita poder ganhar pode tornar mais importante e talvez mais impune essa violência. E obviamente que o Ministério do Interior, ele, vai temendo é uma violência que viria da rua, de grupos de extrema esquerda ou de jovens que contestariam o resultado, se manifestariam depois de uma vitória da extrema direita.

Então, esses momentos são importantes. Obviamente, eles são talvez instrumentalizados pelo governo. O próprio Macron falou de guerra civil, mas o campo político francês tornou-se muito mais bipolarizado. Os médias também. Então, esse clima de violência sempre parece pairar um pouco.

O primeiro ministro Gabriel Attal dizia nesta sexta feira que estava disposto a manter-se no poder enquanto não houvesse, de facto, novo governo. O que pode deixar a entender que provavelmente poderá haver dificuldades em viabilizar rapidamente o novo governo.

As últimas sondagens, de facto, não apontam para nenhuma maioria absoluta, seja com a extrema direita, seja com a esquerda, seja com a maioria presidencial. Acha que, de facto, avançamos aqui para um cenário de uma maioria muito relativa da extrema direita?

Sim, estamos numa situação nova para a Quinta República, Quinta República, que foi feita para assegurar maiorias no Parlamento. Charles de Gaulle, quando instituiu a Quinta República, tinha como contra exemplo a Terceira e a Quarta República, que eram regimes parlamentares...

E que não é um sistema proporcional !

Não é de todo proporcional e foi feito para ter uma maioria clara e absoluta. E mesmo quando houve períodos de coabitação havia maiorias absolutas.

Então, neste caso, muito provavelmente o Rassemblement National não vai ter uma maioria absoluta, ou vai estar longe de uma maioria absoluta, mesmo contando com alguns deputados republicanos que poderiam apoiá-lo.

Uma vitória, uma maioria absoluta da esquerda unida parece difícil e uma maioria absoluta do Macron/Ensemble parece complicado.

Então, o que pareceu aventado é, como disse com Gabriel Attal, tentar encontrar uma frente republicana que iria, mais ou menos, dos republicanos à direita até aos comunistas.

Excluiria a França Insubmissa e a União Nacional.

Sim, isso mesmo. É esse discurso que se ouve bastante, que é de luta contra os extremismos, colocando em quase equivalência o Rassemblement National e LFI [La France Insoumise, A França insubmissa, extrema esquerda].

É o que participa dessa desdiabolização do Rassemblement National que existe há alguns meses. Mas isso parece pouco provável.

A França não é a Alemanha. A França não tem de todo, a cultura do consenso. Tanto os deputados LR [Les Républicains, os republicanos, direita moderada], como os deputados do PS têm muito pouca confiança em Emmanuel Macron porque vêem Emmanuel Macron como alguém que tentou acabar com os partidos tradicionais e buscar deputados, ministros.

Portanto, a esquerda e a direita, eles vão ter muitas reservas em participar numa frente dessas. Cujo perigo é o perigo, que já é uma das causas da subida do Rassemblement National ! Isto é, o Emmanuel Macron diz que não é nem de esquerda nem de direita, e vai buscar pessoas à esquerda e à direita. Disse que a melhor forma de governar, é governar com pessoas que vinham da direita e da esquerda.

O que fica em caso de fracasso? A única alternância era as pessoas votarem no Rassemblement National, ou com essa ideia que se ouve, muitos. "Nós nunca tentámos. Temos que tentar. São os únicos que nunca tentámos!"

Fazer essa nova grande frente republicana para muitas pessoas de esquerda ou de direita... E se não funcionar, o é que é muito provável, porque vai ser complicado governar com o apoio de deputados da LR ou do Partido Comunista, ou dos Verdes, ou de Horizons [Horizonte, partido de direita moderada]. Parece muito difícil.

A França Insubmissa vai sentir-se atraiçoada porque viabilizou aqui uma coligação de esquerda: a Nova Frente Popular.

Sim, sim. Nesse caso, se essa grande frente falhar... o que não é de todo impossível. De facto, para muitos eleitores, a única alternativa que ficará será o Rassemblement National.

Então será que ela é uma solução viável que pode permitir governar a França de forma mais ou menos eficiente e fazer recuar o perigo que constitui o Rassemblement National parece pouco provável?

Há muita perplexidade por parte dos eleitores, não é? Como é que se pode agora votar na extrema esquerda quando há pouco tempo ela era diabolizado !

É o que eles dizem, por exemplo, em relação ao partido do governo, que tinha até muito recentemente um discurso extremamente crítico em relação à França insubmissa. E que agora que diz caso haja duelo com a União Nacional e a França insubmissa há que não apoiar a União Nacional, logo votar, mesmo que seja na França insubmissa.

Isso nota-se também em relação ao voto judaico. E a França continua a ter a maior comunidade judaica da Europa. Ainda nesta sexta-feira se ouvia rabinos a dizer que "Nem um, nem outro". Mas também já se ouviu algumas pessoas do sector judaico a dizer entre um e o outro... talvez a União Nacional, mas nunca França Insubmissa ! Portanto, esta questão do anti-semitismo ficou a pairar sempre sobre estas eleições também !

A questão do anti-semitismo teve um papel importante nessas eleições porque foi usada como uma forma de deslegitimar a França Insubmissa.

Que eu saiba, não houve nenhum homem político da França insubmissa a assumir que foi condenado por anti-semitismo, o que não é o caso de pessoas mais ligados à extrema direita.

Mas uma posição da função assumida de apoio à causa palestiniana. O facto de a France insoumise [França insubmissa, extrema esquerda] terem como candidata as eleições europeias Rima Hassan, que é uma franco-palestiniana que tem um papel forte na defesa da causa palestiniana...

E Jean-Luc Mélenchon disse que o anti-semitismo era residual em França.

Sim, ele disse que o anti-semitismo é residual em França e tudo isso participou na construção de uma imagem da França insubmissa como anti-semita, o que obviamente eles a recusam.

E o Mélenchon e outras figuras políticas da França insubmissa sempre contestaram essa acusação, que é muito grave, obviamente. E dizendo que ser contra a política de Israel no quadro da guerra contra o Hamas não é ser anti-semita. Houve também casos horríveis, como o caso de uma jovem que foi violada em Courbevoie, perto de Paris, porque seria de origem judaica e os adolescentes que a violaram eram as motivações para esse crime horrível...

Então é o próprio Serge Klarsfeld que é um militante importante, que foi um caçador de nazis, que encontrou, por exemplo, o Klaus Barbie, que foi um dos que participaram na repressão da resistência em Lyon.

Também apoiou o Rassemblement National, dizendo que seria uma defesa para os judeus em França. Essa questão do anti-semitismo foi muito importante. Participou na polarização muito forte desta campanha, onde se multiplicaram insultos à volta desta questão.

A Europa sustém a respiração. Como é que explica este tão grande interesse, pelo menos na Europa, em relação a estas eleições francesas?

A França é uma das potências europeias, é membro do Conselho de Segurança da ONU. É uma potência nuclear e, obviamente, é um dos países com mais população europeia dentro da União Europeia.

E, obviamente, se a extrema direita ganhar, isso provoca muitos problemas diplomáticos nesse sentido que.. Qual será a política ucraniana de um governo Rassemblement National, partido que foi apoiado financeiramente e tem ligações com a Rússia do Vladimir Putin?

Será que vai continuar o apoio à Ucrânia ou vai reduzi-la? Também se coloca perguntas de defesa da soberania. Será que documentos confidenciais não chegarão até Moscovo?

E, obviamente, numa Europa onde a extrema direita tem uma influência em crescendo, estando no poder em alguns países, como na Itália...Será que se na França passar a extrema direita, os países, os partidos da extrema direita vão ganhar força, mostrando que se a França já é de extrema direita, nós vamos sê-lo em breve. Ultrapassar, o limite que até agora não foi ultrapassado.

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