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O despudor das paisagens. Uma entrevista a Álvaro Domingues

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A promessa de um mundo que começa com uma catástrofe não é necessariamente contraditória, e, no entanto, o futuro ainda só parece fazer-se sentir à distância, e alcança-nos por meio de vislumbres, como um pressentimento. Entretanto, enquanto tudo ao nosso redor lhe resiste, é possível folhear um caderno e ler sobre as variações possíveis do que nos espera. Muito do que está em causa exige de todos um pesado sacrifício e, por isso, uma coragem que terá de ser inventada de novo. Pasolini dizia isto a esse respeito: "Penso que é necessário educar as novas gerações para o valor da derrota. A lidar com ela. Na humanidade que dela emerge. Na construção de uma identidade capaz de perceber uma comunidade de destino, na qual é possível falhar e recomeçar sem afectar a coragem e a dignidade. Em não ser um alpinista social, em não pisar o corpo dos outros para chegar primeiro. Neste mundo de vencedores vulgares e desonestos, de fazedores falsos e oportunistas, de eminências que ocupam o poder, que escamoteiam o presente e nem se fala do futuro, de todos aqueles que têm a neurose do sucesso, da fama, de se alcançar uma posição. Perante esta antropologia do vencedor, prefiro de longe o perdedor". Sobre estes dias que correm dominados pelo absurdo pouco resta a dizer, e talvez não tenhamos para eles outra coisa senão "últimas palavras", como nos diz o poema de Ivan Junqueira: "Eis enfim o que expressa/ a boca que se fecha:/ uma praga, uma prece,/ algo de ermo e secreto,/ o asco aos vermes do verbo." Não há como seguir outro caminho que não passe por virar costas ao vivido, buscar por todos os meios uma ruptura, alimentar-se do próprio desespero. A grande questão é saber que luzes ainda nos servem de orientação. E mesmo em relação ao que está por vir, temos de nos questionar se o mundo será capaz de ouvir o que nunca lhe foi dado ouvir, se admirará o que nunca leu, e pasmará assombrado perante o que nunca imaginou. Por agora, como nos diz Álvaro Domingues, "faltam as palavras para ficcionar os acontecimentos que se sucedem em séries truncadas que não deixam ver para a frente. E sem ficções, a realidade é como um labirinto de acontecimentos a que falta um modo de apresentação, um encadeamento. Repetem-se as mesmas histórias, somam-se quantidades, procuram-se outras geografias para repisar os mesmos casos, as mesmas imagens, os mortos, os aflitos..." Neste episódio, foi para este geógrafo e professor na Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto que nos virámos. Este explorador do que já se julga conhecido, e que se tem especializado em desarrumar conceitos, desmanchar termos e noções demasiado vagas, abstractas. Um pensador para quem o desafio passa por não abrir mão das nossas dúvidas e suspeitas, não embarcar, não aderir às comunidades de pregar com pregos as partes mais vulneráveis da matéria.

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A promessa de um mundo que começa com uma catástrofe não é necessariamente contraditória, e, no entanto, o futuro ainda só parece fazer-se sentir à distância, e alcança-nos por meio de vislumbres, como um pressentimento. Entretanto, enquanto tudo ao nosso redor lhe resiste, é possível folhear um caderno e ler sobre as variações possíveis do que nos espera. Muito do que está em causa exige de todos um pesado sacrifício e, por isso, uma coragem que terá de ser inventada de novo. Pasolini dizia isto a esse respeito: "Penso que é necessário educar as novas gerações para o valor da derrota. A lidar com ela. Na humanidade que dela emerge. Na construção de uma identidade capaz de perceber uma comunidade de destino, na qual é possível falhar e recomeçar sem afectar a coragem e a dignidade. Em não ser um alpinista social, em não pisar o corpo dos outros para chegar primeiro. Neste mundo de vencedores vulgares e desonestos, de fazedores falsos e oportunistas, de eminências que ocupam o poder, que escamoteiam o presente e nem se fala do futuro, de todos aqueles que têm a neurose do sucesso, da fama, de se alcançar uma posição. Perante esta antropologia do vencedor, prefiro de longe o perdedor". Sobre estes dias que correm dominados pelo absurdo pouco resta a dizer, e talvez não tenhamos para eles outra coisa senão "últimas palavras", como nos diz o poema de Ivan Junqueira: "Eis enfim o que expressa/ a boca que se fecha:/ uma praga, uma prece,/ algo de ermo e secreto,/ o asco aos vermes do verbo." Não há como seguir outro caminho que não passe por virar costas ao vivido, buscar por todos os meios uma ruptura, alimentar-se do próprio desespero. A grande questão é saber que luzes ainda nos servem de orientação. E mesmo em relação ao que está por vir, temos de nos questionar se o mundo será capaz de ouvir o que nunca lhe foi dado ouvir, se admirará o que nunca leu, e pasmará assombrado perante o que nunca imaginou. Por agora, como nos diz Álvaro Domingues, "faltam as palavras para ficcionar os acontecimentos que se sucedem em séries truncadas que não deixam ver para a frente. E sem ficções, a realidade é como um labirinto de acontecimentos a que falta um modo de apresentação, um encadeamento. Repetem-se as mesmas histórias, somam-se quantidades, procuram-se outras geografias para repisar os mesmos casos, as mesmas imagens, os mortos, os aflitos..." Neste episódio, foi para este geógrafo e professor na Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto que nos virámos. Este explorador do que já se julga conhecido, e que se tem especializado em desarrumar conceitos, desmanchar termos e noções demasiado vagas, abstractas. Um pensador para quem o desafio passa por não abrir mão das nossas dúvidas e suspeitas, não embarcar, não aderir às comunidades de pregar com pregos as partes mais vulneráveis da matéria.

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