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Prefeitura de Paris constrói reservatório gigante para evitar poluição e garantir provas no rio Sena

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A cor marrom do rio Sena não significa necessariamente poluição. Mas faltando pouco mais de cem dias para os Jogos Olímpicos, a qualidade da água ainda preocupa atletas, enquanto o Comitê Organizador confia nas obras feitas pela prefeitura da capital para garantir a realização das provas de triatlon (nos dias 30 e 31 de julho e 5 de agosto) e da maratona aquática (8 e 9 de agosto), previstas para acontecer entre a ponte Alexandre III e a Torre Eiffel.

Maria Paula Carvalho, da RFI

O desafio é impedir que as chuvas possam estragar a festa, com o transbordamento da rede de saneamento para dentro do rio. A principal obra para evitar que isso aconteça será inaugurada nos próximos dias. A RFI foi conferir a construção de um reservatório gigante, com capacidade para armazenar 50 milhões de litros de águas pluviais, que serão enviadas posteriormente a uma estação de tratamento. A bacia de Austerlitz, como é conhecida, tem 50 metros de diâmetro e 30 metros de profundidade. Para chegar ao fundo do reservatório, descemos uma escada equivalente a um prédio de dez andares.

“Esta obra é extremamente simbólica e impressionante pela sua dimensão. É uma catedral subterrânea que nós construímos em Paris, mas ela faz parte de um plano mais amplo de melhoria da qualidade da água do Sena”, explica Antoine Guillou, responsável da prefeitura de Paris pelo saneamento.

“Quando tivermos grandes episódios de chuva, nós poderemos estocar neste reservatório uma grande quantidade de água, em vez de despejá-la no Sena”, continua. “É uma obra grandiosa para a renovação da rede de saneamento de Paris e para a melhoria da qualidade da água do Sena para os Jogos Olímpicos, mas, principalmente, para os parisienses e todos os visitantes de Paris, a partir de 2025, porque nós teremos locais para banho no Sena durante o verão, o que será evidentemente uma grande mudança, já que faz 100 anos que não acolhemos os Jogos em Paris, mas também faz 100 anos que o banho é proibido”, completa.

A descontaminação do Sena é um projeto antigo do governo francês e da prefeitura de Paris. Mais de € 1,5 bilhão (o equivalente a cerca de R$ 8 bilhões) já foram investidos em projetos para permitir que os parisienses nadem em suas águas. Até o presidente Emmanuel Macron e a prefeita Anne Hidalgo prometeram mergulhar no rio. E o que motiva tais promessas são os esforços que vêm sendo feitos para evitar que a poluição chegue ao rio.

Riscos

Todos os anos, centenas de toneladas de lixo são retiradas do Sena e dois milhões de metros cúbicos de águas usadas e domésticas são despejados no seu leito. O principal risco para os nadadores, segundo especialistas, seria contrair gastroenterites ou doenças de pele. Apesar dos esforços, as análises realizadas de 2015 a 2023, informadas pela prefeitura de Paris, mostraram grandes variações, com picos de concentração de bactérias indicadoras de contaminação fecal.

Um cenário que levou a triatleta portuguesa Maria Tomé a evitar o treino de reconhecimento da prova, no evento-teste realizado no Sena, no ano passado. “Será que está apropriado para consumo? Será que se pode mesmo entrar ali? Ninguém quis correr o risco de entrar e engolir a água”, disse ela em entrevista à RFI. “Se a água não estiver em condições não vão realizar a prova, mas acho que deveriam pensar em soluções porque o triatlon é uma modalidade olímpica, o duatlon não”, observa.

Melani Santos, também classificada por Portugal para o triatlon feminino de Paris 2024, não esconde a preocupação. “Enquanto eu nadava não vi nada, na largada parecia bastante limpo, mas as bactérias não se veem, e a gente nunca sabe bem o que está lá dentro. Claro que acreditamos sempre nas organizações, neste caso do triatlon e confiamos muito nos resultados que nos mostram”, acrescenta.

Recentemente, a nadadora brasileira Ana Marcela Cunha, campeã olímpica de maratona aquática, também questionou a realização da prova no rio. A atleta pediu aos organizadores de Paris 2024 que pensassem em um “plano B”. Há poucos dias, em entrevista ao canal BandSports, a atleta voltou a falar sobre o assunto. "Tivemos problemas no teste, mas cada dia que passa a organização tem se mexido para ter um plano B se tiver chovendo no dia da prova. Com toda certeza, e não só eu, todos os atletas querem nadar no rio Sena, a gente quer fazer parte da história", observa.

"Não há plano B"

O Comitê Organizador e a prefeitura insistem que não existe alternativa. “Não há plano B, será no Sena, a flexibilidade que teremos, conforme tem indicado o Comitê Organizador dos Jogos Olímpicos, é de poder ajustar os dias das competições se a qualidade da água não estiver satisfatória”, responde Antoine Guillou.

Para evitar a saturação das galerias de esgoto, o que na região da bacia de Austerlitz acontece em média 12 vezes por ano, os engenheiros apostaram numa construção invisível aos olhos, mas de um desafio técnico surpreendente, explica Samuel Colin Canivez, responsável de obras de saneamento de Paris. “Este canteiro de obra foi bastante difícil do ponto de vista técnico, com muitos desafios e levou, sem contar a fase de projeto e preparação, 42 meses de trabalho”, disse em entrevista à RFI.

“O princípio de uma obra de estocagem de água em si não é novo, aliás é bastante comum fazer um grande volume subterrâneo escondido que permite estocar água. O que é inédito é a sua inserção no tecido urbano histórico de Paris, com essa densidade de ocupação do subsolo e realizar essa obra ao lado de construções sensíveis como o viaduto da linha 5 do metrô, o metrô 10 ou a linha RER C, o que exigiu elementos técnicos consideráveis no projeto”, acrescenta. “Quando o reservatório estiver cheio, esperamos que a chuva passe e a rede de esgoto acima não esteja mais saturada. Com um sistema de bombeamento, em menos de 24 horas nós enviamos toda a água que estava aqui para a rede de saneamento, que não vai mais estar ameaçada de transbordamento. A água será escoada, através da gravidade, para a estação de tratamento de Paris para depuração, antes de ser lançada no ambiente natural”, especifica.

Sem garantia

Apesar de todo o esforço e recursos empregados até agora, a prefeitura observa que não há garantia de águas limpas nos dias de competição. “Não há uma garantia absoluta. Como vocês entenderam, em caso de episódios de chuva extremamente fortes, que são raros, o reservatório não poderá absorver todo o volume de água. Porém, ele vai reter uma grande parte e mesmo que haja transbordamento, em caso de fortes tempestades, ele será menor", esclarece Antoine Guillou, responsável da prefeitura de Paris pelo saneamento. "Esta bacia faz parte de uma série de ações que estamos tomando para o plano de tornar o Sena limpo para banho e estamos muito confiantes para as provas dos Jogos Olímpicos, mesmo se o risco zero não existe”, diz. “A decisão, de toda maneira, depende das federações esportivas e, evidentemente, os atletas não serão colocados em risco”, conclui.

Por fim, perguntamos ao técnico da prefeitura se ele mergulhará no Sena: “Sim, quando houver a autorização e o banho for aberto ao grande público não vou deixar de tomar o meu banho”, finaliza Canivez.

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Maria Paula Carvalho, da RFI

O desafio é impedir que as chuvas possam estragar a festa, com o transbordamento da rede de saneamento para dentro do rio. A principal obra para evitar que isso aconteça será inaugurada nos próximos dias. A RFI foi conferir a construção de um reservatório gigante, com capacidade para armazenar 50 milhões de litros de águas pluviais, que serão enviadas posteriormente a uma estação de tratamento. A bacia de Austerlitz, como é conhecida, tem 50 metros de diâmetro e 30 metros de profundidade. Para chegar ao fundo do reservatório, descemos uma escada equivalente a um prédio de dez andares.

“Esta obra é extremamente simbólica e impressionante pela sua dimensão. É uma catedral subterrânea que nós construímos em Paris, mas ela faz parte de um plano mais amplo de melhoria da qualidade da água do Sena”, explica Antoine Guillou, responsável da prefeitura de Paris pelo saneamento.

“Quando tivermos grandes episódios de chuva, nós poderemos estocar neste reservatório uma grande quantidade de água, em vez de despejá-la no Sena”, continua. “É uma obra grandiosa para a renovação da rede de saneamento de Paris e para a melhoria da qualidade da água do Sena para os Jogos Olímpicos, mas, principalmente, para os parisienses e todos os visitantes de Paris, a partir de 2025, porque nós teremos locais para banho no Sena durante o verão, o que será evidentemente uma grande mudança, já que faz 100 anos que não acolhemos os Jogos em Paris, mas também faz 100 anos que o banho é proibido”, completa.

A descontaminação do Sena é um projeto antigo do governo francês e da prefeitura de Paris. Mais de € 1,5 bilhão (o equivalente a cerca de R$ 8 bilhões) já foram investidos em projetos para permitir que os parisienses nadem em suas águas. Até o presidente Emmanuel Macron e a prefeita Anne Hidalgo prometeram mergulhar no rio. E o que motiva tais promessas são os esforços que vêm sendo feitos para evitar que a poluição chegue ao rio.

Riscos

Todos os anos, centenas de toneladas de lixo são retiradas do Sena e dois milhões de metros cúbicos de águas usadas e domésticas são despejados no seu leito. O principal risco para os nadadores, segundo especialistas, seria contrair gastroenterites ou doenças de pele. Apesar dos esforços, as análises realizadas de 2015 a 2023, informadas pela prefeitura de Paris, mostraram grandes variações, com picos de concentração de bactérias indicadoras de contaminação fecal.

Um cenário que levou a triatleta portuguesa Maria Tomé a evitar o treino de reconhecimento da prova, no evento-teste realizado no Sena, no ano passado. “Será que está apropriado para consumo? Será que se pode mesmo entrar ali? Ninguém quis correr o risco de entrar e engolir a água”, disse ela em entrevista à RFI. “Se a água não estiver em condições não vão realizar a prova, mas acho que deveriam pensar em soluções porque o triatlon é uma modalidade olímpica, o duatlon não”, observa.

Melani Santos, também classificada por Portugal para o triatlon feminino de Paris 2024, não esconde a preocupação. “Enquanto eu nadava não vi nada, na largada parecia bastante limpo, mas as bactérias não se veem, e a gente nunca sabe bem o que está lá dentro. Claro que acreditamos sempre nas organizações, neste caso do triatlon e confiamos muito nos resultados que nos mostram”, acrescenta.

Recentemente, a nadadora brasileira Ana Marcela Cunha, campeã olímpica de maratona aquática, também questionou a realização da prova no rio. A atleta pediu aos organizadores de Paris 2024 que pensassem em um “plano B”. Há poucos dias, em entrevista ao canal BandSports, a atleta voltou a falar sobre o assunto. "Tivemos problemas no teste, mas cada dia que passa a organização tem se mexido para ter um plano B se tiver chovendo no dia da prova. Com toda certeza, e não só eu, todos os atletas querem nadar no rio Sena, a gente quer fazer parte da história", observa.

"Não há plano B"

O Comitê Organizador e a prefeitura insistem que não existe alternativa. “Não há plano B, será no Sena, a flexibilidade que teremos, conforme tem indicado o Comitê Organizador dos Jogos Olímpicos, é de poder ajustar os dias das competições se a qualidade da água não estiver satisfatória”, responde Antoine Guillou.

Para evitar a saturação das galerias de esgoto, o que na região da bacia de Austerlitz acontece em média 12 vezes por ano, os engenheiros apostaram numa construção invisível aos olhos, mas de um desafio técnico surpreendente, explica Samuel Colin Canivez, responsável de obras de saneamento de Paris. “Este canteiro de obra foi bastante difícil do ponto de vista técnico, com muitos desafios e levou, sem contar a fase de projeto e preparação, 42 meses de trabalho”, disse em entrevista à RFI.

“O princípio de uma obra de estocagem de água em si não é novo, aliás é bastante comum fazer um grande volume subterrâneo escondido que permite estocar água. O que é inédito é a sua inserção no tecido urbano histórico de Paris, com essa densidade de ocupação do subsolo e realizar essa obra ao lado de construções sensíveis como o viaduto da linha 5 do metrô, o metrô 10 ou a linha RER C, o que exigiu elementos técnicos consideráveis no projeto”, acrescenta. “Quando o reservatório estiver cheio, esperamos que a chuva passe e a rede de esgoto acima não esteja mais saturada. Com um sistema de bombeamento, em menos de 24 horas nós enviamos toda a água que estava aqui para a rede de saneamento, que não vai mais estar ameaçada de transbordamento. A água será escoada, através da gravidade, para a estação de tratamento de Paris para depuração, antes de ser lançada no ambiente natural”, especifica.

Sem garantia

Apesar de todo o esforço e recursos empregados até agora, a prefeitura observa que não há garantia de águas limpas nos dias de competição. “Não há uma garantia absoluta. Como vocês entenderam, em caso de episódios de chuva extremamente fortes, que são raros, o reservatório não poderá absorver todo o volume de água. Porém, ele vai reter uma grande parte e mesmo que haja transbordamento, em caso de fortes tempestades, ele será menor", esclarece Antoine Guillou, responsável da prefeitura de Paris pelo saneamento. "Esta bacia faz parte de uma série de ações que estamos tomando para o plano de tornar o Sena limpo para banho e estamos muito confiantes para as provas dos Jogos Olímpicos, mesmo se o risco zero não existe”, diz. “A decisão, de toda maneira, depende das federações esportivas e, evidentemente, os atletas não serão colocados em risco”, conclui.

Por fim, perguntamos ao técnico da prefeitura se ele mergulhará no Sena: “Sim, quando houver a autorização e o banho for aberto ao grande público não vou deixar de tomar o meu banho”, finaliza Canivez.

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