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Cenário geopolítico complica obtenção de acordo final na cúpula do G20

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O encontro de líderes do G20 começou nesta segunda-feira (18), no Rio de Janeiro, ainda longe de um consenso sobre os termos a serem empregados na declaração final da cúpula. As discussões entre os negociadores foram impactadas pela chegada do presidente americano, Joe Biden, ao Brasil, e a decisão tomada pelo democrata de autorizar a Ucrânia a usar armas de longo alcance contra a Rússia, pouco depois do maior ataque de mísseis russos em solo ucraniano desde agosto.

Vivian Oswald, correspondente da RFI no Rio de Janeiro

Segundo diplomatas que participam das discussões, ainda há chances de se chegar a um acordo sobre um documento final da cúpula, embora o cenário geopolítico tenha se tornado mais complexo. Existem agora os seguintes problemas a serem equacionados: as novas posições argentinas, insatisfações dos países desenvolvidos sobre questões climáticas e a tentativa do G7 de reabrir a parte geopolítica por causa da escalada na Ucrânia.

Antes dessa reviravolta sobre a guerra na Ucrânia, o cenário possível para o anúncio de um acordo de consenso era o presidente argentino, Xavier Milei, chegar à conclusão de que não vale a pena comprar briga por um comunicado do G20. Se isso não acontecer, haverá apenas uma declaração da presidência brasileira. Talvez seja possível manter um acordo sobre o clima depois de uma nova rodada de conversas e a intervenção firme do presidente Lula para evitar que as negociações sejam reabertas.

O argentino Javier Milei tornou-se uma ameaça às negociações. A guinada de Milei, que já havia aceitado os termos sobre a tributação de bilionários e a integridade da informação, causou irritação entre negociadores brasileiros e estrangeiros. Ele mudou de posição com a eleição de Donald Trump nos EUA, também avesso ao multilateralismo.

"Milei quer ganhar atenção para além do tamanho de seu país no contexto do G20", disse um interlocutor que participa das negociações à reportagem da RFI. As objeções de Milei podem inviabilizar um comunicado de consenso dos líderes, que seria então reduzido a uma declaração da presidência brasileira.

A agenda carregada de incertezas e desconfiança roubou a cena na véspera da abertura da cúpula. Era para ser o apogeu de uma presidência bem-sucedida, que consagraria a volta do Brasil ao palco geopolítico como ator global de relevância com poderes para costurar posições de consenso entre nações muito diferentes, num mundo polarizado. A expectativa era a de que um acordo ainda seria possível, se as cores dos conflitos saíssem menos carregadas no texto final. Mas a realidade se impôs.

O governo brasileiro defende que a sua presidência já teve resultados anteriores à cúpula e ao comunicado final, que considera importante, mas não indispensável.

Argentina, o único país do G20 fora da Aliança Global contra a Fome

Nesta segunda-feira, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva lança oficialmente a Aliança Global contra a Fome e a Pobreza, uma das maiores vitórias da presidência brasileira no G20, com a participação de dezenas de países e organismos internacionais.

A Argentina é o único dos 19 países que fazem parte do G20 que não havia aderido até a noite de domingo à aliança, na contramão de uma lista de 81 nações que abraçaram a iniciativa do presidente Lula. A eventual adesão de Milei ainda estaria em negociações. O objetivo da aliança é erradicar a fome e a pobreza até 2030, assim como reduzir as desigualdades.

Biden: coreografia ensaiada

No domingo (17), o presidente Joe Biden passou pela Amazônia a caminho do Rio. O democrata sobrevoou a floresta e teve conversas com lideranças indígenas e comunidades ribeirinhas – coisa que nenhum de seus antecessores fez. A escala em Manaus foi uma coreografia ensaiada. A ideia era a de que a viagem – a última no comando da maior economia do mundo – marcasse a imensa distância que o separa do rival eleito, Donald Trump. Era para ser parte do legado de um partido com agenda pró-clima.

Com Biden já no Brasil, Washington anunciou mais US$ 50 milhões para o Fundo Amazônia, dobrando sua contribuição total para o fundo. O gesto, contudo, ainda depende do Congresso americano, agora composto por maioria republicana. A quantia ficou muito aquém do que Biden chegou a aventar no passado, em torno de US$ 500 milhões.

Em comunicado oficial, os EUA também mencionaram outros projetos de valorização e preservação do bioma. Apesar de enfraquecido pelo retorno do negacionismo climático à Casa Branca, Biden veio ao Brasil determinado a assumir compromissos que causariam, no futuro próximo, um constrangimento do sucessor de desfazê-los.

Acordo Mercosul-UE

No domingo, o presidente Lula teve reuniões bilaterais com oito líderes, entre eles a presidente da Comissão Europeia, Ursula Von der Leyen. Eles fizeram um balanço das negociações sobre o projeto de acordo entre o Mercosul e a União Europeia, que poderá ser assinado em dezembro na cúpula do bloco sul-americano em Montevidéu, no Uruguai. A França tem feito pressão contra o tratado, sob pressão dos agricultores franceses. No entanto, cabe à Comissão Europeia fechar o acordo.

Há quem diga que a Argentina poderia se recusar a assinar o tratado, que segue em tratativas técnicas nesta reta final. Mas este não é o sinal que tem recebido o governo brasileiro desde a posse de Milei. Nesta segunda, Lula recebe a partir das 8h no Museu de Arte Moderna (MAM) no Rio os líderes do G20 para as duas primeiras sessões da cúpula. A primeira, sobre desigualdades, terá o lançamento da aliança. A segunda será sobre reformas das instituições internacionais.

Financiamento climático

O secretário-geral da ONU, António Guterres, disse que o G20 perderá relevância global caso não supere as diferenças. Guterres aproveitou para pedir aos países que enviem instruções a seus negociadores da COP29 em Baku, no Azerbaijão, para que cheguem a um acordo. A conferência sobre mudanças climáticas entrou hoje na segunda e última semana em paralelo à cúpula do G20 no Rio.

O secretário-geral das Nações Unidas afirmou que “o fracasso não é uma opção” para a questão climática, pois teria consequências terríveis para o planeta.

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Vivian Oswald, correspondente da RFI no Rio de Janeiro

Segundo diplomatas que participam das discussões, ainda há chances de se chegar a um acordo sobre um documento final da cúpula, embora o cenário geopolítico tenha se tornado mais complexo. Existem agora os seguintes problemas a serem equacionados: as novas posições argentinas, insatisfações dos países desenvolvidos sobre questões climáticas e a tentativa do G7 de reabrir a parte geopolítica por causa da escalada na Ucrânia.

Antes dessa reviravolta sobre a guerra na Ucrânia, o cenário possível para o anúncio de um acordo de consenso era o presidente argentino, Xavier Milei, chegar à conclusão de que não vale a pena comprar briga por um comunicado do G20. Se isso não acontecer, haverá apenas uma declaração da presidência brasileira. Talvez seja possível manter um acordo sobre o clima depois de uma nova rodada de conversas e a intervenção firme do presidente Lula para evitar que as negociações sejam reabertas.

O argentino Javier Milei tornou-se uma ameaça às negociações. A guinada de Milei, que já havia aceitado os termos sobre a tributação de bilionários e a integridade da informação, causou irritação entre negociadores brasileiros e estrangeiros. Ele mudou de posição com a eleição de Donald Trump nos EUA, também avesso ao multilateralismo.

"Milei quer ganhar atenção para além do tamanho de seu país no contexto do G20", disse um interlocutor que participa das negociações à reportagem da RFI. As objeções de Milei podem inviabilizar um comunicado de consenso dos líderes, que seria então reduzido a uma declaração da presidência brasileira.

A agenda carregada de incertezas e desconfiança roubou a cena na véspera da abertura da cúpula. Era para ser o apogeu de uma presidência bem-sucedida, que consagraria a volta do Brasil ao palco geopolítico como ator global de relevância com poderes para costurar posições de consenso entre nações muito diferentes, num mundo polarizado. A expectativa era a de que um acordo ainda seria possível, se as cores dos conflitos saíssem menos carregadas no texto final. Mas a realidade se impôs.

O governo brasileiro defende que a sua presidência já teve resultados anteriores à cúpula e ao comunicado final, que considera importante, mas não indispensável.

Argentina, o único país do G20 fora da Aliança Global contra a Fome

Nesta segunda-feira, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva lança oficialmente a Aliança Global contra a Fome e a Pobreza, uma das maiores vitórias da presidência brasileira no G20, com a participação de dezenas de países e organismos internacionais.

A Argentina é o único dos 19 países que fazem parte do G20 que não havia aderido até a noite de domingo à aliança, na contramão de uma lista de 81 nações que abraçaram a iniciativa do presidente Lula. A eventual adesão de Milei ainda estaria em negociações. O objetivo da aliança é erradicar a fome e a pobreza até 2030, assim como reduzir as desigualdades.

Biden: coreografia ensaiada

No domingo (17), o presidente Joe Biden passou pela Amazônia a caminho do Rio. O democrata sobrevoou a floresta e teve conversas com lideranças indígenas e comunidades ribeirinhas – coisa que nenhum de seus antecessores fez. A escala em Manaus foi uma coreografia ensaiada. A ideia era a de que a viagem – a última no comando da maior economia do mundo – marcasse a imensa distância que o separa do rival eleito, Donald Trump. Era para ser parte do legado de um partido com agenda pró-clima.

Com Biden já no Brasil, Washington anunciou mais US$ 50 milhões para o Fundo Amazônia, dobrando sua contribuição total para o fundo. O gesto, contudo, ainda depende do Congresso americano, agora composto por maioria republicana. A quantia ficou muito aquém do que Biden chegou a aventar no passado, em torno de US$ 500 milhões.

Em comunicado oficial, os EUA também mencionaram outros projetos de valorização e preservação do bioma. Apesar de enfraquecido pelo retorno do negacionismo climático à Casa Branca, Biden veio ao Brasil determinado a assumir compromissos que causariam, no futuro próximo, um constrangimento do sucessor de desfazê-los.

Acordo Mercosul-UE

No domingo, o presidente Lula teve reuniões bilaterais com oito líderes, entre eles a presidente da Comissão Europeia, Ursula Von der Leyen. Eles fizeram um balanço das negociações sobre o projeto de acordo entre o Mercosul e a União Europeia, que poderá ser assinado em dezembro na cúpula do bloco sul-americano em Montevidéu, no Uruguai. A França tem feito pressão contra o tratado, sob pressão dos agricultores franceses. No entanto, cabe à Comissão Europeia fechar o acordo.

Há quem diga que a Argentina poderia se recusar a assinar o tratado, que segue em tratativas técnicas nesta reta final. Mas este não é o sinal que tem recebido o governo brasileiro desde a posse de Milei. Nesta segunda, Lula recebe a partir das 8h no Museu de Arte Moderna (MAM) no Rio os líderes do G20 para as duas primeiras sessões da cúpula. A primeira, sobre desigualdades, terá o lançamento da aliança. A segunda será sobre reformas das instituições internacionais.

Financiamento climático

O secretário-geral da ONU, António Guterres, disse que o G20 perderá relevância global caso não supere as diferenças. Guterres aproveitou para pedir aos países que enviem instruções a seus negociadores da COP29 em Baku, no Azerbaijão, para que cheguem a um acordo. A conferência sobre mudanças climáticas entrou hoje na segunda e última semana em paralelo à cúpula do G20 no Rio.

O secretário-geral das Nações Unidas afirmou que “o fracasso não é uma opção” para a questão climática, pois teria consequências terríveis para o planeta.

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