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Como as florestas morrem e por que o fenômeno está se acelerando

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O aumento das áreas da Amazônia ameaçadas de atingir o "ponto de não retorno" de degradação preocupa cada vez mais a comunidade científica – mas ao redor do mundo, outras florestas também enfrentam condições de sobrevivência preocupantes. Na França, a mortalidade subiu 80% nos últimos 10 anos, segundo o último relatório nacional sobre o tema.

Lúcia Müzell, da RFI Brasil em Paris

Mas o que leva uma floresta a morrer? “Tem as razões bióticas, biológicas, devido a doenças, insetos, fungos, que podem deixar as árvores doentes e torná-las empobrecidas, antes de morrerem. E temos as razões físicas, em especial o clima, que influencia o crescimento das árvores, o desenvolvimento delas. O clima pode ser muito nefasto e levá-las à morte”, resume a especialista em cobertura florestal Nathalie Derrière, chefe do Departamento de Resultados do Inventário do Instituto Nacional de Informação Geográfica e Florestal (IGN), autor do estudo.

O papel das mudanças climáticas neste processo ainda é estudado pela ciência – hoje, não é possível afirmar que elas são as únicas responsáveis pelo maior adoecimento e morte das árvores verificados no país nos últimos 5 a 10 anos.

As florestas europeias são, em sua maioria, temperadas, e a variedade de tipos de clima no continente é grande, podendo ser montanhoso, atlântico, mediterrâneo, continental ou até polar. Mas, de forma geral, o fenômeno de perda das florestas aumenta e se acelera, salienta Derrière.

“Eu diria que, na Europa, nós estamos todos confrontados às mesmas problemáticas, embora com as especificidades locais, afinal as nossas florestas não são completamente iguais. Mas sim, florestas podem morrer, até quando nós cuidamos delas, como tem sido o caso aqui. Nós as preservamos, a superfície florestal tem aumentado, mas mesmo assim, vemos que elas estão empobrecendo”, explica. “Nem todo mundo é capaz de perceber isso: às vezes, temos a impressão de estarmos diante de uma árvore bem viva, porém por dentro ela está doente. Precisa ser como um médico de árvores para saber.”

Sobrevivência em condições climáticas anormais

Em regiões como o noroeste francês, por exemplo, a cobertura florestal disparou em 150 anos, graças à diminuição da pressão agrícola e ao êxodo rural. Ao mesmo tempo, no centro e leste do país, a repetição de verões mais quentes e secos, além de invernos também secos, têm prejudicado o crescimento das árvores em comparação com os registros a partir de 1850, de quando datam os primeiros dados do IGN. Com 31% do território ocupado por florestas, a França hoje tem a quarta maior cobertura da Europa.

“As árvores no sul da França estão acostumadas a ter o calor no verão há muito tempo. A variação das temperaturas não foi tão forte quanto ocorreu no norte, onde as árvores não estão acostumadas a ter verões secos e com temperaturas acima de 40C”, disse a especialista francesa. “Foi isso que aconteceu nos últimos anos e, geneticamente, elas não estavam prontas e não puderam se adaptar a isso. É por isso que foi lá que tivemos mais estragos.”

A especialista também explica que, ao ampliar os fluxos do comércio internacional, a globalização trouxe novas doenças para as florestas, que chegam pela madeira e as plantas importadas de outros continentes. “Contra o clima, não podemos fazer muito. Mas contra as doenças, sim, e tentamos limitar a entrada delas no nosso território”, indica.

Ponto de não retorno da Amazônia

Embora o contexto seja bem diferente, um processo semelhante ameaça a Amazônia, floresta tropical úmida cuja capacidade de resiliência está sendo testada pelas mudanças do clima e a degradação provocada pelo desmatamento. No último estudo sobre o tema, publicado na respeitada revista científica Nature, os pesquisadores Bernardo Flores e Marina Hirota, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), estimaram que entre 10% e 47% do bioma pode não resistir e se converter em outros tipos de ecossistemas nos próximos 25 anos. É o chamado de ponto de não retorno da floresta.

“Podemos fazer uma analogia com como as pessoas morrem: de doenças, de velhice, de várias formas. Numa floresta como a Amazônia, que é quase um universo por si só, a gente pode pensar que cada indivíduo dela tem uma estratégia de vida e, dependendo do estresse que ela sofre, ou das doenças que ela pega, ela morre ou não”, indica Hirota.

“Durante milhões de anos, no passado, a Amazônia se sustentou porque as mudanças não eram tão aceleradas como agora. Se nenhuma mudança nesse quadro acontecer, elas só vão se acelerar mais, de modo que até 2050, uma parte substancial da Amazônia talvez não consiga se adaptar a essas novas condições”, adverte.

A biodiversidade grande é um dos fatores que fortalecem a floresta e aumenta a sua resistência diante das condições mais adversas. Mas estudos em curso têm identificado que a diversidade de espécies de árvores está menor do que já foi, inclusive em áreas de mata fechada. Foi assim que, ao longo dos séculos, as florestas se empobreceram na Europa.

“Eu acho que de uma forma geral, esses ecossistemas florestais caminham para uma coisa semelhante ao que aconteceu na Europa – embora a diversidade seja reconhecidamente maior aqui, mas o caminho de empobrecimento pode ser o mesmo”, disse Hirota. “Esse é um fim que a gente poderia esperar para cá.”

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Lúcia Müzell, da RFI Brasil em Paris

Mas o que leva uma floresta a morrer? “Tem as razões bióticas, biológicas, devido a doenças, insetos, fungos, que podem deixar as árvores doentes e torná-las empobrecidas, antes de morrerem. E temos as razões físicas, em especial o clima, que influencia o crescimento das árvores, o desenvolvimento delas. O clima pode ser muito nefasto e levá-las à morte”, resume a especialista em cobertura florestal Nathalie Derrière, chefe do Departamento de Resultados do Inventário do Instituto Nacional de Informação Geográfica e Florestal (IGN), autor do estudo.

O papel das mudanças climáticas neste processo ainda é estudado pela ciência – hoje, não é possível afirmar que elas são as únicas responsáveis pelo maior adoecimento e morte das árvores verificados no país nos últimos 5 a 10 anos.

As florestas europeias são, em sua maioria, temperadas, e a variedade de tipos de clima no continente é grande, podendo ser montanhoso, atlântico, mediterrâneo, continental ou até polar. Mas, de forma geral, o fenômeno de perda das florestas aumenta e se acelera, salienta Derrière.

“Eu diria que, na Europa, nós estamos todos confrontados às mesmas problemáticas, embora com as especificidades locais, afinal as nossas florestas não são completamente iguais. Mas sim, florestas podem morrer, até quando nós cuidamos delas, como tem sido o caso aqui. Nós as preservamos, a superfície florestal tem aumentado, mas mesmo assim, vemos que elas estão empobrecendo”, explica. “Nem todo mundo é capaz de perceber isso: às vezes, temos a impressão de estarmos diante de uma árvore bem viva, porém por dentro ela está doente. Precisa ser como um médico de árvores para saber.”

Sobrevivência em condições climáticas anormais

Em regiões como o noroeste francês, por exemplo, a cobertura florestal disparou em 150 anos, graças à diminuição da pressão agrícola e ao êxodo rural. Ao mesmo tempo, no centro e leste do país, a repetição de verões mais quentes e secos, além de invernos também secos, têm prejudicado o crescimento das árvores em comparação com os registros a partir de 1850, de quando datam os primeiros dados do IGN. Com 31% do território ocupado por florestas, a França hoje tem a quarta maior cobertura da Europa.

“As árvores no sul da França estão acostumadas a ter o calor no verão há muito tempo. A variação das temperaturas não foi tão forte quanto ocorreu no norte, onde as árvores não estão acostumadas a ter verões secos e com temperaturas acima de 40C”, disse a especialista francesa. “Foi isso que aconteceu nos últimos anos e, geneticamente, elas não estavam prontas e não puderam se adaptar a isso. É por isso que foi lá que tivemos mais estragos.”

A especialista também explica que, ao ampliar os fluxos do comércio internacional, a globalização trouxe novas doenças para as florestas, que chegam pela madeira e as plantas importadas de outros continentes. “Contra o clima, não podemos fazer muito. Mas contra as doenças, sim, e tentamos limitar a entrada delas no nosso território”, indica.

Ponto de não retorno da Amazônia

Embora o contexto seja bem diferente, um processo semelhante ameaça a Amazônia, floresta tropical úmida cuja capacidade de resiliência está sendo testada pelas mudanças do clima e a degradação provocada pelo desmatamento. No último estudo sobre o tema, publicado na respeitada revista científica Nature, os pesquisadores Bernardo Flores e Marina Hirota, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), estimaram que entre 10% e 47% do bioma pode não resistir e se converter em outros tipos de ecossistemas nos próximos 25 anos. É o chamado de ponto de não retorno da floresta.

“Podemos fazer uma analogia com como as pessoas morrem: de doenças, de velhice, de várias formas. Numa floresta como a Amazônia, que é quase um universo por si só, a gente pode pensar que cada indivíduo dela tem uma estratégia de vida e, dependendo do estresse que ela sofre, ou das doenças que ela pega, ela morre ou não”, indica Hirota.

“Durante milhões de anos, no passado, a Amazônia se sustentou porque as mudanças não eram tão aceleradas como agora. Se nenhuma mudança nesse quadro acontecer, elas só vão se acelerar mais, de modo que até 2050, uma parte substancial da Amazônia talvez não consiga se adaptar a essas novas condições”, adverte.

A biodiversidade grande é um dos fatores que fortalecem a floresta e aumenta a sua resistência diante das condições mais adversas. Mas estudos em curso têm identificado que a diversidade de espécies de árvores está menor do que já foi, inclusive em áreas de mata fechada. Foi assim que, ao longo dos séculos, as florestas se empobreceram na Europa.

“Eu acho que de uma forma geral, esses ecossistemas florestais caminham para uma coisa semelhante ao que aconteceu na Europa – embora a diversidade seja reconhecidamente maior aqui, mas o caminho de empobrecimento pode ser o mesmo”, disse Hirota. “Esse é um fim que a gente poderia esperar para cá.”

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