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Inteligência artificial faz disparar poluição digital, mas também é aliada do planeta
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Ainda pouco conhecida do grande público, a poluição digital ganha novas proporções com a inteligência artificial. Uma pesquisa feita por IA gera pelo menos 10 vezes mais impacto ambiental que um buscador comum. Mas, ao mesmo tempo, a tecnologia também é uma aliada poderosa do meio ambiente.
Depois de e-mails, mensagens e streaming, agora são as emissões de gases de efeito estufa da inteligência artificial que causam preocupação aos cientistas, mas também ao mundo empresarial – incitado a publicar balanços de CO2 das suas atividades. Na corrida pelo net zero (estratégia de descarbonização), entretanto, aparece uma barreira colossal: a IA, ao processar uma quantidade imensa de dados, tem o potencial de esfacelar qualquer meta de redução de emissões, sobretudo das empresas de tecnologia.
Dois exemplos resumem bem o que está em jogo: em julho, o Google divulgou que as suas emissões cresceram quase 50% nos últimos cinco anos, depois que a companhia passou a investir pesado em inteligência artificial. Dois meses antes, a Microsoft havia revelado um resultado ainda mais perturbador – alta de 30% em apenas um ano.
Na França, o Ministério da Transição Ecológica e a Associação Francesa de Normatização (Afnor), especialistas em desenvolvimento sustentável, elaboraram um documento com metodologias de cálculo de impacto e recomendações de boas práticas para estimular o uso "frugal" da inteligência artificial – ou seja, o mais ambientalmente responsável possível.
"A IA frugal não vai necessariamente buscar uma meta específica, mas vai modular o nosso objetivo em função dos recursos que temos, e tendo em mente a redução dos impactos ambientais. O consumo desmedido de energia se tornou cada vez mais caro e as empresas precisarão buscar um consumo eficiente dessa tecnologia”, disse Anna Médan, chefe de projetos da Afnor que codirigiu a iniciativa.
Por que o impacto ambiental é alto?
O desenvolvimento dessas ferramentas multiplica de maneira exponencial a necessidade de realização de cálculos complexos. Quanto mais sofisticado é o comando – como no caso da IA generativa, que cria novos textos ou imagens a partir da análise de milhões de dados existentes –, maior será a demanda de energia, de infraestruturas, como centrais de armazenamento de dados e servidores, e de outros equipamentos de informática, como placas gráficas. Assim, a IA contribui também para o aumento da procura por minerais raros como silício e cobalto.
"Hoje, temos IA generativas cujos servidores são estocados em data centers muito longe das empresas, e que necessitam uma grande quantidade de água para refrigerá-los. Esse sistema está chegando ao limite”, adverte Médan.
"Para os hardwares e placas, estamos vendo os processadores de cálculos sendo colocados diretamente nos computadores das pessoas, nas empresas. A divisão entre quem realiza a potência de cálculo e quem a solicita será cada vez mais fluida no futuro – o que significa que, se quisermos mensurar exatamente os impactos ambientais para os produtores e os consumidores de IA, precisaremos de metodologias de cálculo bem precisas", observa.
O tema é levado com a maior seriedade pela Agência Internacional de Energia (AIE), que na suas perspectivas sobre a demanda de eletricidade até 2026, alertou sobre um aumento de mais de 30% ligado à inteligência artificial e às criptomoedas. A entidade afirma que esses dois setores gastaram 460 TWh em 2023, ou 2% do consumo mundial. Mas em dois anos, esse número deve disparar para 1.000 TWh – o equivalente ao consumo de um país desenvolvido como o Japão.
Uso responsável por internautas
O desafio é de peso para empresas, governos, organizações e instituições. Mas quando faz uma pergunta banal para o ChatGPT, os internautas também não costumam se preocupar com os recursos mobilizados para concretizar as ações virtuais – que têm consequências bem reais, ao serem levados à escala de bilhões de usuários. Trinta anos depois da popularização da internet, a conscientização sobre a poluição digital ainda caminha a passos lentos.
A IA generativa consome dezenas de vezes mais energia por ser polivalente – combina outras inteligências artificiais especializadas, capazes de executar diferentes tarefas como procurar, traduzir, combinar, resumir, escrever e criar novos dados. Deve-se, portanto, evitá-la para realizar comandos simples.
“Os internautas são o último estágio de uma cadeia que consome imensamente mais do que eles, mas mesmo assim, os pequenos gestos contam. Eles precisam ter em mente que os grandes modelos de IA generativa funcionam na base de cálculos de probabilidade, que são muito eficientes para determinados usos. Entretanto, modelos mais especializados em uma tarefa são, com frequência, bem menos gastadores de recursos e mais precisos na resposta”, salienta a especialista.
“E também acho que será necessária uma resposta de mercado para o uso: talvez chegue o momento em que o Chat GPT vai dizer que custa muito caro manter essas IA e vai limitar a sua oferta gratuita."
Impulso à inovação e pesquisa ambiental
Este universo, cujos potenciais recém-começaram a ser desenvolvidos, também traz uma série de benefícios para a sociedade. A inteligência artificial já é uma aliada importante do planeta, graças aos mais variados usos: otimiza a eficiência energética de prédios, na construção civil e nas operações de transportes, por exemplo. Pode detectar escapamentos de metano na indústria fóssil, além de identificar irregularidades em diferentes atividades, como o desmatamento ou a pesca ilegais. Diversas iniciativas são descritas no coletivo Climate Change AI, alimentado por especialistas e pesquisadores.
"Tem start ups francesas, europeias e internacionais fazendo coisas realmente incríveis pelo planeta, principalmente na área de computer vision, que é a análise de imagens com IA”, nota Anna Médan.
As ferramentas deram um grande impulso ao desenvolvimento das pesquisas relacionadas ao meio ambiente. Na climatologia, por exemplo, facilitaram o acesso a registros históricos de eventos climáticos e a relação entre os fenômenos extremos que ocorrem agora com as mudanças do clima. Auxiliam, ainda, nas projeções dos eventos que estão por vir – o que pode salvar vidas.
É este equilíbrio entre danos e benefícios que ainda precisa ser encontrado. Os especialistas têm convergido na orientação de que as ferramentas de IA devem continuar a ser desenvolvidas, mas o seu uso não necessariamente precisa ser generalizado. Pelo contrário, deve ser cada vez mais especializado.
69 episódios
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Ainda pouco conhecida do grande público, a poluição digital ganha novas proporções com a inteligência artificial. Uma pesquisa feita por IA gera pelo menos 10 vezes mais impacto ambiental que um buscador comum. Mas, ao mesmo tempo, a tecnologia também é uma aliada poderosa do meio ambiente.
Depois de e-mails, mensagens e streaming, agora são as emissões de gases de efeito estufa da inteligência artificial que causam preocupação aos cientistas, mas também ao mundo empresarial – incitado a publicar balanços de CO2 das suas atividades. Na corrida pelo net zero (estratégia de descarbonização), entretanto, aparece uma barreira colossal: a IA, ao processar uma quantidade imensa de dados, tem o potencial de esfacelar qualquer meta de redução de emissões, sobretudo das empresas de tecnologia.
Dois exemplos resumem bem o que está em jogo: em julho, o Google divulgou que as suas emissões cresceram quase 50% nos últimos cinco anos, depois que a companhia passou a investir pesado em inteligência artificial. Dois meses antes, a Microsoft havia revelado um resultado ainda mais perturbador – alta de 30% em apenas um ano.
Na França, o Ministério da Transição Ecológica e a Associação Francesa de Normatização (Afnor), especialistas em desenvolvimento sustentável, elaboraram um documento com metodologias de cálculo de impacto e recomendações de boas práticas para estimular o uso "frugal" da inteligência artificial – ou seja, o mais ambientalmente responsável possível.
"A IA frugal não vai necessariamente buscar uma meta específica, mas vai modular o nosso objetivo em função dos recursos que temos, e tendo em mente a redução dos impactos ambientais. O consumo desmedido de energia se tornou cada vez mais caro e as empresas precisarão buscar um consumo eficiente dessa tecnologia”, disse Anna Médan, chefe de projetos da Afnor que codirigiu a iniciativa.
Por que o impacto ambiental é alto?
O desenvolvimento dessas ferramentas multiplica de maneira exponencial a necessidade de realização de cálculos complexos. Quanto mais sofisticado é o comando – como no caso da IA generativa, que cria novos textos ou imagens a partir da análise de milhões de dados existentes –, maior será a demanda de energia, de infraestruturas, como centrais de armazenamento de dados e servidores, e de outros equipamentos de informática, como placas gráficas. Assim, a IA contribui também para o aumento da procura por minerais raros como silício e cobalto.
"Hoje, temos IA generativas cujos servidores são estocados em data centers muito longe das empresas, e que necessitam uma grande quantidade de água para refrigerá-los. Esse sistema está chegando ao limite”, adverte Médan.
"Para os hardwares e placas, estamos vendo os processadores de cálculos sendo colocados diretamente nos computadores das pessoas, nas empresas. A divisão entre quem realiza a potência de cálculo e quem a solicita será cada vez mais fluida no futuro – o que significa que, se quisermos mensurar exatamente os impactos ambientais para os produtores e os consumidores de IA, precisaremos de metodologias de cálculo bem precisas", observa.
O tema é levado com a maior seriedade pela Agência Internacional de Energia (AIE), que na suas perspectivas sobre a demanda de eletricidade até 2026, alertou sobre um aumento de mais de 30% ligado à inteligência artificial e às criptomoedas. A entidade afirma que esses dois setores gastaram 460 TWh em 2023, ou 2% do consumo mundial. Mas em dois anos, esse número deve disparar para 1.000 TWh – o equivalente ao consumo de um país desenvolvido como o Japão.
Uso responsável por internautas
O desafio é de peso para empresas, governos, organizações e instituições. Mas quando faz uma pergunta banal para o ChatGPT, os internautas também não costumam se preocupar com os recursos mobilizados para concretizar as ações virtuais – que têm consequências bem reais, ao serem levados à escala de bilhões de usuários. Trinta anos depois da popularização da internet, a conscientização sobre a poluição digital ainda caminha a passos lentos.
A IA generativa consome dezenas de vezes mais energia por ser polivalente – combina outras inteligências artificiais especializadas, capazes de executar diferentes tarefas como procurar, traduzir, combinar, resumir, escrever e criar novos dados. Deve-se, portanto, evitá-la para realizar comandos simples.
“Os internautas são o último estágio de uma cadeia que consome imensamente mais do que eles, mas mesmo assim, os pequenos gestos contam. Eles precisam ter em mente que os grandes modelos de IA generativa funcionam na base de cálculos de probabilidade, que são muito eficientes para determinados usos. Entretanto, modelos mais especializados em uma tarefa são, com frequência, bem menos gastadores de recursos e mais precisos na resposta”, salienta a especialista.
“E também acho que será necessária uma resposta de mercado para o uso: talvez chegue o momento em que o Chat GPT vai dizer que custa muito caro manter essas IA e vai limitar a sua oferta gratuita."
Impulso à inovação e pesquisa ambiental
Este universo, cujos potenciais recém-começaram a ser desenvolvidos, também traz uma série de benefícios para a sociedade. A inteligência artificial já é uma aliada importante do planeta, graças aos mais variados usos: otimiza a eficiência energética de prédios, na construção civil e nas operações de transportes, por exemplo. Pode detectar escapamentos de metano na indústria fóssil, além de identificar irregularidades em diferentes atividades, como o desmatamento ou a pesca ilegais. Diversas iniciativas são descritas no coletivo Climate Change AI, alimentado por especialistas e pesquisadores.
"Tem start ups francesas, europeias e internacionais fazendo coisas realmente incríveis pelo planeta, principalmente na área de computer vision, que é a análise de imagens com IA”, nota Anna Médan.
As ferramentas deram um grande impulso ao desenvolvimento das pesquisas relacionadas ao meio ambiente. Na climatologia, por exemplo, facilitaram o acesso a registros históricos de eventos climáticos e a relação entre os fenômenos extremos que ocorrem agora com as mudanças do clima. Auxiliam, ainda, nas projeções dos eventos que estão por vir – o que pode salvar vidas.
É este equilíbrio entre danos e benefícios que ainda precisa ser encontrado. Os especialistas têm convergido na orientação de que as ferramentas de IA devem continuar a ser desenvolvidas, mas o seu uso não necessariamente precisa ser generalizado. Pelo contrário, deve ser cada vez mais especializado.
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