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Pantanal em chamas: ação humana e mudança climática aproximam biomas brasileiros de colapso

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A nova sequência de queimadas recordes no Pantanal, na esteira de uma seca prolongada e escassez hídrica, lançam um alerta: as ações humanas associadas às mudanças do clima aproximam os biomas brasileiros do colapso. Nos últimos anos, os cientistas têm advertido sobre o chamado ponto de não retorno da Amazônia, mas os outros ecossistemas do país também correm o risco de não conseguirem mais se regenerar.

O desmatamento acentuado nos vizinhos Amazônia e Cerrado contribui para a seca que impacta no Pantanal. O nível do rio Paraguai, cujas cheias são cruciais para os ciclos da vida no bioma, está quase 70% mais baixo do que seria esperado para o período – e a tendência é piorar nos próximos meses. A atual crise hídrica deve ser a mais grave já registrada, alerta a organização WWF Brasil.

Uma nota técnica da ONG em parceria com a ArcPlan, especializada em geoprocessamento de dados, verificou que as inundações de 2024 simplesmente não aconteceram. A análise dos últimos anos não deixa dúvidas: a maior área continental úmida do planeta está cada vez mais seca.

“Isso acontece devido aos eventos e impactos sucessivos em pouco tempo, que comprometem a biodiversidade e as populações. Elas têm pouco para se recuperar de um evento extremo para o outro, e com isso comprometemos a capacidade que esse ecossistema tem de funcionar”, explica a bióloga Helga Correa, uma das autoras do estudo.

“Um ecossistema precisa das espécies presentes na sua área, senão as plantas, os animais, perdem a capacidade de continuarem existindo como a gente conhece. Este é o ponto de não retorno: ele deixa de ser o bioma tal como a gente conhece”, alerta.

Este ano, os incêndios no Pantanal começaram mais cedo e já consomem a região há cem dias, sem previsão de serem controlados, em meio a condições climáticas adversas. A estiagem e o aumento das temperaturas criam condições mais propensas ao fogo.

Uso do fogo pela agropecuária

O governo federal garante que 85% dos focos de incêndio ocorrem em terras privadas, o que a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, classificou como “uma das piores situações da história” do Pantanal. O bioma é habituado às queimadas, que fazem parte do sistema natural da região há milênios. O fogo pode ser provocado por fenômenos climáticos como raios em contato com matéria orgânica inflamável durante a estação seca que vai de maio a outubro.

Entretanto, o abuso do fogo como técnica de manejo agrícola tem feito as chamas se tornarem incontroláveis. Um relatório do MapBiomas indica que 9% da vegetação do bioma pode ter sido degradada pelas queimadas dos últimos cinco anos.

“O Cerrado, o Pantanal e até o Pampa são dominados por uma vegetação mais graminha, arbustiva, que têm às vezes até uma dependência do fogo, e uma adaptação a ele. Entretanto, as atividades humanas têm mudado o regime do fogo e a forma como ele acontece”, salienta Ane Alencar, diretora de Ciência do Ipam (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia) e coordenadora do MapBiomas Fogo.

“O fator climático contribui e muito área a extensão da área queimada. Para que os incêndios não fiquem cada vez maiores, a gente precisa reduzir o uso do fogo nas práticas agropecuárias”, adverte a diretora.

O uso da terra para a agricultura também está comprometendo a vegetação das margens dos rios. Uma das consequências é que as enchentes se espalham menos e têm duração mais curta – o que gera ainda mais estiagem nos meses seguintes.

“A água que tem no Pantanal não é só explicada pela quantidade de chuva que cai lá. Tem uma contribuição, para os seus rios, da faixa que está localizada no planalto que circunda o Pantanal. As cabeceiras da bacia do Alto Paraguai já ficam no bioma Cerrado”, afirma Helga Correa. “Na hora em que a gente modifica a cobertura e o uso desse planalto, a gente compromete a quantidade de água que vai para o Pantanal e que consegue permanecer nele, penetrando no solo e abastecendo as nascentes”,

A extensão das queimadas

Em junho, o Mato Grosso e o Mato Grosso do Sul registraram a maior média de área queimada desde 2012, conforme levantamento por satélites da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Pelo menos 411 mil hectares viraram fumaça – ou seja, 51 vezes mais do que a média histórica para o período.

Além dos danos à biodiversidade singular da região, as queimadas também contaminam as águas dos rios com cinzas, que matam peixes e poluem o sistema hídrico das comunidades locais.

A tragédia ambiental se repete quatro anos após 30% do Pantanal ter sido atingido pelos mais devastadores incêndios já registrados no bioma e que mataram 17 milhões de animais vertebrados, conforme estimativas do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).

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O desmatamento acentuado nos vizinhos Amazônia e Cerrado contribui para a seca que impacta no Pantanal. O nível do rio Paraguai, cujas cheias são cruciais para os ciclos da vida no bioma, está quase 70% mais baixo do que seria esperado para o período – e a tendência é piorar nos próximos meses. A atual crise hídrica deve ser a mais grave já registrada, alerta a organização WWF Brasil.

Uma nota técnica da ONG em parceria com a ArcPlan, especializada em geoprocessamento de dados, verificou que as inundações de 2024 simplesmente não aconteceram. A análise dos últimos anos não deixa dúvidas: a maior área continental úmida do planeta está cada vez mais seca.

“Isso acontece devido aos eventos e impactos sucessivos em pouco tempo, que comprometem a biodiversidade e as populações. Elas têm pouco para se recuperar de um evento extremo para o outro, e com isso comprometemos a capacidade que esse ecossistema tem de funcionar”, explica a bióloga Helga Correa, uma das autoras do estudo.

“Um ecossistema precisa das espécies presentes na sua área, senão as plantas, os animais, perdem a capacidade de continuarem existindo como a gente conhece. Este é o ponto de não retorno: ele deixa de ser o bioma tal como a gente conhece”, alerta.

Este ano, os incêndios no Pantanal começaram mais cedo e já consomem a região há cem dias, sem previsão de serem controlados, em meio a condições climáticas adversas. A estiagem e o aumento das temperaturas criam condições mais propensas ao fogo.

Uso do fogo pela agropecuária

O governo federal garante que 85% dos focos de incêndio ocorrem em terras privadas, o que a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, classificou como “uma das piores situações da história” do Pantanal. O bioma é habituado às queimadas, que fazem parte do sistema natural da região há milênios. O fogo pode ser provocado por fenômenos climáticos como raios em contato com matéria orgânica inflamável durante a estação seca que vai de maio a outubro.

Entretanto, o abuso do fogo como técnica de manejo agrícola tem feito as chamas se tornarem incontroláveis. Um relatório do MapBiomas indica que 9% da vegetação do bioma pode ter sido degradada pelas queimadas dos últimos cinco anos.

“O Cerrado, o Pantanal e até o Pampa são dominados por uma vegetação mais graminha, arbustiva, que têm às vezes até uma dependência do fogo, e uma adaptação a ele. Entretanto, as atividades humanas têm mudado o regime do fogo e a forma como ele acontece”, salienta Ane Alencar, diretora de Ciência do Ipam (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia) e coordenadora do MapBiomas Fogo.

“O fator climático contribui e muito área a extensão da área queimada. Para que os incêndios não fiquem cada vez maiores, a gente precisa reduzir o uso do fogo nas práticas agropecuárias”, adverte a diretora.

O uso da terra para a agricultura também está comprometendo a vegetação das margens dos rios. Uma das consequências é que as enchentes se espalham menos e têm duração mais curta – o que gera ainda mais estiagem nos meses seguintes.

“A água que tem no Pantanal não é só explicada pela quantidade de chuva que cai lá. Tem uma contribuição, para os seus rios, da faixa que está localizada no planalto que circunda o Pantanal. As cabeceiras da bacia do Alto Paraguai já ficam no bioma Cerrado”, afirma Helga Correa. “Na hora em que a gente modifica a cobertura e o uso desse planalto, a gente compromete a quantidade de água que vai para o Pantanal e que consegue permanecer nele, penetrando no solo e abastecendo as nascentes”,

A extensão das queimadas

Em junho, o Mato Grosso e o Mato Grosso do Sul registraram a maior média de área queimada desde 2012, conforme levantamento por satélites da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Pelo menos 411 mil hectares viraram fumaça – ou seja, 51 vezes mais do que a média histórica para o período.

Além dos danos à biodiversidade singular da região, as queimadas também contaminam as águas dos rios com cinzas, que matam peixes e poluem o sistema hídrico das comunidades locais.

A tragédia ambiental se repete quatro anos após 30% do Pantanal ter sido atingido pelos mais devastadores incêndios já registrados no bioma e que mataram 17 milhões de animais vertebrados, conforme estimativas do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).

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