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À Deriva #34 – O menino que pisava pedras e sorria sol

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Era quinta e — apesar de precisarmos nos aquecer com botas, lenços e casacos — havia rastros de sol por todos os lados. Eu não sabia bem o que estava a acontecer, mas sentia que tinha algo especial guardado naquela tarde.

Talvez uma resposta, um insight. Ou um marco interno ou uma lição que eu devesse aprender; quem sabe?!

Naquela semana os dias seguiam ora guiados por um sol raso e amarelado, ora por nuvens acinzentadas que se resumiam em transbordos de chuva, no começo da manhã e no final da tarde. E as águas terminavam seus percursos acumuladas nas gramas, na terra e em pequenos — e deformados — espaços entre paralelepípedos.

Foi justamente entre um esquivar-se das poças e encolher-se para não ser tocada por galhos baixos que avistei o menino.

O guri devia ter oito ou nove (mais que isso era impossível) e uma pele morena, mistura de sol com presente de nascença.

E não usava sapatos.

Enquanto observava o caminhar lento do menino — ele devia era estar a pensar em qualquer coisa de longe, pois seus passos eram de gente que se põe a lembrar — e seus pés longos e sujos de terra, ouvi sua mãe gritar, chamando-o da esquina que nos era mais longe.

Como um raio de janeiro, um rápido flash em luz, o menino voltou-se para ela inteiro, com os olhos e com o corpo. E sorriu. Sem hesitar, o garoto fincou os pés no chão com vontade — sem medo algum de ferir-se, sem medo algum de cortar-se — e correu.

Correu sem proteção alguma.

Tocou o chão e tudo o que nele havia: a areia molhada, a terra, a grama e os paralelepípedos. E o pouco de sol que caíra e ficara impregnado no piche.

Pulou poças e quebrou galhos, tocou com os pés toda a aspereza que a vida deixou cair pelo caminho.

Pisou tampinhas de garrafas e plásticos do mercado mais próximo.

O modo com que seguia seu destino, sem olhar pro chão e com um sorriso que parecia não ter fim, fazia-me pensar que o menino estava a fazer preces.

Talvez ele nem tivesse dado conta, mas naquele instante estava a tratar a própria vida como um lugar sagrado.

Afinal, não é isso que fazem os religiosos? Descalçam-se quando em terra santa?

A vida, para aquele menino, devia era de ser um grande templo.

Acho que por isso ele carregava um sorriso que raras vezes eu tinha visto.

No final da tarde, pensei que talvez essa tenha sido a grande lição: compreender que viver é ato sagrado e descalçar-me sempre que possível, sem medo de cortes e de farpas. Viver intensamente, como se estivesse em um Templo e, dessa forma, independentemente do que encontrasse pelo caminho, haveria em mim sempre um olhar em brilho, alto. E um sorriso de sol.

______________________________________________

Texto “O menino que pisava pedras e sorria sol: Luciana Leitão
Narração: Chico Gabriel
Edição e masterização: Chico Gabriel
Arte da vitrine: Chico Gabriel

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Duração: 00h05min50s
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Foi justamente entre um esquivar-se das poças e encolher-se para não ser tocada por galhos baixos que avistei o menino.

O guri devia ter oito ou nove (mais que isso era impossível) e uma pele morena, mistura de sol com presente de nascença.

E não usava sapatos.

Enquanto observava o caminhar lento do menino — ele devia era estar a pensar em qualquer coisa de longe, pois seus passos eram de gente que se põe a lembrar — e seus pés longos e sujos de terra, ouvi sua mãe gritar, chamando-o da esquina que nos era mais longe.

Como um raio de janeiro, um rápido flash em luz, o menino voltou-se para ela inteiro, com os olhos e com o corpo. E sorriu. Sem hesitar, o garoto fincou os pés no chão com vontade — sem medo algum de ferir-se, sem medo algum de cortar-se — e correu.

Correu sem proteção alguma.

Tocou o chão e tudo o que nele havia: a areia molhada, a terra, a grama e os paralelepípedos. E o pouco de sol que caíra e ficara impregnado no piche.

Pulou poças e quebrou galhos, tocou com os pés toda a aspereza que a vida deixou cair pelo caminho.

Pisou tampinhas de garrafas e plásticos do mercado mais próximo.

O modo com que seguia seu destino, sem olhar pro chão e com um sorriso que parecia não ter fim, fazia-me pensar que o menino estava a fazer preces.

Talvez ele nem tivesse dado conta, mas naquele instante estava a tratar a própria vida como um lugar sagrado.

Afinal, não é isso que fazem os religiosos? Descalçam-se quando em terra santa?

A vida, para aquele menino, devia era de ser um grande templo.

Acho que por isso ele carregava um sorriso que raras vezes eu tinha visto.

No final da tarde, pensei que talvez essa tenha sido a grande lição: compreender que viver é ato sagrado e descalçar-me sempre que possível, sem medo de cortes e de farpas. Viver intensamente, como se estivesse em um Templo e, dessa forma, independentemente do que encontrasse pelo caminho, haveria em mim sempre um olhar em brilho, alto. E um sorriso de sol.

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