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Políticas de igualdade de gênero são chave para frear queda da fecundidade no mundo
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Em dois terços do planeta, a renovação de geração não está garantida – a queda da natalidade não é mais um problema apenas nos países ricos, mas se generaliza pelo mundo e atinge até os países em desenvolvimento. Especialistas alertam: a aceleração das políticas de igualdade de gêneros é uma das chaves para combater essa tendência e evitar que o envelhecimento das populações esvazie a força de trabalho ativa e vire uma bomba nos orçamentos públicos.
Há dois séculos, a queda da mortalidade levou à diminuição da fecundidade nos países do norte – uma evolução que agora se replica em todos os lugares do planeta.
“É um movimento generalizado, que leva a humanidade a mudar o seu regime demográfico. Os casais desejam ter menos filhos para garantir a eles uma vida melhor do que a que eles próprios tiveram, uma vida de qualidade”, explicou o especialista francês Gilles Pison, conselheiro da direção do Instituto Nacional de Estudos Demográficos da França e autor de Atlas da População Mundial (tradução livre). “Em lugar nenhum do mundo é mais possível ter seis ou sete filhos e que todos possam frequentar boas escolas, tenham diplomas e uma boa profissão”, esclareceu, ao programa Débat du Jour, da RFI.
Atualmente, quase 70% da população mundial vive em um país onde a taxa de fecundidade por mulher é inferior a 2,1 crianças, segundo a ONU. A média mundial é um pouco acima, de 2,25, puxada pelos índices ainda elevados em regiões da África, Oceania e Ásia. Mas também nestes lugares, assim como nas Américas, a tendência é de queda até o fim do século, depois que a população global atingir o seu pico em 2080.
O economista David Duhamel, professor-associado da Sciences Po Paris, salienta que o processo de transição demográfica acompanha o desenvolvimento econômico de um país. “Depende da urbanização – na cidade, fazemos menos filhos do que no campo – e da educação – as adolescentes não pensam muito em filhos quando elas estão no ensino médio, e ainda menos quando chegam à universidade. O que é interessante, nos últimos anos, é que o desenvolvimento demográfico está andando muito mais rápido do que o desenvolvimento econômico”, indicou. “Estamos vemos países que ainda são emergentes, como a Tailândia, terem índices demográficos semelhantes aos de um país como a Alemanha”, afirmou.
Como relançar a fecundidade?
Duhamel sublinha que o mundo em envelhecimento demanda um novo olhar sobre as pessoas com mais de 60 anos, que devem ser cada vez mais ser vistas como um recurso para a economia, e não um fardo, e sobre as minorias em idade economicamente ativa, incluindo os imigrantes.
Já as pistas para relançar a fecundidade passam pela diminuição das desigualdades e por políticas de habitação que viabilizem o projeto de ter filhos de jovens casais nas zonas urbanas, menciona o economista.
A velocidade com que países emergentes e em desenvolvimento começaram a ver os seus índices de natalidade cair surpreendeu especialistas – um fenômeno diretamente ligado ao ingresso e à ascensão das mulheres no mercado de trabalho, frisou Duhamel.
“A escolha de ter um filho sempre foi uma escolha econômica, só que antes as mulheres pagavam exclusivamente por essa escolha, em silêncio. Elas não aceitam mais isso, não aceitam mais não compartilhar essa conta, no trabalho como em casa”, salientou. “Hoje elas têm mais escolhas – e isso é formidável: podem escolher dizer não, escolher ter uma carreira ou se retirar dessa divisão desigual sobre a maternidade. O caminho para reencontrarmos a fecundidade é pelo compartilhamento mais igualitário possível do preço de ter um filho”, avalia.
Maior equilíbrio também em casa
Assim, alguns países como a Coreia do Sul, que não aceleraram as políticas de apoio à carreira das jovens mães, veem sua natalidade despencar ao índice crítico de 0,6 criança por mulher. Isso significa que, estatisticamente, seis pessoas são substituídas por apenas uma criança sul-coreana atualmente.
Não à toa, as nações europeias com maior taxa de fecundidade são os que promovem medidas para permitir as mães de seguirem uma carreira, tornar o mercado de trabalho mais justo para elas e estimular também o melhor equilíbrio nas tarefas domésticas, ressaltou o demógrafo Gilles Pison.
“As italianas hesitam em namorar e se casar porque elas sabem que é uma engrenagem que vai levá-las a ter um filho e, se elas tiverem um, haverá a pressão da família e da sociedade para que elas parem de trabalhar para cuidar da criança. E elas não querem uma vida como a da mãe e da avó delas”, constatou. “A situação é a mesma no leste asiático e até na China”, comparou.
Leia tambémFrança tem menor número de nascimentos desde 2ª Guerra Mundial
Na Índia, país mais populoso do mundo, a taxa de fecundidade já está inferior a duas crianças por mulher. Os Estados Unidos vivem a baixa histórica de 1,64. Um estudo da revista científica The Lancet antecipa que, em 2100, 70% das crianças nascerão em um país pobre.
202 episódios
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Em dois terços do planeta, a renovação de geração não está garantida – a queda da natalidade não é mais um problema apenas nos países ricos, mas se generaliza pelo mundo e atinge até os países em desenvolvimento. Especialistas alertam: a aceleração das políticas de igualdade de gêneros é uma das chaves para combater essa tendência e evitar que o envelhecimento das populações esvazie a força de trabalho ativa e vire uma bomba nos orçamentos públicos.
Há dois séculos, a queda da mortalidade levou à diminuição da fecundidade nos países do norte – uma evolução que agora se replica em todos os lugares do planeta.
“É um movimento generalizado, que leva a humanidade a mudar o seu regime demográfico. Os casais desejam ter menos filhos para garantir a eles uma vida melhor do que a que eles próprios tiveram, uma vida de qualidade”, explicou o especialista francês Gilles Pison, conselheiro da direção do Instituto Nacional de Estudos Demográficos da França e autor de Atlas da População Mundial (tradução livre). “Em lugar nenhum do mundo é mais possível ter seis ou sete filhos e que todos possam frequentar boas escolas, tenham diplomas e uma boa profissão”, esclareceu, ao programa Débat du Jour, da RFI.
Atualmente, quase 70% da população mundial vive em um país onde a taxa de fecundidade por mulher é inferior a 2,1 crianças, segundo a ONU. A média mundial é um pouco acima, de 2,25, puxada pelos índices ainda elevados em regiões da África, Oceania e Ásia. Mas também nestes lugares, assim como nas Américas, a tendência é de queda até o fim do século, depois que a população global atingir o seu pico em 2080.
O economista David Duhamel, professor-associado da Sciences Po Paris, salienta que o processo de transição demográfica acompanha o desenvolvimento econômico de um país. “Depende da urbanização – na cidade, fazemos menos filhos do que no campo – e da educação – as adolescentes não pensam muito em filhos quando elas estão no ensino médio, e ainda menos quando chegam à universidade. O que é interessante, nos últimos anos, é que o desenvolvimento demográfico está andando muito mais rápido do que o desenvolvimento econômico”, indicou. “Estamos vemos países que ainda são emergentes, como a Tailândia, terem índices demográficos semelhantes aos de um país como a Alemanha”, afirmou.
Como relançar a fecundidade?
Duhamel sublinha que o mundo em envelhecimento demanda um novo olhar sobre as pessoas com mais de 60 anos, que devem ser cada vez mais ser vistas como um recurso para a economia, e não um fardo, e sobre as minorias em idade economicamente ativa, incluindo os imigrantes.
Já as pistas para relançar a fecundidade passam pela diminuição das desigualdades e por políticas de habitação que viabilizem o projeto de ter filhos de jovens casais nas zonas urbanas, menciona o economista.
A velocidade com que países emergentes e em desenvolvimento começaram a ver os seus índices de natalidade cair surpreendeu especialistas – um fenômeno diretamente ligado ao ingresso e à ascensão das mulheres no mercado de trabalho, frisou Duhamel.
“A escolha de ter um filho sempre foi uma escolha econômica, só que antes as mulheres pagavam exclusivamente por essa escolha, em silêncio. Elas não aceitam mais isso, não aceitam mais não compartilhar essa conta, no trabalho como em casa”, salientou. “Hoje elas têm mais escolhas – e isso é formidável: podem escolher dizer não, escolher ter uma carreira ou se retirar dessa divisão desigual sobre a maternidade. O caminho para reencontrarmos a fecundidade é pelo compartilhamento mais igualitário possível do preço de ter um filho”, avalia.
Maior equilíbrio também em casa
Assim, alguns países como a Coreia do Sul, que não aceleraram as políticas de apoio à carreira das jovens mães, veem sua natalidade despencar ao índice crítico de 0,6 criança por mulher. Isso significa que, estatisticamente, seis pessoas são substituídas por apenas uma criança sul-coreana atualmente.
Não à toa, as nações europeias com maior taxa de fecundidade são os que promovem medidas para permitir as mães de seguirem uma carreira, tornar o mercado de trabalho mais justo para elas e estimular também o melhor equilíbrio nas tarefas domésticas, ressaltou o demógrafo Gilles Pison.
“As italianas hesitam em namorar e se casar porque elas sabem que é uma engrenagem que vai levá-las a ter um filho e, se elas tiverem um, haverá a pressão da família e da sociedade para que elas parem de trabalhar para cuidar da criança. E elas não querem uma vida como a da mãe e da avó delas”, constatou. “A situação é a mesma no leste asiático e até na China”, comparou.
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Na Índia, país mais populoso do mundo, a taxa de fecundidade já está inferior a duas crianças por mulher. Os Estados Unidos vivem a baixa histórica de 1,64. Um estudo da revista científica The Lancet antecipa que, em 2100, 70% das crianças nascerão em um país pobre.
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