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Restrições das Olimpíadas deixam comerciantes de Paris ‘desencantados’ com evento
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O que parecia ser uma oportunidade de ouro para os negócios se revela, na verdade, um prejuízo: as Olimpíadas de Paris decepcionam diversos serviços dependentes do turismo, que viram a frequentação de visitantes cair nas semanas anteriores ao evento e ainda temem o pior. Comerciantes e gerentes de hotéis e restaurantes evocam o impacto da série de restrições ao trânsito na cidade e o medo dos preços altos, que parecem afugentar os turistas habituais da alta temporada.
Lúcia Müzell, da RFI em Paris
O tempo chuvoso e fresco neste início de verão parisiense também não colabora. Julho não tem sido um bom mês na comparação com os outros anos, garante Franck Delveau, presidente da União das Profissões e da Indústria Hoteleiras. Ele lamenta a expectativa de apenas 70% de ocupação dos hotéis na capital francesa.
"Muita gente desistiu de vir a Paris por causa dos problemas para circular na cidade, com muitas obras. Sem falar do clima político na França hoje – que, preciso destacar, contribui para atrapalhar a vinda dos turistas”, aponta. "A Olimpíada vai trazer 1 milhão ou 1,3 milhão de turistas estrangeiros. Nos tempos normais, costumam vir de 3,5 milhões a 4 milhões no verão."
A fuga dos turistas não chega a ser uma surpresa: as imagens da cidade-sede virada do avesso para a realização das Olimpíadas geram efeito negativo nos meses que precedem o evento, um fenômeno já tinha sido verificado nos Jogos de Londres, em 2012.
Em junho, as receitas do turismo em Paris caíram 25,4% em relação ao mesmo mês em 2023, conforme apurou a consultoria MKG Consulting, especializada no setor. O preço médio das diárias de hotel recuou 14,5%, impactado também pela queda do turismo de negócios. Paris acabou riscada do mapa para a realização de outros eventos empresariais e de instituições.
A companhia Air France nota essa baixa nos seus aviões, mais vazios neste verão. A empresa antecipa que as receitas serão de € 160 milhões a € 180 milhões menores nesta temporada, na comparação com o verão passado.
Obras, grades e bloqueios afastam turistas
Em pleno coração de Paris, os comércios, cafés e restaurantes acostumados a receber milhares de pessoas por dia veem a Olimpíada como uma decepção. Não bastassem as grades provisórias instaladas por toda a região central para a programação olímpica, o garçom Laurent mal consegue acreditar que banheiros químicos serão colocados bem em frente ao café onde trabalha.
“Para a gente, é um desencanto, porque aquilo que deveria ser um evento convivial se tornou uma Paris vazia”, resume, à reportagem da RFI. "Visualmente, o resultado aqui é lamentável. Não estamos conseguindo atrair gente para as mesas na rua, porque ninguém quer ficar instalado na frente de uma grade dessas. Ninguém quer ver isso quando vem conhecer a cidade e apreciar a beleza de Paris”, afirma o garçom.
O frequentado mercado de flores Elisabeth II, na ilha de la Cité e a poucos metros da catedral de Notre Dame, não poderá abrir na véspera e no dia da cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos. Em toda a cidade, 10% dos tradicionais mercados ao ar livre serão atingidos pelo evento.
"Nós seremos obrigados a fechar porque não terá ninguém. Tudo vai estar bloqueado. Eles já começaram a cortar o acesso às pontes”, diz a florista Betty. "Como vamos poder trabalhar, e como faremos para pagar os nossos aluguéis, para comer, afinal ninguém aqui é grande empresário. Somos todos pequenos comerciantes”, questiona Betty, que vai exigir da prefeitura compensações pelos prejuízos.
Cerimônia de abertura fecha margens do rio Sena
A cerimônia de abertura, no dia 26 de julho, acontecerá em um formato inédito, ao ar livre no rio Sena, e vai exigir um esquema de segurança também excepcional. A partir desta semana, apenas moradores e trabalhadores na região terão acesso às margens do rio, depois de obterem autorização dos serviços policiais.
Turistas e visitantes também precisarão se cadastrar e apresentar documentos – uma "burocracia" que tem tudo para atrapalhar a frequentação, teme Audrey Azoulay, dona de uma joalheria na famosa rua de Rivoli.
"Por enquanto, não sei exatamente como vai funcionar. Só sei que para chegar aqui, será necessário apresentar um QR code”, indica a lojista. "O acesso a várias estações de metrô está fechado e as pessoas precisariam caminhar uns 10 minutos a mais para vir aqui. Vai ser fácil para os turistas que estarão em hotéis perto, mas para todos os outros, acho que vai ser complicado. Estou apreensiva."
Aluguéis por temporada decepcionaram
Não são apenas os comerciantes profissionais que ficaram desiludidos. A empreendedora Camille aluga há quatro anos o seu apartamento nos períodos de alta temporada em Paris, quando ela própria sai de férias com a família. Mas, desta vez, foi bem mais difícil emplacar, garante.
"Foi muito atípico para nós não conseguirmos alugar nos finais de semana anteriores à Olimpíada, em junho e julho, e isso que colocamos no preço normal que sempre alugamos. Esse efeito eu também pude constatar no meu trabalho, junto a chefs de cozinha parisienses, que infelizmente não estão tendo uma grande frequentação dos seus restaurantes”, garante.
"E até meu marido, que trabalha no setor dos museus, constata que a clientela atualmente é basicamente francesa. Tudo isso confirma que talvez o turismo vá se concentrar apenas nos dias da Olimpíada e tenha fugido daqui no restante da temporada”, conclui a empreendedora.
Com colaboração de Arthur Ponchelet, da RFI em francês
202 episódios
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O que parecia ser uma oportunidade de ouro para os negócios se revela, na verdade, um prejuízo: as Olimpíadas de Paris decepcionam diversos serviços dependentes do turismo, que viram a frequentação de visitantes cair nas semanas anteriores ao evento e ainda temem o pior. Comerciantes e gerentes de hotéis e restaurantes evocam o impacto da série de restrições ao trânsito na cidade e o medo dos preços altos, que parecem afugentar os turistas habituais da alta temporada.
Lúcia Müzell, da RFI em Paris
O tempo chuvoso e fresco neste início de verão parisiense também não colabora. Julho não tem sido um bom mês na comparação com os outros anos, garante Franck Delveau, presidente da União das Profissões e da Indústria Hoteleiras. Ele lamenta a expectativa de apenas 70% de ocupação dos hotéis na capital francesa.
"Muita gente desistiu de vir a Paris por causa dos problemas para circular na cidade, com muitas obras. Sem falar do clima político na França hoje – que, preciso destacar, contribui para atrapalhar a vinda dos turistas”, aponta. "A Olimpíada vai trazer 1 milhão ou 1,3 milhão de turistas estrangeiros. Nos tempos normais, costumam vir de 3,5 milhões a 4 milhões no verão."
A fuga dos turistas não chega a ser uma surpresa: as imagens da cidade-sede virada do avesso para a realização das Olimpíadas geram efeito negativo nos meses que precedem o evento, um fenômeno já tinha sido verificado nos Jogos de Londres, em 2012.
Em junho, as receitas do turismo em Paris caíram 25,4% em relação ao mesmo mês em 2023, conforme apurou a consultoria MKG Consulting, especializada no setor. O preço médio das diárias de hotel recuou 14,5%, impactado também pela queda do turismo de negócios. Paris acabou riscada do mapa para a realização de outros eventos empresariais e de instituições.
A companhia Air France nota essa baixa nos seus aviões, mais vazios neste verão. A empresa antecipa que as receitas serão de € 160 milhões a € 180 milhões menores nesta temporada, na comparação com o verão passado.
Obras, grades e bloqueios afastam turistas
Em pleno coração de Paris, os comércios, cafés e restaurantes acostumados a receber milhares de pessoas por dia veem a Olimpíada como uma decepção. Não bastassem as grades provisórias instaladas por toda a região central para a programação olímpica, o garçom Laurent mal consegue acreditar que banheiros químicos serão colocados bem em frente ao café onde trabalha.
“Para a gente, é um desencanto, porque aquilo que deveria ser um evento convivial se tornou uma Paris vazia”, resume, à reportagem da RFI. "Visualmente, o resultado aqui é lamentável. Não estamos conseguindo atrair gente para as mesas na rua, porque ninguém quer ficar instalado na frente de uma grade dessas. Ninguém quer ver isso quando vem conhecer a cidade e apreciar a beleza de Paris”, afirma o garçom.
O frequentado mercado de flores Elisabeth II, na ilha de la Cité e a poucos metros da catedral de Notre Dame, não poderá abrir na véspera e no dia da cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos. Em toda a cidade, 10% dos tradicionais mercados ao ar livre serão atingidos pelo evento.
"Nós seremos obrigados a fechar porque não terá ninguém. Tudo vai estar bloqueado. Eles já começaram a cortar o acesso às pontes”, diz a florista Betty. "Como vamos poder trabalhar, e como faremos para pagar os nossos aluguéis, para comer, afinal ninguém aqui é grande empresário. Somos todos pequenos comerciantes”, questiona Betty, que vai exigir da prefeitura compensações pelos prejuízos.
Cerimônia de abertura fecha margens do rio Sena
A cerimônia de abertura, no dia 26 de julho, acontecerá em um formato inédito, ao ar livre no rio Sena, e vai exigir um esquema de segurança também excepcional. A partir desta semana, apenas moradores e trabalhadores na região terão acesso às margens do rio, depois de obterem autorização dos serviços policiais.
Turistas e visitantes também precisarão se cadastrar e apresentar documentos – uma "burocracia" que tem tudo para atrapalhar a frequentação, teme Audrey Azoulay, dona de uma joalheria na famosa rua de Rivoli.
"Por enquanto, não sei exatamente como vai funcionar. Só sei que para chegar aqui, será necessário apresentar um QR code”, indica a lojista. "O acesso a várias estações de metrô está fechado e as pessoas precisariam caminhar uns 10 minutos a mais para vir aqui. Vai ser fácil para os turistas que estarão em hotéis perto, mas para todos os outros, acho que vai ser complicado. Estou apreensiva."
Aluguéis por temporada decepcionaram
Não são apenas os comerciantes profissionais que ficaram desiludidos. A empreendedora Camille aluga há quatro anos o seu apartamento nos períodos de alta temporada em Paris, quando ela própria sai de férias com a família. Mas, desta vez, foi bem mais difícil emplacar, garante.
"Foi muito atípico para nós não conseguirmos alugar nos finais de semana anteriores à Olimpíada, em junho e julho, e isso que colocamos no preço normal que sempre alugamos. Esse efeito eu também pude constatar no meu trabalho, junto a chefs de cozinha parisienses, que infelizmente não estão tendo uma grande frequentação dos seus restaurantes”, garante.
"E até meu marido, que trabalha no setor dos museus, constata que a clientela atualmente é basicamente francesa. Tudo isso confirma que talvez o turismo vá se concentrar apenas nos dias da Olimpíada e tenha fugido daqui no restante da temporada”, conclui a empreendedora.
Com colaboração de Arthur Ponchelet, da RFI em francês
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