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Curtas brasileiros em competição em festival francês exploram legados da violência colonial

8:22
 
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Dois filmes brasileiros concorrem a prêmios neste sábado (10) no encerramento da 46ª edição do Festival de Curta-Metragem de Clermont-Ferrand, na França, maior evento do gênero do mundo.

Produções de 83 países estão em cartaz nas diversas mostras do festival de Clermont-Ferrand, que este ano contou com 363 filmes exibidos ao público.

O título “Pássaro Memória, sexto curta-metragem do carioca Leonardo Martinelli, disputa a Competição Internacional da mostra francesa com outros 65 filmes de 52 países. Na trama, um pássaro chamado Memória esquece como voltar para casa. Lua, uma mulher trans negra, tenta encontrá-lo nas ruas do Rio de Janeiro, mas a cidade se revela um lugar hostil.

“'Pássaro Memória' é um filme que busca refletir como alguns espaços refletem uma certa violência simbólica na cidade do Rio de Janeiro, seja por uma herança colonial que ainda é representada de forma arquitetônica ou por questões de quanto aquele espaço sofre de repressão social”, disse à RFI o roteirista, produtor e diretor carioca.

“A gente tenta utilizar a cidade como esse lugar que reflete essas violências. E utilizar no filme o gênero musical, que é uma forma de cinema que me atrai muito, como uma plataforma para trazer imagens um pouco diferentes do que seriam esses espaços da cidade. Isso não significa, claro, tirar a carga histórica que há neles, mas tentar trazer uma outra imagem para esse espaço e um corpo ocupando esse espaço, através de uma representação artística da dança, da música e do cinema, como uma forma de buscar, talvez, uma catarse”, explica Martinelli.

A protagonista Lua sofre por não ter acesso a tantos espaços da cidade quanto outras pessoas menos marginalizadas.

Aos 25 anos e sete de cinema, Martinelli tem suas produções reconhecidas e premiadas pelo público e pela crítica em diferentes festivais pelo mundo. Seu filme “Fantasma Neon” foi exibido na Competição Lab de Clermont-Ferrand em 2022, mas ele não estava presente. Desta vez, o diretor veio à França para conhecer o renomado festival internacional.

"Eu sou muito apaixonado pelo formato do curta-metragem, porque eu acredito que ele é uma janela própria, assim como são o documentário, a animação, a ficção", disse. Para Martinelli, o curta-metragem pode trazer outras tensões e possibilidades dentro da linguagem do audiovisual que só poderiam ser manifestadas numa duração breve.

O brasileiro lamenta que o formato ainda sofra algum grau de marginalização dentro da indústria audiovisual, por não ser tão rentável. Nesse contexto, espaços como os festivais são necessários para acolher o curta como uma proposta cultural artística plena, alega.

Colonização holandesa

O passado colonialista e seus efeitos deletérios que até hoje marcam a sociedade brasileira também estão no centro do documentário "Até onde o mundo alcança", primeiro curta do artista visual carioca Daniel Frota de Abreu, de 35 anos. O título, selecionado entre 24 filmes na Competição Lab, faz uma condenação contundente do período da colonização holandesa no Brasil no século 17.

"Esse trabalho vem de alguns outros trabalhos que lidavam com história da ciência. O que me interessou nesse contexto específico do Brasil holandês foi a cultura material produzida durante esse período, (...) especialmente o primeiro catálogo da natureza brasileira", disse o diretor, que morou na Holanda e teve acesso a algumas coleções que inspiraram o roteiro do documentário.

O filme denuncia a violência que marcou a passagem de Maurício de Nassau pelo Nordeste, enviado para administrar Pernambuco durante o período que os holandeses dominaram a região. Nassau, de origem germânica, patrocinou expedições de cientistas que extraíram amostras da fauna e da flora brasileiras, em um ambiente marcado pela violência, utilizadas depois para se autopromover em seu retorno à Europa.

"Na verdade, eram expedições de caça a escravizados", diz o diretor. "O apelido dele [Mauricio de Nassau] era 'O brasileiro'. Você vê que a função dessas coleções, não só de arte com as pinturas, mas de história natural, vira uma espécie de moeda de troca. E é assim que essas coisas também vão se dispersando na Europa. Ele começa a dar presentes. É essa espécie de diplomacia mediada por uma violência simbólica", destaca Frota de Abreu, num contexto de escravidão e muito sangue derramado nas plantações de cana-de-açúcar do Nordeste.

O festival francês termina neste sábado com a entrega dos prêmios.

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Produções de 83 países estão em cartaz nas diversas mostras do festival de Clermont-Ferrand, que este ano contou com 363 filmes exibidos ao público.

O título “Pássaro Memória, sexto curta-metragem do carioca Leonardo Martinelli, disputa a Competição Internacional da mostra francesa com outros 65 filmes de 52 países. Na trama, um pássaro chamado Memória esquece como voltar para casa. Lua, uma mulher trans negra, tenta encontrá-lo nas ruas do Rio de Janeiro, mas a cidade se revela um lugar hostil.

“'Pássaro Memória' é um filme que busca refletir como alguns espaços refletem uma certa violência simbólica na cidade do Rio de Janeiro, seja por uma herança colonial que ainda é representada de forma arquitetônica ou por questões de quanto aquele espaço sofre de repressão social”, disse à RFI o roteirista, produtor e diretor carioca.

“A gente tenta utilizar a cidade como esse lugar que reflete essas violências. E utilizar no filme o gênero musical, que é uma forma de cinema que me atrai muito, como uma plataforma para trazer imagens um pouco diferentes do que seriam esses espaços da cidade. Isso não significa, claro, tirar a carga histórica que há neles, mas tentar trazer uma outra imagem para esse espaço e um corpo ocupando esse espaço, através de uma representação artística da dança, da música e do cinema, como uma forma de buscar, talvez, uma catarse”, explica Martinelli.

A protagonista Lua sofre por não ter acesso a tantos espaços da cidade quanto outras pessoas menos marginalizadas.

Aos 25 anos e sete de cinema, Martinelli tem suas produções reconhecidas e premiadas pelo público e pela crítica em diferentes festivais pelo mundo. Seu filme “Fantasma Neon” foi exibido na Competição Lab de Clermont-Ferrand em 2022, mas ele não estava presente. Desta vez, o diretor veio à França para conhecer o renomado festival internacional.

"Eu sou muito apaixonado pelo formato do curta-metragem, porque eu acredito que ele é uma janela própria, assim como são o documentário, a animação, a ficção", disse. Para Martinelli, o curta-metragem pode trazer outras tensões e possibilidades dentro da linguagem do audiovisual que só poderiam ser manifestadas numa duração breve.

O brasileiro lamenta que o formato ainda sofra algum grau de marginalização dentro da indústria audiovisual, por não ser tão rentável. Nesse contexto, espaços como os festivais são necessários para acolher o curta como uma proposta cultural artística plena, alega.

Colonização holandesa

O passado colonialista e seus efeitos deletérios que até hoje marcam a sociedade brasileira também estão no centro do documentário "Até onde o mundo alcança", primeiro curta do artista visual carioca Daniel Frota de Abreu, de 35 anos. O título, selecionado entre 24 filmes na Competição Lab, faz uma condenação contundente do período da colonização holandesa no Brasil no século 17.

"Esse trabalho vem de alguns outros trabalhos que lidavam com história da ciência. O que me interessou nesse contexto específico do Brasil holandês foi a cultura material produzida durante esse período, (...) especialmente o primeiro catálogo da natureza brasileira", disse o diretor, que morou na Holanda e teve acesso a algumas coleções que inspiraram o roteiro do documentário.

O filme denuncia a violência que marcou a passagem de Maurício de Nassau pelo Nordeste, enviado para administrar Pernambuco durante o período que os holandeses dominaram a região. Nassau, de origem germânica, patrocinou expedições de cientistas que extraíram amostras da fauna e da flora brasileiras, em um ambiente marcado pela violência, utilizadas depois para se autopromover em seu retorno à Europa.

"Na verdade, eram expedições de caça a escravizados", diz o diretor. "O apelido dele [Mauricio de Nassau] era 'O brasileiro'. Você vê que a função dessas coleções, não só de arte com as pinturas, mas de história natural, vira uma espécie de moeda de troca. E é assim que essas coisas também vão se dispersando na Europa. Ele começa a dar presentes. É essa espécie de diplomacia mediada por uma violência simbólica", destaca Frota de Abreu, num contexto de escravidão e muito sangue derramado nas plantações de cana-de-açúcar do Nordeste.

O festival francês termina neste sábado com a entrega dos prêmios.

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