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Trajetória “improvável” de migrante nordestina que virou executiva é publicada em livro na França

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Uma ascensão social admirável que continua sendo uma exceção na tão desigual sociedade brasileira. Esse poderia ser o resumo de “Entre o Roçado e a Coca-Cola: uma sociobiografia”, livro da socióloga brasileira Priscila de Oliveira Coutinho que acaba de ser traduzido para o francês. Outro resumo possível seria: “a trajetória improvável” de uma migrante nordestina que virou executiva de uma multinacional no Rio de Janeiro.

“Entre o Roçado e a Coca-Cola: uma sociobiografia (Editora UFMG, 2022) é fruto da tese de doutorado de Priscila de Oliveira Coutinho na Universidade Federal do Rio de Janeiro. O livro chega às livrarias francesas com o título: “Juscelina, transfuge de classe brésilienne” (Juscelina, trânsfuga de classe brasileira – PUR, 2023).

Priscila de Oliveira Coutinho, hoje professora da UFMG, analisou a trajetória “improvável” de Juscelina Gomes de Lima, uma paraibana que, como tantos outros nordestinos, deixou, ainda adolescente, uma pequena cidade do interior da Paraíba onde cresceu e migrou, no início dos anos 1970, para o Rio de Janeiro, onde estudou e virou executiva.

A sociobiografia contou com a participação ativa de Juscelina, mas também com entrevistas com familiares e amigos, e pesquisa de campo e documental. “O meu interesse era de compreender as articulações entre micro e macro contextos (...) por meio de trajetórias individuais e deslocamentos significativos no espaço social, ou seja, migração e mobilidade social ascendente me pareciam processos privilegiados para essa investigação”.

Trânsfuga de classe

O conceito de “trânsfuga” de classe, “muito caro à sociologia francesa”, diz a autora, é essencial nesse trabalho. “A noção destaca a constante tensão vivida por pessoas que foram socializadas em contextos com características sociais muito distintas” do meio para onde migraram, define a socióloga brasileira. Normalmente, essas análises de mobilidade social dizem respeito a uma ascensão social.

A autora ressalta que a trajetória de Juscelina é “bastante excepcional em diversos aspectos” e continua sendo uma exceção no Brasil, mesmo com as recentes políticas de inclusão e redistribuição de renda que permitiram uma certa mobilidade social no país.

“A exceção ajuda a precisar o que é estatisticamente mais frequente, mais provável na sociedade brasileira, que é bastante desigual em termos de oportunidade. (...) O Brasil é um país de baixa mobilidade social e ainda hoje ser mulher, nas regiões norte e nordeste, diminui as chances de ascensão”, afirma.

As estatísticas confirmam que quem é rico tende a se manter rico e quem é pobre tem poucas chances de melhorar de vida. “No Brasil atual, somente 2,5% dos filhos cujos pais estão no extrato mais vulnerável conseguem atingir o topo da estrutura social e de renda em uma única geração”, informa a socióloga.

“Odisseia de reapropriação”

A trajetória da Juscelina ajuda a repensar “as tipologias de migração e as experiências subjetivas das variadas trajetórias de migração que a gente tem no Brasil”. No início da pesquisa, a executiva afirmava que nunca voltaria para a Paraíba. No decorrer das entrevistas, ela toma a decisão radical e surpreendente de voltar para João Pessoa e de “resgatar” sua vida e cultura de origem.

Citando o sociólogo franco-argelino Abdelmalek Sayad, a professora ensina que “a ideia de retorno integra sempre a experiência migratória, ainda que ela fique presente (somente) como uma ideia”. O sociólogo francês Pierre Bourdieu chama esse retorno à terra natal ou à classe de origem de “odisseia de reapropriação”.

Clique na foto principal para ouvir a entrevista na íntegra.

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“Entre o Roçado e a Coca-Cola: uma sociobiografia (Editora UFMG, 2022) é fruto da tese de doutorado de Priscila de Oliveira Coutinho na Universidade Federal do Rio de Janeiro. O livro chega às livrarias francesas com o título: “Juscelina, transfuge de classe brésilienne” (Juscelina, trânsfuga de classe brasileira – PUR, 2023).

Priscila de Oliveira Coutinho, hoje professora da UFMG, analisou a trajetória “improvável” de Juscelina Gomes de Lima, uma paraibana que, como tantos outros nordestinos, deixou, ainda adolescente, uma pequena cidade do interior da Paraíba onde cresceu e migrou, no início dos anos 1970, para o Rio de Janeiro, onde estudou e virou executiva.

A sociobiografia contou com a participação ativa de Juscelina, mas também com entrevistas com familiares e amigos, e pesquisa de campo e documental. “O meu interesse era de compreender as articulações entre micro e macro contextos (...) por meio de trajetórias individuais e deslocamentos significativos no espaço social, ou seja, migração e mobilidade social ascendente me pareciam processos privilegiados para essa investigação”.

Trânsfuga de classe

O conceito de “trânsfuga” de classe, “muito caro à sociologia francesa”, diz a autora, é essencial nesse trabalho. “A noção destaca a constante tensão vivida por pessoas que foram socializadas em contextos com características sociais muito distintas” do meio para onde migraram, define a socióloga brasileira. Normalmente, essas análises de mobilidade social dizem respeito a uma ascensão social.

A autora ressalta que a trajetória de Juscelina é “bastante excepcional em diversos aspectos” e continua sendo uma exceção no Brasil, mesmo com as recentes políticas de inclusão e redistribuição de renda que permitiram uma certa mobilidade social no país.

“A exceção ajuda a precisar o que é estatisticamente mais frequente, mais provável na sociedade brasileira, que é bastante desigual em termos de oportunidade. (...) O Brasil é um país de baixa mobilidade social e ainda hoje ser mulher, nas regiões norte e nordeste, diminui as chances de ascensão”, afirma.

As estatísticas confirmam que quem é rico tende a se manter rico e quem é pobre tem poucas chances de melhorar de vida. “No Brasil atual, somente 2,5% dos filhos cujos pais estão no extrato mais vulnerável conseguem atingir o topo da estrutura social e de renda em uma única geração”, informa a socióloga.

“Odisseia de reapropriação”

A trajetória da Juscelina ajuda a repensar “as tipologias de migração e as experiências subjetivas das variadas trajetórias de migração que a gente tem no Brasil”. No início da pesquisa, a executiva afirmava que nunca voltaria para a Paraíba. No decorrer das entrevistas, ela toma a decisão radical e surpreendente de voltar para João Pessoa e de “resgatar” sua vida e cultura de origem.

Citando o sociólogo franco-argelino Abdelmalek Sayad, a professora ensina que “a ideia de retorno integra sempre a experiência migratória, ainda que ela fique presente (somente) como uma ideia”. O sociólogo francês Pierre Bourdieu chama esse retorno à terra natal ou à classe de origem de “odisseia de reapropriação”.

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