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A Mosca de David Cronenberg (1986) - Body Horror, Humanidade, Animalidade, Metamorfose e Filosofia

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A Mosca acompanha a progressiva bestialização do personagem principal, e é justamente nossa capacidade de acompanhá-lo em seu sofrimento que Cronenberg torna explícito o fato de quem até o último momento, a criatura ainda conserva seu quinhão de humanidade.

Essa preservação da humanidade é fundamental, pois, sem ela, o impacto dramático do filme perderia sua efetividade — especialmente no final, quando vemos uma criatura tão grotesca que não se parece nem com uma mosca, nem com um homem.

Ser humano não é, necessariamente, parecer humano.

De acordo com Aristóteles, São Tomás de Aquino, Heidegger e Deleuze, a distinção entre o humano e o animal remete a um território ontológico.

Ser humano, afinal, é uma condição metafísica que vai muito além de sua mera tradução corporal.

Sob a monstruosidade da criatura, no amontoado de células e no corpo doente e decadente do personagem, há um sofrimento que não é apenas físico, mas existencial.

Por isso, a última cena de A Mosca não é catártica, mas profundamente triste.

Obviamente, não podemos cair no erro “cátaro” da dispensabilidade do corpo. O corpo desempenha um papel fundamental.

Existe uma leitura que vê A Mosca como uma metáfora para a epidemia da AIDS. Segundo o próprio Cronenberg, o filme seria uma metáfora para o envelhecimento.

Tanto a AIDS quanto o envelhecimento envolvem uma transformação corpórea que resulta, igualmente, em uma transformação de identidade, por meio da violação da integridade corporal.

A integridade corporal é um componente importante na percepção de mundo.

Quando consideramos a metamorfose como uma deformação estrutural, devemos perceber que a estrutura também influencia o conteúdo, pois forma e conteúdo não são completamente indissociáveis.

O personagem é trágico porque, apesar de tudo, é humano — independentemente de seu grau de metamorfose, mutação ou deformidade.

Podemos afirmar que toda a vida humana é metamorfose: do óvulo ao feto, do bebê à criança, da adolescência à idade adulta e, então, o longo declínio para a velhice, a enfermidade e, finalmente, o cadáver em rápida decomposição. Apesar disso, não há distinção ontológica entre essas fases.

https://tavernadolugarnenhum.com.br/resenha/a-mosca/

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Essa preservação da humanidade é fundamental, pois, sem ela, o impacto dramático do filme perderia sua efetividade — especialmente no final, quando vemos uma criatura tão grotesca que não se parece nem com uma mosca, nem com um homem.

Ser humano não é, necessariamente, parecer humano.

De acordo com Aristóteles, São Tomás de Aquino, Heidegger e Deleuze, a distinção entre o humano e o animal remete a um território ontológico.

Ser humano, afinal, é uma condição metafísica que vai muito além de sua mera tradução corporal.

Sob a monstruosidade da criatura, no amontoado de células e no corpo doente e decadente do personagem, há um sofrimento que não é apenas físico, mas existencial.

Por isso, a última cena de A Mosca não é catártica, mas profundamente triste.

Obviamente, não podemos cair no erro “cátaro” da dispensabilidade do corpo. O corpo desempenha um papel fundamental.

Existe uma leitura que vê A Mosca como uma metáfora para a epidemia da AIDS. Segundo o próprio Cronenberg, o filme seria uma metáfora para o envelhecimento.

Tanto a AIDS quanto o envelhecimento envolvem uma transformação corpórea que resulta, igualmente, em uma transformação de identidade, por meio da violação da integridade corporal.

A integridade corporal é um componente importante na percepção de mundo.

Quando consideramos a metamorfose como uma deformação estrutural, devemos perceber que a estrutura também influencia o conteúdo, pois forma e conteúdo não são completamente indissociáveis.

O personagem é trágico porque, apesar de tudo, é humano — independentemente de seu grau de metamorfose, mutação ou deformidade.

Podemos afirmar que toda a vida humana é metamorfose: do óvulo ao feto, do bebê à criança, da adolescência à idade adulta e, então, o longo declínio para a velhice, a enfermidade e, finalmente, o cadáver em rápida decomposição. Apesar disso, não há distinção ontológica entre essas fases.

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