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Akira Kurosawa (Parte 10) - Trono Manchado de Sangue (adaptação de Macbeth de William Shakespeare)

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Trono Manchado de Sangue, possivelmente o meu filme favorito de Akira Kurosawa (ao lado de Ran).

O filme transpõe o enredo da peça Macbeth, de William Shakespeare, da Escócia medieval para o Japão feudal, com elementos estilísticos extraídos do teatro Nô.

Apesar da mudança de cenário, linguagem, entre outras inúmeras liberdades criativas, Trono Manchado de Sangue é frequentemente considerado uma das melhores e mais fiéis adaptações da peça, mesmo que pouco ou nada do texto original da peça esteja presente nas falas dos personagens dentro do filme (que até mudam de nome).

Para mim, esse é O EXEMPLO de uma peça bem adaptada, pois faz com que se reflita sobre o senso comum da dinâmica entre autor, obra e leitor.

Em Trono Manchado de Sangue, Kurosawa se torna co-autor de Macbeth - dissolvendo as ilusões de autoria.

Sim, é uma obra adaptada e, sim, é também uma obra completamente autoral, com voz própria.

Esse tipo de obra só é possível porque Kurosawa se determinou a não fazer uma mera tradução literal de Shakespeare para japonês, pois isso seria apenas uma das muitas "inflações babelicas" desconectadas de um sentido real. Pelo contrário, ele retrabalhou toda obra (em textos, imagens e referências), preservando o núcleo imaterial daquilo que faz dela ser uma obra com vocação universal.

É importante tocar no tema do protagonismo da imaterialidade, pois, diferente do que os materialistas pensam, a realidade não é determinada pelo meio (influenciada sim, determinada nunca), mas por aquilo que é, a bem da verdade, divino, simbólico ou metafísico.

Uma adaptação estritamente materialista se preocuparia com trivialidades secundárias como geografia, hábitos, costumes, economia e contexto histórico.

A adaptação de Kurosawa é tão boa e reconhecida, pois busca o núcleo imaterial transcendente na sua fonte.

Akira Kurosawa só conseguiu fazer essa adaptação porque contemplou os mesmos referenciais simbólicos, divinos e metafísicos de Macbeth: o tema da ambição, da culpa e o confronto entre destino e livre-arbítrio. Esses temas perseguem a humanidade, independentemente das condições materiais que lhe são impostas.

Artigo no Taverna do Lugar Nenhum:

https://tavernadolugarnenhum.com.br/resenha/trono-manchado-de-sangue/

Um Olhar Oriental sobre Shakespeare:

http://www.letras.ufmg.br/padrao_cms/documentos/nucleos/intermidia/Scripta%20Celia_Suzana.pdf

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Apesar da mudança de cenário, linguagem, entre outras inúmeras liberdades criativas, Trono Manchado de Sangue é frequentemente considerado uma das melhores e mais fiéis adaptações da peça, mesmo que pouco ou nada do texto original da peça esteja presente nas falas dos personagens dentro do filme (que até mudam de nome).

Para mim, esse é O EXEMPLO de uma peça bem adaptada, pois faz com que se reflita sobre o senso comum da dinâmica entre autor, obra e leitor.

Em Trono Manchado de Sangue, Kurosawa se torna co-autor de Macbeth - dissolvendo as ilusões de autoria.

Sim, é uma obra adaptada e, sim, é também uma obra completamente autoral, com voz própria.

Esse tipo de obra só é possível porque Kurosawa se determinou a não fazer uma mera tradução literal de Shakespeare para japonês, pois isso seria apenas uma das muitas "inflações babelicas" desconectadas de um sentido real. Pelo contrário, ele retrabalhou toda obra (em textos, imagens e referências), preservando o núcleo imaterial daquilo que faz dela ser uma obra com vocação universal.

É importante tocar no tema do protagonismo da imaterialidade, pois, diferente do que os materialistas pensam, a realidade não é determinada pelo meio (influenciada sim, determinada nunca), mas por aquilo que é, a bem da verdade, divino, simbólico ou metafísico.

Uma adaptação estritamente materialista se preocuparia com trivialidades secundárias como geografia, hábitos, costumes, economia e contexto histórico.

A adaptação de Kurosawa é tão boa e reconhecida, pois busca o núcleo imaterial transcendente na sua fonte.

Akira Kurosawa só conseguiu fazer essa adaptação porque contemplou os mesmos referenciais simbólicos, divinos e metafísicos de Macbeth: o tema da ambição, da culpa e o confronto entre destino e livre-arbítrio. Esses temas perseguem a humanidade, independentemente das condições materiais que lhe são impostas.

Artigo no Taverna do Lugar Nenhum:

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