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Paris comemora 80 anos de libertação da ocupação nazista com chegada da tocha paralímpica
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Depois de duas semanas de calmaria após o fim dos Jogos Olímpicos, Paris volta a um ritmo bem mais movimentado neste fim de semana. A cidade comemora com cerimônias militares e programação cultural os 80 anos da libertação das tropas nazistas e acolhe, no domingo (25), a tocha paralímpica.
Em 25 de agosto de 1944, o general Charles De Gaulle leu para os parisienses o ato de capitulação do Exército nazista e desceu triunfante a avenida Champs-Elysées, onde os franceses se reúnem para as principais comemorações nacionais. Era o fim de quatro anos de sofrimento e humilhação impostos pela Alemanha nazista.
A data histórica, em meio aos Jogos Olímpicos e Paralímpicos ausentes da capital durante 100 anos, terá dois dias de intensas celebrações. Várias festas de rua estão programadas. Em frente à prefeitura, no sábado (24), haverá projeção de um documentário com depoimentos de pessoas que viveram a reconquista da liberdade em 1944, como o sociólogo Edgar Morin, que está com 103 anos; também está previsto um concerto de orquestra seguido de um grande baile popular, como aconteceu na época, mas agora animado com música eletrônica e funk.
Como este ano Paris ainda abre na quarta-feira (28) os Jogos Paralímpicos, as duas programações foram entrelaçadas. A tocha paralímpica chega à capital no domingo (25), proveniente da Inglaterra, para marcar a data.
Tocha será acesa na Inglaterra
Enquanto a Grécia Antiga é o berço dos Jogos Olímpicos, os Paralímpicos têm uma história mais recente. Quando a Segunda Guerra acabou na Europa, havia milhares de pessoas amputadas, paraplégicas, vítimas de múltiplas deficiências.
Em 1948, o médico alemão Ludwig Guttmann, neurologista do hospital militar de Stoke Mandeville, perto de Londres, teve a ideia de criar uma competição esportiva para ajudar na recuperação de soldados e vítimas de guerra atendidos no hospital onde trabalhava. Veteranos de cadeiras de rodas disputaram vários jogos. Nos anos seguintes, a iniciativa inovadora se repetiu. Este torneio único passou a ser considerado como a origem dos Jogos Paralímpicos.
Assim, a tocha paralímpica será acesa neste sábado (24) em Stoke Mandeville, na presença de Tony Estanguet (presidente do Comitê Organizador) e Andrew Parsons (presidente do Comitê Paralímpico Internacional). No domingo, ela atravessa o Canal da Mancha, passa por Paris, para comemorar os 80 anos da libertação da capital, e segue para cerca de 50 cidades francesas, retornando na quarta-feira (28) para acender a pira olímpica no Jardim das Tulherias.
Para alegria dos franceses e turistas, o balão de ar quente que se tornou o símbolo dos Jogos de Paris voltará a subir todas as noites até o encerramento, no dia 8 de setembro.
França tenta recuperar atraso
A França esteve atrasada no investimento em seus atletas paralímpicos. Para se ter uma ideia, o Brasil conquistou na última edição, em Tóquio (2020), 72 medalhas no total (22 de ouro), a mesma quantidade obtida nos Jogos do Rio 2016. A França conquistou 54 medalhas no Japão e apenas 28 no Rio de Janeiro.
Com a perspectiva dos Jogos em Paris, o Estado investiu, mas os atletas continuam se queixando de custos muito mais elevados de equipamentos – próteses ou cadeiras de rodas adaptadas – e da falta de patrocinadores. As associações que trabalham na área veem uma melhora, já que dos 237 atletas franceses em busca de medalhas, 121 disputam os Paralímpícos pela primeira vez. A mais nova concorrente, promessa no atletismo, Marie N'Goussou, tem 15 anos. O objetivo do comitê francês é conquistar 20 medalhas de ouro, para ficar entre as oito principais nações paralímpicas.
A Agência Nacional do Esporte mobilizou empresas como a Airbus, por exemplo, para criar equipamentos de alta tecnologia, como próteses de corrida e bicicletas, para ajudar no desempenho dos atletas franceses, o que deve dar resultados. Mas é sempre a mesma problemática: para quem já é medalhista, é mais fácil encontrar patrocínio privado do que para iniciantes.
Parisienses voltam para casa
Cerca de 90% do público dos Jogos Paralímpicos será francês e desse total 75% de moradores da região parisiense. As férias de verão terminam na semana que vem, e o retorno das aulas acontece no dia 2 de setembro. Até a última quarta-feira (21), dos 2,5 milhões de ingressos colocados à venda, 800 mil ainda estavam disponíveis, segundo os organizadores.
As arenas mais bonitas da cidade, com vista para a Torre Eiffel, na praça da Concórdia ou no Grand Palais, são as que têm maior procura do público, com ingressos quase esgotados. Os que sobraram têm os preços inflacionados.
Das 22 modalidades da Paralimpíada, 10 venderam 90% dos ingressos; outras 15 estão com uma ocupação de 75% das arquibancadas. Os organizadores reservaram 80 mil ingressos para cadeirantes e portadores de outras deficiências, mas só venderam até quarta-feira 31 mil entradas.
Problemas de mobilidade
Os Jogos Paralímpicos sempre têm público menor do que a Olimpíada. Mas no caso de Paris, o sistema de transporte pode ser um agravante.
O metrô de Paris é considerado uma “corrida de obstáculos” para cadeirantes. A região de Ile de France, responsável pela oferta do transporte público na capital e arredores, investiu mais de € 2 bilhões para facilitar o acesso às linhas de metrô, ônibus e trens. Mas, atualmente, das 320 estações do metrô de Paris, que tem mais de um século, apenas 29 são acessíveis às pessoas com deficiência físico-motora. O número representa apenas 9% da rede.
Questionadas sobre esse atraso, as autoridades alegam que as obras de modernização do velho metrô de Paris são muito caras e dão o exemplo da linha 6, uma das mais antigas da cidade. As obras de adaptação dessa linha para cadeirantes têm custo estimado de € 1 bilhão e de seis a dez anos de prazo para a conclusão da reforma.
Diante do custo elevado, houve uma escolha do poder público. Os investimentos foram direcionados para a rede ferroviária da região metropolitana de Paris, com trens que também circulam na capital, e tem agora 240 das 268 estações acessíveis a todo tipo de usuário. A oferta é complementada por 65 linhas de ônibus, totalmente adaptadas a pessoas com mobilidade reduzida.
Portadores de Síndrome de Down lançam petição
A poucos dias do início dos Paralímpicos, portadores de Síndrome de Down iniciaram um movimento de reivindicação para o Comitê Olímpico Internacional (COI). Integrantes do Conselho Municipal de Jovens de Mornant, no sudeste da França, que tem alguns membros com Down, consideram injusto que o COI ofereça apenas três modalidades para pessoas com deficiência intelectual nos Paralímpicos – natação, atletismo e tênis de mesa.
Esse grupo lançou uma petição pública e espera recolher 500 mil assinaturas para alertar o COI que portadores de Síndrome de Down têm capacidade para praticar outros esportes de alto nível e poderiam ser incluídos nas competições. De certa forma eles têm razão, já que dos 4.400 atletas que vão disputar os Paralímpicos de Paris 2024, apenas 5% são pessoas com deficiência intelectual.
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Depois de duas semanas de calmaria após o fim dos Jogos Olímpicos, Paris volta a um ritmo bem mais movimentado neste fim de semana. A cidade comemora com cerimônias militares e programação cultural os 80 anos da libertação das tropas nazistas e acolhe, no domingo (25), a tocha paralímpica.
Em 25 de agosto de 1944, o general Charles De Gaulle leu para os parisienses o ato de capitulação do Exército nazista e desceu triunfante a avenida Champs-Elysées, onde os franceses se reúnem para as principais comemorações nacionais. Era o fim de quatro anos de sofrimento e humilhação impostos pela Alemanha nazista.
A data histórica, em meio aos Jogos Olímpicos e Paralímpicos ausentes da capital durante 100 anos, terá dois dias de intensas celebrações. Várias festas de rua estão programadas. Em frente à prefeitura, no sábado (24), haverá projeção de um documentário com depoimentos de pessoas que viveram a reconquista da liberdade em 1944, como o sociólogo Edgar Morin, que está com 103 anos; também está previsto um concerto de orquestra seguido de um grande baile popular, como aconteceu na época, mas agora animado com música eletrônica e funk.
Como este ano Paris ainda abre na quarta-feira (28) os Jogos Paralímpicos, as duas programações foram entrelaçadas. A tocha paralímpica chega à capital no domingo (25), proveniente da Inglaterra, para marcar a data.
Tocha será acesa na Inglaterra
Enquanto a Grécia Antiga é o berço dos Jogos Olímpicos, os Paralímpicos têm uma história mais recente. Quando a Segunda Guerra acabou na Europa, havia milhares de pessoas amputadas, paraplégicas, vítimas de múltiplas deficiências.
Em 1948, o médico alemão Ludwig Guttmann, neurologista do hospital militar de Stoke Mandeville, perto de Londres, teve a ideia de criar uma competição esportiva para ajudar na recuperação de soldados e vítimas de guerra atendidos no hospital onde trabalhava. Veteranos de cadeiras de rodas disputaram vários jogos. Nos anos seguintes, a iniciativa inovadora se repetiu. Este torneio único passou a ser considerado como a origem dos Jogos Paralímpicos.
Assim, a tocha paralímpica será acesa neste sábado (24) em Stoke Mandeville, na presença de Tony Estanguet (presidente do Comitê Organizador) e Andrew Parsons (presidente do Comitê Paralímpico Internacional). No domingo, ela atravessa o Canal da Mancha, passa por Paris, para comemorar os 80 anos da libertação da capital, e segue para cerca de 50 cidades francesas, retornando na quarta-feira (28) para acender a pira olímpica no Jardim das Tulherias.
Para alegria dos franceses e turistas, o balão de ar quente que se tornou o símbolo dos Jogos de Paris voltará a subir todas as noites até o encerramento, no dia 8 de setembro.
França tenta recuperar atraso
A França esteve atrasada no investimento em seus atletas paralímpicos. Para se ter uma ideia, o Brasil conquistou na última edição, em Tóquio (2020), 72 medalhas no total (22 de ouro), a mesma quantidade obtida nos Jogos do Rio 2016. A França conquistou 54 medalhas no Japão e apenas 28 no Rio de Janeiro.
Com a perspectiva dos Jogos em Paris, o Estado investiu, mas os atletas continuam se queixando de custos muito mais elevados de equipamentos – próteses ou cadeiras de rodas adaptadas – e da falta de patrocinadores. As associações que trabalham na área veem uma melhora, já que dos 237 atletas franceses em busca de medalhas, 121 disputam os Paralímpícos pela primeira vez. A mais nova concorrente, promessa no atletismo, Marie N'Goussou, tem 15 anos. O objetivo do comitê francês é conquistar 20 medalhas de ouro, para ficar entre as oito principais nações paralímpicas.
A Agência Nacional do Esporte mobilizou empresas como a Airbus, por exemplo, para criar equipamentos de alta tecnologia, como próteses de corrida e bicicletas, para ajudar no desempenho dos atletas franceses, o que deve dar resultados. Mas é sempre a mesma problemática: para quem já é medalhista, é mais fácil encontrar patrocínio privado do que para iniciantes.
Parisienses voltam para casa
Cerca de 90% do público dos Jogos Paralímpicos será francês e desse total 75% de moradores da região parisiense. As férias de verão terminam na semana que vem, e o retorno das aulas acontece no dia 2 de setembro. Até a última quarta-feira (21), dos 2,5 milhões de ingressos colocados à venda, 800 mil ainda estavam disponíveis, segundo os organizadores.
As arenas mais bonitas da cidade, com vista para a Torre Eiffel, na praça da Concórdia ou no Grand Palais, são as que têm maior procura do público, com ingressos quase esgotados. Os que sobraram têm os preços inflacionados.
Das 22 modalidades da Paralimpíada, 10 venderam 90% dos ingressos; outras 15 estão com uma ocupação de 75% das arquibancadas. Os organizadores reservaram 80 mil ingressos para cadeirantes e portadores de outras deficiências, mas só venderam até quarta-feira 31 mil entradas.
Problemas de mobilidade
Os Jogos Paralímpicos sempre têm público menor do que a Olimpíada. Mas no caso de Paris, o sistema de transporte pode ser um agravante.
O metrô de Paris é considerado uma “corrida de obstáculos” para cadeirantes. A região de Ile de France, responsável pela oferta do transporte público na capital e arredores, investiu mais de € 2 bilhões para facilitar o acesso às linhas de metrô, ônibus e trens. Mas, atualmente, das 320 estações do metrô de Paris, que tem mais de um século, apenas 29 são acessíveis às pessoas com deficiência físico-motora. O número representa apenas 9% da rede.
Questionadas sobre esse atraso, as autoridades alegam que as obras de modernização do velho metrô de Paris são muito caras e dão o exemplo da linha 6, uma das mais antigas da cidade. As obras de adaptação dessa linha para cadeirantes têm custo estimado de € 1 bilhão e de seis a dez anos de prazo para a conclusão da reforma.
Diante do custo elevado, houve uma escolha do poder público. Os investimentos foram direcionados para a rede ferroviária da região metropolitana de Paris, com trens que também circulam na capital, e tem agora 240 das 268 estações acessíveis a todo tipo de usuário. A oferta é complementada por 65 linhas de ônibus, totalmente adaptadas a pessoas com mobilidade reduzida.
Portadores de Síndrome de Down lançam petição
A poucos dias do início dos Paralímpicos, portadores de Síndrome de Down iniciaram um movimento de reivindicação para o Comitê Olímpico Internacional (COI). Integrantes do Conselho Municipal de Jovens de Mornant, no sudeste da França, que tem alguns membros com Down, consideram injusto que o COI ofereça apenas três modalidades para pessoas com deficiência intelectual nos Paralímpicos – natação, atletismo e tênis de mesa.
Esse grupo lançou uma petição pública e espera recolher 500 mil assinaturas para alertar o COI que portadores de Síndrome de Down têm capacidade para praticar outros esportes de alto nível e poderiam ser incluídos nas competições. De certa forma eles têm razão, já que dos 4.400 atletas que vão disputar os Paralímpicos de Paris 2024, apenas 5% são pessoas com deficiência intelectual.
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