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França: arménio Missak Manouchian entra para o Panteão Nacional

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O arménio Missak Manouchian, símbolo da Resistência na Segunda Guerra Mundial, vai dar entrada no Panteão Nacional francês, esta terça-feira, 21 de Fevereiro. O anúncio foi feito pelo Presidente da Repúlica, Emmanuel Macron. Missak refugiou-se em França depois de ter sobrevivido ao genocídio arménio e ingressou na resistência comunista francesa em 1943, onde foi um activo membro.

Missak Manouchian foi assassinado aqui em França a 21 de Fevereiro de 1944 pelos alemães, juntamente com mais de 20 pessoas, depois de terem sido acusados de terrorismo. Entre os anos de 1940 a 1944, França estava ocupada pelas tropas alemãs e ficou submetida ao regime de Adolf Hitler. França decidiu, por isso, homenagear Manouchian pelo seu papel na libertação do país.

Em comunicado, o Palácio do Eliseu salienta que Manouchian "encarna os valores universais da liberdade, igualdade e fraternidade" e Emmanuel Macron saúdou mesmo a "bravura" e o "heroísmo silencioso" deste resistente arménio.

No Panteão Nacional, estão sepultadas as mais célebres personalidades que se destacaram do ponto de vista histórico e cultural no país. Missak Manuchian é o nono membro da Resistência a entrar no Panteão e dará entrada ao lado da esposa, Mélinéé Manuchian.

Em entrevista à RFI, Tigrane Yegavian, investigador arménio e professor de Relações Internacionais na Universidade de Schiller em Paris, começou por relembrar quem foi este casal.

RFI: Quem foi este casal?

Foi um casal excepcional em todos os termos. Falamos de vítimas do genocídio. Missak foi um homem que conseguiu escapar graças à ajuda de uma família curda e aderiu ao partido comunista francês, onde era um activo membro. Porém, não tinha nacionalidade francesa, mas era muito envolvido nas acções deste partido. Era um grande poeta também e a sua esposa, era, de facto, também uma grande militante do partido comunista francês. Era também uma figura feminista que participou na vida cultural da comunidade arménia em França, mas que também levou a cabo ajuda à arménia soviética porque havia um país que não era independente, mas que fazia parte da União Soviética que era a Arménia e lutavam por este ideal: ajudar o povo arménio e lutar contra a ocupação alemã porque consideravam que defender a França era como defender a Arménia porque estamos a falar de duas nações irmãs que partilham muitos pontos comuns.

RFI: Estamos aqui a falar, portanto, de um legado de resistência que deixa este casal?

Tigrane Yegavian: Um legado de resistência, uma história de amor também. Antes de ser morto, Missak escreveu uma carta magnífica à esposa dizendo que não tinha ódio para com os alemães, que tinha a certeza da vitória e pediu à esposa para casar, para ter um filho, mas a Mélinée nunca voltou a casar. Foi para a Arménia soviética nos anos 50 e depois voltou para França. Teve uma espécie de desilusão perante o regime soviético e morreu nos anos 80. Estamos a falar de um casal muito simbólico, que encarna a integração da comunidade arménia em França, uma comunidade perfeitamente integrada no tecido nacional francês, mas que também nunca esqueceu as raízes e a cultura arménia.

Pode contextualizar-nos como morreu Missak Machian?

Tigrane Yegavian: Missak Machian era o chefe de um bando/de uma organização clandestina de migrantes, judeus, arménios, que foram traídos por um antigo membro da organização. Foi no Mont-Valérien [perto de Paris] onde foi executado em 1944, alguns meses antes da libertação de Paris.

Não são muitos os estrangeiros a entrar no Panteão Nacional Francês. Estas duas figuras são os primeiros resistentes e comunistas estrangeiros a juntar-se ao templo das grandes figuras da República que estão patentes no Panteão. Na sua óptica, qual é a importância deste reconhecimento, numa altura em que foi aprovada aqui em França a Lei da Imigração, que restringe os direitos dos imigrantes no país?

Tigrane Yegavian: Este evento tem um forte valor simbólico porque é, de facto, o reconhecer o papel desta imigração comunista que defendeu França, que defendeu a pátria, que versou sangue pela pátria, mas eu vejo isto também como uma mensagem para a comunidade arménia de França porque França precisa também de símbolos para reconhecer o combate dos arménios no país, para a integração, mas também para a defesa dos valores. Estamos a viver num contexto muito difícil na Arménia, que perdeu agora a guerra contra o Azerbeijão, tem problemas de ocupação de partes do seu território. Portanto, temos aqui França que quer também testemunhar o seu apoio, a sua solidariedade ao povo arménio. Penso que esta é a primeira mensagem que devemos ter em conta. A segunda é o facto de reconhecer o papel da imigração, que faz parte da política de comunicação do Presidente Emmanuel Macron que, agora, tem também um governo mais à direita. Não nos podemos esquecer que isto é também uma mensagem que tem o seu valor simbólico.

É, portanto, um anúncio importante para a Arménia. Pergunto-lhe como é que esta notícia está a ser recebida no país? Já falou com algumas pessoas sobre este assunto? Quais é que estão a ser as reacções?

Tigrane Yegavian: As reacções são muito positivas porque Missak Manuchian é uma personagem muito conhecida no mundo arménio como poeta, como membro do partido comunista francês. É um orgulho nacional, um grande orgulho para a nação arménia inteira, para o país também. Há uma história muito bonita também de amizade entre a família do Manuchian e um grande cantor francês, cujos pais participaram também na resistência e faziam parte da mesma rede do casal Manuchian, então estamos a falar de uma história de amizade, de resitência, de heroísmo e uma história de fraternidade de armas entre franceses e arménios. As reacções são muito positivas, mas agora a pergunta que temos de colocar é que França vai continuar a apoiar, a garantir a segurança da Arménia que, de facto, está ameaçada com o Azerbeijão, que nunca renunciou a recomeçar a guerra contra o seu próprio território.

Como é que França pode intervir nesta questão?

Tigrane Yegavian: França desempenha um papel importantíssimo desde 2020 e mais recentemente 2023com a limpeza étnica dos arménio do Arssar. França está a desempenhar um papel diplomático [na sequência do Conselho de Segurança das Nações Unidas] e também um papel militar mais discreto, mas França começou a entregar armamento defensivo para proteger o território arménio porque há uma real ameaça no sul, que é uma região muito vulnerável onde o Azerbeijão tem projectos para ter uma ligação terrestre directa e isto de facto constitui um grande perigo para a segurança e o futuro da Arménia, que é um país fraco, um país que não tem muita população, que é um país isolado, a Arménia espera muito de França. Há uma grande esperança, uma fantasia acerca de França, mas, de facto, França está a tornar-se não só um amigo, como também um aliado da Arménia, que, de facto, é algo bastante excepcional porque temos de ter em conta que a Arménia faz parte ainda de um sistema de aliança militar com a Rússia, embora a Rússia se tenha afastado muito da Arménia estes últimos anos.

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Missak Manouchian foi assassinado aqui em França a 21 de Fevereiro de 1944 pelos alemães, juntamente com mais de 20 pessoas, depois de terem sido acusados de terrorismo. Entre os anos de 1940 a 1944, França estava ocupada pelas tropas alemãs e ficou submetida ao regime de Adolf Hitler. França decidiu, por isso, homenagear Manouchian pelo seu papel na libertação do país.

Em comunicado, o Palácio do Eliseu salienta que Manouchian "encarna os valores universais da liberdade, igualdade e fraternidade" e Emmanuel Macron saúdou mesmo a "bravura" e o "heroísmo silencioso" deste resistente arménio.

No Panteão Nacional, estão sepultadas as mais célebres personalidades que se destacaram do ponto de vista histórico e cultural no país. Missak Manuchian é o nono membro da Resistência a entrar no Panteão e dará entrada ao lado da esposa, Mélinéé Manuchian.

Em entrevista à RFI, Tigrane Yegavian, investigador arménio e professor de Relações Internacionais na Universidade de Schiller em Paris, começou por relembrar quem foi este casal.

RFI: Quem foi este casal?

Foi um casal excepcional em todos os termos. Falamos de vítimas do genocídio. Missak foi um homem que conseguiu escapar graças à ajuda de uma família curda e aderiu ao partido comunista francês, onde era um activo membro. Porém, não tinha nacionalidade francesa, mas era muito envolvido nas acções deste partido. Era um grande poeta também e a sua esposa, era, de facto, também uma grande militante do partido comunista francês. Era também uma figura feminista que participou na vida cultural da comunidade arménia em França, mas que também levou a cabo ajuda à arménia soviética porque havia um país que não era independente, mas que fazia parte da União Soviética que era a Arménia e lutavam por este ideal: ajudar o povo arménio e lutar contra a ocupação alemã porque consideravam que defender a França era como defender a Arménia porque estamos a falar de duas nações irmãs que partilham muitos pontos comuns.

RFI: Estamos aqui a falar, portanto, de um legado de resistência que deixa este casal?

Tigrane Yegavian: Um legado de resistência, uma história de amor também. Antes de ser morto, Missak escreveu uma carta magnífica à esposa dizendo que não tinha ódio para com os alemães, que tinha a certeza da vitória e pediu à esposa para casar, para ter um filho, mas a Mélinée nunca voltou a casar. Foi para a Arménia soviética nos anos 50 e depois voltou para França. Teve uma espécie de desilusão perante o regime soviético e morreu nos anos 80. Estamos a falar de um casal muito simbólico, que encarna a integração da comunidade arménia em França, uma comunidade perfeitamente integrada no tecido nacional francês, mas que também nunca esqueceu as raízes e a cultura arménia.

Pode contextualizar-nos como morreu Missak Machian?

Tigrane Yegavian: Missak Machian era o chefe de um bando/de uma organização clandestina de migrantes, judeus, arménios, que foram traídos por um antigo membro da organização. Foi no Mont-Valérien [perto de Paris] onde foi executado em 1944, alguns meses antes da libertação de Paris.

Não são muitos os estrangeiros a entrar no Panteão Nacional Francês. Estas duas figuras são os primeiros resistentes e comunistas estrangeiros a juntar-se ao templo das grandes figuras da República que estão patentes no Panteão. Na sua óptica, qual é a importância deste reconhecimento, numa altura em que foi aprovada aqui em França a Lei da Imigração, que restringe os direitos dos imigrantes no país?

Tigrane Yegavian: Este evento tem um forte valor simbólico porque é, de facto, o reconhecer o papel desta imigração comunista que defendeu França, que defendeu a pátria, que versou sangue pela pátria, mas eu vejo isto também como uma mensagem para a comunidade arménia de França porque França precisa também de símbolos para reconhecer o combate dos arménios no país, para a integração, mas também para a defesa dos valores. Estamos a viver num contexto muito difícil na Arménia, que perdeu agora a guerra contra o Azerbeijão, tem problemas de ocupação de partes do seu território. Portanto, temos aqui França que quer também testemunhar o seu apoio, a sua solidariedade ao povo arménio. Penso que esta é a primeira mensagem que devemos ter em conta. A segunda é o facto de reconhecer o papel da imigração, que faz parte da política de comunicação do Presidente Emmanuel Macron que, agora, tem também um governo mais à direita. Não nos podemos esquecer que isto é também uma mensagem que tem o seu valor simbólico.

É, portanto, um anúncio importante para a Arménia. Pergunto-lhe como é que esta notícia está a ser recebida no país? Já falou com algumas pessoas sobre este assunto? Quais é que estão a ser as reacções?

Tigrane Yegavian: As reacções são muito positivas porque Missak Manuchian é uma personagem muito conhecida no mundo arménio como poeta, como membro do partido comunista francês. É um orgulho nacional, um grande orgulho para a nação arménia inteira, para o país também. Há uma história muito bonita também de amizade entre a família do Manuchian e um grande cantor francês, cujos pais participaram também na resistência e faziam parte da mesma rede do casal Manuchian, então estamos a falar de uma história de amizade, de resitência, de heroísmo e uma história de fraternidade de armas entre franceses e arménios. As reacções são muito positivas, mas agora a pergunta que temos de colocar é que França vai continuar a apoiar, a garantir a segurança da Arménia que, de facto, está ameaçada com o Azerbeijão, que nunca renunciou a recomeçar a guerra contra o seu próprio território.

Como é que França pode intervir nesta questão?

Tigrane Yegavian: França desempenha um papel importantíssimo desde 2020 e mais recentemente 2023com a limpeza étnica dos arménio do Arssar. França está a desempenhar um papel diplomático [na sequência do Conselho de Segurança das Nações Unidas] e também um papel militar mais discreto, mas França começou a entregar armamento defensivo para proteger o território arménio porque há uma real ameaça no sul, que é uma região muito vulnerável onde o Azerbeijão tem projectos para ter uma ligação terrestre directa e isto de facto constitui um grande perigo para a segurança e o futuro da Arménia, que é um país fraco, um país que não tem muita população, que é um país isolado, a Arménia espera muito de França. Há uma grande esperança, uma fantasia acerca de França, mas, de facto, França está a tornar-se não só um amigo, como também um aliado da Arménia, que, de facto, é algo bastante excepcional porque temos de ter em conta que a Arménia faz parte ainda de um sistema de aliança militar com a Rússia, embora a Rússia se tenha afastado muito da Arménia estes últimos anos.

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