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Paris acolhe nova edição da maior feira do sector da defesa em contexto de tensão global
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Em Villepinte, nas imediações de Paris, decorre desde o dia 17 de Junho e ainda até esta sexta-feira a edição 2024 da Eurosatory, a maior feira mundial da área de defesa e segurança, um sector em pleno crescimento, dado o aumento dos focos de conflito no mundo. Este ano, mais de 2 mil empresas vindas de 61 países participam neste evento algo discreto aos olhos do grande público que acontece de dois em dois anos desde 1967.
Para além da França, o país mais representado neste certame são os Estados Unidos, outros países como a China, a Coreia do Sul, a Alemanha, a Itália ou ainda Espanha tendo igualmente uma forte presença.
Particularidade desta edição, a Ucrânia também participa no evento, o grande ausente sendo a Rússia, enquanto Israel viu a sua participação ser cancelada pelo executivo de Emmanuel Macron, devido à situação vigente no Médio Oriente. Esta decisão acabou por ser invalidada pela justiça francesa na terça-feira, mas já demasiado tarde para as 74 empresas israelitas inicialmente previstas no certame.
O contexto mundial, com vários conflitos de alta intensidade, está de facto muito presente nesta feira que se estende por 2500 metros quadrados, indício de que têm vindo a aumentar as despesas de defesa e segurança. Isto aliás tem sido noticiado por institutos de pesquisa que ainda esta semana teceram alertas para o que consideram como uma "corrida ao armamento". Só a título de exemplo, dados oficiais apontam que, a nível europeu, o orçamento reservado à defesa aumentou de 20%, em 300 mil milhões de Euros desde a invasão da Ucrânia pela Rússia em Fevereiro de 2022.
Foi por conseguinte nesta atmosfera peculiar que a RFI foi ao encontro dos operadores do sector da defesa e segurança no Eurosatory. Um ponto de encontro importante, como não deixaram de sublinhar alguns dos participantes lusófonos, nomeadamente o Coronel Armando Lemos, director-executivo da Associação Brasileira das Indústrias de Defesa e Segurança (ABIMDE), que coordena a presença de 13 empresas do seu país no evento.
Na sua óptica, a Eurosatory "é uma das principais feiras de defesa do mundo e a maior feira que atende às forças de terra. É uma feira muito importante, porque é uma feira pela qual passam delegações do mundo inteiro, uma feira em que a gente consegue também estar actualizado, verificar quais são as evoluções tecnológicas, quais são as tendências de produtos nessa área de defesa que estão ocorrendo no mundo e principalmente agora, com esses conflitos que o mundo tem vivido, a Ucrânia ali, a questão de Israel".
Ao avaliar a situação actual do mercado da defesa, o militar refere que "com esses conflitos que estão ocorrendo, esse mercado tem muita força, tem uma busca muito grande por produtos nessa área. E o Brasil tem uma política de não vender para países em guerra. Então o Brasil é um pouco mais limitado nisso. Mas o mundo todo está a vender".
Presente igualmente nesta feira está uma empresa portuguesa com cerca de 130 trabalhadores, a EID, que fabrica sistemas de comunicação terrestre e naval. A responsável da comunicação dessa sociedade, Sandra Perestrello, tem igualmente a percepção de que aumentaram os orçamentos aplicados à defesa e segurança.
"Nota-se que há um maior investimento, nota-se que há uma maior diversidade de clientes. Portanto, a EID há uns anos trabalhava com as marinhas e os exércitos e era uma relação de 'negócio para negócio' directamente com os governos. E hoje em dia também há uma diversidade de empresas que procuram a EID. Essa empresa também se relaciona com outro tipo de parceiros no mercado (...) Tem havido uma grande evolução nesse aspecto também. E é claro que ao longo destes anos, com todo o panorama político, económico e como sabemos, tem sido complicado. E na área da defesa, tem um impacto grande", refere a responsável da comunicação da EID.
No mesmo sentido, o francês Benoit Danne, fundador e presidente da Aiga Concept, pequena empresa baseada em Viseu que participa pela quarta vez no evento, dá conta de um crescimento do mercado da segurança. O empresário que fornece contentores para o tratamento de águas residuais ao exército francês, à NATO e à ONU dá designadamente conta de uma evolução dos seus produtos e uma diversificação dos locais de intervenção.
"Trouxemos o nosso equipamento que tem em curso de certificação pela tropa francesa e o equipamento de tratamento de água, composto de dois contentores que vão ser utilizados para a defesa da fronteira europeias no leste da Europa e que tem a particularidade de tem sete etapas de tratamento para tratar água potável para um quartel e para o exército francês", explica Benoit Danne. Ao referir estar "presente em vários países no mundo", o empresário sublinha que "antigamente (a Aiga) ia muito para África e ainda está presente em África, mas neste momento está mais focalizada no leste da Europa para proteger as fronteiras europeias com a Rússia e a fronteira com a Ucrânia."
Tal como os restantes participantes entrevistados pela RFI, o presidente da Aiga Concept constata que a edição 2024 da Eurosatory "parece que ser muito maior do que nos outros anos". Questionado sobre o aumento generalizado das tensões no mundo e o crescimento dos gastos na sua área de actividade, Benoit Danne prefere mostrar-se pragmático. "Eu costumo dizer que nós somos uma empresa que ajuda à pacificação, porque todo o dinheiro que vão gastar em tratamento de água, em limpeza do ambiente com as nossas empresas e os nossos produtos, não gastam em armamento. Portanto, eu gostava que todos os países do mundo fizessem como o exército francês que compra um sistema de tratamento de água potável, de águas residuais, para ter a certeza de não poluir os países onde vão fazer a intervenção", conclui.
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Em Villepinte, nas imediações de Paris, decorre desde o dia 17 de Junho e ainda até esta sexta-feira a edição 2024 da Eurosatory, a maior feira mundial da área de defesa e segurança, um sector em pleno crescimento, dado o aumento dos focos de conflito no mundo. Este ano, mais de 2 mil empresas vindas de 61 países participam neste evento algo discreto aos olhos do grande público que acontece de dois em dois anos desde 1967.
Para além da França, o país mais representado neste certame são os Estados Unidos, outros países como a China, a Coreia do Sul, a Alemanha, a Itália ou ainda Espanha tendo igualmente uma forte presença.
Particularidade desta edição, a Ucrânia também participa no evento, o grande ausente sendo a Rússia, enquanto Israel viu a sua participação ser cancelada pelo executivo de Emmanuel Macron, devido à situação vigente no Médio Oriente. Esta decisão acabou por ser invalidada pela justiça francesa na terça-feira, mas já demasiado tarde para as 74 empresas israelitas inicialmente previstas no certame.
O contexto mundial, com vários conflitos de alta intensidade, está de facto muito presente nesta feira que se estende por 2500 metros quadrados, indício de que têm vindo a aumentar as despesas de defesa e segurança. Isto aliás tem sido noticiado por institutos de pesquisa que ainda esta semana teceram alertas para o que consideram como uma "corrida ao armamento". Só a título de exemplo, dados oficiais apontam que, a nível europeu, o orçamento reservado à defesa aumentou de 20%, em 300 mil milhões de Euros desde a invasão da Ucrânia pela Rússia em Fevereiro de 2022.
Foi por conseguinte nesta atmosfera peculiar que a RFI foi ao encontro dos operadores do sector da defesa e segurança no Eurosatory. Um ponto de encontro importante, como não deixaram de sublinhar alguns dos participantes lusófonos, nomeadamente o Coronel Armando Lemos, director-executivo da Associação Brasileira das Indústrias de Defesa e Segurança (ABIMDE), que coordena a presença de 13 empresas do seu país no evento.
Na sua óptica, a Eurosatory "é uma das principais feiras de defesa do mundo e a maior feira que atende às forças de terra. É uma feira muito importante, porque é uma feira pela qual passam delegações do mundo inteiro, uma feira em que a gente consegue também estar actualizado, verificar quais são as evoluções tecnológicas, quais são as tendências de produtos nessa área de defesa que estão ocorrendo no mundo e principalmente agora, com esses conflitos que o mundo tem vivido, a Ucrânia ali, a questão de Israel".
Ao avaliar a situação actual do mercado da defesa, o militar refere que "com esses conflitos que estão ocorrendo, esse mercado tem muita força, tem uma busca muito grande por produtos nessa área. E o Brasil tem uma política de não vender para países em guerra. Então o Brasil é um pouco mais limitado nisso. Mas o mundo todo está a vender".
Presente igualmente nesta feira está uma empresa portuguesa com cerca de 130 trabalhadores, a EID, que fabrica sistemas de comunicação terrestre e naval. A responsável da comunicação dessa sociedade, Sandra Perestrello, tem igualmente a percepção de que aumentaram os orçamentos aplicados à defesa e segurança.
"Nota-se que há um maior investimento, nota-se que há uma maior diversidade de clientes. Portanto, a EID há uns anos trabalhava com as marinhas e os exércitos e era uma relação de 'negócio para negócio' directamente com os governos. E hoje em dia também há uma diversidade de empresas que procuram a EID. Essa empresa também se relaciona com outro tipo de parceiros no mercado (...) Tem havido uma grande evolução nesse aspecto também. E é claro que ao longo destes anos, com todo o panorama político, económico e como sabemos, tem sido complicado. E na área da defesa, tem um impacto grande", refere a responsável da comunicação da EID.
No mesmo sentido, o francês Benoit Danne, fundador e presidente da Aiga Concept, pequena empresa baseada em Viseu que participa pela quarta vez no evento, dá conta de um crescimento do mercado da segurança. O empresário que fornece contentores para o tratamento de águas residuais ao exército francês, à NATO e à ONU dá designadamente conta de uma evolução dos seus produtos e uma diversificação dos locais de intervenção.
"Trouxemos o nosso equipamento que tem em curso de certificação pela tropa francesa e o equipamento de tratamento de água, composto de dois contentores que vão ser utilizados para a defesa da fronteira europeias no leste da Europa e que tem a particularidade de tem sete etapas de tratamento para tratar água potável para um quartel e para o exército francês", explica Benoit Danne. Ao referir estar "presente em vários países no mundo", o empresário sublinha que "antigamente (a Aiga) ia muito para África e ainda está presente em África, mas neste momento está mais focalizada no leste da Europa para proteger as fronteiras europeias com a Rússia e a fronteira com a Ucrânia."
Tal como os restantes participantes entrevistados pela RFI, o presidente da Aiga Concept constata que a edição 2024 da Eurosatory "parece que ser muito maior do que nos outros anos". Questionado sobre o aumento generalizado das tensões no mundo e o crescimento dos gastos na sua área de actividade, Benoit Danne prefere mostrar-se pragmático. "Eu costumo dizer que nós somos uma empresa que ajuda à pacificação, porque todo o dinheiro que vão gastar em tratamento de água, em limpeza do ambiente com as nossas empresas e os nossos produtos, não gastam em armamento. Portanto, eu gostava que todos os países do mundo fizessem como o exército francês que compra um sistema de tratamento de água potável, de águas residuais, para ter a certeza de não poluir os países onde vão fazer a intervenção", conclui.
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