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96 - "A farda: o fardo que me afunda a alma", com Silvio Queiroz

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Filho de um militar do Exército que trabalhou no DOI-CODI com o então major Carlos Alberto Brilhante Ustra, torturador responsável pela unidade do aparelho repressor da ditadura militar em São Paulo na década de 1970, o jornalista Silvio Queiroz revisita a história do próprio pai, Leomar Vasconcelos de Queiroz, na tentativa de esclarecer o grau de envolvimento dele nas torturas praticadas contra os opositores do regime.

Produção e apresentação: Carlos Alberto Jr.

Contato: roteirices@gmail.com

Poema de Silvio Queiroz para o pai, Leomar Vasconcelos de Queiroz.

Capitão (17/4/17)

para meu pai

A farda: o fardo

que me afunda a alma

com seu peso farto

A fenda no meu âmago

amargo

de água do mar

engolida à força de um caldo

“Mão amiga, braço forte”

— aprendi de tanto ler

nas paredes de quartel

Braços fortes, ombros largos

nos instantes raros

de conforto no meu quarto:

papai, capitão,

amor fardado

graduado em divisas:

três estrelas

alguns estrilos

broncas ditas

entre dentes brancos

encravados no rosto moreno

Mãos firmes segurando

na praia

pra eu não me afogar

nem me perder

Pai...

onde estás que só te escuto

nos sonhos?

Aonde foi parar

teu ar risonho?

Uma noite, olhar tristonho

na outra, todo o garbo

dos abraços largos,

meus braços agarrados

no teu pescoço,

o perfume da loção de barba

gravado em meu olfato semimorto

Uma vez, me visita velho

na outra, de novo moço

E eu me despedaço

afoito

como quando, ainda criança,

não me cansava

de inventar disfarces

pra me parecer contigo

Depois, adolescente

era a imagem humana

do inimigo

em várias frentes:

política

poética

estética

ideológica

Amor traçado em linhas tortas,

torturado de memórias

obscuras, fantasmagóricas

História riscada a a bico de pena

nas folhas finas

de uma alma ainda pequena

Retalhos de afeto,

estilhaços carinhosos

remontados em colagem

num coração pra sempre inquieto,

que pulsa aos sobressaltos

Anjos e demônios

tomam as noites de assalto

e se entrelaçam

numa dança incerta

— mas dançam de mãos dadas,

e a alma se conforta

  continue reading

251 episódios

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Poema de Silvio Queiroz para o pai, Leomar Vasconcelos de Queiroz.

Capitão (17/4/17)

para meu pai

A farda: o fardo

que me afunda a alma

com seu peso farto

A fenda no meu âmago

amargo

de água do mar

engolida à força de um caldo

“Mão amiga, braço forte”

— aprendi de tanto ler

nas paredes de quartel

Braços fortes, ombros largos

nos instantes raros

de conforto no meu quarto:

papai, capitão,

amor fardado

graduado em divisas:

três estrelas

alguns estrilos

broncas ditas

entre dentes brancos

encravados no rosto moreno

Mãos firmes segurando

na praia

pra eu não me afogar

nem me perder

Pai...

onde estás que só te escuto

nos sonhos?

Aonde foi parar

teu ar risonho?

Uma noite, olhar tristonho

na outra, todo o garbo

dos abraços largos,

meus braços agarrados

no teu pescoço,

o perfume da loção de barba

gravado em meu olfato semimorto

Uma vez, me visita velho

na outra, de novo moço

E eu me despedaço

afoito

como quando, ainda criança,

não me cansava

de inventar disfarces

pra me parecer contigo

Depois, adolescente

era a imagem humana

do inimigo

em várias frentes:

política

poética

estética

ideológica

Amor traçado em linhas tortas,

torturado de memórias

obscuras, fantasmagóricas

História riscada a a bico de pena

nas folhas finas

de uma alma ainda pequena

Retalhos de afeto,

estilhaços carinhosos

remontados em colagem

num coração pra sempre inquieto,

que pulsa aos sobressaltos

Anjos e demônios

tomam as noites de assalto

e se entrelaçam

numa dança incerta

— mas dançam de mãos dadas,

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