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Gaza: “Estamos perante uma verdadeira tragédia humanitária”

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Quando passam seis meses da guerra entre Israel e o Hamas, a RFI entrevistou o director executivo da Agência da ONU para as infra-estruturas e gestão de projectos, Jorge Moreira da Silva, que visitou há dois meses a Faixa de Gaza. O alto funcionário da ONU descreve uma situação dramática no enclave, alertando que uma operação em Rafah irá representar uma “tragédia de enorme escala”.

O senhor visitou recentemente Gaza. Que situação encontrou no terreno?

Fui a Gaza há dois meses para, desde logo, perceber as condições que permitam acelerar a entrada e a distribuição de ajuda humanitária no terreno e para me encontrar com a minha equipa. A situação que encontrei, na altura, foi uma situação dramática, trágica que, obviamente, só se agravou nos últimos dois meses.

Como está a ser feita a gestão da ajuda humanitária no terreno?

O grande problema é que estamos a falar de um contexto de guerra e, em contextos de guerra, é sempre muito difícil desenvolver operações de ajuda humanitária, mas nunca como neste caso. Costumamos dizer que até as guerras têm regras e uma das regras é assegurar que a ajuda humanitária chegue àqueles que mais precisam e que a distribuição seja segura, que as pessoas que estão a ajudar não estão em risco.

Ora, neste caso, tudo isto está a acontecer. Os civis estão a ser alvo de bombardeamentos e, portanto, temos perdas civis. Primeiro do lado de Israel, no dia 7 de Outubro, com o ataque hediondo do Hamas que matou mais de 1000 pessoas e depois, nos últimos meses, com mais de 33 mil palestinianos que perderam a vida.

Temos logo aqui um problema trágico em que civis inocentes estão a ser os mais penalizados por esta guerra. E depois há uma segunda dimensão que passa pelo facto de não se conseguir fazer a distribuição da ajuda. Temos camiões com alimentos, medicamentos, água que estão prontos para entrar, mas a decisão de fiscalização e de inspecção dos camiões torna essa entrada muito lenta. Em alguns casos, pode demorar entre 4 a 30 dias, estando ali apenas a poucos quilómetros do enclave. E depois, a parte mais complicada, é que dentro de Gaza não estão verificadas as condições de segurança. Portanto, só para lhe dar um exemplo, há muito que não chega a ajuda humanitária ao norte de Gaza. Nos últimos meses, só 40% de todos os pedidos de distribuição de alimentos no interior de Gaza foram rejeitados. Porquê? Porque não há condições de segurança.

Sabe-se que há determinados artigos que não entram no território. Como é casos dos brinquedos…

Essa é outra dimensão que torna o problema da distribuição da ajuda ainda mais difícil. Trata-se de um número muito significativo de materiais que são rejeitados, por serem considerados de uso múltiplo. Isto é, podem ter componentes que podem servir para o fabrico de armas ou [de materiais] de agressão.

E, portanto, Israel tem tido uma posição muito restritiva em relação a alguns artigos. As Nações Unidas têm lamentado e denunciado essa situação,porque às vezes basta uma única caixa num camião ser rejeitada para que todo o camião seja rejeitado. O que significa que temos toneladas e toneladas de ajuda humanitária a serem rejeitadas.

Nas Nações Unidas e em toda a comunidade internacional, ligada à ajuda humanitária, temos estado empenhados em exigir um cessar-fogo, a libertação incondicional de todos os reféns e a garantia de que a ajuda humanitária possa chegar a quem mais precisa. Temos trabalhado de forma a tornar as coisas mais rápidas, com mecanismos de fiscalização e de monitorização nas fronteira, assegurando que aquilo que entra em Gaza é aquilo que faz mesmo falta. Temos estado a desenvolver um mecanismo para ter uma logística centralizada e coordenada daquilo que entra em Gaza. Mas nada consegue substituir uma coisa que é parar o conflito e garantir um cessar-fogo.

Cinco organizações não governamentais submeteram uma petição no Supremo Tribunal israelita na esperança das autoridades facilitarem a chegada da ajuda humanitária ao enclave. Israel tinha até hoje, 10 de Abril, para apresentar uma explicação. Ontem, as autoridades informaram que entraram em Gaza mais de 450 camiões. Trata-se de uma coincidência?

Não posso e nem quero comentar.

O que é que representa esta ajuda para a população?

Antes da guerra, 500 camiões entravam diariamente em Gaza. Nos últimos seis meses, nunca entraram mais de 200 camiões por dia, excepto quando houve aquela trégua momentânea. De resto, temos estado sempre muito abaixo dos 200 camiões por dia, na maior parte dos casos cerca de 100 camiões. Portanto, isto dá para perceber que nós estamos muito abaixo daquilo que é necessário. Os meus colegas de outras agências, nomeadamente a Organização Mundial da Saúde e Programa Alimentar Mundial, têm alertado para o facto de mais de 1 milhão de cidadãos estar numa situação de fome iminente em Gaza. Apenas 30% dos cuidados básicos de saúde estão a ser verificados. Não há água potável em Gaza e em mais de 80% dos casos a utilização da água é feita de uma forma não segura. Não há medicamentos. Estamos a assistir ao surto de doenças e a OMS tem alertado para isso.

Finalmente, ao fim de seis meses, o Conselho de Segurança conseguiu chegar a acordo que estipula um cessar-fogo humanitário, a libertação incondicional dos reféns e a garantia de que toda a ajuda humanitária possa chegar àqueles que mais precisam e em condições de segurança.Que os agentes humanitários não corram risco de vida.

Eu perdi, na minha equipa, um colega da ONU. Morreu ele e morreram 27 pessoas da família dele, num só ataque. Morreram 178 pessoas do PNUD e na UNDP também houve perda de vidas. As pessoas que estão em Gaza, em nome das Nações Unidas, das ONGs, estão lá para defender a população e elas próprias estão em risco de vida. Isto nunca aconteceu em nenhum conflito.

Tem sido muitas as vozes a denunciar que a fome está a ser utilizada como uma arma de guerra. Há esse risco?

Eu não quero estar nesse tipo de processo de intenção. Não é o papel das Nações Unidas.

Mas daquilo que viu no terreno?

No terreno a evidência é que um terço da população em Gaza está em situação de fome iminente. Hoje não há nenhuma criança que tenha acesso à educação. Sabemos que 70% das casas foram destruídas, que não há acesso à água potável e que a distribuição de combustível é muito limitada. Isso são evidências e, portanto, estamos perante uma verdadeira tragédia humanitária.

No plano diplomático, continuam as conversações entre o Hamas e Israel, numa altura em que o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu avisou que há uma data para a nova operação em Rafah. Que implicações poderá ter esta operação nas negociações de um cessar-fogo?

Como todos temos dito, a começar pelo secretário geral António Guterres, pelos vários protagonistas no plano internacional e no plano nacional, a nossa posição é muito clara. Um ataque em Rafah seria acrescentar uma nova dimensão trágica. As pessoas já tiveram que sair do Norte para o Sul por causa dos bombardeamentos. Houve um ultimato [para que as pessoas deixassem o Norte e fossem para o Sul). Nós sempre dissemos que esse ultimato causaria um enorme dano. Agora as pessoas não têm para onde ir, porque o Norte está tudo destruído. Se houver um ataque no Sul, é evidente que estamos a falar de uma tragédia de enorme escala e, portanto, eu espero sinceramente que isso não venha a ocorrer.

A secretária- geral adjunta da ONU, Amina Mohammed, lamentou o facto da humanidade e a comunidade internacional terem perdido a bússola moral em relação à Faixa de Gaza. Em mais de seis meses de guerra, já morreram pelo 33.000 pessoas. Como é que ainda não se conseguiu parar esta guerra?

Já nos faltam adjectivos para qualificar esta guerra. Eu já não encontro mais adjectivos. A cada semana que passa as coisas pioram e aquilo que pensávamos que já não era possível ultrapassar é ultrapassado. Estamos perante uma enorme tragédia. Como eu tenho dito, desde o primeiro dia, aquilo que está em causa é uma perda do sentido de humanidade.

O que poderiam fazer mais as Nações Unidas? Esse impasse é revelador da urgência de uma reforma do Conselho de Segurança das Nações Unidas?

A ONU é a Organização das Nações Unidas e, portanto, os Estados é que são protagonistas das decisões. São eles os decisores. As agências da ONU concretizam no terreno aquilo que é possível no âmbito das decisões que são tomadas pelos Estados. Aquilo que tem acontecido, neste caso, é que o secretariado, o lado operacional das Nações Unidas, tem sido muito vocal e enfático, a começar pelo Secretário-Geral António Guterres, denunciando a situação. Julgo que isso ajudou a que os Estados fossem não só tomando consciência, mas tomando decisões no sentido daquilo a que fomos alertando, nomeadamente a Resolução do Conselho de Segurança das Nações Unidas.

Como é que estão as relações entre as Nações Unidas e Israel?

As Nações Unidas têm demonstrado uma independência em relação a todas as posições em conflito. Mas não se deve confundir essa independência com a ausência de voz. Portanto, as Nações Unidas não tomam parte, mas não podem deixar de ir denunciando a situação trágica que se vai vivendo, procurando mobilizar as partes para uma alteração de posição.

Por isso é que, desde o primeiro dia, as Nações Unidas têm condenado de uma forma veemente o ataque que o Hamas fez a Israel, defendendo que é necessário libertar os reféns israelitas que estão em Gaza. Nós também temos dito que os civis palestinianos não podem pagar o preço pelos actos perpetrados pelo Hamas. Espero que o sentido de humanidade prevaleça e que a paz regresse àquele território.

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Quando passam seis meses da guerra entre Israel e o Hamas, a RFI entrevistou o director executivo da Agência da ONU para as infra-estruturas e gestão de projectos, Jorge Moreira da Silva, que visitou há dois meses a Faixa de Gaza. O alto funcionário da ONU descreve uma situação dramática no enclave, alertando que uma operação em Rafah irá representar uma “tragédia de enorme escala”.

O senhor visitou recentemente Gaza. Que situação encontrou no terreno?

Fui a Gaza há dois meses para, desde logo, perceber as condições que permitam acelerar a entrada e a distribuição de ajuda humanitária no terreno e para me encontrar com a minha equipa. A situação que encontrei, na altura, foi uma situação dramática, trágica que, obviamente, só se agravou nos últimos dois meses.

Como está a ser feita a gestão da ajuda humanitária no terreno?

O grande problema é que estamos a falar de um contexto de guerra e, em contextos de guerra, é sempre muito difícil desenvolver operações de ajuda humanitária, mas nunca como neste caso. Costumamos dizer que até as guerras têm regras e uma das regras é assegurar que a ajuda humanitária chegue àqueles que mais precisam e que a distribuição seja segura, que as pessoas que estão a ajudar não estão em risco.

Ora, neste caso, tudo isto está a acontecer. Os civis estão a ser alvo de bombardeamentos e, portanto, temos perdas civis. Primeiro do lado de Israel, no dia 7 de Outubro, com o ataque hediondo do Hamas que matou mais de 1000 pessoas e depois, nos últimos meses, com mais de 33 mil palestinianos que perderam a vida.

Temos logo aqui um problema trágico em que civis inocentes estão a ser os mais penalizados por esta guerra. E depois há uma segunda dimensão que passa pelo facto de não se conseguir fazer a distribuição da ajuda. Temos camiões com alimentos, medicamentos, água que estão prontos para entrar, mas a decisão de fiscalização e de inspecção dos camiões torna essa entrada muito lenta. Em alguns casos, pode demorar entre 4 a 30 dias, estando ali apenas a poucos quilómetros do enclave. E depois, a parte mais complicada, é que dentro de Gaza não estão verificadas as condições de segurança. Portanto, só para lhe dar um exemplo, há muito que não chega a ajuda humanitária ao norte de Gaza. Nos últimos meses, só 40% de todos os pedidos de distribuição de alimentos no interior de Gaza foram rejeitados. Porquê? Porque não há condições de segurança.

Sabe-se que há determinados artigos que não entram no território. Como é casos dos brinquedos…

Essa é outra dimensão que torna o problema da distribuição da ajuda ainda mais difícil. Trata-se de um número muito significativo de materiais que são rejeitados, por serem considerados de uso múltiplo. Isto é, podem ter componentes que podem servir para o fabrico de armas ou [de materiais] de agressão.

E, portanto, Israel tem tido uma posição muito restritiva em relação a alguns artigos. As Nações Unidas têm lamentado e denunciado essa situação,porque às vezes basta uma única caixa num camião ser rejeitada para que todo o camião seja rejeitado. O que significa que temos toneladas e toneladas de ajuda humanitária a serem rejeitadas.

Nas Nações Unidas e em toda a comunidade internacional, ligada à ajuda humanitária, temos estado empenhados em exigir um cessar-fogo, a libertação incondicional de todos os reféns e a garantia de que a ajuda humanitária possa chegar a quem mais precisa. Temos trabalhado de forma a tornar as coisas mais rápidas, com mecanismos de fiscalização e de monitorização nas fronteira, assegurando que aquilo que entra em Gaza é aquilo que faz mesmo falta. Temos estado a desenvolver um mecanismo para ter uma logística centralizada e coordenada daquilo que entra em Gaza. Mas nada consegue substituir uma coisa que é parar o conflito e garantir um cessar-fogo.

Cinco organizações não governamentais submeteram uma petição no Supremo Tribunal israelita na esperança das autoridades facilitarem a chegada da ajuda humanitária ao enclave. Israel tinha até hoje, 10 de Abril, para apresentar uma explicação. Ontem, as autoridades informaram que entraram em Gaza mais de 450 camiões. Trata-se de uma coincidência?

Não posso e nem quero comentar.

O que é que representa esta ajuda para a população?

Antes da guerra, 500 camiões entravam diariamente em Gaza. Nos últimos seis meses, nunca entraram mais de 200 camiões por dia, excepto quando houve aquela trégua momentânea. De resto, temos estado sempre muito abaixo dos 200 camiões por dia, na maior parte dos casos cerca de 100 camiões. Portanto, isto dá para perceber que nós estamos muito abaixo daquilo que é necessário. Os meus colegas de outras agências, nomeadamente a Organização Mundial da Saúde e Programa Alimentar Mundial, têm alertado para o facto de mais de 1 milhão de cidadãos estar numa situação de fome iminente em Gaza. Apenas 30% dos cuidados básicos de saúde estão a ser verificados. Não há água potável em Gaza e em mais de 80% dos casos a utilização da água é feita de uma forma não segura. Não há medicamentos. Estamos a assistir ao surto de doenças e a OMS tem alertado para isso.

Finalmente, ao fim de seis meses, o Conselho de Segurança conseguiu chegar a acordo que estipula um cessar-fogo humanitário, a libertação incondicional dos reféns e a garantia de que toda a ajuda humanitária possa chegar àqueles que mais precisam e em condições de segurança.Que os agentes humanitários não corram risco de vida.

Eu perdi, na minha equipa, um colega da ONU. Morreu ele e morreram 27 pessoas da família dele, num só ataque. Morreram 178 pessoas do PNUD e na UNDP também houve perda de vidas. As pessoas que estão em Gaza, em nome das Nações Unidas, das ONGs, estão lá para defender a população e elas próprias estão em risco de vida. Isto nunca aconteceu em nenhum conflito.

Tem sido muitas as vozes a denunciar que a fome está a ser utilizada como uma arma de guerra. Há esse risco?

Eu não quero estar nesse tipo de processo de intenção. Não é o papel das Nações Unidas.

Mas daquilo que viu no terreno?

No terreno a evidência é que um terço da população em Gaza está em situação de fome iminente. Hoje não há nenhuma criança que tenha acesso à educação. Sabemos que 70% das casas foram destruídas, que não há acesso à água potável e que a distribuição de combustível é muito limitada. Isso são evidências e, portanto, estamos perante uma verdadeira tragédia humanitária.

No plano diplomático, continuam as conversações entre o Hamas e Israel, numa altura em que o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu avisou que há uma data para a nova operação em Rafah. Que implicações poderá ter esta operação nas negociações de um cessar-fogo?

Como todos temos dito, a começar pelo secretário geral António Guterres, pelos vários protagonistas no plano internacional e no plano nacional, a nossa posição é muito clara. Um ataque em Rafah seria acrescentar uma nova dimensão trágica. As pessoas já tiveram que sair do Norte para o Sul por causa dos bombardeamentos. Houve um ultimato [para que as pessoas deixassem o Norte e fossem para o Sul). Nós sempre dissemos que esse ultimato causaria um enorme dano. Agora as pessoas não têm para onde ir, porque o Norte está tudo destruído. Se houver um ataque no Sul, é evidente que estamos a falar de uma tragédia de enorme escala e, portanto, eu espero sinceramente que isso não venha a ocorrer.

A secretária- geral adjunta da ONU, Amina Mohammed, lamentou o facto da humanidade e a comunidade internacional terem perdido a bússola moral em relação à Faixa de Gaza. Em mais de seis meses de guerra, já morreram pelo 33.000 pessoas. Como é que ainda não se conseguiu parar esta guerra?

Já nos faltam adjectivos para qualificar esta guerra. Eu já não encontro mais adjectivos. A cada semana que passa as coisas pioram e aquilo que pensávamos que já não era possível ultrapassar é ultrapassado. Estamos perante uma enorme tragédia. Como eu tenho dito, desde o primeiro dia, aquilo que está em causa é uma perda do sentido de humanidade.

O que poderiam fazer mais as Nações Unidas? Esse impasse é revelador da urgência de uma reforma do Conselho de Segurança das Nações Unidas?

A ONU é a Organização das Nações Unidas e, portanto, os Estados é que são protagonistas das decisões. São eles os decisores. As agências da ONU concretizam no terreno aquilo que é possível no âmbito das decisões que são tomadas pelos Estados. Aquilo que tem acontecido, neste caso, é que o secretariado, o lado operacional das Nações Unidas, tem sido muito vocal e enfático, a começar pelo Secretário-Geral António Guterres, denunciando a situação. Julgo que isso ajudou a que os Estados fossem não só tomando consciência, mas tomando decisões no sentido daquilo a que fomos alertando, nomeadamente a Resolução do Conselho de Segurança das Nações Unidas.

Como é que estão as relações entre as Nações Unidas e Israel?

As Nações Unidas têm demonstrado uma independência em relação a todas as posições em conflito. Mas não se deve confundir essa independência com a ausência de voz. Portanto, as Nações Unidas não tomam parte, mas não podem deixar de ir denunciando a situação trágica que se vai vivendo, procurando mobilizar as partes para uma alteração de posição.

Por isso é que, desde o primeiro dia, as Nações Unidas têm condenado de uma forma veemente o ataque que o Hamas fez a Israel, defendendo que é necessário libertar os reféns israelitas que estão em Gaza. Nós também temos dito que os civis palestinianos não podem pagar o preço pelos actos perpetrados pelo Hamas. Espero que o sentido de humanidade prevaleça e que a paz regresse àquele território.

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