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Médio Oriente: "Perigo de escalada é muito grande neste conflito"

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Depois de dias de tensão, o Irão lançou no sábado, 13 de Abril, 350 drones e mísseis contra Israel – num ataque sem precedentes, que segundo líderes mundiais deixou o Médio Oriente à "beira do precipício". A Professora no ISCTE e investigadora em assuntos do Médio Oriente, Maria João Tomás, afirma que "tudo mudou porque agora está-se à espera de um escalar [de violência] e não sabemos o que vai acontecer, é imprevisível".

RFI :O que mudou com este ataque?

Maria João Tomás: Mudou tudo. Depois disto nada é igual; nem o Médio Oriente, nem o mundo porque pela primeira vez tivemos o Irão a cumprir a promessa que já andava a prometer há muito tempo. Desde 79 que o Irão promete atacar Israel porque o seu grande inimigo é Israel e a seguir é o Ocidente e os Estados Unidos. É importante perceber por que motivo isto aconteceu: porque quando Xá Reza Pahlavi estava no poder e foi derrubado pela a revolução iraniana em 1979, o Irão foi o primeiro país de maioria muçulmana a reconhecer Israel. Portanto, quando os aiatolas tomaram o poder, uma das primeiras coisas que fizeram foi tentar, de alguma forma, reverter tudo aquilo que era prática no tempo do Xá Reza Pahlavi, o ódio a Israel vem daí. O que é que mudou? Mudou tudo porque agora está-se à espera de um escalar que não sabemos como e de que forma vai acontecer. É imprevisível, mas Israel vai responder. O escalar da violência está prometido.

O Irão afirma ter “alcançado todos os objectivos”, acusa a ONU de ter falhado “no seu dever de manter a paz e a segurança internacionais” por não ter condenado o ataque contra o consulado iraniano em Damasco, no início do mês. Foi o que afirmou o embaixador do Irão nas Nações Unidas, durante um Conselho de Segurança convocado de urgência no ontem à noite. O diplomata justificou que nestas "condições, a República Islâmica do Irão não teve outra escolha senão exercer o seu direito à auto-defesa”, garantiu que Teerão não deseja uma escalada, mas que vai responder a “qualquer ameaça ou agressão”. Era necessária esta demonstração de força por parte do Irão?

O Irão evocou o artigo 51 da Carta das Nações Unidas, que fala de direito à auto-defesa, Israel vai usar o mesmo [artigo]. Agora a proporcionalidade é que não se justifica entre bombardearem um consulado e o objectivo [do Irão] de bombardear muito mais posições, muito mais locais em Israel. Eles conseguiram atingir um aeroporto e um pouco da base aérea de Neguev, mas houve uma desproporcionalidade enorme. E eu penso que Israel vai aumentar, ainda mais, essa desproporcionalidade face ao ataque do Irão. Portanto é de esperar um escalar de violência neste momento, com todas as consequências que isso pode ter.

Evocou o artigo 51, o secretário de Estado das Nações Unidas alertou ontem à noite, no Conselho de Segurança que o Médio Oriente está à beira do precipício. António Guterres condenou tanto o ataque iraniano como o ataque ao consulado iraniano em Damasco, sublinhou o princípio da inviolabilidade dos espaços diplomáticos. Esta reacção chega tarde?

A reacção chega tarde, mas também não vai adiantar muito. O que se passa nas Nações Unidas é importante, tem um carácter simbólico e moral muito importante, mas infelizmente a prática depois é outra. A aplicabilidade das resoluções da ONU é muito fraca. É importante que diga, é importante que se refira, mas a aplicabilidade é pouca.

Falou numa possível resposta por parte de Israel. Israel deve construir "uma coligação regional" e fazer o "Irão pagar o preço no momento certo"...

Israel vai actuar sozinho e nem pode actuar com aliados.

Estas são afirmações do ministro da Defesa israelita...

Sim, Israel vai na frente e poderá ter apoios, como o Irão teve. O Irão teve apoio da Síria, teve apoio do Hezbollah, do Líbano, teve apoio dos Houthis. Israel vai fazer com apoios nesse sentido, de retaguarda. Os Estados Unidos nunca se vão envolver directamente porque senão teremos aqui uma outra questão, que é a questão da Rússia se envolver ao lado do Irão. O Irão é o grande aliado da Rússia na guerra da Ucrânia. É de se esperar que a Rússia possa ajudar o Irão neste conflito.

A França, o Reino Unido, a Alemanha juntam-se aos Estados Unidos, pedem contenção a Israel. A China também apelou à contenção. É possível conter o risco de uma escalada regional?

Por enquanto é bom que não aconteça, mas é melhor estarmos vigilantes daquilo que vai acontecer. O perigo de escalada é realmente muito grande e o que está pela frente pode ser realmente uma escalada muito grande deste conflito entre o Hamas e Israel, que agora já é entre Israel e Irão, e outros actores podem-se juntar.

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RFI :O que mudou com este ataque?

Maria João Tomás: Mudou tudo. Depois disto nada é igual; nem o Médio Oriente, nem o mundo porque pela primeira vez tivemos o Irão a cumprir a promessa que já andava a prometer há muito tempo. Desde 79 que o Irão promete atacar Israel porque o seu grande inimigo é Israel e a seguir é o Ocidente e os Estados Unidos. É importante perceber por que motivo isto aconteceu: porque quando Xá Reza Pahlavi estava no poder e foi derrubado pela a revolução iraniana em 1979, o Irão foi o primeiro país de maioria muçulmana a reconhecer Israel. Portanto, quando os aiatolas tomaram o poder, uma das primeiras coisas que fizeram foi tentar, de alguma forma, reverter tudo aquilo que era prática no tempo do Xá Reza Pahlavi, o ódio a Israel vem daí. O que é que mudou? Mudou tudo porque agora está-se à espera de um escalar que não sabemos como e de que forma vai acontecer. É imprevisível, mas Israel vai responder. O escalar da violência está prometido.

O Irão afirma ter “alcançado todos os objectivos”, acusa a ONU de ter falhado “no seu dever de manter a paz e a segurança internacionais” por não ter condenado o ataque contra o consulado iraniano em Damasco, no início do mês. Foi o que afirmou o embaixador do Irão nas Nações Unidas, durante um Conselho de Segurança convocado de urgência no ontem à noite. O diplomata justificou que nestas "condições, a República Islâmica do Irão não teve outra escolha senão exercer o seu direito à auto-defesa”, garantiu que Teerão não deseja uma escalada, mas que vai responder a “qualquer ameaça ou agressão”. Era necessária esta demonstração de força por parte do Irão?

O Irão evocou o artigo 51 da Carta das Nações Unidas, que fala de direito à auto-defesa, Israel vai usar o mesmo [artigo]. Agora a proporcionalidade é que não se justifica entre bombardearem um consulado e o objectivo [do Irão] de bombardear muito mais posições, muito mais locais em Israel. Eles conseguiram atingir um aeroporto e um pouco da base aérea de Neguev, mas houve uma desproporcionalidade enorme. E eu penso que Israel vai aumentar, ainda mais, essa desproporcionalidade face ao ataque do Irão. Portanto é de esperar um escalar de violência neste momento, com todas as consequências que isso pode ter.

Evocou o artigo 51, o secretário de Estado das Nações Unidas alertou ontem à noite, no Conselho de Segurança que o Médio Oriente está à beira do precipício. António Guterres condenou tanto o ataque iraniano como o ataque ao consulado iraniano em Damasco, sublinhou o princípio da inviolabilidade dos espaços diplomáticos. Esta reacção chega tarde?

A reacção chega tarde, mas também não vai adiantar muito. O que se passa nas Nações Unidas é importante, tem um carácter simbólico e moral muito importante, mas infelizmente a prática depois é outra. A aplicabilidade das resoluções da ONU é muito fraca. É importante que diga, é importante que se refira, mas a aplicabilidade é pouca.

Falou numa possível resposta por parte de Israel. Israel deve construir "uma coligação regional" e fazer o "Irão pagar o preço no momento certo"...

Israel vai actuar sozinho e nem pode actuar com aliados.

Estas são afirmações do ministro da Defesa israelita...

Sim, Israel vai na frente e poderá ter apoios, como o Irão teve. O Irão teve apoio da Síria, teve apoio do Hezbollah, do Líbano, teve apoio dos Houthis. Israel vai fazer com apoios nesse sentido, de retaguarda. Os Estados Unidos nunca se vão envolver directamente porque senão teremos aqui uma outra questão, que é a questão da Rússia se envolver ao lado do Irão. O Irão é o grande aliado da Rússia na guerra da Ucrânia. É de se esperar que a Rússia possa ajudar o Irão neste conflito.

A França, o Reino Unido, a Alemanha juntam-se aos Estados Unidos, pedem contenção a Israel. A China também apelou à contenção. É possível conter o risco de uma escalada regional?

Por enquanto é bom que não aconteça, mas é melhor estarmos vigilantes daquilo que vai acontecer. O perigo de escalada é realmente muito grande e o que está pela frente pode ser realmente uma escalada muito grande deste conflito entre o Hamas e Israel, que agora já é entre Israel e Irão, e outros actores podem-se juntar.

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