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Lyz Parayzo, a artista que transforma a violência em escultura

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A artista e activista brasileira Lyz Parayzo está em destaque na exposição “100% L’Expo”, em Paris, que junta cerca de 50 artistas emergentes, de 27 de Março a 28 de Abril. Lyz Parayzo foi convidada para criar uma instalação que ocupa o exterior do edifício, com esculturas móveis metálicas e suspensas, em forma de espiral e com pontas cortantes, que remetem para a violência de que ela é vítima devido à sua identidade transfeminina.

A arte é um lugar de militância e de luta para a brasileira Lyz Parayzo porque é um espaço onde os corpos dissidentes e não normativos estão, ainda, pouco representados. Nascida em 1994, Lyz Parayzo concebe as suas obras como “um cavalo de Tróia” para infiltrar espaços de poder e abrir horizontes. A partir de uma perspectiva autobiográfica, a artista cria esculturas que representam a sua experiência quotidiana de violência e de opressão por ser uma pessoa trans. Nesse sentido, a sua arte é “uma arma”.

É uma arma para criar um debate público e político sobre determinados corpos na sociedade. Aqui, por questões de segurança, os móbiles estão flutuando... Mas quando os fiz na Beaux-Arts, eles estavam perto do corpo, giravam muito forte com motores e podiam cortar. Então as pessoas tinham medo. E é justamente isso. O meu corpo, às vezes, cria um lugar de medo porque as pessoas podem desejá-lo, sendo que não é permitido desejar ou amar uma mulher trans.

Lyz Parayzo estudou nas Belas-Artes de Paris, após uma formação em Artes Cénicas na Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro e em Artes Visuais na Escola de Artes Visuais do Parque Lage, no Brasil. Em 2019, deixou o Brasil, que sublinha ser “o país que mais mata pessoas trans há 15 anos”, e mudou-se para França. Admite que saiu por razões políticase para poder assumir plenamente a sua identidade.

Quando começou o governo Bolsonaro, as pessoas faziam sinais de arma para mim, na mão. Começou a ser muito violento. Antes de eu ir para França, raspei a minha cabeça porque eu não conseguia sustentar a feminilidade do meu corpo. Tive que sair do meu país para poder ser eu. E também porque Bolsonaro fechou o Ministério da Cultura. Então, ao mesmo tempo que era muito perigoso ser uma pessoa trans no Brasil, com um governo de extrema-direita, militar e fascista, também era muito difícil ser artista porque teve um boicote para a cultura.

Com a instalação colocada à entrada da Grande Halle de La Villette, em Paris, Lyz Parayzo está em destaque na “100% L’Expo”, uma exposição dedicada a jovens artistas recém-diplomados e que vai estar patente de 27 de Março a 28 de Abril. A obra que ela criou “in situ” chama-se “Tempête Magique” e parte da série que ela fez, em 2022, intitulada “Cuir Mouvement”. As espirais em inox e alumínio, em grande escala, estão suspensas e, ao girarem, reflectem formas ondulantes cor-de-rosa no espaço. Estas serras giratórias ou "móbiles" são objectos dentados e, na instalação inicial, estavam mais perto do público, o que suscitava uma ameaça de lesão física, atraindo e repelindo ao mesmo tempo o espectador. “Como o meu corpo”, diz Lyz Parayzo.

A minha escultura, que tem um lugar de beleza, que brilha, que seduz, que gira e tem luz rosa, ao mesmo tempo, ela pode cortar justamente para criar um debate público sobre os corpos que não são cisgénero, que são racializados e que se veem diariamente. (…) Eu resolvi fazer esculturas que colocassem o público vulnerável para eles saberem a sensação que é ter o meu corpo.

A artista inspira-se no constructivismo e na arte cinética para criar novas formas de abstracção queer. Lyz Parayzo realizou“performances de guerrilha”, sem avisar, em museus para “problematizar a ausência de corpos racializados e não cisgénero nos espaços das artes”. Oriunda de uma família de ourives, ela começou por fazer o que chamou de “joias bélicas” que são “objectos de autodefesa” que dialogam com a herança do concretismo e neoconcretismo brasileiro dos anos 60, nomeadamente com Waldemar Cordeiro e Lygia Clark. “As minhas esculturas são escudos, armaduras, coisas cortantes e eu faço o meu trabalho de arte como se fosse uma terapia de redistribuir as violências que o meu corpo sofre num objecto”, acrescenta.

Além da instalação “Tempête Magique”, Lyz Parayzo vai apresentar a performance “Manicure Política” no festival Jerk Off, em parceria com esta exposição. Porque "todo o corpo é político".

A 'manicure política' é um momento em que as pessoas têm um toque com o meu corpo, têm um diálogo, têm um lugar de humanização, um lugar de ressignificação do imagético sobre esta população. De todas as vezes, o salão é feito por mim ou por outras mulheres trans para criar uma rede de apoio e de distribuição de capital simbólico e financeiro. (…) É um trabalho para criar um lugar de acolhimento, de cuidado com o outro e também para criar novos imaginários sobre estes corpos fora de um lugar marginal. Um lugar que pode ser construtivo. Um lugar que pode fazer arte e um lugar que pode ser descontraído. É um lugar para atacar a imaginação e para reconstruir imaginações. Juntos.

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A arte é um lugar de militância e de luta para a brasileira Lyz Parayzo porque é um espaço onde os corpos dissidentes e não normativos estão, ainda, pouco representados. Nascida em 1994, Lyz Parayzo concebe as suas obras como “um cavalo de Tróia” para infiltrar espaços de poder e abrir horizontes. A partir de uma perspectiva autobiográfica, a artista cria esculturas que representam a sua experiência quotidiana de violência e de opressão por ser uma pessoa trans. Nesse sentido, a sua arte é “uma arma”.

É uma arma para criar um debate público e político sobre determinados corpos na sociedade. Aqui, por questões de segurança, os móbiles estão flutuando... Mas quando os fiz na Beaux-Arts, eles estavam perto do corpo, giravam muito forte com motores e podiam cortar. Então as pessoas tinham medo. E é justamente isso. O meu corpo, às vezes, cria um lugar de medo porque as pessoas podem desejá-lo, sendo que não é permitido desejar ou amar uma mulher trans.

Lyz Parayzo estudou nas Belas-Artes de Paris, após uma formação em Artes Cénicas na Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro e em Artes Visuais na Escola de Artes Visuais do Parque Lage, no Brasil. Em 2019, deixou o Brasil, que sublinha ser “o país que mais mata pessoas trans há 15 anos”, e mudou-se para França. Admite que saiu por razões políticase para poder assumir plenamente a sua identidade.

Quando começou o governo Bolsonaro, as pessoas faziam sinais de arma para mim, na mão. Começou a ser muito violento. Antes de eu ir para França, raspei a minha cabeça porque eu não conseguia sustentar a feminilidade do meu corpo. Tive que sair do meu país para poder ser eu. E também porque Bolsonaro fechou o Ministério da Cultura. Então, ao mesmo tempo que era muito perigoso ser uma pessoa trans no Brasil, com um governo de extrema-direita, militar e fascista, também era muito difícil ser artista porque teve um boicote para a cultura.

Com a instalação colocada à entrada da Grande Halle de La Villette, em Paris, Lyz Parayzo está em destaque na “100% L’Expo”, uma exposição dedicada a jovens artistas recém-diplomados e que vai estar patente de 27 de Março a 28 de Abril. A obra que ela criou “in situ” chama-se “Tempête Magique” e parte da série que ela fez, em 2022, intitulada “Cuir Mouvement”. As espirais em inox e alumínio, em grande escala, estão suspensas e, ao girarem, reflectem formas ondulantes cor-de-rosa no espaço. Estas serras giratórias ou "móbiles" são objectos dentados e, na instalação inicial, estavam mais perto do público, o que suscitava uma ameaça de lesão física, atraindo e repelindo ao mesmo tempo o espectador. “Como o meu corpo”, diz Lyz Parayzo.

A minha escultura, que tem um lugar de beleza, que brilha, que seduz, que gira e tem luz rosa, ao mesmo tempo, ela pode cortar justamente para criar um debate público sobre os corpos que não são cisgénero, que são racializados e que se veem diariamente. (…) Eu resolvi fazer esculturas que colocassem o público vulnerável para eles saberem a sensação que é ter o meu corpo.

A artista inspira-se no constructivismo e na arte cinética para criar novas formas de abstracção queer. Lyz Parayzo realizou“performances de guerrilha”, sem avisar, em museus para “problematizar a ausência de corpos racializados e não cisgénero nos espaços das artes”. Oriunda de uma família de ourives, ela começou por fazer o que chamou de “joias bélicas” que são “objectos de autodefesa” que dialogam com a herança do concretismo e neoconcretismo brasileiro dos anos 60, nomeadamente com Waldemar Cordeiro e Lygia Clark. “As minhas esculturas são escudos, armaduras, coisas cortantes e eu faço o meu trabalho de arte como se fosse uma terapia de redistribuir as violências que o meu corpo sofre num objecto”, acrescenta.

Além da instalação “Tempête Magique”, Lyz Parayzo vai apresentar a performance “Manicure Política” no festival Jerk Off, em parceria com esta exposição. Porque "todo o corpo é político".

A 'manicure política' é um momento em que as pessoas têm um toque com o meu corpo, têm um diálogo, têm um lugar de humanização, um lugar de ressignificação do imagético sobre esta população. De todas as vezes, o salão é feito por mim ou por outras mulheres trans para criar uma rede de apoio e de distribuição de capital simbólico e financeiro. (…) É um trabalho para criar um lugar de acolhimento, de cuidado com o outro e também para criar novos imaginários sobre estes corpos fora de um lugar marginal. Um lugar que pode ser construtivo. Um lugar que pode fazer arte e um lugar que pode ser descontraído. É um lugar para atacar a imaginação e para reconstruir imaginações. Juntos.

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