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O Anticristo e um Job lusitano entram num bar onde Rui Nunes tira as cervejas

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Este episódio surge como o nosso especial de Carnaval, depois de um convite da Livraria da Lapa, e com a proposta de lançarmos dois livros de naturezas bastante diversas, ainda que não inconciliáveis, de uma assentada. Se aquela tarde não for relembrada por mais nada, talvez o seja por uns poucos como um encontro num momento de desordenada suspensão, num momento em que, de diferentes formas, procurávamos ainda sobreviver sem nos perdermos numa "atmosfera literária de morna mediocridade", enquanto filhos de uma época merdonha, em que parece cada vez mais difícil vislumbrar a primavera de um tempo vindouro. Quando tudo se combina num efeito meramente cumulativo para nos oferecer essa perspectiva de uma "actualidade" que prescinde da história e da memória, há este receio de tudo estar condenado de antemão a alguma forma de esterilidade ou dissolução, mas este receio é em si mesmo indecente, sendo mais outra forma de cedência à passividade. É indecente porque significa de facto renunciar não só à excelência, mas também à nossa própria verdade, à tentativa de formularmos um ânimo colectivo que seja produtor de novas aberturas ou brechas. É renunciar provavelmente ao único heroísmo que nos resta, e que foi sempre esse esteio, essa força e vitalidade da literatura. Contra um ambiente de sórdida banalização e de fugas que se concertam para nunca coincidirem em nada de substantivo, quisemos encontrar-nos tendo como pretexto o aparecimento de dois livros estranhos, recusando esse regime de aligeiramento na relação com os textos, com a leitura, e que de algum modo estão ligados neste esforço de se aprender a carregar o fardo do destino que nos coube. Afinal, e por mais distracções em que se queira enterrar a cabeça e o juízo, a nossa própria vida segue e impõe-se em si mesma como um problema: como vivê-la? Se nos recusamos a uma exposição auto-celebratória, aos desfiles das belas almas que procuram reduzir a vida literária a mais outro concurso de moralidades hipócritas, por outro lado, também não cedemos a esse esforço de contrabandear como mercadoria proibida a nossa própria consciência. Tendo em conta o abandono e até a violentação pindérica a que os modos próprios da literatura se vêem sujeitos, não abdicamos desse confronto nem aderimos à noção de uma "aura" confeccionada a partir de tudo o que se serve do valor da distância, aquilo que sendo difícil de alcançar se torna belo por isso. "Belo e talvez com um toque de sagrado", diz-nos uma das personagens de Don DeLillo. "E a pessoa que se tornou inacessível adquire uma graça e uma inteireza que é motivo de inveja para os demais." Não estamos nessa. Não adulamos o escritor que ao não mostrar o rosto se convence de que assume assim o papel do demiurgo, invadindo território sagrado. Tanto escritor que, apenas porque deserta, se convence de que nessa suposta marginalidade está a jogar o jogo de Deus e aumenta assim as suas chances de cativar um lugar à mesa da posteridade. Por outro lado, entre o "País Rato", de Jorge Roque, e o "O Anticrítico", deste vosso canalha para todo o serviço, duas edições vindas a lume sob a mesma chancela (Maldoror), naquela tarde tudo estava perto demais da terra para significar outra coisa que não fosse um segredo violento, de tal modo que nos nossos gestos tudo exprimia aquela esplêndida pequenez que é a essência do bairrismo e que está na margem oposta ao ambiente elusivo do espectáculo. Talvez isso possa ser por si mesmo um regime de dissidência auspicioso.

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