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Três tristes tigres de roda do prato de espinhas do jornalismo. Conversa com Nuno Ramos de Almeida

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Entre os de papo cheio e os manga-de-alpaca que tornam os corredores ainda mais longos e bafientos neste regime miserando, vamos buscando quartos com os estores em baixo, onde "conferenciamos em surdina com as nossas almas, isto é, as peças dos equipamentos espatifados que os nossos inimigos nos deixaram" (Sean Bonney). Quando se vai em campanha, o jornalismo é a actividade dos batedores, dos que desenham mapas à vista, e é certo que nos aprazaria partirmos daqui, mas só nos restam uns barcos desconjuntados, de proa levantada, enterrados na areia. Continuamos a escutar os que compuseram as suas ideias numa ordem tal que não deu para se ficarem pelas meias-tintas. Listamos cidades como eles faziam, as arruinadas ou as que ficam debaixo do véu da imaginação. Se não fomos a lado nenhum, chegámos à meia-idade com a sensação de que não podíamos estar mais longe de casa. Ainda falamos do sol e daqueles a quem hoje este faz mais falta, falamos dos amigos perdidos, de monotonia e de medo. "De colonialismo de ocupação, de capital e escravatura, dos setenta e nove bastardos reais que tapam a luz do Céu. Ora, o Céu que se lixe. (...) Nada nos resta a fazer senão acordar dos sonhos que temos de nós próprios e calcorrear a terra como reflexos dos fogos de artifício do Inferno." Só nos revemos no discurso daqueles que foram devastados intimamente ao ponto de se matarem, como Bonney, aqui na tradução de Miguel Cardoso do livro "A Nossa Morte", publicada pela Douda Correria. Quanto ao jornalismo, se não servisse apenas para nos afugentar daqui, deveria funcionar como o sistema imunitário democrático. Hoje é o contrário. Em vez de um quarto poder, é um elemento acessório através do qual se disseminam todo o tipo de vícios que atacam e corroem a inteligência, de tal modo que ao ler os títulos ao nosso alcance ficamos com a "suspeita de que foi para a encenação de um sacrifício já consumado que nos convidaram (…) e é como se ruísse um cenário com o estrondo de um mundo a sério, os escombros da imaginação tão perigosos como os da realidade" (Fátima Maldonado). Hoje o jornalismo mal consegue respirar debaixo da "obesidade da opinião". A sua função crítica entrou em falência quando escolheu adaptar-se à lógica do entretenimento, promovendo "a encenação de polémicas e debates que funcionam em circuito fechado, segundo uma tendência endogâmica, tautológica e mimética que atinge os cumes da exasperação quando há um acontecimento ou um assunto actual que polariza as atenções, e logo desaparece. O espaço jornalístico fica então dominado por um coro homogéneo e parece uma engrenagem autotélica que funciona para se alimentar a si própria", diz-nos António Guerreiro… "Cria-se assim a ilusão – uma das maiores ilusões do nosso tempo – de que este jornalismo cria um espaço público alargado, próprio de uma sociedade transparente, quando na verdade a reduz na sua amplitude e alcance." Enquanto isso, numa altura em que muitos se satisfazem com a indústria dos conteúdos oferecidos gratuitamente na internet, o ensaísta espanhol José Luis Pardo vinca como esta não tem feito outra coisa senão produzir "uma inflação da privacidade sem precedentes, uma exaltação do ego até limites inimagináveis. Por isso, é equívoco confundir essa hiperesfera egolátrica com uma ‘esfera pública ampliada’". Para reflectir sobre isto, reunimo-nos com Nuno Ramos de Almeida, veterano já todo cicatrizado desta guerra, e alguém que vai sendo promovido e despromovido consoante as ondas que chegam à praia, e que parece desses tipos amarrados ao mastro da própria profissão, caindo em todas as armadilhas, engolindo as tempestades, sentindo na pele os efeitos da perda de poder e autonomia desta classe que, antes dos médicos e enfermeiros ou dos professores, foi proletarizada e sucessivamente humilhada.

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