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Para que serve o Natal? Miguel Vasconcelos
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Há 2024 anos nasceu Jesus.
Assim reza a história e tradição cristã.
E hoje ainda vale celebrar o natal?
Hoje, temos uma conversa que promete iluminar muitos aspetos da nossa existência e nos levar a refletir sobre questões essenciais da vida, da fé e do mundo em que vivemos. Da fé, mas não só.
O convidado é o Padre Miguel Vasconcelos, capelão da Universidade Católica de Lisboa,
Alguém que se sonhou engenheiro e acabou a ser ordenado sacerdote,
O Padre Miguel consegue explicar coisas tão complexas e misteriosas como a fé em três frases.
Nesta conversa, exploramos o significado do Natal, mas também muito mais do que isso. Falamos de como, em tempos de escuridão – sejam eles conflitos no mundo, crises pessoais ou simples dúvidas existenciais —, o Natal pode ser uma luz.
Não uma solução mágica para os problemas, mas um convite a acreditar na possibilidade de recomeçar.
Discutimos o simbolismo do presépio como uma mensagem de vulnerabilidade e esperança, que nos desafia a sermos mais humildes e disponíveis para o outro.
Mas não paramos por aí.
Entramos também numa questão central: Deus. A ideia de Deus.
Deus existe?
Quem é Deus?
E como lidamos com a dúvida, o silêncio ou até mesmo a sensação de abandono em momentos difíceis?
Miguel Vasconcelos reflete sobre a complexidade desta relação, reconhecendo que a experiência de Deus é tanto transcendente quanto profundamente íntima. É um diálogo constante entre o que é infinitamente grande e aquilo que é infinitamente pequeno em nós.
Há também espaço para uma reflexão sobre o papel da religião no mundo contemporâneo.
Falamos de como, muitas vezes, a fé é vista como algo distante ou solene, quando na realidade está profundamente ligada à celebração da vida e até ao riso e à festa. Questionamos se a religião é um caminho de respostas, ou antes, um espaço para levantar as grandes perguntas da existência. Para o Padre Miguel, a fé não elimina a dúvida; pelo contrário, vive ao lado dela como um motor de busca e de encontro com o eterno.
E claro, sendo o Padre Miguel um orador experiente, quis ouvi-lo sobre a arte de comunicar em público. O que significa falar de Deus para uma audiência, ou mesmo escutar as dores e os dilemas de alguém no confessionário?
Para ele, a chave está na honestidade – seja na palavra ou na escuta – e em nunca transformar a mensagem num espetáculo, mas antes num ato genuíno de serviço.
Este é um episódio sobre humanidade, espiritualidade e a busca por sentido, que promete trazer não só respostas, mas também muitas perguntas para refletirmos juntos.
Feliz natal para todos.Até para a semana.
LER A TRANSCRIÇÃO DO EPISÓDIO00:00:00:11 – 00:00:30:24
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Viva Miguel Vasconcelos, padre de vocação, capelão da Universidade Católica de Lisboa. Estamos em tempos de Natal. Como é que ainda faz sentido celebrar o Natal? Como nós celebramos? Então, antes de mais, olá! Vão estar aqui sim, e acho que faz sentido. Será o Natal. E acho que nos tempos em que passamos, nos tempos que atravessamos, estava ainda seja mais evidente por que é importante celebrar agora o Natal.
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O mundo parece escuro à nossa volta. A gente vê as guerras. Estamos críticos, por assim dizer, às vezes sem grande promessa de melhoria. Vemos as flores e sonhos políticas e por aí fora. Vemos, enfim, tantos problemas que tive aqui elencar os que os que estão na moda, por assim dizer. Mas também sabemos que há muitos problemas mais discretos que que foi que preocupam a vida das pessoas e que afrontam a vida de qualidade de muitas pessoas.
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E acho que isso é um. Estes tempos são tempos em que a gente passa algum tempo a pensar o mundo parece escuro, mas também acho que é verdade que precisamente num contexto de alguma escuridão, a luz interessa nos. E eu penso que o Natal tem esse poder, tem essa capacidade de devolver alguma luz aos dias, os dias em que estamos, não que magicamente Deus vai resolver os problemas das pessoas, mas porque há uma alma expressa e sobretudo em quem tem fé.
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Mas eu acho que extravasa uma questão de. Extravasa meramente as questões da fé e é uma possibilidade de acreditar que as coisas podem recomeçar e que sermos todos postos diante da cena do presépio, com o recém nascido indefeso que se põe à mercê do que lhe quiserem fazer, é um motivo de esperança, é uma ideia de humildade que ali está desenhada, de humildade e de indispensabilidade.
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Estou no meio de agressividades que vemos à nossa volta. Está ali alguém indefeso. E eu penso que esse contraste, confrontarmos com esse contraste, como acaba por acontecer sempre no Natal, faz nos bem num mundo talvez difícil, agressivo, pesado. De repente, pormos os olhos numa criança recém nascida, indefesa, como dizia há pouco, à mercê do que lhe quiserem fazer oferecida, disponível.
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Acho que esse contraste tem força. O que que o que que é esse presépio? O presépio nos pode ensinar sobre a liderança e sobre a empatia do mundo e da cidade moderna? Eu não sei dizer o que é que o presépio pode ensinar de liderança, porque acho que o presépio o ensine sozinho. Mas porque está Papa, Parece que estamos.
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Estamos ao contrário, porque essa mensagem de vulnerabilidade, de humildade, de possibilidade, de optimismo, parece quase que o contraste parece agrilhoada com o mundo dos tanques, com o mundo do discurso agressivo, com o com o o mundo, com o mundo em que é o outro pelo próximo para para ganhar um melhor lugar. Eu lembro me esse propósito dos primeiros tempos do Papa Francisco, quando ele foi eleito Papa.
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Aqueles primeiros meses, primeiros primeiros dias, primeiras semanas, primeiros meses. De alguma maneira isso foi continuando. Mas nós, naquele tempo tivemos um de repente, uma quantidade de sinais e de gestos, de simplicidade, de humildade também de uma pessoa sem medo de expor as suas próprias vulnerabilidades. E isso foi absolutamente atrativo e um modelo de liderança absolutamente extraordinário. E por isso acho que o presépio, acho que o Papa se inspirou no presépio, por assim dizer, no quis também este Papa.
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Ele esteve cá agora nas Jornadas Mundiais da Juventude, esteve na organização também teve algum contacto mais próximo com o Papa aqui na jornada? Não. Especialmente. Quer dizer, tive um contacto muito evidente porque eu sou cristão de Universidade católica e o Papa visitou a Universidade Católica. Já fez uma carga de trabalhos, mas ainda não conhecia esse trabalho e por causa é sempre bom trabalhar.
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Mas. Mas o Papa foi lá encontrar se com os universitários, não apenas com os da Universidade Católica, mas com todos. E é esse. É por isso de síntese, esse momento de alguma proximidade. Mas quer dizer não, não, não foi. Não conversei com o Papa, Não, não tive. Se não tivesse bastante. Isso aconteceu em 2017, que nos teve cá em Fátima, mas desta vez não.
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Ainda assim, acho que a simplicidade que nós lhe reconhecemos eu lembro, evoco e acho que é bom. Trazemos à memória sobretudo aqueles primeiros meses do pontificado do Papa Francisco, porque foram cheios, preenchidos de sinais. E eu penso que o tipo de sinal que ele está é próprio do tempo do Natal, da simplicidade diante da complexidade e, curiosamente, uma simplicidade que não é superficial.
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O Natal é uma coisa simples, mas profunda. Às vezes nós temos uma certa tendência em ser simples e superficiais ou profundos, mas não tenho complexos. O que é que é o Natal? É ali essas duas coisas. É que o Natal é, sem grandes dúvidas. Em primeiro lugar, o Natal é para de uma maneira mais evidente possível, um nascimento de Jesus Cristo.
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E eu sou padre e acho que é a partir daqui que sou chamado a falar que a partir desta festa, desta consciência clara, que sou chamado a falar e isto tem impacto, é o rasto que aquela pessoa nascida há 2000 anos dá. 2024 anos deixou na história de impacto e por isso, hoje o Natal de alguma maneira capta também e agarra também o impacto que aquela pessoa teve a longo da história.
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E eu penso que hoje ser cristão é, obviamente, reconhecer nesta pessoa de Jesus uma visita de Deus, uma visita do infinito e do Eterno, uma visita do que extravasa o nosso mundo meramente material. E, portanto, obviamente, o Natal passa por isso, por um encontro com o definitivo, com o Eterno, que é uma coisa que às vezes nos faz estremecer, mas que me parece que faz de nós mais pessoas e de alguma maneira, parece me que a experiência da simplicidade do Menino Jesus, que vai indefeso e é uma experiência que nos pode ajudar a refazer a confiança em Deus nos nossos tempos, não muito popular, pelo menos aqui nas nossas bandas, por assim dizer.
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Mas, mas refazer a confiança em Deus é poder poder saber que se pode confiar no Eterno, que se pode confiar no definitivo. É porque o definitivo tem um rosto. Isso parece me significativo. Nós celebramos o Natal provavelmente em dois planos um muito interessante e recompensador, que é essa ideia da família ou da familia e de estar com pessoas de quem gostamos muito.
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Mas, por outro lado, aliamos isto a um espírito de Natal, a um desenfreado consumir, de comprar todos os presentes do mundo, como se isso fosse absolutamente fundamental para aquele momento. Sim, o que é que se passa? Então eu reconheço que o consumismo é uma coisa excessiva, mas eu devo dizer que não embarco muito na onda de quem acha que presente é uma coisa que extravasa o espírito do Natal.
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Porque não acho isso. E posso dar um exemplo Tenho dois sobrinhos agora nascidos há um ano e pouco e a maneira de expressar do amor que se tem por uma pessoa é também dar lhe alguma coisa. E eu penso que se esse for se for para isso, que o consumo, então esse consumismo não chega a ser consumismo e é bom e justo e verdadeiro e traz bem e é uma espécie de materialização dum emoção.
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Nós, nós temos corpo e portanto nós também nos relacionamos através da matéria e dos acontecimentos da carne e acho que sim, acho que tem essa lógica, acho que tem essa lógica. Claro que o consumo em excesso e em excesso, mas o problema é o excesso. Não parece que seja nós fazermos festa. E aí essa coisa está boa, que é quando vamos comprar essa prenda, esse e esse presente.
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Estamos a pensar naquela pessoa e naquilo que pode ser interessante. O que é que ela vai sentir quando? Quando pode receber uma dádiva? Nossa, Pensei. No fundo, acho que tem esse significado e tem o significado de querer valorizar a amizade que tem, o amor que está em pessoas, seja por quem for. Valorize se isso. Não se pense que não estamos a reduzir a amizade, aquela coisa material que se dá, mas estamos a valorizá la, Estamos a levá la a sério e eu gosto disso.
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Eu acho que a simplicidade de falar do Natal coabita bem com a ideia de fazer festa. E eu acho que isso é uma coisa que nos faz falta nos dias que passam, que fazer festa, de sermos capazes de nos alegrarmos verdadeiramente. E penso que na medida em que os presentes do Natal contribuem para isso, são uma coisa boa.
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O excesso é sempre mau em qualquer coisa isso não funciona. A figura do Pai Natal vem atrapalhar ou complementar o Menino Jesus? Eu acho que não atrapalha. Quer dizer, posto no seu lugar, não atrapalha o Pai Natal é inspirado na figura do São Nicolau, que dava às pessoas que tinham falta no tempo dele, que eu honestamente não conheço, especialmente na história.
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Era um velho generoso, portanto. Exatamente. Era um homem bom, que cuidava, que dava o que podia a quem precisava e para os que depois da coca cola, Jesus fez das suas, por assim dizer, e tornou o Pai Natal mais figura mediática, vestido de encarnado e branco. Mas, de qualquer maneira, eu penso que pôs no seu lugar na outra para ouvir há uns anos o Ricardo Araújo Pereira fazer uma reflexão sobre ele, sobre a Igreja e sobre e sobre a seriedade da Igreja com com uma declaração que é Deus não ri e que ri, que castiga quem ri, quem riu, quem der mais.
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E agora estou a ouvi lo. Estou vindo falar de Estou ouvido falar de festa e de e de celebração. Há aqui um contraste. Devo dizer que estive à conversa com o Ricardo na apresentação de um livro esta semana. Por isso tenho essa frase fresca porque falámos precisamente sobre isso e digo que lhe disse aquilo que é a experiência da Bíblia.
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Quando a gente lê os Evangelhos, vê a pessoa de Jesus, vê a história do povo de Israel. É uma experiência preenchida de festa. Aquele povo é o que? O que os Evangelhos nos relatam da vida pública de Jesus é uma vida cheia de festas. Jesus está permanentemente em banquetes, a comer e a beber, quer dizer, O1A1 passo dos textos do Evangelho em que dizem que Jesus tinha massa e que o próprio Jesus diz Há quem considere alguma coisa deixar alguém.
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Considere que eu tenho má fama por a vinha. João Batista. Ao contrário, há quem considere que eu sou um glutão e um ébrio, porque comigo vinha João Batista, que não comia nem bebia e de repente isso era um problema. E agora vem, venho eu que come, bebe. Dizem que eu sou um glutão e um ébrio a lamentar se um bocadinho por causa disso, convencido que.
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Associada a essa ideia de fazer festa, está o riso. E por isso eu não tenho grandes dúvidas que Jesus riu. Mesmo que os evangelhos não explicitem que isso tinha acontecido. Percebo. Ainda assim, percebo o que diz o Ricardo Araújo Pereira, porque, de facto, nós associamos a religião a uma experiência de solenidade e solenidade, uma maneira talvez não muito, não muito habitual nos nossos dias, mas a solenidade é uma maneira de fazer festa, uma festa diferente.
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Não é besteira, mas tem uma dimensão de grandeza. Claro que uma coisa é outra de ser. Parece me que é preciso equilibrar uma coisa e outra e talvez isso tenha sido uma. Talvez nós, cristãos, tenhamos tido uma certa dificuldade para fazer essa, essa contribuição, mas voltar às origens, e foram os evangelhos. Eu não tenho grandes dúvidas que a experiência da festa está presente e aquela que não só se sai e sai incompleto do Deus que é castigador, do Deus que diz não pecará este Se pecados vais para, vais para o inferno, vais para o purgatório.
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Então deixe me responder E essa pergunta de duas maneiras. A primeira, de maneira a minha experiência pessoal de relação com a fé e com Deus nunca teve isso e eu nunca experimentei isso. Nunca tive uma catequista que me tivesse posto as coisas nesses termos. À medida que me fui envolvendo demais na vida da igreja, nunca encontrei esse ambiente, por assim dizer.
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Mas eu sei que ele existe. Queria dizer a minha vida pessoal não passou por um contexto na igreja, onde houvesse nesse ambiente um certo temor de um Deus castigador. Mas sei que isso existe na igreja. Também sei que se existe na Bíblia, a gente lê os textos bíblicos, sobretudo do Antigo Testamento, e Deus aparece muitas vezes, para não dizer castigar, a mostrar as consequências de quem está a mostrar o que acontece de negativo a quem se afasta de Deus.
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Até se fala do último julgamento. Não é um julgamento. Sim, apesar de tudo, acho que o julgamento é uma coisa bem diferente disto. Mas podemos ler daquilo que era ainda assim, porque não é isto. Por que não parece que esse último julgamento tem como objetivo castigar? Mas é verdade. O povo de Israel no Antigo Testamento, aquele povo que Deus escolhe, experimenta muitas vezes a ideia de um Deus castigador.
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Mas eu, eu dou lhe a perspetiva que aquele que tem o cristianismo sobre o seu passado ou sobre o passado judaico, onde quando entronca com o passado do Antigo Testamento, é que a experiência de um povo que está a conhecer Deus e que não o conhece com perfeição, logo à partida vai conhecendo, vai se habituando, vai captando cada vez mais acerca dos traços da personalidade, vai ouvindo aquilo, Deus vai ouvindo melhor e de alguma maneira na figura de Jesus.
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E por isso o tempo cura tudo vem ter um propósito e um tempo para falarmos sobre isto é, na figura de Jesus, esclarece se de uma maneira definitiva Afinal, quem é que vemos? É, é. E o que nós vemos em Jesus não é um castigo nem uma atitude castigadora, antes pelo contrário, é uma atitude séria, justa. Mas não é só flores e borboletas, por assim dizer, apesar de tudo.
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Mas não é um castigo. Jesus na cruz pergunta ao Pai O que é que me estás a fazer? Porque é que está tão radical? Sim, porque abandonaste um exemplo com castigos. Parece me que Jesus se objetivo, por assim dizer, se a finalidade do Natal, da visita de Deus à nossa natureza, era experimentar por dentro tudo o que experimentou O ser humano, isso implicaria experimentar também o abandono do próprio Deus.
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Eu não acredito que Deus Pai tivesse abandonado Jesus, mas acredito que Jesus experimentou até às últimas consequências o que significa esse abandono? Porque era porque era esse o objetivo, isto é, os diversos fermentar e abraçar tudo o que são as feridas humanas. E isso implica implicava, implicou, abraçar também o abandono. Isto é, a pergunta óbvia que alguém como eu, não crente, ou aquele que nega a crença.
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E essa ideia de Deus é mais formidável criação da imaginação humana. No fundo, é o Deus. Deus existe. Eu acho que essa é a pergunta que que que que eu não consigo responder a essa pergunta sem me lembrar da resposta que deu exactamente a mesma pergunta. O antigo Patriarca de Lisboa Vamos aplicar o que diz ele? Perguntas. Porque a melhor resposta para ser é.
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Mas. Mas respondendo agora, talvez como é que se pergunta a Deus? Isso é virar se para ele e perguntar com simplicidade Quer dizer, eu louvo de qualquer maneira. Mas a experiência de fé expressa de uma relação com Deus. Eu estou convencido de que há, obviamente, um caminho da humanidade à procura de mais a procura de respostas para a sua morte, à procura de respostas para fora, para esta sensação de provisoriedade, provisoriedade que que nos habita e que é que é que todos atravessamos, por assim dizer?
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Mas eu estou convencido que é essa, esse caminho humano de procurar o infinito, dar lhe um nome, um rosto. Acho que Deus dar uma resposta a isso. Ou seja, estou convencido de que nos que Deus se encontrou connosco a meio caminho. Por isso, sim, há na experiência religiosa criação humana. Nós criamos alguma coisa da experiência religiosa, mas eu estou convencido de que essa nossa criação foi respondida pelo tipo, pelo definitivo e pelo Eterno a que chamamos Deus.
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Como é que se. Como é que se lida com a dúvida nos momentos em que em que alguém olha e há esse diálogo com Deus e ele não é dentro do lidar com o silêncio de Deus, é uma coisa séria e não é fácil. Mas também a vida adulta não é, não é para quem quer coisas fáceis. Acho que são duas coisas diferentes a dúvida e o silêncio.
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Às vezes eles interceptam se, por assim dizer, mas eu penso que a dúvida é a posição mais honesta. É partir da dúvida, porque há o limite ao limite, ao limite. Crentes e não crentes, temos todos uma. Partimos todos numa mesma pergunta que eu. Acho que se pode formular desta maneira como o Cardeal Ratzinger, ainda antes de ser Papa, antes de ser o Papa Bento 16, escrevia que será que este mundo, que existe, este mundo de que os nossos, as nossas mãos tocam os nossos olhos, vêem que a ciência estuda?
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Será que este mundo que existe é tudo o que existe ou há mais alguma coisa? E dentro desta pergunta, crentes e não crentes tem uma sustém a sua posição filosófica, por assim dizer, filosófica ou teológica. Eu posso dizer não, eu acho que não há mais nada para além deste mundo que existe e por isso sou ateu. Ou posso dizer acho que este mundo que existe não é tudo o que existe e pode haver mais é o Esqueça essa pergunta que no fundo é a pergunta da dúvida.
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É o nosso ponto comum e eu estou convencido de que levar a sério essa pergunta, independentemente daquilo que lhe respondo, se responde por um lado ou se responde para o outro, levar a sério essa pergunta é a existência humana em ato, em acontecimento também Isso que a vida serve para nos dedicarmos a responder essa pergunta. Nesse diálogo há um Deus transcendente, um Deus íntimo.
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Parece me que é isso. Como é que se consegue equilibrar precisamente esse infinitamente pequeno daquilo que está dentro de nós, com esse infinitamente grande e total de uma vida? E aquilo que é uma ideia de um Deus que tudo responde Não se não se concilia, vive se estas coisas. Não só se está em uma constituição filosófica muito evidente.
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Quer dizer, os filósofos e os teólogos dão ao trabalho de trabalhar esse assunto e têm respostas e propostas de caminho. Isso não é absurdo, é que é. Vale a pena pensar nisso e vale a pena falar sobre isso. Não tenho grandes dúvidas acerca disso, mas. Mas na experiência de todos os dias, que é há milhões de pessoas com fé pelo mundo fora.
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E não são todos nós somos todos filósofos, por assim dizer. Nós, os que temos fé e, portanto, parece me que no dia a dia, a experiência pessoal e a experiência de uma relação e por isso sim, pessoal e íntima um Tu, a tua verdadeira, é que te é tão verdadeiro e tão honesto quando formos quanto formos capazes, sendo que isto obviamente implica o nosso interior.
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E às vezes nós temos dificuldade em ser honestos com o nosso próprio interior, porque vamos cá encontrar coisas que preferíamos que não estivessem cá. Faz parte também do nosso próprio crescimento e da maturidade humana. Por isso acho que há essa experiência. E depois há um certo estarrecimento diante do Eterno, diante do Absoluto. E eu penso que mesmo as pessoas menos filosóficas, por assim dizer, pessoas para quem as ideias intelectuais não são o seu espaço de manobra preferido.
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E mais não é para o momento. A água onde são, onde mergulham. Mesmo essas pessoas, acho que acho que é inerente à condição humana alguns desses estarrecimento. E eu penso que essas coisas, mais do que querer resolver, explicar, elas vivem com a inteireza da pessoa, não num não numa lógica de não penso, não explico, não quero saber, mas numa lógica de que quem sabe que as palavras e o pensamento que deve ir o mais longe possível da investigação filosófica teológica, deve fazer o seu caminho.
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E ainda bem que há teólogos e filósofos a fazer isso, mas mas que tragam na consciência de que também não é a explicação lógica de tudo que explica a minha vivência. Quer dizer, nós vemos o santo. Nós somos herdeiros de uma certa atitude iluminista científica e bem, porque dá muito jeito ter um telefone que dá para ver o outro lado do mundo mesmo.
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Segundo, mas é essa lógica meramente racional também não nos explica o valor de uma amizade, Também não nos explica a beleza na arte e por isso esta sensação de que há aqui mais qualquer coisa não é apenas uma sensação, é uma experiência existencial. Se um cientista provasse agora a existência de Deus, isso tornaria a fé mais forte ou mais fraca.
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Muita dificuldade com isso. Se porque o cientista não vai provar a existência de Deus? Eu não posso. Não posso dizer, porque acho que é por aí que vai perguntar. Eu, na minha experiência, nunca vi uma oposição entre fé e razão. Nunca atravessei isso. Aliás, eu estudei engenharia no Técnico durante cinco anos. Tive uma humana desde o secundário que a minha cabeça, por assim dizer, estava mais orientada para as ciências exatas e para a física e para a matemática.
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É que o engenheiro depois se descobre padre e diz Aqui está a minha vocação. O que que é isso de vocação? Como é que se descobre isso? A vocação tem a ver com a certeza, com a consciência, que, dentro da relação com Deus, é o que eu sou, também se esclarecem, ou seja, aquilo que eu sofro duramente não é apenas o que me acontece ser, mas o que eu sou verdadeiramente, esclarece.
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Na relação com Deus, eu acho que descobrir a vocação é esse processo de esclarecimento. Não é que Deus mude o que eu sou, não é que Deus tenha para mim umas ideias diferentes daquilo que eu sou e que é a relação com Deus que vai esclarecendo a verdade acerca de mim. E por isso penso que vocação, isso é verdade.
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E eu tenho uma pergunta que é muito prática, que é como é que alguém que um dia de manhã ou à tarde ou à noite não interessa, tem essa primeira ideia que é eu vou dedicar me à missão de Deus e da Igreja Católica. Depois discute isto com quem conversar? Com quem? Que? Como é que isto aconteceu? Não há uma fórmula que seja igual para todos nós.
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Quis contar a minha experiência e para mim o que fez diferença foi que eu me fui envolvendo na vida da igreja, com campos de férias, com a vida na paróquia. Eu sou do Estoril e por isso fui crescendo ali perto da paróquia e isso foi também nesse lugar e nesse contexto que os meus amigos e as suas amizades que que as principais amizades que duram até hoje desses tempos são desse contexto, Não todas, mas, mas muitas delas.
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E de repente, a vida da Igreja tornou se casa para mim. E isso é um muito significativo. Claro que isso não significa ser padre, significa simplesmente querer levar a sério a vida, a vida cristã. Agora, com o passar do tempo, eu fui percebendo e fui experimentando que o meu é a minha vida, é envolvido na vida da igreja.
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Me fazia muito mais sentido do que outra coisa qualquer. Mas depois há um momento zero, há um momento em que passa a ser a sério, deixa de ser uma ideia, uma projeção, uma casa. E é bom. A partir deste momento vai ser ordenado padre e, portanto, aí muda tudo. Ou não. As coisas vão mudando porque não foi ordenado padre um dia para o outro.
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Claro que o dia da ordenação é um dia decisivo e antes da ordenação eu não era padre. Depois da revolução, passei a ser o que se pensa nesse mesmo dia a minha vida. É preciso muita coisa, pois um dia eu passei por uma experiência bonita. Eu não sou muito dada a grandes grandes emoções nem lamechices meus, mas vou parar aí agora, porque eu fui ordenado na Igreja nos Jerónimos, a Igreja de Santa Maria de Belém, que é comprida como imagem.
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Conheça. E nós entramos na Igreja, vindos lá do fundo e com o grande cortejo com os acólitos, outros padres, no fim, os bispos e. E à medida que avançamos pelo corredor central da Igreja e vendo nas pessoas que lá estavam nessa mesa uma quantidade de gente que tinha atravessado a minha vida noutras épocas e de alguma maneira, foi um certo reconstruo reconstituir da minha vida toda.
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Porque? Porque vi a minha professora primária e depois vi que já não via não sei quantos anos perdi mais isto e mais aquilo. Os amigos do secundário, os amigos daqui, os amigos dali e a família e estas e da jornada. Lembro me perfeitamente dessa experiência ser claramente a minha vida desembocar aqui. Isso foi bonito, foi uma experiência bonita que eu posso contar.
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Em termos práticos. Eu penso que a grande vantagem de ser padre é que, se me permite lutar, lutar todos os dias contra uma coisa que é muito tentadora, que é muito tentadora e a gente vê muito à nossa volta que fazer da nossa vida uma coisa em que nós somos a personagem principal e hoje em dia popular. Essa ideia do self-made man que me construiu a mim próprio, que faço a minha vida acerca de mim próprio e corremos o risco de usar uma expressão que não é minha, mas que eu gosto de viver.
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Uma vida em que eu realizo o meu filme. Sou personagem principal, o realizador, o produtor, quem trata dos figurinos, quem faz a iluminação e tudo o resto. E devo dizer que uma vida meramente fechada no que eu sou e nos meus desejos, por muito grandes que sejam meus desejos, me parece uma vida muito, muito, muito aborrecida e muito fechada, muito curta, muito pequena e por isso a possibilidade de ser padre foi uma graça que Deus me deu também por causa disso, porque eu sou obrigado, quer queira, quer não.
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Porque eu reconheço que é atrativo fazer da nossa vida uma coisa sobre nós, mas eu sou obrigado, quer queira quer não, a lutar todos os dias contra isso e a fazer da minha vida uma coisa sobre eu e sobre os outros. E ter essa possibilidade para mim é meio caminho andado para a minha vida ser feliz. Porque eu não acredito numa felicidade que fosse fechada a mim próprio.
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É uma forma jura de serviço público permanente aos outros, à comunidade, enfim, é um apagamento do seu próprio desejo individual. Não acho que seja apagamento. E eu demorei algum tempo e tive algumas, algumas lutas comigo próprio e com Deus no tempo do seminário, precisamente com isso, porque essas são à primeira vista, parece que ou eu sou de Deus ou eu sou eu próprio e é um caminho intermédio, não é um caminho intermédio.
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É que as duas coisas não são, não são opostas, não são mutuamente exclusivas. Elas não concorrem. E elas podem não ser só isso. Não é uma competição. E isso me foi. Foi importante perceber que a vida de serviço é disponível para os outros, que eu não posso dizer que tenho, porque, infelizmente, há muito egoísmo e muito autocentramento em mim mesmo, mas que pelo menos faço o possível por tentar ter uma vida de serviço e de missão.
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É o lugar onde eu encontro o que eu sou de verdade. Isso é que faz a diferença. Mas a parte da pequena vaidade humana não faz de nós também humanos. Lá está, um bocadinho mais longe dos deuses. Faz de nós humanos e por isso eu percebo que seja atrativo. Mas a minha descoberta e de alguma maneira aquilo que eu vivo é que é a maneira como me faz sentido viver a vida.
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E devo dizer como eu reconheço que anda toda a gente. Se me perguntar, é precisamente o contrário, É inverter essa lógica de achar que eu sei viver em função de mim próprio. Aí é que eu vou ser feliz, vou realizar os meus desejos e eu percebo que isso é atrativo e parece e é instintivo. Nós temos um certo instinto de sobrevivência que nos faz virar para dentro.
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Mas aquilo que que a tradição cristã me ensinou é que eu descobri existencialmente, é que a nossa vida é francamente mais aberta, mais feliz e mais inteira quando se faz da vida uma coisa sobre Deus e sobre os outros e isto é difícil. Quer dizer, eu estou a dizer isto com a certeza absoluta de que eu não vivo isto com perfeição, nem pouco mais ou menos, mas passar a vida a lutar nesta direção tem sido uma ocasião de uma possibilidade de viver muito feliz.
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Para alguém que tem que falar de Deus. Muitas vezes é exactamente nesse cruzamento entre o que é o serviço, o que é que é vaidade. E estou a pensar em mim, muito em particular no discurso público, nas homilias lindas e nos sermões. Portanto, aquele momento em que eu fico sempre fascinado quando vejo alguém falar bem, mesmo num num palco, num púlpito, é uma coisa que me fascina, que é quando nós vamos para cima, para um púlpito, quando nós estamos a falar a uma assembleia, estamos a falar dentro de uma igreja.
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Como é que esse momento, o que é, O que que se sente exactamente nessa bifurcação entre o que é que é serviço e o que é a sua vaidade pessoal de fazer aquilo. Uma magnífica homilia. Um magnífico. Ironicamente, ironicamente, se eu for fazer uma homilia que já aconteceu, preocupada em sair me bem, isso vai me fazer estar de tal maneira consciente de mim próprio que isso me bloqueia e vai ser irmão.
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É preciso uma irresponsabilidade e eu estou convencido disso. Pelo -1 certa dose de inconsciência, porque eu não falo como exemplo. O meu exemplo Tenho que ficar calado. Vou falar com minha consciência porque faço o possível por dizer coisas em que acredito e de propor maneiras de ver em que acredito. Mas. Mas eu tô convencido de que, pelo menos.
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Enfim, cada padre e cada pessoa que fala em público terá a sua experiência. Mas a minha experiência é que eu preciso, Eu estou exposto e se estiver preocupado em sair me bem, isso vai tomar conta daquilo tudo e eu vou bloquear. Não vou ter liberdade de pensamento. As ideias não vão fluir bem preparadas para ultrapassar as. Eu preparo me lendo os textos a partir dos quais vou falar os sons bíblicos da missa desse dia.
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E eles estão pré definidos. Já os textos são definidos para o mundo inteiro. Não são todos, são sempre os mesmos mesmos dias. O calendário para a Igreja de rito latino universal, portanto, é sempre igual. Assim, nos dias de. Há alguns santos que nós celebramos que têm mais a ver com a nossa história, com nossa tradição e que talvez nos Estados Unidos da América não sejam celebrar.
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E aí as leituras podem mudar, mas estão onde está lá o calendário do Leste leres os textos e assim vais fazer uma interpretação do leia os textos e a partir do que leio, procuro duas ou três ideias. O tempo que antigamente fazia pensava sempre em três ideias. Hoje em dia tento pensar só no modus, quer para não falar.
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Mas, mas é bom e é aqui um, três, três passos. O primeiro passo é isso ler os textos e perceber que há ali três ou quatro coisas que me dizem às vezes que tem a ver com a minha, como também com a minha maneira, com a minha própria história e que se encontram com coisas que já foram importantes, com ideias e com e com passos bíblicos que já foram.
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Portanto, para mim, alguma fase da vida. E obviamente, a minha história também está ali, mais ou menos inevitável. Mas tem essa, essa primeira fase. Depois eu faço um esforço para olhar para o mundo, para perceber onde é que vivemos, o que é que se passa à nossa volta. E é muitas vezes reconheço nas ideias chave que o Evangelho que as leituras desse dia trazem é uma confluência muito, muito evidente, às vezes menos evidente, mas mas possível de fazer.
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É relevante em relação ao mundo em que vivemos. Usas aquela lente, aquele texto, aquela filosofia, o pensamento. Isso e pensas no tempo, Pensas no tempo. Nunca que estamos a viver as nossas contradições. Faço um esforço por isso, às vezes não tenho imensa capacidade de fazer. Espero poder ser um leitor mais capaz da realidade. Enfim, cada um tem suas próprias limitações, Mas.
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Mas faço o possível por fazer muito para olhar para o mundo, não apenas na cronologia, mas no significado e no sentido do que andamos a viver. E penso que não é só pensar. Os textos bíblicos são o resultado de uma experiência de milhares de anos, de um povo e de uma e de uma igreja e por isso as nossas experiências não são assim tão originais.
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Vão se repetindo, a natureza humana é a mesma e depois o fermento das coisas, que é a retórica, A maneira como tu organizas esse pensamento para cativar as pessoas que estão ali, naquela para dizer eu não penso muito nisso, ou seja, a forma. Não penso muito nisso, mas não vais vendo como é que as pessoas estão a olhar, de como é que estão a ser dito.
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Era isso que eu ia dizer. Ficam mais felizes, ficam mais zangadas contigo. Faz muita diferença o retorno das pessoas. Toma de frente porque as pessoas estão caladas e estão a ouvir mas, mas, mas, vão, mas tem expressão, eu faço, Eu não estou a falar para uma plateia anónima falar para pessoas concretas. E é por isso reconheço na Ana, nesse retorno, no olhar, na Ana, percebo que as pessoas estão atentas ou não estão atentas.
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Percebe que os Clara já começam a ver que já está a pensar noutra coisa, que está na altura de eu me calar.
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Mas isso faz diferença às vezes. Houve uma altura da minha vida em que em que eu estava, em que eu, além de de ser capelão do Universal, de católica, também estava a ajudar nas paróquias aí em Algés, em Miraflores e na Cruz Quebrada. E às vezes tinha duas ou três missas no mesmo dia e por isso duas ou três homilias em sítios diferentes e eu reconhecia que o impacto da reação das pessoas que me estavam a ouvir mudava a maneira como eu estava a falar.
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Mas sim, isso é importante. Mas eu não penso muito na forma por ignorância e não é por nada, porque não, não, não estudei o suficiente para conseguir teorizar muito acerca das formas, mas. Mas percebo, eu preciso e faz toda a diferença perceber que estou a falar de uma pessoa que me está a ouvir. Lembro me de nos tempos da pandemia em que estávamos todos em casa, nós filmávamos e transmitimos em streaming as celebrações.
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E é muito, muito difícil falar para um computador, falar com uma lente porque não está lá ninguém. Lá ninguém. É muito difícil, não. Tinha que fazer um esforço diário e permanente para estar atento para aquilo, para conseguir. Quer parar para desenvolver isso? Isso não era em geral. Olha o que é que, o que é que foi? O que quer fazer?
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Lá está uma homilia ou um sermão num momento de grande festa, um de casas, uns amigos onde fazes um batismo de manhã, de uma criança, de alguém que esteja muito próximo. Esses dias são os dias mais fáceis de dizer, porque Primeiro porque a festa ajuda e as pessoas estão predispostas a estar ali, de boa disposição e com vontade de lá estar.
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E isso são os dias mais fácil, porque são dias de beleza e de grandeza. E é Deus tem tudo a ver com a beleza, com grandeza. Portanto, não é nada difícil fazer essas pontes e, portanto, é mais fácil ligar. Olha, o ato da fala é obviamente importante, mas depois há o ato de escuta. Por maioria de razão, o momento em que tu escuta as pessoas num confessionário nem consegues.
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Como é que se escutam pessoas? Então, o primeiro ponto é não querer encaixar o que as pessoas estão a dizer. Na minha própria experiência, porque é tentador nós ouvirmos e é verdade. Vamos ouvindo e vamos conseguindo nos relacionar com o que estamos a ouvir. Mas é importante fazer um esforço para não reduzir o que a pessoa me está a dizer ao que eu já vivi, porque isso deixe de estar a ouvir e passe passar mais uma vez.
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Estaria tudo a passar pelo filtro do eu. Isso seria bastante destrutivo ali daquela experiência. E eu penso que a linguagem verbal, mas vai sempre acompanhada pelo resto e por isso aquilo que eu me sinto chamado a fazer diante de uma pessoa que está a falar comigo é sobretudo quando começa a falar de coisas que lhe são íntimas e é nós e eu, como padre, as pessoas, porque confiam na Igreja, mesmo sem me conhecer especialmente, falam me de coisas que às vezes não falam sobre a sua mulher.
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E é então parece me que o grande ponto é sempre reconhecer a pessoa inteira e o que ela está a dizer. A sua expressão é tentar estar atento a isso, atento a inteireza daquela pessoa. Eu faço esse esforço, você se corre sempre vai deixa fazer esse esforço só para que me critiquem. Não, não é só para aqui uma coisa que está a fazer um ruído.
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Há um ruído aqui nesta mesa de mistura. Há um microfone que está para aqui a subir e a descer. Ok. Eu estava a ouvir aqui um barulho de.
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Alguém? Então eu estava aqui na manutenção que pode resolver isso. O.k. Voltamos. Não tem problema, não estamos. Estamos absolutamente tranquilos. Já não se deitava? Não se preocupe. Não, não. Eu repito. Não tenho. Não tenho problema nenhum. E quando as coisas que tu ouves são demasiado difíceis para tu próprio conseguires absorver e ajudar aquela pessoa. E isso acontece muitas vezes.
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Ou seja, eu não tenho resposta para tudo, mas também não acho que o meu papel como padre ao ouvir alguém seja em acompanhamento espiritual, seja em confissão, não me parece que seja em conversas naturais que vão surgindo. Não parece que o meu papel não parece sequer que o que as pessoas esperam de mim é que eu tenha resposta para tudo.
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Porque não tenho e não há. Não há resposta por tudo que a gente vê. Eu vim já, já, Já me falaram de grandes sofrimentos de tal maneira injustos e me à primeira vista sem sentido, que é muito difícil ter resposta para aquilo sobre isso não tenho grandes dúvidas, mas eu também não sinto que seja de repente da resposta das coisas todas.
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Eu acho que quando o assunto é especialmente difícil e doloroso, o que isso quer de mim é que é a companhia de alguém que a acompanhe naquilo. É compaixão. Compaixão e companhia são próximas. Companhia no sentido de pessoa não se sentir sozinha naquela que é o sofrimento. Uma vez posso contar uma história. Acho que não cometi nenhuma inconfidência.
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Houve uma pessoa que foi falar comigo que era uma pessoa que estava doente, terminal e sabia que ia morrer em meses e devia ter talvez 50, 60 anos, portanto, relativamente nova, muito nova para morrer. Certamente com filhos e preocupada. Essa pessoa estava preocupada com o que aconteceu aos filhos, etc, etc. E eu não sei lidar com isto. Quer dizer, não sei, não sei, não sei como é que se resolve isto.
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Não sei, não tenho que saber porque dizer não é possível ter resposta para tudo. Agora, o que fazer? Depois da nossa conversa? Essa pessoa ficou muito contente e agradeceu me muita conversa, embora eu tivesse dito muito pouca coisa e penso que esse é o ponto e não é preciso dizer nada. Eu preciso de explicar à pessoa que percebi o que ela me está a dizer, que a pessoa não está sozinha naquilo.
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E às vezes basta devolver à pessoa o que ela acabou de dizer. Não para fazer ricochete do género não tenho nada a ver com isso, mas para dizer eu percebi isso eu consigo. Eu não faço ideia o que é estar naquela circunstância, nesse sentido, não percebo na primeira pessoa, mas. Mas captar é tanto quanto podia captar o que a experiência dura e sofrida daquela pessoa.
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Isso faz com que a pessoa não se sinta sozinha. Claro que isto não é tudo. Há coisas para fazer. Às vezes é preciso recomendar à pessoa que procure ajudas profissionais na psicologia, na psiquiatria, porque eu também não sou psicólogo. Onde é que está a fronteira entre o acolhimento e ouvir aquela pessoa? E a fronteira da recomendação do Conselho?
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Ou o caso de uma intervenção para aquela, para que aquela pessoa tenha consciência de que, nesse caso é um caso extremo, mas obviamente que que não está a fazer a coisa certa, o que pode ainda, de alguma maneira mudar as coisas. E eu não sei do que é que as pessoas falam quando são professor. Não se salvam, são só um conjunto de tópicos.
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Estás à vontade. Seria um péssimo cliente? Provavelmente. Mas embora é a arte do diálogo, é um trabalho seguramente muito, muito interessante. Mas há um conjunto de tópicos um Um cardápio que tu hoje consigas dizer quais são as coisas com que habitualmente te vão bater à porta. Ou seja, têm dificuldade em fazer esse cardápio já pré estabelecido. Tenho isso na Universidade Católica e por isso também a maioria das pessoas que falam comigo são de uma faixa etária determinada, que são estudantes universitários, de que eles falam o que os inquieta.
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É isso que eu tenho uma visão enviesada, em que eu também por causa disso. Mas há muita ansiedade dos outros. Há coisas que são mais ou menos do conhecimento geral nos dias que correm. Muita ansiedade, muita pressão que eles próprios sentem às vezes. Às vezes é a família que põe alguma coisa dessa pressão. Mas também acho que às vezes é mais a interpretação que eles fazem do que do que vão ouvindo da família, do que porque acho que não são os pais nem os irmãos que estão a querer objetivamente pôr a pressão para que ele seja o melhor aluno que às vezes acontece.
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Mas isso é relativamente raro. Mas há ali uma certa, um certo desfasamento entre o que me parece ser as boas intenções das famílias. Tudo o que a pessoa estudar é que tem que ter boas notas. E como é normal os pais dizerem aos filhos e depois o peso com que muitos dos estudantes vivem isso. Isso acontece e é um falar em ansiedade, mas talvez mais do que ansiedade, o que eu vejo?
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Esta pressão é muita pressão, muita expectativa sobre eles. Eles têm muitas expectativas sobre os próprios à sua volta, tem muita expectativa sobre eles próprios. Claro que as pessoas são todas diferentes e eu não posso dizer que isto acontece a toda a gente, nem quero ser redutor nesse aspeto, mas isso é claramente um assunto que não estão a usufruir e a viver a vida de uma forma mais serena.
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Mas estão com essa, com essa dimensão, com essa pessoa. Sim, eu estou convencido que o nosso mundo tem uma velocidade que não tinha há uns anos atrás. Eu fui estudante universitário num tempo em que os telemóveis mandava mensagens, fazíamos chamadas e cresci na escola secundária, num tempo em que não havia telefones e por isso era um descanso. Sim, em certo sentido.
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Eu às vezes apetece me pegar, mandar para o lago com o microfone. Mas, mas a experiência, a experiência destas pessoas, destes meninos, destes universitários, dos discursos nos dias de hoje, é uma experiência de alguma saturação. O sujeito está em agendas cheias de coisas, mesmo em âmbito de fé. A vida da Igreja, na sua diversidade, oferece lhes propostas a toda a hora.
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É momento de hoje. É uma noite de oração não sei onde e depois é uma conferência e depois, aí sim, depois aquilo. E todos os dias há propostas e coisas e há uma certa necessidade que vem de querer estar em todo o lado e de ter muita dificuldade em dizer que não é o grande. Para mim, a grande consequência é negativa, que extravasa, que é difícil para os universitários hoje em dia estarem inteiros alguma coisa, porque estão sempre são sempre a coleccionar muita experiências, mas muitas experiências parciais.
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Porque vou a uma conferência mas saio mais cedo, porque a seguir a minha amiga faz anos e depois a seguir ainda vou beber e portanto vou jantar com ela e a seguir ainda vou beber um café com outro amigo que vai preparar nos para a semana e portanto a despedida é no intervalo. Estou com o telefone ligado e a mandar para o telefone.
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E é essa, essa velocidade que satura as agendas. E se existe às vezes nos grupos que acompanho, é preciso marcar uma reunião e não dá para marcar a reunião no próximo mês. Não há agenda que não há um dia livre no próximo mês. Eu tento dizer isto na minha agenda também. Às vezes é assim. Mas quer dizer, nós vivemos assim nesta velocidade e há uma saturação.
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Eu estou convencido de que essa é uma das características principais de saturação que leva depois a acumular experiências parciais e a ter dificuldade a estar inteiro nalguma coisa. Muita dificuldade em dizer que não, em renunciar, porque isto parece que estou a perder alguma coisa. Parece que parece que me vai ser tirado alguma coisa porque eu disse que não.
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Já não vou estar muita dificuldade em renunciar, em dizer isto, não em viver uma certa solidão que é renúncia, sempre implica o como faço? Como faço para para uma coisa agora que estou a ouvir falar? Que é que a experiência, se calhar diametralmente oposta a essa que é a experiência da peregrinação até muitas vezes solitária, e da Fátima, a ida a Santiago de Compostela, que.
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O que se tira dali é exactamente esse sair da agenda. E é a agenda, é simplesmente caminhar consigo próprio até um determinado objectivo. E sendo que o objectivo não é chegar a um sítio, é pensar sobre a proibição. É uma imagem muito forte da vida. A nossa vida começa e tem um fim e tem um destino, um objetivo.
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Para quem tem fé, o fim não é apenas um ponto final, é um ponto de chegada. E por isso a peregrinação é tão forte. Parece me, é muito. Há muitas proibições e são muito procuradas, por assim dizer. Também me parece que por causa disto, porque Porque há ali uma imagem da minha vida, dos passos no caminho que me deixa cansado, que depois às vezes eu me engano no caminho.
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Depois tem que voltar, que essa preocupação em que o sítio onde eu quero chegar impacta o passo. Que luz isso é, isso é a nossa vida, isso é nós. O futuro, o futuro está à nossa espera. O futuro, o que nós vamos ser no futuro começa hoje a ser construído e por isso gosto da imagem da peregrinação, porque me parece que se reconhece a vida e a uma certa viagem interior e a acontecer, isso sim, é uma coisa que eu queria dizer que nisso também nós estamos a ironia hoje em dia, porque uma profissão é isso.
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Só que ainda há uma certa tendência para pelo menos não começa nesses termos. Eu só posso ir lá no sábado à tarde, portanto só faço metade. E isto é uma coisa que me está dizer Não, não, fazes me, não é válido. Ou vais no princípio ou não vais, porque senão não vai ser mais uma experiência parcial. E o objetivo desta peregrinação era dar te exatamente o contrário dar um tempo para estar inteiro, desligado.
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Começa no princípio, vais no fim. Não tens de preocupar onde é que para declararmos isto vai te ser dado nesse tempo concentrado no na possibilidade do encontro contigo, com Deus e tu com o definitivo. O que é que te traz? O que é que nós aprendemos numa peregrinação? Muita coisa. E eu penso que numa profissão principal há professores de profissões.
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Não há gente para fazer só caminhadas ou para fazer uma preleção. Mesmo como peregrinos, que é como quem diz eu sei que vou chegar a um santuário, sei que vou chegar, que sei que tenho um ponto de chegada e sei que sou esperado. E eu penso que isso de ser esperado é uma das coisas que uma peregrinação a sério traz.
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Eu sei que sou esperado. Não é que quando se vai para a Fátima, não é que esteja lá uma pessoa concreta no Santuário de Fátima à minha espera. É, apesar de tudo, com pessoas que, mesmo que não tenham crença religiosa, a peregrinação também pode ser vivida com essa espiritualidade ou não? Sim e não. Ou seja, eu não, eu não acho.
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Não acho que premonição seja um exclusivo de quem tem fé. A peregrinação, que é como quem diz reconhecer que a minha vida tem um ponto de chegada onde eu sou esperado extravasa os limites visíveis da religião e, portanto, nesse aspeto, sim. Mas acho que é uma experiência espiritual. E agora é verdade que cada pessoa viverá a espiritualidade da maneira que quiser.
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É verdade também que nos dias que correm, muita gente procura a vivência espirituais fora da dimensão institucional, como me acontecia no passado. Mas eu estou convencido que a dimensão institucional não é apenas uma dimensão institucional. A Igreja Católica não é apenas uma instituição. A Igreja Católica é não é o lugar do acesso a uma tradição de 2000 anos.
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É mais porque entronca também numa tradição ainda anterior a essa que me parece pertinente para sobreviver a vida. E eu penso que é o encontro com uma sabedoria de vida. Também é um encontro com Deus, mas um Deus que se foi manifestando ao longo da história, que foi ensinando a viver ao longo da história, que foi ajudando a levantar as questões fundamentais da existência.
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E por isso, a premiação. Uma peregrinação pode ser um lugar de encontrar tudo isso e de reviver isso tudo numa viagem seguramente com liberdade. A Bíblia seguramente, sendo que a Bíblia são muitos livros. Quem nunca leu a Bíblia começa por onde? O que é que tu? Qual dos livros da Bíblia Aquele que tu aconselharia a quem nunca entrou nessa porta e tu é que podes ler qualquer coisa da Bíblia?
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Tenho muita dificuldade em escolher um, mas eu acho que, na minha perspetiva, a Bíblia converge para a pessoa de Jesus mesmo os tais textos antigos convergem para ali e para isso eu diria que ler, ler, ler um evangelho, ler o Evangelho de São João, talvez que é o mais refletido, mas, mas, mas teológico talvez pode ser uma boa ideia.
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Mas talvez todos os homens ler o Evangelho de Marcos, que é mais curto, mas mais conciso, menos elaborado, mas ao mesmo tempo também, mas talvez até por ser literariamente mais rudimentar e mais espontâneo, mas mais terra a terra. Nesse aspeto acho que isso é sempre uma coisa boa. Agora eu tenho imensa dificuldade em preferir um livro da Bíblia em relação a outros, porque a Bíblia tem literatura, uma beleza absolutamente extraordinária em tantas páginas.
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E são textos onde se trabalham todos os temas da existência. Isso é o que me fascina na Bíblia. Não é apenas isso, mas é uma das coisas que me fascina a Bíblia. Todos os temas fundamentais do que significa ser pessoa tão trabalhados. E é curioso porque estão todos trabalhados de propósito. Eles não estão lá respondidos. A Bíblia não é um livro de respostas, é um livro de perguntas.
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É um livro de perguntas e de caminhos. E isso acho absolutamente fascinante. O livro das respostas também os temos, mas são os catecismos, são as doutrinas. E ainda bem que eles existem, em certo sentido, porque sistematizou um caminho de sistematização para viver. Mas. Mas a beleza extravasa tudo isso. A Bíblia tem tem um, uma profundidade, precisamente porque ali estão todos os temas da existência.
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Já que falamos em perguntas e para fechar, que pergunta farás a Deus quando agora o encontrares dali, dali a bocadinho e ele aparecer? Então, Miguel, qual é a tua pergunta? Eu não sei. Tenho menos coisas para perguntar e mais para contemplar. Mas sim, se tivesse que escolher uma pergunta, talvez eu lhe perguntasse porque tanto? Porque então, porque tanto?
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Porque? Porque uma das coisas que me fascina em Deus é a abundância e a grandeza. E isso, isso é uma das coisas que marca e marca decisivamente a minha história nos museus, que marca a história da fé cristã, que é um encontro com uma grandeza e por isso, de facto, é muito e de coisas grandes que se trata de uma vida elevada, de uma vida que aponta para o alto, que não se contenta com pouco e por isso essa grandeza e aquilo que me fascinei era aí que eu queria, era nisso que eu queria que Deus me respondesse, acho eu.
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Obrigado, Miguel Vasconcelos. E eu de gosto.
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Há 2024 anos nasceu Jesus.
Assim reza a história e tradição cristã.
E hoje ainda vale celebrar o natal?
Hoje, temos uma conversa que promete iluminar muitos aspetos da nossa existência e nos levar a refletir sobre questões essenciais da vida, da fé e do mundo em que vivemos. Da fé, mas não só.
O convidado é o Padre Miguel Vasconcelos, capelão da Universidade Católica de Lisboa,
Alguém que se sonhou engenheiro e acabou a ser ordenado sacerdote,
O Padre Miguel consegue explicar coisas tão complexas e misteriosas como a fé em três frases.
Nesta conversa, exploramos o significado do Natal, mas também muito mais do que isso. Falamos de como, em tempos de escuridão – sejam eles conflitos no mundo, crises pessoais ou simples dúvidas existenciais —, o Natal pode ser uma luz.
Não uma solução mágica para os problemas, mas um convite a acreditar na possibilidade de recomeçar.
Discutimos o simbolismo do presépio como uma mensagem de vulnerabilidade e esperança, que nos desafia a sermos mais humildes e disponíveis para o outro.
Mas não paramos por aí.
Entramos também numa questão central: Deus. A ideia de Deus.
Deus existe?
Quem é Deus?
E como lidamos com a dúvida, o silêncio ou até mesmo a sensação de abandono em momentos difíceis?
Miguel Vasconcelos reflete sobre a complexidade desta relação, reconhecendo que a experiência de Deus é tanto transcendente quanto profundamente íntima. É um diálogo constante entre o que é infinitamente grande e aquilo que é infinitamente pequeno em nós.
Há também espaço para uma reflexão sobre o papel da religião no mundo contemporâneo.
Falamos de como, muitas vezes, a fé é vista como algo distante ou solene, quando na realidade está profundamente ligada à celebração da vida e até ao riso e à festa. Questionamos se a religião é um caminho de respostas, ou antes, um espaço para levantar as grandes perguntas da existência. Para o Padre Miguel, a fé não elimina a dúvida; pelo contrário, vive ao lado dela como um motor de busca e de encontro com o eterno.
E claro, sendo o Padre Miguel um orador experiente, quis ouvi-lo sobre a arte de comunicar em público. O que significa falar de Deus para uma audiência, ou mesmo escutar as dores e os dilemas de alguém no confessionário?
Para ele, a chave está na honestidade – seja na palavra ou na escuta – e em nunca transformar a mensagem num espetáculo, mas antes num ato genuíno de serviço.
Este é um episódio sobre humanidade, espiritualidade e a busca por sentido, que promete trazer não só respostas, mas também muitas perguntas para refletirmos juntos.
Feliz natal para todos.Até para a semana.
LER A TRANSCRIÇÃO DO EPISÓDIO00:00:00:11 – 00:00:30:24
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Viva Miguel Vasconcelos, padre de vocação, capelão da Universidade Católica de Lisboa. Estamos em tempos de Natal. Como é que ainda faz sentido celebrar o Natal? Como nós celebramos? Então, antes de mais, olá! Vão estar aqui sim, e acho que faz sentido. Será o Natal. E acho que nos tempos em que passamos, nos tempos que atravessamos, estava ainda seja mais evidente por que é importante celebrar agora o Natal.
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O mundo parece escuro à nossa volta. A gente vê as guerras. Estamos críticos, por assim dizer, às vezes sem grande promessa de melhoria. Vemos as flores e sonhos políticas e por aí fora. Vemos, enfim, tantos problemas que tive aqui elencar os que os que estão na moda, por assim dizer. Mas também sabemos que há muitos problemas mais discretos que que foi que preocupam a vida das pessoas e que afrontam a vida de qualidade de muitas pessoas.
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E acho que isso é um. Estes tempos são tempos em que a gente passa algum tempo a pensar o mundo parece escuro, mas também acho que é verdade que precisamente num contexto de alguma escuridão, a luz interessa nos. E eu penso que o Natal tem esse poder, tem essa capacidade de devolver alguma luz aos dias, os dias em que estamos, não que magicamente Deus vai resolver os problemas das pessoas, mas porque há uma alma expressa e sobretudo em quem tem fé.
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Mas eu acho que extravasa uma questão de. Extravasa meramente as questões da fé e é uma possibilidade de acreditar que as coisas podem recomeçar e que sermos todos postos diante da cena do presépio, com o recém nascido indefeso que se põe à mercê do que lhe quiserem fazer, é um motivo de esperança, é uma ideia de humildade que ali está desenhada, de humildade e de indispensabilidade.
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Estou no meio de agressividades que vemos à nossa volta. Está ali alguém indefeso. E eu penso que esse contraste, confrontarmos com esse contraste, como acaba por acontecer sempre no Natal, faz nos bem num mundo talvez difícil, agressivo, pesado. De repente, pormos os olhos numa criança recém nascida, indefesa, como dizia há pouco, à mercê do que lhe quiserem fazer oferecida, disponível.
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Acho que esse contraste tem força. O que que o que que é esse presépio? O presépio nos pode ensinar sobre a liderança e sobre a empatia do mundo e da cidade moderna? Eu não sei dizer o que é que o presépio pode ensinar de liderança, porque acho que o presépio o ensine sozinho. Mas porque está Papa, Parece que estamos.
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Estamos ao contrário, porque essa mensagem de vulnerabilidade, de humildade, de possibilidade, de optimismo, parece quase que o contraste parece agrilhoada com o mundo dos tanques, com o mundo do discurso agressivo, com o com o o mundo, com o mundo em que é o outro pelo próximo para para ganhar um melhor lugar. Eu lembro me esse propósito dos primeiros tempos do Papa Francisco, quando ele foi eleito Papa.
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Aqueles primeiros meses, primeiros primeiros dias, primeiras semanas, primeiros meses. De alguma maneira isso foi continuando. Mas nós, naquele tempo tivemos um de repente, uma quantidade de sinais e de gestos, de simplicidade, de humildade também de uma pessoa sem medo de expor as suas próprias vulnerabilidades. E isso foi absolutamente atrativo e um modelo de liderança absolutamente extraordinário. E por isso acho que o presépio, acho que o Papa se inspirou no presépio, por assim dizer, no quis também este Papa.
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Ele esteve cá agora nas Jornadas Mundiais da Juventude, esteve na organização também teve algum contacto mais próximo com o Papa aqui na jornada? Não. Especialmente. Quer dizer, tive um contacto muito evidente porque eu sou cristão de Universidade católica e o Papa visitou a Universidade Católica. Já fez uma carga de trabalhos, mas ainda não conhecia esse trabalho e por causa é sempre bom trabalhar.
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Mas. Mas o Papa foi lá encontrar se com os universitários, não apenas com os da Universidade Católica, mas com todos. E é esse. É por isso de síntese, esse momento de alguma proximidade. Mas quer dizer não, não, não foi. Não conversei com o Papa, Não, não tive. Se não tivesse bastante. Isso aconteceu em 2017, que nos teve cá em Fátima, mas desta vez não.
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Ainda assim, acho que a simplicidade que nós lhe reconhecemos eu lembro, evoco e acho que é bom. Trazemos à memória sobretudo aqueles primeiros meses do pontificado do Papa Francisco, porque foram cheios, preenchidos de sinais. E eu penso que o tipo de sinal que ele está é próprio do tempo do Natal, da simplicidade diante da complexidade e, curiosamente, uma simplicidade que não é superficial.
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O Natal é uma coisa simples, mas profunda. Às vezes nós temos uma certa tendência em ser simples e superficiais ou profundos, mas não tenho complexos. O que é que é o Natal? É ali essas duas coisas. É que o Natal é, sem grandes dúvidas. Em primeiro lugar, o Natal é para de uma maneira mais evidente possível, um nascimento de Jesus Cristo.
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E eu sou padre e acho que é a partir daqui que sou chamado a falar que a partir desta festa, desta consciência clara, que sou chamado a falar e isto tem impacto, é o rasto que aquela pessoa nascida há 2000 anos dá. 2024 anos deixou na história de impacto e por isso, hoje o Natal de alguma maneira capta também e agarra também o impacto que aquela pessoa teve a longo da história.
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E eu penso que hoje ser cristão é, obviamente, reconhecer nesta pessoa de Jesus uma visita de Deus, uma visita do infinito e do Eterno, uma visita do que extravasa o nosso mundo meramente material. E, portanto, obviamente, o Natal passa por isso, por um encontro com o definitivo, com o Eterno, que é uma coisa que às vezes nos faz estremecer, mas que me parece que faz de nós mais pessoas e de alguma maneira, parece me que a experiência da simplicidade do Menino Jesus, que vai indefeso e é uma experiência que nos pode ajudar a refazer a confiança em Deus nos nossos tempos, não muito popular, pelo menos aqui nas nossas bandas, por assim dizer.
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Mas, mas refazer a confiança em Deus é poder poder saber que se pode confiar no Eterno, que se pode confiar no definitivo. É porque o definitivo tem um rosto. Isso parece me significativo. Nós celebramos o Natal provavelmente em dois planos um muito interessante e recompensador, que é essa ideia da família ou da familia e de estar com pessoas de quem gostamos muito.
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Mas, por outro lado, aliamos isto a um espírito de Natal, a um desenfreado consumir, de comprar todos os presentes do mundo, como se isso fosse absolutamente fundamental para aquele momento. Sim, o que é que se passa? Então eu reconheço que o consumismo é uma coisa excessiva, mas eu devo dizer que não embarco muito na onda de quem acha que presente é uma coisa que extravasa o espírito do Natal.
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Porque não acho isso. E posso dar um exemplo Tenho dois sobrinhos agora nascidos há um ano e pouco e a maneira de expressar do amor que se tem por uma pessoa é também dar lhe alguma coisa. E eu penso que se esse for se for para isso, que o consumo, então esse consumismo não chega a ser consumismo e é bom e justo e verdadeiro e traz bem e é uma espécie de materialização dum emoção.
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Nós, nós temos corpo e portanto nós também nos relacionamos através da matéria e dos acontecimentos da carne e acho que sim, acho que tem essa lógica, acho que tem essa lógica. Claro que o consumo em excesso e em excesso, mas o problema é o excesso. Não parece que seja nós fazermos festa. E aí essa coisa está boa, que é quando vamos comprar essa prenda, esse e esse presente.
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Estamos a pensar naquela pessoa e naquilo que pode ser interessante. O que é que ela vai sentir quando? Quando pode receber uma dádiva? Nossa, Pensei. No fundo, acho que tem esse significado e tem o significado de querer valorizar a amizade que tem, o amor que está em pessoas, seja por quem for. Valorize se isso. Não se pense que não estamos a reduzir a amizade, aquela coisa material que se dá, mas estamos a valorizá la, Estamos a levá la a sério e eu gosto disso.
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Eu acho que a simplicidade de falar do Natal coabita bem com a ideia de fazer festa. E eu acho que isso é uma coisa que nos faz falta nos dias que passam, que fazer festa, de sermos capazes de nos alegrarmos verdadeiramente. E penso que na medida em que os presentes do Natal contribuem para isso, são uma coisa boa.
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O excesso é sempre mau em qualquer coisa isso não funciona. A figura do Pai Natal vem atrapalhar ou complementar o Menino Jesus? Eu acho que não atrapalha. Quer dizer, posto no seu lugar, não atrapalha o Pai Natal é inspirado na figura do São Nicolau, que dava às pessoas que tinham falta no tempo dele, que eu honestamente não conheço, especialmente na história.
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Era um velho generoso, portanto. Exatamente. Era um homem bom, que cuidava, que dava o que podia a quem precisava e para os que depois da coca cola, Jesus fez das suas, por assim dizer, e tornou o Pai Natal mais figura mediática, vestido de encarnado e branco. Mas, de qualquer maneira, eu penso que pôs no seu lugar na outra para ouvir há uns anos o Ricardo Araújo Pereira fazer uma reflexão sobre ele, sobre a Igreja e sobre e sobre a seriedade da Igreja com com uma declaração que é Deus não ri e que ri, que castiga quem ri, quem riu, quem der mais.
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E agora estou a ouvi lo. Estou vindo falar de Estou ouvido falar de festa e de e de celebração. Há aqui um contraste. Devo dizer que estive à conversa com o Ricardo na apresentação de um livro esta semana. Por isso tenho essa frase fresca porque falámos precisamente sobre isso e digo que lhe disse aquilo que é a experiência da Bíblia.
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Quando a gente lê os Evangelhos, vê a pessoa de Jesus, vê a história do povo de Israel. É uma experiência preenchida de festa. Aquele povo é o que? O que os Evangelhos nos relatam da vida pública de Jesus é uma vida cheia de festas. Jesus está permanentemente em banquetes, a comer e a beber, quer dizer, O1A1 passo dos textos do Evangelho em que dizem que Jesus tinha massa e que o próprio Jesus diz Há quem considere alguma coisa deixar alguém.
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Considere que eu tenho má fama por a vinha. João Batista. Ao contrário, há quem considere que eu sou um glutão e um ébrio, porque comigo vinha João Batista, que não comia nem bebia e de repente isso era um problema. E agora vem, venho eu que come, bebe. Dizem que eu sou um glutão e um ébrio a lamentar se um bocadinho por causa disso, convencido que.
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Associada a essa ideia de fazer festa, está o riso. E por isso eu não tenho grandes dúvidas que Jesus riu. Mesmo que os evangelhos não explicitem que isso tinha acontecido. Percebo. Ainda assim, percebo o que diz o Ricardo Araújo Pereira, porque, de facto, nós associamos a religião a uma experiência de solenidade e solenidade, uma maneira talvez não muito, não muito habitual nos nossos dias, mas a solenidade é uma maneira de fazer festa, uma festa diferente.
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Não é besteira, mas tem uma dimensão de grandeza. Claro que uma coisa é outra de ser. Parece me que é preciso equilibrar uma coisa e outra e talvez isso tenha sido uma. Talvez nós, cristãos, tenhamos tido uma certa dificuldade para fazer essa, essa contribuição, mas voltar às origens, e foram os evangelhos. Eu não tenho grandes dúvidas que a experiência da festa está presente e aquela que não só se sai e sai incompleto do Deus que é castigador, do Deus que diz não pecará este Se pecados vais para, vais para o inferno, vais para o purgatório.
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Então deixe me responder E essa pergunta de duas maneiras. A primeira, de maneira a minha experiência pessoal de relação com a fé e com Deus nunca teve isso e eu nunca experimentei isso. Nunca tive uma catequista que me tivesse posto as coisas nesses termos. À medida que me fui envolvendo demais na vida da igreja, nunca encontrei esse ambiente, por assim dizer.
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Mas eu sei que ele existe. Queria dizer a minha vida pessoal não passou por um contexto na igreja, onde houvesse nesse ambiente um certo temor de um Deus castigador. Mas sei que isso existe na igreja. Também sei que se existe na Bíblia, a gente lê os textos bíblicos, sobretudo do Antigo Testamento, e Deus aparece muitas vezes, para não dizer castigar, a mostrar as consequências de quem está a mostrar o que acontece de negativo a quem se afasta de Deus.
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Até se fala do último julgamento. Não é um julgamento. Sim, apesar de tudo, acho que o julgamento é uma coisa bem diferente disto. Mas podemos ler daquilo que era ainda assim, porque não é isto. Por que não parece que esse último julgamento tem como objetivo castigar? Mas é verdade. O povo de Israel no Antigo Testamento, aquele povo que Deus escolhe, experimenta muitas vezes a ideia de um Deus castigador.
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Mas eu, eu dou lhe a perspetiva que aquele que tem o cristianismo sobre o seu passado ou sobre o passado judaico, onde quando entronca com o passado do Antigo Testamento, é que a experiência de um povo que está a conhecer Deus e que não o conhece com perfeição, logo à partida vai conhecendo, vai se habituando, vai captando cada vez mais acerca dos traços da personalidade, vai ouvindo aquilo, Deus vai ouvindo melhor e de alguma maneira na figura de Jesus.
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E por isso o tempo cura tudo vem ter um propósito e um tempo para falarmos sobre isto é, na figura de Jesus, esclarece se de uma maneira definitiva Afinal, quem é que vemos? É, é. E o que nós vemos em Jesus não é um castigo nem uma atitude castigadora, antes pelo contrário, é uma atitude séria, justa. Mas não é só flores e borboletas, por assim dizer, apesar de tudo.
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Mas não é um castigo. Jesus na cruz pergunta ao Pai O que é que me estás a fazer? Porque é que está tão radical? Sim, porque abandonaste um exemplo com castigos. Parece me que Jesus se objetivo, por assim dizer, se a finalidade do Natal, da visita de Deus à nossa natureza, era experimentar por dentro tudo o que experimentou O ser humano, isso implicaria experimentar também o abandono do próprio Deus.
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Eu não acredito que Deus Pai tivesse abandonado Jesus, mas acredito que Jesus experimentou até às últimas consequências o que significa esse abandono? Porque era porque era esse o objetivo, isto é, os diversos fermentar e abraçar tudo o que são as feridas humanas. E isso implica implicava, implicou, abraçar também o abandono. Isto é, a pergunta óbvia que alguém como eu, não crente, ou aquele que nega a crença.
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E essa ideia de Deus é mais formidável criação da imaginação humana. No fundo, é o Deus. Deus existe. Eu acho que essa é a pergunta que que que que eu não consigo responder a essa pergunta sem me lembrar da resposta que deu exactamente a mesma pergunta. O antigo Patriarca de Lisboa Vamos aplicar o que diz ele? Perguntas. Porque a melhor resposta para ser é.
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Mas. Mas respondendo agora, talvez como é que se pergunta a Deus? Isso é virar se para ele e perguntar com simplicidade Quer dizer, eu louvo de qualquer maneira. Mas a experiência de fé expressa de uma relação com Deus. Eu estou convencido de que há, obviamente, um caminho da humanidade à procura de mais a procura de respostas para a sua morte, à procura de respostas para fora, para esta sensação de provisoriedade, provisoriedade que que nos habita e que é que é que todos atravessamos, por assim dizer?
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Mas eu estou convencido que é essa, esse caminho humano de procurar o infinito, dar lhe um nome, um rosto. Acho que Deus dar uma resposta a isso. Ou seja, estou convencido de que nos que Deus se encontrou connosco a meio caminho. Por isso, sim, há na experiência religiosa criação humana. Nós criamos alguma coisa da experiência religiosa, mas eu estou convencido de que essa nossa criação foi respondida pelo tipo, pelo definitivo e pelo Eterno a que chamamos Deus.
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Como é que se. Como é que se lida com a dúvida nos momentos em que em que alguém olha e há esse diálogo com Deus e ele não é dentro do lidar com o silêncio de Deus, é uma coisa séria e não é fácil. Mas também a vida adulta não é, não é para quem quer coisas fáceis. Acho que são duas coisas diferentes a dúvida e o silêncio.
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Às vezes eles interceptam se, por assim dizer, mas eu penso que a dúvida é a posição mais honesta. É partir da dúvida, porque há o limite ao limite, ao limite. Crentes e não crentes, temos todos uma. Partimos todos numa mesma pergunta que eu. Acho que se pode formular desta maneira como o Cardeal Ratzinger, ainda antes de ser Papa, antes de ser o Papa Bento 16, escrevia que será que este mundo, que existe, este mundo de que os nossos, as nossas mãos tocam os nossos olhos, vêem que a ciência estuda?
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Será que este mundo que existe é tudo o que existe ou há mais alguma coisa? E dentro desta pergunta, crentes e não crentes tem uma sustém a sua posição filosófica, por assim dizer, filosófica ou teológica. Eu posso dizer não, eu acho que não há mais nada para além deste mundo que existe e por isso sou ateu. Ou posso dizer acho que este mundo que existe não é tudo o que existe e pode haver mais é o Esqueça essa pergunta que no fundo é a pergunta da dúvida.
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É o nosso ponto comum e eu estou convencido de que levar a sério essa pergunta, independentemente daquilo que lhe respondo, se responde por um lado ou se responde para o outro, levar a sério essa pergunta é a existência humana em ato, em acontecimento também Isso que a vida serve para nos dedicarmos a responder essa pergunta. Nesse diálogo há um Deus transcendente, um Deus íntimo.
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Parece me que é isso. Como é que se consegue equilibrar precisamente esse infinitamente pequeno daquilo que está dentro de nós, com esse infinitamente grande e total de uma vida? E aquilo que é uma ideia de um Deus que tudo responde Não se não se concilia, vive se estas coisas. Não só se está em uma constituição filosófica muito evidente.
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Quer dizer, os filósofos e os teólogos dão ao trabalho de trabalhar esse assunto e têm respostas e propostas de caminho. Isso não é absurdo, é que é. Vale a pena pensar nisso e vale a pena falar sobre isso. Não tenho grandes dúvidas acerca disso, mas. Mas na experiência de todos os dias, que é há milhões de pessoas com fé pelo mundo fora.
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E não são todos nós somos todos filósofos, por assim dizer. Nós, os que temos fé e, portanto, parece me que no dia a dia, a experiência pessoal e a experiência de uma relação e por isso sim, pessoal e íntima um Tu, a tua verdadeira, é que te é tão verdadeiro e tão honesto quando formos quanto formos capazes, sendo que isto obviamente implica o nosso interior.
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E às vezes nós temos dificuldade em ser honestos com o nosso próprio interior, porque vamos cá encontrar coisas que preferíamos que não estivessem cá. Faz parte também do nosso próprio crescimento e da maturidade humana. Por isso acho que há essa experiência. E depois há um certo estarrecimento diante do Eterno, diante do Absoluto. E eu penso que mesmo as pessoas menos filosóficas, por assim dizer, pessoas para quem as ideias intelectuais não são o seu espaço de manobra preferido.
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E mais não é para o momento. A água onde são, onde mergulham. Mesmo essas pessoas, acho que acho que é inerente à condição humana alguns desses estarrecimento. E eu penso que essas coisas, mais do que querer resolver, explicar, elas vivem com a inteireza da pessoa, não num não numa lógica de não penso, não explico, não quero saber, mas numa lógica de que quem sabe que as palavras e o pensamento que deve ir o mais longe possível da investigação filosófica teológica, deve fazer o seu caminho.
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E ainda bem que há teólogos e filósofos a fazer isso, mas mas que tragam na consciência de que também não é a explicação lógica de tudo que explica a minha vivência. Quer dizer, nós vemos o santo. Nós somos herdeiros de uma certa atitude iluminista científica e bem, porque dá muito jeito ter um telefone que dá para ver o outro lado do mundo mesmo.
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Segundo, mas é essa lógica meramente racional também não nos explica o valor de uma amizade, Também não nos explica a beleza na arte e por isso esta sensação de que há aqui mais qualquer coisa não é apenas uma sensação, é uma experiência existencial. Se um cientista provasse agora a existência de Deus, isso tornaria a fé mais forte ou mais fraca.
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Muita dificuldade com isso. Se porque o cientista não vai provar a existência de Deus? Eu não posso. Não posso dizer, porque acho que é por aí que vai perguntar. Eu, na minha experiência, nunca vi uma oposição entre fé e razão. Nunca atravessei isso. Aliás, eu estudei engenharia no Técnico durante cinco anos. Tive uma humana desde o secundário que a minha cabeça, por assim dizer, estava mais orientada para as ciências exatas e para a física e para a matemática.
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É que o engenheiro depois se descobre padre e diz Aqui está a minha vocação. O que que é isso de vocação? Como é que se descobre isso? A vocação tem a ver com a certeza, com a consciência, que, dentro da relação com Deus, é o que eu sou, também se esclarecem, ou seja, aquilo que eu sofro duramente não é apenas o que me acontece ser, mas o que eu sou verdadeiramente, esclarece.
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Na relação com Deus, eu acho que descobrir a vocação é esse processo de esclarecimento. Não é que Deus mude o que eu sou, não é que Deus tenha para mim umas ideias diferentes daquilo que eu sou e que é a relação com Deus que vai esclarecendo a verdade acerca de mim. E por isso penso que vocação, isso é verdade.
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E eu tenho uma pergunta que é muito prática, que é como é que alguém que um dia de manhã ou à tarde ou à noite não interessa, tem essa primeira ideia que é eu vou dedicar me à missão de Deus e da Igreja Católica. Depois discute isto com quem conversar? Com quem? Que? Como é que isto aconteceu? Não há uma fórmula que seja igual para todos nós.
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Quis contar a minha experiência e para mim o que fez diferença foi que eu me fui envolvendo na vida da igreja, com campos de férias, com a vida na paróquia. Eu sou do Estoril e por isso fui crescendo ali perto da paróquia e isso foi também nesse lugar e nesse contexto que os meus amigos e as suas amizades que que as principais amizades que duram até hoje desses tempos são desse contexto, Não todas, mas, mas muitas delas.
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E de repente, a vida da Igreja tornou se casa para mim. E isso é um muito significativo. Claro que isso não significa ser padre, significa simplesmente querer levar a sério a vida, a vida cristã. Agora, com o passar do tempo, eu fui percebendo e fui experimentando que o meu é a minha vida, é envolvido na vida da igreja.
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Me fazia muito mais sentido do que outra coisa qualquer. Mas depois há um momento zero, há um momento em que passa a ser a sério, deixa de ser uma ideia, uma projeção, uma casa. E é bom. A partir deste momento vai ser ordenado padre e, portanto, aí muda tudo. Ou não. As coisas vão mudando porque não foi ordenado padre um dia para o outro.
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Claro que o dia da ordenação é um dia decisivo e antes da ordenação eu não era padre. Depois da revolução, passei a ser o que se pensa nesse mesmo dia a minha vida. É preciso muita coisa, pois um dia eu passei por uma experiência bonita. Eu não sou muito dada a grandes grandes emoções nem lamechices meus, mas vou parar aí agora, porque eu fui ordenado na Igreja nos Jerónimos, a Igreja de Santa Maria de Belém, que é comprida como imagem.
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Conheça. E nós entramos na Igreja, vindos lá do fundo e com o grande cortejo com os acólitos, outros padres, no fim, os bispos e. E à medida que avançamos pelo corredor central da Igreja e vendo nas pessoas que lá estavam nessa mesa uma quantidade de gente que tinha atravessado a minha vida noutras épocas e de alguma maneira, foi um certo reconstruo reconstituir da minha vida toda.
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Porque? Porque vi a minha professora primária e depois vi que já não via não sei quantos anos perdi mais isto e mais aquilo. Os amigos do secundário, os amigos daqui, os amigos dali e a família e estas e da jornada. Lembro me perfeitamente dessa experiência ser claramente a minha vida desembocar aqui. Isso foi bonito, foi uma experiência bonita que eu posso contar.
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Em termos práticos. Eu penso que a grande vantagem de ser padre é que, se me permite lutar, lutar todos os dias contra uma coisa que é muito tentadora, que é muito tentadora e a gente vê muito à nossa volta que fazer da nossa vida uma coisa em que nós somos a personagem principal e hoje em dia popular. Essa ideia do self-made man que me construiu a mim próprio, que faço a minha vida acerca de mim próprio e corremos o risco de usar uma expressão que não é minha, mas que eu gosto de viver.
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Uma vida em que eu realizo o meu filme. Sou personagem principal, o realizador, o produtor, quem trata dos figurinos, quem faz a iluminação e tudo o resto. E devo dizer que uma vida meramente fechada no que eu sou e nos meus desejos, por muito grandes que sejam meus desejos, me parece uma vida muito, muito, muito aborrecida e muito fechada, muito curta, muito pequena e por isso a possibilidade de ser padre foi uma graça que Deus me deu também por causa disso, porque eu sou obrigado, quer queira, quer não.
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Porque eu reconheço que é atrativo fazer da nossa vida uma coisa sobre nós, mas eu sou obrigado, quer queira quer não, a lutar todos os dias contra isso e a fazer da minha vida uma coisa sobre eu e sobre os outros. E ter essa possibilidade para mim é meio caminho andado para a minha vida ser feliz. Porque eu não acredito numa felicidade que fosse fechada a mim próprio.
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É uma forma jura de serviço público permanente aos outros, à comunidade, enfim, é um apagamento do seu próprio desejo individual. Não acho que seja apagamento. E eu demorei algum tempo e tive algumas, algumas lutas comigo próprio e com Deus no tempo do seminário, precisamente com isso, porque essas são à primeira vista, parece que ou eu sou de Deus ou eu sou eu próprio e é um caminho intermédio, não é um caminho intermédio.
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É que as duas coisas não são, não são opostas, não são mutuamente exclusivas. Elas não concorrem. E elas podem não ser só isso. Não é uma competição. E isso me foi. Foi importante perceber que a vida de serviço é disponível para os outros, que eu não posso dizer que tenho, porque, infelizmente, há muito egoísmo e muito autocentramento em mim mesmo, mas que pelo menos faço o possível por tentar ter uma vida de serviço e de missão.
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É o lugar onde eu encontro o que eu sou de verdade. Isso é que faz a diferença. Mas a parte da pequena vaidade humana não faz de nós também humanos. Lá está, um bocadinho mais longe dos deuses. Faz de nós humanos e por isso eu percebo que seja atrativo. Mas a minha descoberta e de alguma maneira aquilo que eu vivo é que é a maneira como me faz sentido viver a vida.
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E devo dizer como eu reconheço que anda toda a gente. Se me perguntar, é precisamente o contrário, É inverter essa lógica de achar que eu sei viver em função de mim próprio. Aí é que eu vou ser feliz, vou realizar os meus desejos e eu percebo que isso é atrativo e parece e é instintivo. Nós temos um certo instinto de sobrevivência que nos faz virar para dentro.
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Mas aquilo que que a tradição cristã me ensinou é que eu descobri existencialmente, é que a nossa vida é francamente mais aberta, mais feliz e mais inteira quando se faz da vida uma coisa sobre Deus e sobre os outros e isto é difícil. Quer dizer, eu estou a dizer isto com a certeza absoluta de que eu não vivo isto com perfeição, nem pouco mais ou menos, mas passar a vida a lutar nesta direção tem sido uma ocasião de uma possibilidade de viver muito feliz.
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Para alguém que tem que falar de Deus. Muitas vezes é exactamente nesse cruzamento entre o que é o serviço, o que é que é vaidade. E estou a pensar em mim, muito em particular no discurso público, nas homilias lindas e nos sermões. Portanto, aquele momento em que eu fico sempre fascinado quando vejo alguém falar bem, mesmo num num palco, num púlpito, é uma coisa que me fascina, que é quando nós vamos para cima, para um púlpito, quando nós estamos a falar a uma assembleia, estamos a falar dentro de uma igreja.
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Como é que esse momento, o que é, O que que se sente exactamente nessa bifurcação entre o que é que é serviço e o que é a sua vaidade pessoal de fazer aquilo. Uma magnífica homilia. Um magnífico. Ironicamente, ironicamente, se eu for fazer uma homilia que já aconteceu, preocupada em sair me bem, isso vai me fazer estar de tal maneira consciente de mim próprio que isso me bloqueia e vai ser irmão.
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É preciso uma irresponsabilidade e eu estou convencido disso. Pelo -1 certa dose de inconsciência, porque eu não falo como exemplo. O meu exemplo Tenho que ficar calado. Vou falar com minha consciência porque faço o possível por dizer coisas em que acredito e de propor maneiras de ver em que acredito. Mas. Mas eu tô convencido de que, pelo menos.
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Enfim, cada padre e cada pessoa que fala em público terá a sua experiência. Mas a minha experiência é que eu preciso, Eu estou exposto e se estiver preocupado em sair me bem, isso vai tomar conta daquilo tudo e eu vou bloquear. Não vou ter liberdade de pensamento. As ideias não vão fluir bem preparadas para ultrapassar as. Eu preparo me lendo os textos a partir dos quais vou falar os sons bíblicos da missa desse dia.
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E eles estão pré definidos. Já os textos são definidos para o mundo inteiro. Não são todos, são sempre os mesmos mesmos dias. O calendário para a Igreja de rito latino universal, portanto, é sempre igual. Assim, nos dias de. Há alguns santos que nós celebramos que têm mais a ver com a nossa história, com nossa tradição e que talvez nos Estados Unidos da América não sejam celebrar.
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E aí as leituras podem mudar, mas estão onde está lá o calendário do Leste leres os textos e assim vais fazer uma interpretação do leia os textos e a partir do que leio, procuro duas ou três ideias. O tempo que antigamente fazia pensava sempre em três ideias. Hoje em dia tento pensar só no modus, quer para não falar.
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Mas, mas é bom e é aqui um, três, três passos. O primeiro passo é isso ler os textos e perceber que há ali três ou quatro coisas que me dizem às vezes que tem a ver com a minha, como também com a minha maneira, com a minha própria história e que se encontram com coisas que já foram importantes, com ideias e com e com passos bíblicos que já foram.
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Portanto, para mim, alguma fase da vida. E obviamente, a minha história também está ali, mais ou menos inevitável. Mas tem essa, essa primeira fase. Depois eu faço um esforço para olhar para o mundo, para perceber onde é que vivemos, o que é que se passa à nossa volta. E é muitas vezes reconheço nas ideias chave que o Evangelho que as leituras desse dia trazem é uma confluência muito, muito evidente, às vezes menos evidente, mas mas possível de fazer.
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É relevante em relação ao mundo em que vivemos. Usas aquela lente, aquele texto, aquela filosofia, o pensamento. Isso e pensas no tempo, Pensas no tempo. Nunca que estamos a viver as nossas contradições. Faço um esforço por isso, às vezes não tenho imensa capacidade de fazer. Espero poder ser um leitor mais capaz da realidade. Enfim, cada um tem suas próprias limitações, Mas.
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Mas faço o possível por fazer muito para olhar para o mundo, não apenas na cronologia, mas no significado e no sentido do que andamos a viver. E penso que não é só pensar. Os textos bíblicos são o resultado de uma experiência de milhares de anos, de um povo e de uma e de uma igreja e por isso as nossas experiências não são assim tão originais.
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Vão se repetindo, a natureza humana é a mesma e depois o fermento das coisas, que é a retórica, A maneira como tu organizas esse pensamento para cativar as pessoas que estão ali, naquela para dizer eu não penso muito nisso, ou seja, a forma. Não penso muito nisso, mas não vais vendo como é que as pessoas estão a olhar, de como é que estão a ser dito.
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Era isso que eu ia dizer. Ficam mais felizes, ficam mais zangadas contigo. Faz muita diferença o retorno das pessoas. Toma de frente porque as pessoas estão caladas e estão a ouvir mas, mas, mas, vão, mas tem expressão, eu faço, Eu não estou a falar para uma plateia anónima falar para pessoas concretas. E é por isso reconheço na Ana, nesse retorno, no olhar, na Ana, percebo que as pessoas estão atentas ou não estão atentas.
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Percebe que os Clara já começam a ver que já está a pensar noutra coisa, que está na altura de eu me calar.
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Mas isso faz diferença às vezes. Houve uma altura da minha vida em que em que eu estava, em que eu, além de de ser capelão do Universal, de católica, também estava a ajudar nas paróquias aí em Algés, em Miraflores e na Cruz Quebrada. E às vezes tinha duas ou três missas no mesmo dia e por isso duas ou três homilias em sítios diferentes e eu reconhecia que o impacto da reação das pessoas que me estavam a ouvir mudava a maneira como eu estava a falar.
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Mas sim, isso é importante. Mas eu não penso muito na forma por ignorância e não é por nada, porque não, não, não estudei o suficiente para conseguir teorizar muito acerca das formas, mas. Mas percebo, eu preciso e faz toda a diferença perceber que estou a falar de uma pessoa que me está a ouvir. Lembro me de nos tempos da pandemia em que estávamos todos em casa, nós filmávamos e transmitimos em streaming as celebrações.
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E é muito, muito difícil falar para um computador, falar com uma lente porque não está lá ninguém. Lá ninguém. É muito difícil, não. Tinha que fazer um esforço diário e permanente para estar atento para aquilo, para conseguir. Quer parar para desenvolver isso? Isso não era em geral. Olha o que é que, o que é que foi? O que quer fazer?
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Lá está uma homilia ou um sermão num momento de grande festa, um de casas, uns amigos onde fazes um batismo de manhã, de uma criança, de alguém que esteja muito próximo. Esses dias são os dias mais fáceis de dizer, porque Primeiro porque a festa ajuda e as pessoas estão predispostas a estar ali, de boa disposição e com vontade de lá estar.
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E isso são os dias mais fácil, porque são dias de beleza e de grandeza. E é Deus tem tudo a ver com a beleza, com grandeza. Portanto, não é nada difícil fazer essas pontes e, portanto, é mais fácil ligar. Olha, o ato da fala é obviamente importante, mas depois há o ato de escuta. Por maioria de razão, o momento em que tu escuta as pessoas num confessionário nem consegues.
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Como é que se escutam pessoas? Então, o primeiro ponto é não querer encaixar o que as pessoas estão a dizer. Na minha própria experiência, porque é tentador nós ouvirmos e é verdade. Vamos ouvindo e vamos conseguindo nos relacionar com o que estamos a ouvir. Mas é importante fazer um esforço para não reduzir o que a pessoa me está a dizer ao que eu já vivi, porque isso deixe de estar a ouvir e passe passar mais uma vez.
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Estaria tudo a passar pelo filtro do eu. Isso seria bastante destrutivo ali daquela experiência. E eu penso que a linguagem verbal, mas vai sempre acompanhada pelo resto e por isso aquilo que eu me sinto chamado a fazer diante de uma pessoa que está a falar comigo é sobretudo quando começa a falar de coisas que lhe são íntimas e é nós e eu, como padre, as pessoas, porque confiam na Igreja, mesmo sem me conhecer especialmente, falam me de coisas que às vezes não falam sobre a sua mulher.
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E é então parece me que o grande ponto é sempre reconhecer a pessoa inteira e o que ela está a dizer. A sua expressão é tentar estar atento a isso, atento a inteireza daquela pessoa. Eu faço esse esforço, você se corre sempre vai deixa fazer esse esforço só para que me critiquem. Não, não é só para aqui uma coisa que está a fazer um ruído.
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Há um ruído aqui nesta mesa de mistura. Há um microfone que está para aqui a subir e a descer. Ok. Eu estava a ouvir aqui um barulho de.
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Alguém? Então eu estava aqui na manutenção que pode resolver isso. O.k. Voltamos. Não tem problema, não estamos. Estamos absolutamente tranquilos. Já não se deitava? Não se preocupe. Não, não. Eu repito. Não tenho. Não tenho problema nenhum. E quando as coisas que tu ouves são demasiado difíceis para tu próprio conseguires absorver e ajudar aquela pessoa. E isso acontece muitas vezes.
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Ou seja, eu não tenho resposta para tudo, mas também não acho que o meu papel como padre ao ouvir alguém seja em acompanhamento espiritual, seja em confissão, não me parece que seja em conversas naturais que vão surgindo. Não parece que o meu papel não parece sequer que o que as pessoas esperam de mim é que eu tenha resposta para tudo.
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Porque não tenho e não há. Não há resposta por tudo que a gente vê. Eu vim já, já, Já me falaram de grandes sofrimentos de tal maneira injustos e me à primeira vista sem sentido, que é muito difícil ter resposta para aquilo sobre isso não tenho grandes dúvidas, mas eu também não sinto que seja de repente da resposta das coisas todas.
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Eu acho que quando o assunto é especialmente difícil e doloroso, o que isso quer de mim é que é a companhia de alguém que a acompanhe naquilo. É compaixão. Compaixão e companhia são próximas. Companhia no sentido de pessoa não se sentir sozinha naquela que é o sofrimento. Uma vez posso contar uma história. Acho que não cometi nenhuma inconfidência.
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Houve uma pessoa que foi falar comigo que era uma pessoa que estava doente, terminal e sabia que ia morrer em meses e devia ter talvez 50, 60 anos, portanto, relativamente nova, muito nova para morrer. Certamente com filhos e preocupada. Essa pessoa estava preocupada com o que aconteceu aos filhos, etc, etc. E eu não sei lidar com isto. Quer dizer, não sei, não sei, não sei como é que se resolve isto.
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Não sei, não tenho que saber porque dizer não é possível ter resposta para tudo. Agora, o que fazer? Depois da nossa conversa? Essa pessoa ficou muito contente e agradeceu me muita conversa, embora eu tivesse dito muito pouca coisa e penso que esse é o ponto e não é preciso dizer nada. Eu preciso de explicar à pessoa que percebi o que ela me está a dizer, que a pessoa não está sozinha naquilo.
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E às vezes basta devolver à pessoa o que ela acabou de dizer. Não para fazer ricochete do género não tenho nada a ver com isso, mas para dizer eu percebi isso eu consigo. Eu não faço ideia o que é estar naquela circunstância, nesse sentido, não percebo na primeira pessoa, mas. Mas captar é tanto quanto podia captar o que a experiência dura e sofrida daquela pessoa.
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Isso faz com que a pessoa não se sinta sozinha. Claro que isto não é tudo. Há coisas para fazer. Às vezes é preciso recomendar à pessoa que procure ajudas profissionais na psicologia, na psiquiatria, porque eu também não sou psicólogo. Onde é que está a fronteira entre o acolhimento e ouvir aquela pessoa? E a fronteira da recomendação do Conselho?
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Ou o caso de uma intervenção para aquela, para que aquela pessoa tenha consciência de que, nesse caso é um caso extremo, mas obviamente que que não está a fazer a coisa certa, o que pode ainda, de alguma maneira mudar as coisas. E eu não sei do que é que as pessoas falam quando são professor. Não se salvam, são só um conjunto de tópicos.
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Estás à vontade. Seria um péssimo cliente? Provavelmente. Mas embora é a arte do diálogo, é um trabalho seguramente muito, muito interessante. Mas há um conjunto de tópicos um Um cardápio que tu hoje consigas dizer quais são as coisas com que habitualmente te vão bater à porta. Ou seja, têm dificuldade em fazer esse cardápio já pré estabelecido. Tenho isso na Universidade Católica e por isso também a maioria das pessoas que falam comigo são de uma faixa etária determinada, que são estudantes universitários, de que eles falam o que os inquieta.
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É isso que eu tenho uma visão enviesada, em que eu também por causa disso. Mas há muita ansiedade dos outros. Há coisas que são mais ou menos do conhecimento geral nos dias que correm. Muita ansiedade, muita pressão que eles próprios sentem às vezes. Às vezes é a família que põe alguma coisa dessa pressão. Mas também acho que às vezes é mais a interpretação que eles fazem do que do que vão ouvindo da família, do que porque acho que não são os pais nem os irmãos que estão a querer objetivamente pôr a pressão para que ele seja o melhor aluno que às vezes acontece.
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Mas isso é relativamente raro. Mas há ali uma certa, um certo desfasamento entre o que me parece ser as boas intenções das famílias. Tudo o que a pessoa estudar é que tem que ter boas notas. E como é normal os pais dizerem aos filhos e depois o peso com que muitos dos estudantes vivem isso. Isso acontece e é um falar em ansiedade, mas talvez mais do que ansiedade, o que eu vejo?
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Esta pressão é muita pressão, muita expectativa sobre eles. Eles têm muitas expectativas sobre os próprios à sua volta, tem muita expectativa sobre eles próprios. Claro que as pessoas são todas diferentes e eu não posso dizer que isto acontece a toda a gente, nem quero ser redutor nesse aspeto, mas isso é claramente um assunto que não estão a usufruir e a viver a vida de uma forma mais serena.
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Mas estão com essa, com essa dimensão, com essa pessoa. Sim, eu estou convencido que o nosso mundo tem uma velocidade que não tinha há uns anos atrás. Eu fui estudante universitário num tempo em que os telemóveis mandava mensagens, fazíamos chamadas e cresci na escola secundária, num tempo em que não havia telefones e por isso era um descanso. Sim, em certo sentido.
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Eu às vezes apetece me pegar, mandar para o lago com o microfone. Mas, mas a experiência, a experiência destas pessoas, destes meninos, destes universitários, dos discursos nos dias de hoje, é uma experiência de alguma saturação. O sujeito está em agendas cheias de coisas, mesmo em âmbito de fé. A vida da Igreja, na sua diversidade, oferece lhes propostas a toda a hora.
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É momento de hoje. É uma noite de oração não sei onde e depois é uma conferência e depois, aí sim, depois aquilo. E todos os dias há propostas e coisas e há uma certa necessidade que vem de querer estar em todo o lado e de ter muita dificuldade em dizer que não é o grande. Para mim, a grande consequência é negativa, que extravasa, que é difícil para os universitários hoje em dia estarem inteiros alguma coisa, porque estão sempre são sempre a coleccionar muita experiências, mas muitas experiências parciais.
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Porque vou a uma conferência mas saio mais cedo, porque a seguir a minha amiga faz anos e depois a seguir ainda vou beber e portanto vou jantar com ela e a seguir ainda vou beber um café com outro amigo que vai preparar nos para a semana e portanto a despedida é no intervalo. Estou com o telefone ligado e a mandar para o telefone.
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E é essa, essa velocidade que satura as agendas. E se existe às vezes nos grupos que acompanho, é preciso marcar uma reunião e não dá para marcar a reunião no próximo mês. Não há agenda que não há um dia livre no próximo mês. Eu tento dizer isto na minha agenda também. Às vezes é assim. Mas quer dizer, nós vivemos assim nesta velocidade e há uma saturação.
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Eu estou convencido de que essa é uma das características principais de saturação que leva depois a acumular experiências parciais e a ter dificuldade a estar inteiro nalguma coisa. Muita dificuldade em dizer que não, em renunciar, porque isto parece que estou a perder alguma coisa. Parece que parece que me vai ser tirado alguma coisa porque eu disse que não.
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Já não vou estar muita dificuldade em renunciar, em dizer isto, não em viver uma certa solidão que é renúncia, sempre implica o como faço? Como faço para para uma coisa agora que estou a ouvir falar? Que é que a experiência, se calhar diametralmente oposta a essa que é a experiência da peregrinação até muitas vezes solitária, e da Fátima, a ida a Santiago de Compostela, que.
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O que se tira dali é exactamente esse sair da agenda. E é a agenda, é simplesmente caminhar consigo próprio até um determinado objectivo. E sendo que o objectivo não é chegar a um sítio, é pensar sobre a proibição. É uma imagem muito forte da vida. A nossa vida começa e tem um fim e tem um destino, um objetivo.
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Para quem tem fé, o fim não é apenas um ponto final, é um ponto de chegada. E por isso a peregrinação é tão forte. Parece me, é muito. Há muitas proibições e são muito procuradas, por assim dizer. Também me parece que por causa disto, porque Porque há ali uma imagem da minha vida, dos passos no caminho que me deixa cansado, que depois às vezes eu me engano no caminho.
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Depois tem que voltar, que essa preocupação em que o sítio onde eu quero chegar impacta o passo. Que luz isso é, isso é a nossa vida, isso é nós. O futuro, o futuro está à nossa espera. O futuro, o que nós vamos ser no futuro começa hoje a ser construído e por isso gosto da imagem da peregrinação, porque me parece que se reconhece a vida e a uma certa viagem interior e a acontecer, isso sim, é uma coisa que eu queria dizer que nisso também nós estamos a ironia hoje em dia, porque uma profissão é isso.
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Só que ainda há uma certa tendência para pelo menos não começa nesses termos. Eu só posso ir lá no sábado à tarde, portanto só faço metade. E isto é uma coisa que me está dizer Não, não, fazes me, não é válido. Ou vais no princípio ou não vais, porque senão não vai ser mais uma experiência parcial. E o objetivo desta peregrinação era dar te exatamente o contrário dar um tempo para estar inteiro, desligado.
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Começa no princípio, vais no fim. Não tens de preocupar onde é que para declararmos isto vai te ser dado nesse tempo concentrado no na possibilidade do encontro contigo, com Deus e tu com o definitivo. O que é que te traz? O que é que nós aprendemos numa peregrinação? Muita coisa. E eu penso que numa profissão principal há professores de profissões.
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Não há gente para fazer só caminhadas ou para fazer uma preleção. Mesmo como peregrinos, que é como quem diz eu sei que vou chegar a um santuário, sei que vou chegar, que sei que tenho um ponto de chegada e sei que sou esperado. E eu penso que isso de ser esperado é uma das coisas que uma peregrinação a sério traz.
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Eu sei que sou esperado. Não é que quando se vai para a Fátima, não é que esteja lá uma pessoa concreta no Santuário de Fátima à minha espera. É, apesar de tudo, com pessoas que, mesmo que não tenham crença religiosa, a peregrinação também pode ser vivida com essa espiritualidade ou não? Sim e não. Ou seja, eu não, eu não acho.
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Não acho que premonição seja um exclusivo de quem tem fé. A peregrinação, que é como quem diz reconhecer que a minha vida tem um ponto de chegada onde eu sou esperado extravasa os limites visíveis da religião e, portanto, nesse aspeto, sim. Mas acho que é uma experiência espiritual. E agora é verdade que cada pessoa viverá a espiritualidade da maneira que quiser.
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É verdade também que nos dias que correm, muita gente procura a vivência espirituais fora da dimensão institucional, como me acontecia no passado. Mas eu estou convencido que a dimensão institucional não é apenas uma dimensão institucional. A Igreja Católica não é apenas uma instituição. A Igreja Católica é não é o lugar do acesso a uma tradição de 2000 anos.
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É mais porque entronca também numa tradição ainda anterior a essa que me parece pertinente para sobreviver a vida. E eu penso que é o encontro com uma sabedoria de vida. Também é um encontro com Deus, mas um Deus que se foi manifestando ao longo da história, que foi ensinando a viver ao longo da história, que foi ajudando a levantar as questões fundamentais da existência.
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E por isso, a premiação. Uma peregrinação pode ser um lugar de encontrar tudo isso e de reviver isso tudo numa viagem seguramente com liberdade. A Bíblia seguramente, sendo que a Bíblia são muitos livros. Quem nunca leu a Bíblia começa por onde? O que é que tu? Qual dos livros da Bíblia Aquele que tu aconselharia a quem nunca entrou nessa porta e tu é que podes ler qualquer coisa da Bíblia?
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Tenho muita dificuldade em escolher um, mas eu acho que, na minha perspetiva, a Bíblia converge para a pessoa de Jesus mesmo os tais textos antigos convergem para ali e para isso eu diria que ler, ler, ler um evangelho, ler o Evangelho de São João, talvez que é o mais refletido, mas, mas, mas teológico talvez pode ser uma boa ideia.
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Mas talvez todos os homens ler o Evangelho de Marcos, que é mais curto, mas mais conciso, menos elaborado, mas ao mesmo tempo também, mas talvez até por ser literariamente mais rudimentar e mais espontâneo, mas mais terra a terra. Nesse aspeto acho que isso é sempre uma coisa boa. Agora eu tenho imensa dificuldade em preferir um livro da Bíblia em relação a outros, porque a Bíblia tem literatura, uma beleza absolutamente extraordinária em tantas páginas.
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E são textos onde se trabalham todos os temas da existência. Isso é o que me fascina na Bíblia. Não é apenas isso, mas é uma das coisas que me fascina a Bíblia. Todos os temas fundamentais do que significa ser pessoa tão trabalhados. E é curioso porque estão todos trabalhados de propósito. Eles não estão lá respondidos. A Bíblia não é um livro de respostas, é um livro de perguntas.
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É um livro de perguntas e de caminhos. E isso acho absolutamente fascinante. O livro das respostas também os temos, mas são os catecismos, são as doutrinas. E ainda bem que eles existem, em certo sentido, porque sistematizou um caminho de sistematização para viver. Mas. Mas a beleza extravasa tudo isso. A Bíblia tem tem um, uma profundidade, precisamente porque ali estão todos os temas da existência.
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Já que falamos em perguntas e para fechar, que pergunta farás a Deus quando agora o encontrares dali, dali a bocadinho e ele aparecer? Então, Miguel, qual é a tua pergunta? Eu não sei. Tenho menos coisas para perguntar e mais para contemplar. Mas sim, se tivesse que escolher uma pergunta, talvez eu lhe perguntasse porque tanto? Porque então, porque tanto?
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Porque? Porque uma das coisas que me fascina em Deus é a abundância e a grandeza. E isso, isso é uma das coisas que marca e marca decisivamente a minha história nos museus, que marca a história da fé cristã, que é um encontro com uma grandeza e por isso, de facto, é muito e de coisas grandes que se trata de uma vida elevada, de uma vida que aponta para o alto, que não se contenta com pouco e por isso essa grandeza e aquilo que me fascinei era aí que eu queria, era nisso que eu queria que Deus me respondesse, acho eu.
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Obrigado, Miguel Vasconcelos. E eu de gosto.
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