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Como reconstruir vidas de crianças marcadas por histórias difíceis? Rui Godinho
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Hoje, falamos de um tema urgente: a infância e como as experiências vividas nesta fase moldam o futuro. Tempo de necessidade máxima de amor e proteção.
O que acontece quando a proteção falha?
Como podemos ajudar crianças em risco?
E o que podemos aprender sobre o papel das famílias, das escolas e da sociedade? Nesta conversa ouço Rui Godinho, psicólogo e diretor da Infância e Juventude da Santa Casa da Misericórdia, um especialista com décadas de experiência a salvar, literal e simbolicamente, crianças maltratadas.
Por vezes acordamos, chocados, com as consequências diretas de uma infância infeliz.
Uma adolescente de 16 anos matou a irmã e, no tribunal, disse: “Estar na cadeia é melhor do que estar em casa.” Este caso, que começou com maus-tratos familiares e culminou numa tragédia, expõe um padrão: a comunidade, muitas vezes, não vê os sinais ou não age a tempo.
“Este não foi um crime isolado”, ouvi eu explicar Rui Godinho. “Ele é o resultado de anos de negligência e violência.” Professores relataram que a jovem era agredida pelo pai à porta da escola, e ainda assim, ninguém interveio.
Este caso levanta questões difíceis: por que motivo instituições como escolas ou centros de saúde não identificaram o problema antes? Provavelmente os sistemas de proteção estão desatualizados e focados apenas nos sinais mais óbvios, como pobreza extrema ou agressões físicas visíveis, enquanto maus-tratos psicológicos, mais subtis, continuam a ser ignorados.
Quando a negligência ou maltrato é detetada, estas crianças são retiradas do seu ambiente familiar. Idealmente para encontrar uma vida melhor.
Muitas crianças em risco são acolhidas por famílias ou colocadas para adoção. Entretanto, ficam à guarda de instituições financiadas pelo estado. Mas tanto o acolhimento como a adoção requerem mais do que boa vontade. “Estas crianças vêm de histórias difíceis”, ouvi eu “Muitas vezes, testam os limites dos novos cuidadores porque nunca tiveram estabilidade.”
Rui Godinho dá um exemplo simples: quando uma criança finalmente encontra um ambiente seguro, pode desafiar os pais adotivos como forma a verificar se os laços são reais. Esse comportamento não é de rejeição, mas sim uma tentativa de construir confiança. De validar. Uma espécie de “vamos lá ver se gostas mesmo de mim a sério”
O psicólogo sublinha a importância de preparar as famílias para lidarem com estas situações. Além disso, destaca que, em Portugal, ainda há uma cultura muito centrada em instituições, quando o ideal seria que mais crianças pudessem ser acolhidas em famílias.
A lei tem hoje várias possibilidades: da clássica adopção, às famílias de acolhimento e até ao apadrinhamento civil. E o número de crianças em instituições tem vindo a descer.
Nesta conversa olhamos também para as infâncias felizes.
E ao extremo oposto: os pais demasiado protectores.
Fixem o conceito “hiperparentalidade negligente”.
Este tipo de proteção excessiva reflete um medo exagerado dos riscos, que impede as crianças de aprenderem a lidar com desafios. Ele sugere que os pais deixem espaço para os filhos experimentarem e errarem, de forma segura. É nesse equilíbrio entre proteção e liberdade que as crianças desenvolvem competências para a vida adulta.
A educação na Primeira Infância é crítica.
As diferenças no início da vida podem determinar o sucesso ou o fracasso de uma criança. Aos 3 anos, uma criança de uma família com menos recursos pode conhecer 400 palavras, enquanto outra, de um contexto mais favorecido, pode chegar às 1200. Esta disparidade, explica, não é apenas numérica: é uma barreira que define o acesso ao conhecimento, à leitura e, mais tarde, ao emprego.
A solução? Investir na educação desde cedo. Creches e pré-escolas de qualidade são fundamentais para reduzir estas desigualdades. Mais importante ainda, criar ambientes que estimulem as crianças a explorar, pensar e interagir com o mundo.
Afinal comunicar. Saber ler e falar para o mundo.
LER A TRANSCRIÇÃO DO EPISÓDIO00:00:12:23 – 00:00:40:14
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Ora, viva! Bem vindos ao Pergunta Simples o vosso Podcasts sobre Comunicação. Nesta edição retornamos à infância, aos tempos da meninice que sequer feliz, mimada e cheia de boas memórias. Mas nem sempre assim acontece. Hoje falamos de um tema urgente a infância. Como as experiências vividas nesta fase da nossa vida moldam o nosso futuro. Tempo de necessidade máxima de amor e protecção.
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E o que acontece quando essa protecção falha? Como podemos ajudar as crianças em risco? E o que podemos aprender sobre o papel das famílias, das escolas e da sociedade? Nesta conversa ouço Rui Godinho, psicólogo e diretor de Infância e Juventude da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, um especialista com décadas de experiência a salvar, literal e simbolicamente crianças que foram maltratadas pelo mundo.
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De vez em quando acordamos chocados com as consequências directas de uma infância infeliz. Dou um exemplo. Uma adolescente de 16 anos matou a irmã e, no tribunal assumiu que estar na cadeia era melhor do que estar em casa. Neste caso, tudo começou com maus tratos familiares e culminou numa tragédia, expondo um padrão da comunidade. Muitas vezes não vê os sinais e não age a tempo e horas.
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Este não foi um crime isolado. Ouvia o explicar Rui Godinho. Ele é o resultado de anos de negligência e de violência. Professores relataram que esta jovem era agredida pelo pai à porta da escola e ainda assim, ninguém interveio. Esse caso levanta questões difíceis Por que motivo instituições como as escolas ou centros de saúde não identificaram o problema a tempo?
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Provavelmente os sistemas de protecção estão desatualizados e mais focados nos sinais mais óbvios, como a pobreza extrema ou as agressões físicas, enquanto que os maus tratos psicológicos mais subtis continuam a ser ignorados quando a negligência, o maltrato e até destas crianças são retiradas do seu ambiente familiar, idealmente para encontrar uma vida melhor. Muitas das crianças em risco são acolhidas por famílias ou colocadas no sistema para a adopção.
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Entretanto, ficam à guarda de instituições financiadas pelo Estado. Mas tanto o acolhimento como a adoção requerem muito mais do que boa vontade. Estas crianças têm histórias difíceis, ouvi eu muitas vezes. Testam os limites dos novos cuidadores, porque nunca tiveram estabilidade. Rui Godinho dá um exemplo simples quando uma criança finalmente encontra um ambiente seguro, pode desafiar os pais adoptivos como forma de verificar se os laços são reais.
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Se é mesmo a sério esse comportamento não é um comportamento de rejeição, mas sim uma tentativa de construir confiança, de validar numa espécie de vamos lá ver se gostas mesmo de mim. A sério. O psicólogo sublinha a importância de preparar as famílias para lidarem com estas situações. Além disso, destaca que em Portugal ainda há uma cultura muito centrada em instituições, quando o ideal seria que as crianças pudessem ser acolhidas em famílias.
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A lei tem hoje várias possibilidades da clássica adopção as famílias de acolhimento e até ao apadrinhamento civil e o número de crianças em instituições tem vindo a descer. Nesta conversa olhamos também para as infâncias felizes, claro, e até ao extremo oposto os pais que cuidam demais, que são demasiado protetores, que sem o conceito hiper parentalidade negligente. Parece um contrassenso, mas importa perceber de que é que estamos a falar.
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Este tipo de proteção excessiva reflete um medo exagerado dos riscos que impede as crianças de aprenderem a lidar com os desafios. Ele sugere que os pais deixem espaço para os filhos experimentarem e errarem de forma segura, claro. É neste equilíbrio entre protecção e liberdade que as crianças desenvolvem competências para a vida adulta. A educação na primeira infância é crítica.
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Já sabemos. As diferenças no início da vida podem determinar o sucesso ou o fracasso de uma criança. Aos três anos, uma criança de uma família com menos recursos pode conhecer cerca de 400 palavras, enquanto que outra, num contexto mais favorecido, pode chegar às 1200 e o triplo. Esta disparidade, explica, não é apenas numérica. É uma barreira que pode definir o acesso ao conhecimento, à leitura e, mais tarde, ao emprego.
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A solução? Investir na educação desde cedo. Creches e pré escolas de qualidade são fundamentais para reduzir estas desigualdades. Mais importante ainda, criar ambientes que estimulem as crianças a explorar, a pensar e interagir com o mundo. Afinal, comunicar, saber ler e saber falar para o mundo.
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Play Godinho licenciado em Psicologia desde 2016, que é diretor de Infância e Juventude e Família da Santa Casa da Misericórdia. Mas posso apresentá lo como um expert nestas coisas da infância e da juventude. Pode ser. Obrigado por ter aceitado o convite. Muito obrigado e esperto, eu diria, Mas diria um entusiasta e relativista também. E também não é porque vem falando muito sobre isso.
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Quando estava a preparar aqui esta esta nossa conversa. Saltou me uma uma notícia que que me. Que me afligiu. Acho que a palavra é essa. É uma. Uma história de um tribunal. Culminou num tribunal em setembro deste ano, mas tudo aconteceu em agosto de 2023. A notícia é um relato dos repórteres que estão no Tribunal de Leiria no julgamento de uma adolescente que confessa ter matado a irmã mais velha em agosto de 2023 e o que me tocou neste relato foi a maneira como esta adolescente assumiu o crime no tribunal.
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E ela disse Eu passo a citar Estar na cadeia é melhor do que estar em casa. Esta adolescente matou a irmã por causa de um telemóvel. No julgamento, não compareceu ninguém da família. Algumas das professoras estiveram lá e contaram que esta jovem, com 16 anos, na altura do crime, era maltratada em casa. Chegou a ser espancada pelo pai à porta da escola e que o telemóvel era a única porta aberta para o mundo que lhe era permitida.
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Como é que um psicólogo especialista em em jovens e em crianças de risco, muitos deles olha para este caso? Bem, o primeiro comentário é O que é que terá acontecido até este momento? E porque nós só conhecemos a história a partir desse dia do homicídio, o que é que se passou para trás? Porque isso é um caso absolutamente extremo e para ter um comportamento completamente extremo e assumido.
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Pelos vistos, da forma como disse, muita coisa passou se para trás, não sabe? E a segunda pergunta é onde é que esteve a comunidade? Onde é que teve os professores? Onde é que esteve a família? Onde é que vocês de saúde? Porque, naturalmente, não foi a 16 anos, Num episódio que isso aconteceu, há toda uma um histórico que motivou essa situação.
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Não sabemos um pormenor sobre aqui, alguma descompensação psicótica, alguma questão de saúde mental. Seguramente houve. Agora, não conhecendo o histórico, conseguimos intuir e com todo sistema, uma vida de maus tratos e de contextos adversos para o seu desenvolvimento. Portanto, na escola, nos vizinhos, seguramente na família também passavam as coisas. Elas estão relatadas pelos professores, coisas graves de humilhação desta pessoa.
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E nós, comunidade, a dormir No fundo, a fingir ser instrumentos para conseguir ver permissivos. O que é que não está a acontecer? Eu Isto tem uma resposta, uma pergunta complexa, tem uma resposta complexa, mas uma das de duas dimensões que podem explicar esta questão. E nós temos um grande estigma sobre a questão dos maus tratos a coisas, que é evidente Se uma criança aparecer com um livro, ninguém questiona que é um maltrato, mas uma humilhação psicológica está na zona cinzenta para muita gente, sendo que o efeito é muito mais.
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Até pode ser muito mais negativo para a criança ter com os neuro é uma coisa física, nós reparamos logo e temos tendência para intervir ou pelo menos para estar atentos. Se for um maltrato, uma humilhação, não é assim, pois não é porque é invisível. E depois outra questão e passa se no contexto da família e portanto, aquela coisa que entre marido e mulher se mete a colher ainda é uma coisa que, não sendo hoje uma realidade como era há uns anos atrás, ainda é muito.
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É uma esfera privada. E essas dimensões que não são tão explícita e tão evidentes no muitas vezes ficam no segundo plano e que ninguém quer interferir, interferir. Agora, esta é uma resposta a toda a comunidade, não é? Como é que nós conseguimos identificar de forma precoce uma criança que está em risco e que potencialmente alguma coisa pode correr ainda pior nos nos uns meses ou nos anos vindouros?
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Nós temos de ter. Nós temos, digamos, um radar, isto é, a escola, um radar. Os centros de saúde são um radar, As comissões de protecção de crianças e jovens são o radar. O que eu acho é que são radares. Foram criados num paradigma em que era muito. Acho que esse perigo. Eram muitas as crianças de carência económica e, portanto, há aqui um preconceito social.
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Não é? Na base. E, por outro lado, uma tipologia de perigo que é muito efetiva, como a mendicidade, os maus tratos físicos, digamos. E hoje temos uma diversão idade de de. De problemáticas que esses radares não apanham. Portanto, diria que temos radares um pouco obsoletos face à complexidade real em que vivemos. Então é que o que acontece na lente que está, em que tipo de situações são aquelas que estão para além do óbvio?
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Eu posso dar lhe até uma imagem realista. Nós temos que considerar o Metropolitano de Lisboa e para isso a ideia dos processos de protecção são que eles já chegaram ao radar. Portanto, eu ainda estou mais preocupado com aqueles que chegaram a Radar. Cerca de 35% dos processos violência doméstica e aqui no estrato socioeconómico democrático, é dos traços mais baixos aos mais altos.
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Portanto, lá cai o preconceito. Não é uma coisa das famílias pobres e carenciadas, é uma coisa que é transversal nas famílias, sim, sendo que as famílias mais diferenciadas, que têm mais condições para ocultar, porque se calhar não tem divulgados, têm especialistas. As crianças estão em escolas privadas com menor sinalização do que as escolas públicas e, portanto. Mas não deixa de lá está o problema.
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Nós temos os consultórios dos nossos colegas psicólogos completamente seis vezes desses, deste estrato de situações numa outra dimensão que vem logo a seguir. É o Conselho Parental, que era uma coisa que há 15 anos naturalmente havia, mas não tinha uma expressão. Mas cerca de 15% é conflito parental. São pais que se separaram e que a criança está no meio do conflito e que são coisas muito danosas para as crianças, porque o conflito lealdade e partido entre dois pais é um trauma primário, pode ter efeitos gravíssimos.
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Possivelmente a criança gosta mais do papel da mamã e estamos a falar desse género que implicitamente é a criança estar dividida, não é? E isto cria danos muito significativos para o desenvolvimento. Mas são matérias que, na minha opinião, há uma certa tolerância social que é intolerável. Ou seja, nós só ver uma questão a uma criança que é agredida queria ser tirada só ver uma criança durante quatro ou cinco anos em contexto de tribunal, com os pais a conflituar com auto violência, não é?
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Há uma tolerância que, na minha opinião, não deveria ser permitida porque os danos são brutais para as crianças, não é? Em que tipo de danos é que podem subsistir de uma situação, de de uma crise, de uma batalha campal entre duas das pessoas mais queridas que moram lá em casa, Eu diria. Primeiro, é um trauma que é um trauma primário, porque supostamente a pessoa que cuida de mim é a pessoa que me está a maltratar.
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É isto mesmo, não seja essa a sua vontade. Eu, até porque as crianças têm sempre mama olho é uma lente benevolente como são tratadas pelos pais, não é? Mas a criança fica perdida. Não é porque chega a casa da mãe e a mãe diz Tu o teu ser, o teu pai tem que comprar uns, teres que comprar os últimos e depois chega a casa do pai e o pai diz Tens ser a tua mãe e a criança anda aqui perdida no meio disto gerir e a gente não.
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Só pessoas muito pequenas, com uma pressão psicológica brutal e com um sofrimento muito grande. Só que como não está ligada à família, não a uma parte protetora, é muito difícil ser neutro. E é o sistema. O sistema não tem muitos mecanismos, porque a judicialização só aumenta a litigância e o conflito. Portanto, é muito difícil de atenuar esta conflitualidade.
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Eu tenho uma curiosidade que é quando as coisas correm verdadeiramente mal neste caso, ou quando há violência sobre as crianças, um maltrato sobre as crianças e elas são muito, muito pequenas. Como é que se ouve meninos e meninas de dois, três, quatro anos, se é que são ouvidas num tribunal? Bem, estamos em duas camadas, uma coisa a ser atribuídas, outra coisa a ser ouvidas no tribunal.
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Não há mecanismos de ouvir as crianças, nomeadamente os psicólogos e sobretudo, aqueles que especializaram nestas áreas. Mas na primeira infância, através do desenho, através da brincadeira, porque as crianças não têm uma capacidade de verbalização, não há um interrogatório, não há um território. Não é, portanto, aliás, o que é crítica quando são ouvidos como se fosse um inquérito policial?
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Porque a criança não sabe lidar com isto e fica muito perdida em o que é o significado que as coisas têm para ela. São muito diferentes. Portanto, eu diria sim a mecanismos tem que ser mecanismos, são muito especializados. Não basta dizer ah, eu consigo falar com crianças ou tenho jeito de falar com crianças. Não chega. Nomeadamente o tribunal, que é uma instituição muito formal.
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A verdade tem se feito um caminho. Já tribunais têm espaços próprios para ouvir crianças, mas ainda assim, na minha opinião, para falar com crianças, sobretudo crianças mais pequenas, têm que ser especialistas. Deviam ser psicólogos que saibam comunicar e trazer as questões colocadas pelos estudos. Outras vezes, com certeza. Mas porque muitas das vezes aquilo que é o impacto que tem para a criança estar num contexto tribunal ou perante o juiz, com uma pergunta bem intencionada, mas mal feita, pode até por respostas dar um sentido diferente da realidade.
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Isto é uma coisa muito fácil de acontecer e até para nós é assustador quase pisar num tribunal, naquele, naquele, naquele sítio, com pessoas vestidas de preto que falam alto e que estão lá em cima, quanto mais para intimidatório. Há sempre aquela sensação para estamos numa operação stop. Será que têm o seguro em dia? Todos os documentos têm um preço que temos sempre que comentar em falta.
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Não é para nós que somos adultos. Para as crianças é particularmente difícil. É como é que uma criança depois reage a uma coisa dessas se for exposto a um ambiente desses? Depende. Há crianças que se fecham e não partilham. Começa logo. Por exemplo, nas situações de conflito parental, a criança vai ser ouvida pelo seu futuro juiz e chega ao tribunal.
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Tem na sala de espera a família da mãe, a família do pai e ela não sabe se vai ter como é. O pai fica zangado se vai ter com o pai. Isto é dolorosíssima para as crianças e, portanto, eu acho que nós temos que muitos países já tem em Portugal também já muitos projetos desta dimensão. Acho que temos que criar um contexto que seja amigo das crianças para as crianças serem ouvidas, que proteja as crianças destas questões e que sejam ouvidas por pessoas que os ajudem.
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Porque o objetivo não é procurar litigância do pai contra a mãe ou vice versa. É dar a paz que a criança precisa e esse é o caminho. Portanto, eu acho que aqui o foco é muito mais leve. Tem uma lista de perguntas para fazer quando está a avaliar um caso de uma criança. Nessas não depende muito da circunstância, mas a questão de fundo é como é que a criança se sente.
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Não é uma grande preocupação, é sobre o bem estar da criança, porque quando os pais separam, não pode ser uma disputa de poder. Quem é que cria que fique com a criança com quem a criança tem direito a ter um pai e uma mãe por inteiro? Isso não é? E o envolvimento parental é uma coisa positiva, a não ser que haja questões e aí muitas vezes não é de pais maltratando que são pai ou mãe, ou de pais ausentes.
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Mas o que seria normal a uma criança, independentemente dos pais separados deixarem de ser um conjugal, continuam a ser os pais daquela criança e participarem na vida dela. Isso seria natural. Então e qual é a explicação para a explicação? Enfim, até pode ser bastante óbvia para o facto das crianças serem quase um joguete nesta. Nesta batalha entre entre duas pessoas que definitivamente partiram para um momento entre elas.
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Cá está a pergunta complexa. Mas eu acho que há aqui uma dimensão cultural. Nós há 20 anos isto mal, mas estava resolvido porque o normal era vir uma separação. A criança ficava com a mãe e o pai 15 em 15 dias e a criança era mau para a criança. Portanto, meu pai participa na vida dele e meus estudos sobre o efeito negativo das crianças não ter os pais ausentes.
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Então os pais, porque culturalmente eram mais os pais também havia ao contrário, mas, mas verdadeiramente eram os pais os Felizmente temos um maior envolvimento parental. Temos os pais a querer participar na vida das crianças, mas não os problemas, porque de representação social aquilo que estava resolvido fica em cima da mesa como um problema, quase como estamos a disputar a parentalidade na representação social.
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Porque? Pois não são só os pais, são os avós, são os familiares, são os amigos. E às tantas parece fica Sportem, que com vir quem é que vai ganhar o jogo? E às vezes a cria se fica um pano de fundo, fica esquecida no meio. E eu acho que aqui tem que haver uma intervenção clara e imediata para proteger a criança, porque esses danos não vão ficar só na criança enquanto acontecesse.
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A clivagem só fica para o resto da vida como futuro pai, como futuro cônjuge. Porque? Porque é o modelo que internalizou, ou seja, é o modelo que internamente tem do que teve ser uma vida de conjugal ou parental. Quem não fica esquecido lá na infância, ele continua dentro de dentro de nós. Eu, eu concluo outros colegas como Dr. Paulo Guerreiro, Pedro Gaspar.
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Há pouco menos de um ano fizemos um livro com 50 pessoas que vimos sobre a infância, chamado exatamente isso, que era o que fica. O que passa no impasse na infância, não fica na infância, porque o que passa na infância é aquilo que deixou marca para nossa vida e, portanto, não se pode menosprezar o impacto que essas posições adversas têm na infância.
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Isso falamos um pouco antes de termos a palavra nesta conversa a propósito dos modelos de aprendizagem do ir à escola. Hoje a escola primária a partir dos seis anos. Mas, de facto, muito antes, no jardim de escola em que as crianças em que as crianças começam para lá ir e onde se começa a ter contacto com as cores, com as palavras, com as primeiras letras, Fica desde logo aí um quase uma marca para a vida da decisão de um maior ou menor sucesso daquela criança enquanto adulto no futuro.
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Sem dúvida. Aliás, isso é a grande novidade. Na última década sobre educação. Para nós que somos desta área e para os pediatras, isso era uma coisa evidente. Mas hoje a própria economia tem um conhecimento profundo sobre esta matéria e sobre os impactos que isso tem para desigualdade. O foi Prémio Nobel da Economia em 2020 diz que o maior retorno de investimento é nos 3/1 anos de vida.
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E quanto anos a investir na idade adulta já temos. Já tem um efeito de retorno muito pequeno. E então o que é que está a acontecer? É o olhar, sobretudo para os 3/1 anos de vida com uma grande prioridade e há pouco dava lhe o exemplo com um estudo grande que existem na Europa e que diz o seguinte crianças vão aos três anos com protegidas, os pais protegidos pelo estatuto.
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De qualquer forma, têm um vocabulário médio de 400 palavras. Se for classe trabalhadora, working class, como dizem aqueles trabalhos mais tipo supermercado, coisas mais de funcionamento básico, 600 palavras. Se tiver pais licenciados 1200, ou seja, aos três anos de idade pode ter o dobro ou o triplo do vocabulário. Quando aos três anos temos o dobro ou o triplo do vocabulário.
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Há uma diferença entre uma vida de inclusão. A exclusão não existe, há uma igualdade de oportunidades, há uma disparidade enorme. Portanto, é logo na primeira infância que tem que se atacar este problema. E depois a maneira de recuperar. Porque, no fundo, o saber mais palavras ou menos palavras depois tem implicações na maneira como se lê um livro mais tarde, da maneira como se entende o mundo, da maneira como se fala uns com os outros, como é que depois se consegue fazer a recuperação deste, deste traço muito, muito fundamental que, segundo julgo ter entendido, é sempre possível porque recuperarmos o esforço, o investimento é muito superior.
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É, em média, a taxa de probabilidade de sucesso diminui. Claro que quando falamos de médias, há sempre os outliers, mas estamos a falar daquilo que que que é o normal. Isto não é só no vocabulário, isto é, em várias áreas, até em áreas de motricidade. Há um estudo que chamado de jump, que é o salto ao pé coxinho e por exemplo, as crianças de famílias mais diferenciadas em termos da formação, que têm mais capacidade de saltar vezes seguidas ao pé coxinho.
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Crianças com os pais em situação de exclusão, até em dimensões. Porque estas questões da motricidade e da educação e daqui cognitivas estão muito ligadas e, portanto, uma coisa impactar a outra, também a ciência está a nos oferecer cada vez mais conhecimento. Disse um pouco que há coisas que são de conhecimento comum dos psicólogos e dos que há muitos anos, todavia, a sociedade e os políticos, nós, os leigos, não tendo consciência de que essas coisas acontecem assim, continuamos infinitamente a fazer os mesmos erros durante, durante os próximos anos.
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Sem dúvida. Eu acho que hoje as tecnologias e a participação na União Europeia, ou seja, o nível de conhecimento que existe hoje é enorme para nós sabermos como é que funciona todas as crenças na Europa. Temos estudos muito aprofundados aqui. Por que é que não mudamos? Porque eu, por várias que por várias questões, eu acho que logo uma é intolerável.
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Abril 2025 Tomar as decisões técnicas sem ser na base do conhecimento, muitas vezes são questões meramente crenças ou impeditivas. Não é por todos. Fomos alunos, achamos como é que sabemos fazer funcionar a escola. Isto é um erro, não é? Outro erro é que as crianças não voltam porque se as queria, terão daqui muitos anos sim, mas até lá não há um olhar sobre isso e, portanto, estas matérias implicam um investimento.
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Só que o retorno não vai ser nas próximas eleições. As crianças. Só verei o retorno desse investimento daqui a 20 anos e, portanto, nós sabemos. Do ponto de vista da gestão política, acaba por não ser uma prioridade planejar. Eu vi no curriculum que até já tive oportunidade de aconselhar alguns políticos que argumentos e que usa para convencer os políticos de que vale a pena investir se não acho que o mundo hoje é muito complexo.
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Vivemos num mundo global. Esta questão, por exemplo, que se fala de as pessoas quererem imigrar porque os jovens querer ir para a Europa. Nós hoje temos que saber. Temos no mundo global e temos que ser competitivos não só na economia, mas também na qualidade de vida que se dá. É uma coisa que nós temos para mim, em Portugal, que é muito importante.
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Nós temos muitas situações, crianças vítimas de maus tratos e etc. E isso é apenas o tablier que tem sintomatologia daquilo que é uma sociedade que não é amiga das crianças e das famílias. Por exemplo, nós temos em Portugal uma coisa que é incomum na Europa que a escola a tempo inteiro, que as crianças chegam à escola às 08h00 e isso precisa chega tarde.
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O qual é que é o argumento? O argumento é que isto é para ajudar os pais a trabalhar, não é? É para um apoio à parentalidade. Só que isso não se resolve um problema com outro problema, o que não seria normal para os pais seria chantagear depois de entrarem as oito. Os horários de trabalho deviam ser amigos das famílias e das crianças, então resolvemos um problema de cada problema.
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Por exemplo, na Suécia, as crianças com 5 e 6 anos foram de bicicleta para a escola. Em Portugal, vão de carro com os pais para a universidade, porque criámos uma dinâmica de sociedade que não é amiga das crianças famílias. A questão é absolutamente estrutural, não é? Quando olhamos para a sintomatologia dos problemas, é já reduzida a anos. Mas é aqui que está a mudança, que é profunda.
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Não é porque as nossas cidades não estão feitas para que as crianças possam ir e nós, como pais, se calhar também com nosso jeitinho superprotetor, também estamos a fazer uma parte má do trabalho. Sim, eu uso uma expressão que é polémica, mas que o que acredito nela que eu costumo dizer que a hiper parentalidade, ou seja, uma puta de uma parentalidade excessiva por parte dos pais, não é hiper protetora, não é simétrica, é uma negligência.
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Só que é socialmente aceite porque os pais na porta da sala dos grupos de WhatsApp é uma coisa que às vezes podem ser excessivo, mas é porque gosta muito do filho, portanto, tem uma certa tolerância social. Uma mãe deixa uma criança sozinho mesmo a brincar, e uma mãe negligente é criticável. Mas o efeito é assimétrico, porque por termos a criar crianças que depois não sabe resolver os problemas da vida prática e até queremos uma situação você dar o exemplo.
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Eu já escrevi um artigo sobre isso que eu chamo de O Paradoxo do escorrega, que é quando eu era criança. Tenho 51 anos, sou de Évora e quando era criança para o parque infantil e tinha o escorrega que era muito íngreme, tinha quase dois metros de altura, tinha uma caixa de areia e quando chegava abaixo esfolava o joelho.
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Que eu saiba nunca morreu ninguém, mas aquilo era altamente desafiante. Hoje em dia, com o mito que existe, que haja perigo, o que é que acontece? O escorrega que tem um metro são quase horizontais. É que as crianças de dois anos, quando querem deslizar como no filho, ficam preso com roupa porque aquilo tem uma viga metálica que nem permite deslizar e portanto estamos a criar uma sociedade que é completamente artificial.
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O que Kardec diz? Filtramos a realidade da criança, ela destrói e nós estamos a criar uma uma sociedade muito protetora. Mas as crianças não aprendem a crescer e a viver. É o paradoxo, é isto é que a sociedade hoje é muito mais complexa na vida adulta, mas as crianças não aprendem a lidar com a diversidade durante o seu desenvolvimento.
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E estamos a criar uma sociedade menos elástica, menos responsiva. E eu acho que eu acho que sim, porque isto é como tudo, tem que haver equilíbrios, não é? Eu quando era miúdo, na primária só tinha aulas de manhã, eu à tarde. Isso quer dizer, eu almoçava em casa dos meus avós e brincava a tarde toda no bairro e lanchar a casa de um amigo ou de outro.
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Se fossemos roubar fruta ao vizinho, tínhamos a dizer que ia falar coma e portanto a comunidade por dia. E havia um contexto de vida comunitária. Hoje existe muito pouco e eu moro num prédio que eu conheço os meus vizinhos e, portanto, essa receita resulta de não haver uma partilha de responsabilidade que é da vida coletiva. E eu acho que isso é uma dimensão que temos de melhorar.
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Sem dúvida. Vamos lá regressar aos anos 80, lá está, aos anos em que estávamos na na na, na escola em Évora e o encaminha lá em cima que a escola era só uma. Da mesma forma que o infantário era só um e lá estavam as crianças das famílias mais ricas, mais pobres, mais remediadas. Estávamos todos juntos na mesma sala de aulas e todos tínhamos que fazer as mesmas tarefas e aprender o que havia para aprender.
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Já não falo nas reguadas, não é politicamente correcto. Hoje em dia há uma espécie de segregação. As pessoas que as crianças que vêm de famílias que têm mais posses económicas vão ao colégio privado ou então vão para uma escola pública que é mais reconhecida, Os outros -1 menor mistura, uma menor diversidade social. E eu julgo que genericamente, sim, particularmente nas grandes cidades, porque as as mais pequenas, por uma questão de escala, não se consegue, não se sente tanto.
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Isso eu julgo que sim e acho que é um caminho errado. Eu acho que falar de um exemplo das crenças, isto são estudos do Banco Mundial e do Banco Mundial em que diz o seguinte crianças de um setor mais carenciado, famílias mais carenciadas ter acesso uma creche de qualidade média, ganham se forem famílias de classe média com pais diferenciados.
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Se a qualidade for média e ela por elas forem pais diferenciados e com competências educativas, a criança perde. Portanto, a solução que se diz o Banco Mundial. Estamos a falar do Banco Mundial, porque quando falamos de dinheiro é importante os feliz desta vida tem também. Se para as coisas boas, o que é que se diz para haver um modelo universal, que é o que o governo português defende que é ser universal?
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O pré escolar e a creche. Temos de ter respostas de alta qualidade para todos ganharem. É claramente intuitivo nós percebermos que pessoas de famílias mais carenciadas terem crianças que vêm de outros contextos familiares ganham com isso porque creio que têm mais vocabulário, têm mais miúdos, mais sentido. Isso é intuitivo. Mas o que é interessante também é crianças de níveis de de muito diferenciados do ponto de vista das competências dos pais estarem com peixes, Então crianças também têm outro tipo de ambientes, também ganham com isso, ou seja, por terem experiência social.
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Hoje há estudos que sobre isso e que mostra que há um contexto em que inclui todos, é benéfico para todos. Não é só para as crianças mais carenciadas ou para as famílias mais carenciadas. Só que isto é uma mudança de paradigma. Tem que acontecer sobretudo na cabeça dos pais, porque há muito preconceito social sobre isto e, portanto, isto tem que ser combatido, sobretudo no campo das ideias com as quais nós estamos a proteger.
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Proteger, porque há alturas em que proteger é absolutamente necessário e quando as coisas correm definitivamente mal, há um caso de violência, há um caso de negligência. Aí o braço do Estado move se e estas crianças são retiradas das famílias. Como é que o processo de comunicação de um evento tão traumático como retirar uma criança do seio da família?
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Por razões que obviamente tem, que têm que acontecer, que são de violência, de negligência, de maltrato, enfim, podemos fazer uma lista imensa de malfeitorias, mas por uma questão que é quase filosófica nós da nossa lei, bem, nossas leis são muito boas, são ótimas, nossas leis são dos mais evoluído no país, vão para civilização. Nem sempre há uma mudança muito inicial que significativa.
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Há uns anos que os pais deixaram ter o poder paternal sobre as crianças para ter o exercício das responsabilidades parentais. Ou seja, os pais não são os donos das crianças. É um poder perpétuo e uma responsabilidade que não se habilidade que tem. Ora, se os pais não cumprem essa responsabilidade pondo as crianças em perigo, e como tem sido o Estado intervir para que a criança não esteja em perigo?
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Como é que acontece toda a comunidade pode sinalizar um centro de saúde que encontra uma criança que traz marcas ao que a criança verbaliza. Tem que comunicar imediatamente uma polícia, uma escola tem um vizinho e um dever. Todos nós, enquanto cidadãos, percecionam com calma sobre comunicar. Isto pode ser de dois níveis um primeiro nível a nível de CPCJ, a CPCJ Comissão, porque esses jovens implicam consentimento dos pais, Ou seja, para os técnicos poderem intervir, os pais têm de dar consentimento, mesmo que as coisas estejam o corrimão.
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Se tiverem corrimão e houver perigo e os pais não derem consentimento. O que acontece é que o processo para tribunal, ou seja, a CPCJ, diz a criança, está em perigo. Os pais não deram consentimento, então o processo vai para tribunal e aí já tem uma força diferente. Já não é uma questão optativa dos pais terem ajuda ou não, mas é o Estado a dizer que, independentemente da vontade dos pais, o Estado tem que intervir para proteger a criança.
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E quem é que intervém? Quem é que lá vai? Depois depende do grau de gravidade. Se estamos a falar de uma situação de perigo de vida, tem que haver uma retirada. E aí, quem é que vai? As equipas de assessoria ao Tribunal da Segurança Social ou na área municipal de Lisboa da Misericórdia, que, em articulação com as polícias e com o Tribunal, executam mandados de condução em que vão a família retirar a criança ao contexto.
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Às vezes, numa família, às vezes é mais protetiva ir à escola. A preocupação sempre é proteger a criança nesse processo, que é potencialmente muito traumático. É uma criança de repente ser afastada da família. Depende da idade, depende do contexto, mas é potencialmente muito traumático. Como é que um psicólogo explica a uma criança pequena que a sua família, que já não vai ver a sua família nos próximos tempos?
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Bem, a questão não se trata de não ver a família. Aliás, uma boa prática é ver a família. Eu fui diretor de uma casa de acolhimento durante 15 anos e a primeira coisa que fazíamos quando nos comunicavam com a polícia através do tribunal, que uma criança entre entrar, a primeira coisa que fazíamos era ligar aos pais e dizer quero que venham cá ter convosco a ver os vossos filhos para ver onde é que eles estão.
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E vamos em conjunto pensar como é que podemos ajudar, que eles possam voltar para casa. Ou seja, a forma como se lida com isso pode ser paga pela seguradora, quer das crianças, quer das famílias. Porque é o que dizia sempre vocês que somos pais, temos o vosso filho e nós somos funcionais, queremos ajudar, temos o mesmo objetivo, aquilo que tem de bom e portanto, há que fazer uma aliança.
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Agora não quer dizer que aconteça sempre desta maneira, Não é importante. Mas isto era o que seria. Quatro E e as famílias compreendem. Olhe, eu tive 15 anos no direto com contingentes. Eu diria que às vezes, no meio da crise, porque é muito abrupto em nós, imagina estrearem nos um filho que está connosco sair e muitas vezes há muita conflitualidade.
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Mas eu, em 15 anos que passaram por mim mais 500 crianças, eu diria, Houve momentos muito tensos de tentativa, pais, batavo, enfim, porque as pessoas estão muito zangadas e pois o projeto em que está à frente deles, os seus. Mas eu caminho. Eu acredito mesmo nisto. Sentiu se em risco real? Às vezes é um bocadinho, não é? Ter um pai que ande com dois metros a dizer que vai perseguir os meus filhos e que os vai matar.
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Não é uma coisa agradável de ouvir, mas eu da minha experiência. E é mesmo verdade o que eu vou dizer que eu acho que tratamos as pessoas com ética, com transparência, com clareza nos olhos mesmo, a dizer coisas difíceis, eles de momento podem não entender e ficam muito zangados, mas no médio prazo não é isso não existe. Aliás, eu encontro muitas crianças e famílias na rua da minha vida.
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Não eu no supermercado, no futebol que passaram por mim há dez anos, há 15 anos e até hoje não tive uma única situação em que as pessoas sentissem de outra maneira. Mas é isso. Temos que ser profundamente responsáveis do ponto de vista ético e muito empáticos da forma. Mesmo quando as coisas dizemos coisas difíceis. Eu já disse pais, que eu vou informar o tribunal, que vou inibir os contactos, porque a sua presença junto do seu filho é altamente prejudicial.
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Há casos, por exemplo, de abusos sexuais ou de coisas assim. É duro ver isto a um pai a zurzir isto a uma criança, mas ao dever de proteção. As pessoas podem não compreender ali, mas no médio prazo, eu acho que há o entendimento de que aquilo foi que era correto. E depois, como é que são as conversas com estas crianças?
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Muitas idades da maturidade, da capacidade intelectual. Há uma revolta. Varia muito. Eu vou dar lhe um exemplo que eu percebo que é difícil Notícias de violência doméstica um caso que conta uma história. Um jovem com 16 anos que entrou na casa de acolhimento que era a sexta vez que era retirado porque? Porque o pai batia e batia nele e no irmão eram retirados.
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E depois este jovem passou por. Quando chegou era a sexta casa de acolhimento, já tinha passado por cinco casas de acolhimento e o que acontecia quase sempre por regra, era isto. Ele na primeira semana dizia me Eu quero ir à polícia fazer queixa contra o meu pai, porque meu pai me batia para ter a minha mãe. E não pode ser.
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Ele quer que eu seja preso. E passado duas ou três semanas estávamos a dizer Não posso, me perdoou, Quero ir para casa. E eu, neste caso em concreto, está a história real O que é que eu fiz? O pai Missão de gastar essas coisas todas. E na altura o que eu fiz foi uma exposição para tribunal. Sei que esta criança não tinha capacidade psíquica como a história dele demonstrava já por seis vezes para tomar esta decisão.
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Porque estas questões da violência doméstica também é uma patologia não só do agressor, mas também da vítima, também tem dinâmicas patológicas. E o que eu disse é que havia uma toxicidade que não lhe permitia seguir aquilo que era melhor para ele e na altura usei o artifício porque eu fazia pequenos consumos da X. Propus ir para compulsivamente uma comunidade terapêutica, mas o objetivo não era desintoxicar, fumar um charro de uma forma recreativa que não tinha impacto nenhum, mas afastá lo do pai.
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E eu consegui desintoxicar. Passado três, quatro meses estávamos a trabalhar com ele. Eu ir viver para outra cidade e seguir o seu caminho, mas sempre a prerrogativa do projeto de vida para a criança. Muitos destes casos acabam até com uma retirada definida IVA por parte do duo do tribunal e os tribunais. O Ministério Público e os juízes compreendem sempre a melhor coisa para fazer.
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Ou ainda tenho uma resistência cultural em relação a. Enfim, aqui a família e a família é quase um um esteio primário da sociedade. Entrou entre o peso da família e é o direito do projeto para para a criança. Em Portugal tinha uma visão muito biologista sobre a questão da infância. Portanto, o papel dos laços de sangue ter uma importância, na minha opinião, sobre estimada.
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Faça aquilo que é o interesse da criança, porque o que a lei diz, e bem, é que a criança tem direito a família não. A sua família tem direito, a família está a crescer em família, que é diferente. Eu acho que excessivo, mas eu acho que há aqui algumas dimensões que são necessárias, que nós temos de ter protocolos de avaliação para não ficar na discricionariedade de cada um, porque estão entre o modelo de crianças, do juiz, do procurador, do psicólogo, da equipa de da casa de acolhimento e estamos a fazer.
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No fundo, é o encaixe de perceções, de crenças e de modelos, de ter sempre papel familiar distintos, com pouca tecnicidade. Onde é que está essa escala? Onde é que está essa regional? Não existe, não existe. Nós estamos a trabalhar e faz parte de uma associação, que é o projeto. Qual e porque envolve muito universidades está a Santa Casa, portanto é um laboratório colaborativo de investigação aplicada e nós estamos a tentar desenvolver exactamente um protocolo de avaliação, porque nós conseguimos avaliar as famílias de acolhimento, conseguimos avaliar as famílias adotivas por maioria de razão.
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Temos que saber avaliar as famílias biológicas para perceber estes pais têm ou não têm potencial para exercer a parentalidade e segundo, que têm potencial de mudança no tempo da criança ou não. Por ter potencial mudança em abstrato qualquer pessoa, mas tem que ser no tempo da criança. Podemos ficar à espera três anos, quatro anos, cinco anos, seis anos que a família muda e nunca tem nada.
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E depois chega um tio e depois a mãe tem um namorado novo e depois a razão? Um emprego. E passaram seis anos e temos uma criança equilibrada, sem perspectivas para o futuro. E isto porque de doença mental as pessoas pensam que a doença mental as vezes, por exemplo, a decisão é que a doença mental e vamos de Arrupe que nos vamos, que fiquemos, que a esquizofrenia não é assim.
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A doença mental resulta de experiências traumáticas, de ambivalências, de sofrimento que se vão acumulando, sobretudo crianças que não têm o nível de maturidade para processar os seus sentimentos e, portanto, nós temos de proteger as crianças, desenvolverem dinâmicas patológicas. Fruto dessas indefinições e da incapacidade do sistema em ser mais atuante. Não um dado que a mim me choca eu não tenho o número de cabeça, mas se eu disser 15.000, mas não fundo, é melhor não fazer nisto, neste número que nós retiramos crianças de famílias e depois pomos em casas de acolhimento, onde às vezes me parece que é pior a emenda que o soneto.
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Não há maneira de fazer melhor, mas no primeiro ano são 15.000. Já foram e já foram. O número já foram e fiz parte de um programa, na altura na Segurança Social, que era o plano de Ação, que era de qualificação das casas de acolhimento e quando começámos teve 15.000. Neste momento, felizmente, já melhorámos. Estamos na ordem dos 6000, 6300, portanto já foi um ganho grande.
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Ainda assim, a questão de fundo é esta é a casa de acolhimento, que são óptimas, mas independentemente de serem ótimas e misericórdia. 17 Portanto, eu já nem falamos ou só para nós e acho que são excelentes casas de acolhimento, mas o que cada criança tem direito é crescer em família. Então o ideal era era. Nós encontramos uma família de uma forma, nem que fosse temporária, para que ela conseguisse crescer.
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Sem dúvida, o que é o que acontece em praticamente todos os países europeus? Que o acolhimento residencial é residual e o acolhimento familiar e que é dominante em Portugal. Temos uma inversão por uma questão cultural. Nunca avançou o acolhimento familiar e agora está a avançar. Não é isso? Porquê? Porque o ambiente familiar. Imagine um bebé com um mês, uma casa de acolhimento não consegue dar aquilo que uma família dá, porque a pessoa que tem o biberão é sempre a mesma, as rotinas são sempre as mesmas, a tranquilidade é sempre a mesma de uma casa que tem dois ouvindo bebés é impossível.
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E portanto, aliás, a nossa lei proíbe que crianças com menos seis anos seja em casa acolhimento, Mas não diz que tem que se evidenciar, que é do interesse da criança com menos seis anos estar em casa de acolhimento. O problema é que não temos famílias de acolhimento em número suficiente. Nós damos e já temos 100 famílias de acolhimento.
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Começámos há quatro anos, estamos a conseguir e queremos aumentar significativamente, mas no país não é um grande caminho a fazer. Mas essas famílias de acolhimento são necessariamente temporárias. Isto não é uma forma de adoção paralela? Não, porque o objetivo, quando a criança é retirada, é que volta à família de origem, ou seja, a uma família que comprou na cria que estava em perigo de vida.
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Se for tirada o primeiro objetivo, a criança possa voltar para a sua expressa, a sua família e, portanto, esta família acolhimento garante o ambiente familiar até que a criança possa voltar para o seu contexto normal. Esse é o final feliz que se pretende e precisamos que as famílias de acolhimento sejam colaborantes, com famílias de origem e da nossa experiência nas crianças que já voltaram para as suas famílias ou que foram adotadas as famílias de acolhimento que continuam na vida das crianças como se fosse uma espécie de padrinhos não só da criança, mas da própria família.
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Eu acho que isso é uma coisa muito positiva. Vamos falar de adoção. Vemos muitos casais a quererem adotar. Vimos claramente que há crianças com que precisam de um projeto de família, mas volta e meia a manifestação de uma incompreensão que é mas porque é que nunca mais chega a minha criança? A minha no sentido de que ela leva me a perguntar qual é a parte do projecto que vão oferecer para a criança o projeto não fazer para si próprios.
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Mas enfim, pode ser uma contradição. Isso é mesmo utópico, porque a questão que se coloca é o processo educativo para proporcionar uma família à criança. Não é para propor ser um filho, uma família. Só que muitas vezes as expetativas são controladas. Como é que a explicação muito simples, primária de explicação, é o número de crianças para adoção é muito inferior, cerca de 20 vezes inferior ao número de casais que quer adotar.
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E então, se vamos a falar de crianças bebês brancas sem doenças, é exponencialmente inferior o número de crianças que estão disponíveis para adoção do que os casais que queria adotar. Daí o tempo. A criança quando tem um processo, a adoção rapidamente é adotada. Quando tem estas idades contra adolescentes, não conseguimos a família que está à espera porque é uma expectativa errada.
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E o que é importante é um justo expetativas para dizer se calhar não é preciso mais candidatos à adoção nesta fase, porque já temos uma lista tão grande. Não é que não é que que nunca vai adotar. Porquê? Porque o número queria ser menor. Isso é uma coisa negativa, porque é um sintoma de desenvolvimento numa sociedade. Se for na Dinamarca e crianças dinamarquesas serem adotadas apenas na Dinamarca e residual Porque?
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Porque é um país que oferece condições às famílias para cuidarem das crianças, formos a países mais subdesenvolvidos, o nível da adoção é muito maior. Nós passávamos nos últimos 15 anos 600 para 150. Portanto, isto é um lado positivo. É que as crianças conseguiram estar num contexto familiar natural e não precisaram de ser adotadas agora, pois os casais querem adotar, ficam com o sentimento.
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Mas há tantas crianças em casas de acolhimento e não podem ser adotadas. Mas estamos a falar de adolescentes. 72% das crianças em casa, com imensos adolescentes com problemas de comportamento, com comportamentos delinquentes e essas famílias não querendo falar dessas crianças, portanto, há uma rejeição. Como é que se faz a avaliação destas, destas famílias que querem adoptar? Há todo um processo de avaliação com entrevistas psicológicas com domiciliares, falar com outros familiares que se vai avaliar as competências para exercício da parentalidade.
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A grande questão é como há uma fusão muito grande entre oferta e procura? Como estava a dizer muitas das vezes quiserem um bebé, podem ter oito anos a espera porque não há. E o problema é que ao fim de oito anos já somos outra pessoa. A diferença é muitas, as vezes temos espera. Faça uma expectativa de uma coisa que não acontece, é demolidor.
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E como nós sabemos que os casais também que não conseguem ter filhos e vão para os testes de fertilidade, o impacto que isto tem também na dinâmica familiar, conjugal e portanto, este tempo de espera para uma coisa que não vai acontecer ou se acontecer, vai ser daqui muito tempo, não é? Também tem um efeito negativo para as famílias.
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Portanto, eu acho que há muito tempo defendo, devia haver maior transparência para dizer não é necessário termos mais famílias candidatas à adoção porque não temos crianças adotadas. Ou então outra coisa que termos candidaturas para perfis de crianças com deficiência. Esses mais velhos, porque essa necessidade tem de ser ao contrário, fazer ao contrário. Em Espanha fazem isso, fazem campanhas para dizer precisamos de famílias adotivas para crianças com mais de 12 anos ou para crianças com deficiência e então as motivações é ajudar essa criança.
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E isso acontece em Portugal. Continuamos a pensar que a adoção é a cegonha que leva o bebé para casa da família. Isso é quase um mercado de bebés. No fundo, hoje comparado é mais pequeno que a generalidade das pessoas. Tem melhor por vontade e desejo, mas não é claramente coincidente com aquilo que é. As características e necessidades das crianças.
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E quando se faz a avaliação das famílias, podemos chegar à conclusão que aquela família definitivamente não é uma boa família para acolher uma criança, para adotar uma criança sem atenção, a família adotiva, a família, acolhimento tem características diferentes porque pretende se coisas diferentes. Mas sim, nós fazemos muito isso porque é diferente ser pai biológico do que acolher uma criança, porque estas crianças tiveram uma experiência traumática.
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E quando chegam ao contexto familiar, sobretudo o acolhimento familiar, uma criança de oito anos que viveu oito anos em contexto de vida, tudo de exclusão. E é num contexto em que foi vítima de experiências traumáticas. Quando chega a nossa família, traz questões. Não é que é difícil uma familiaridade precisa de nós. Temos que escolher famílias. Tenho essas competências plus e temos que as ajudar a lidar com essas situações, porque há um choque.
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E essas, essas crianças testam a família. Sim, isso é normal. Mas tem a ver com a questão da vinculação. E nós queremos testar. Eu dou lhe o exemplo. Quando o meu filho, o segundo filho, nasceu, o Pedro, o João estava habituado a ser filho único, não é? De repente, o pai com uma não col exime assim o papá pode pôr o Pedrinho no chão e vai brincar.
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Como é que ele gosta muito no chão? Isso é natural das crianças. As crianças, as crianças, as crianças também querem ter a segurança do seu amor, não é? E, portanto, sobretudo crianças que nunca tiveram esse amor. Quando têm alguém que gosta deles, há uma ambivalência eles vão fazer o quê? Aquilo que nós chamamos a psicologia. Vou atacar o vínculo para confirmar.
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Deixa lá ver se isto aguenta. Deixa lá ver se posso abonar na família. Esses vocês estão bons, estão palavras é um pouco isso. É esse abanar? Não, não provoca aí umas más tensões, sem dúvida. Por isso é que nós temos de preparar as famílias perceberem. Isto vai acontecer a priori. E elas acreditam. As pessoas contam querer ter. As crianças estão muito a pensar no bebé e no que não.
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Houve muito que nós devemos ter uma audição seletiva. Mas esse trabalho das equipas técnicas, nós temos de trabalhar muito com os miúdos. Pelos peritos não teve consigo e sem ver com ele, teve com a criança que ele tem tanta insegurança que já não suporta mais ser rejeitado. Então a primeira coisa que vai fazer é tentar rejeitar para ver se o aguentas ou não.
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E se tu não aguentar mais errar mais um como os outros todos e confirmo se tu aguentares, ele começa a ficar ambivalente. Eu costumo fazer esta metáfora. É como um surfista entrar no mar contra picado, não é? O que é difícil é passar a zona de rebentação. Às vezes a onda sobe e voltamos para trás e depois, quando passamos a zona de rebentação, o mar fica mais forte e aí sim conseguimos ter uma certa estabilidade.
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Quando nós estamos a falar de filhos biológicos e eles se portam mal, nossos pais, eu, pelo menos quando me zango, posso me zangar tranquila e à vontade, porque? Porque, porque me zango e sei que nada de substantivo vai mudar nessa nossa relação. Quero imaginar que nessa relação entre pais adoptantes e crianças que têm essa biblioteca de vida difícil, seja um pouco mais difícil estabelecer a fronteira.
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Sem dúvida, essa, essa e essa é um tema muito, o que é muito rica tecnicamente. Mas é muito efetivo que nós, como pais, nós não racionalizamos a relação com os nossos filhos. Nós agimos emocionalmente. Não é isso, meu filho. Fizeram grandes separados. É isso que eu estou cansado, porque? Porque nós também não podemos ter o modelo dos pais omnipotentes, que são perfeitos.
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Nós somos carne e osso e temos excessos. E às vezes, como é que a diferença é que é inequívoco? Nós temos esse ser, o meu filho, está tudo do lado o tempo todo. Lá vai para o quarto e vamos pensar um bocado, Já vamos falar isso, levantar a voz que não devo. Isso quer dizer isto por pedido, mas ele sabe que eu o amo e a seguir evolui.
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Reparo estas crianças, como tiveram muitas experiências traumáticas, a mesmo comportamento pode reativar sentimentos mais traumáticos e activar comportamentos. Não é que são mais críticos, portanto, não podemos agir apenas com o coração como fazemos com os nossos filhos. Temos que ter um pensamento sobre aquilo que nós fazemos, aquilo que eu chamo intencionalidade terapêutica. Um Quando, já agora, aparece uma criança que é adoptada no seio de uma família que está em princípio equilibrada e aparece essa criança que oferece esse amor, mas ao mesmo tempo uma biblioteca de vou testar a ver até onde é que aguentam as fundações daquela família também podem ficar em causa.
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Podem abalar, sem dúvida, sem dúvida. Por isso é que o acompanhamento técnico é muito importante. Aliás, eu conheço vários testemunhos de famílias que adoptaram frutinhos de acolhimento e eu gosto quando são muito genuínos e dizem muitas As vezes penso porque a verdade é esta nós muitas vezes pensei desistir. Isto é muito duro. E as pessoas que conseguem compreender porque é que aquilo funciona.
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Mas é preciso muito empenho, muito importante apoio das equipas. Nós temos equipas, estão disponíveis 24 horas por dia, de forma sempre ligado, porque quando acontece, as pessoas não podem ficar sozinhas com o problema. Tem que cuidar e ter ajuda, mas depois também quando se consegue superar essas adversidades, também ficamos mais ligados, ficamos mais com isso e também somos melhores pessoas e aprendemos melhor a olhar para a vida, não é?
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Portanto, se me é exigido que exista uma visão romântica sobre a coisa, mas também muito gratificante. E quando as coisas correm definitivamente mal, até me custa usar a palavra e é uma devolução. Não quero ficar com esta criança. Uma rejeição já aconteceu, não é de quer na adoção, no acolhimento familiar, nós temos cerca de 180 cria zero 500 familiar, temos um, Temos cerca de 1% de situações de crianças que tiveram que sair.
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Muitas das vezes também foi no processo de aprendizagem de métodos. Não é que nós pensamos esta família ser esta criança e depois lá chegando, porque a gente vai ver o sobrinho do que se percebe como um erro de avaliação de função e informação que nós temos também deveria ser residual. Seguimos aquela informação naquele dia e conseguimos projetar um determinado tipo de funcionamento.
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E nem sempre nem todos os casamentos são perfeitos à primeira vista, não é? Mas o que diria? O que diria? Era isto que. Mas da adoção também, porque muitas das vezes há um romantismo sobre a coisa e não quero estar com isto. As pessoas querem adotar, mas quando adotamos uma criança que tem teve dois anos acolhida numa instituição porque foi vítima de maus tratos, as próprias crianças não verbalizar o seu sofrimento.
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O sofrimento está. Eu costumo dizer, é como se os seus órgãos emocionais estivessem danificados por dentro, só que não são vistos. E geralmente depois, ali na fase de latência, até aos seis, dez anos, a coisa não é visível. Mas quando chega a pré adolescência, aquilo que era o sofrimento estava cá dentro. Muitas vezes, vezes há uma externalização e vem cá para fora e de repente diz Eu estou me.
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Se eu era tão quietinho, agora tenho este tipo de comportamentos, agora é agressivo, agora mente, agora rouba. Porquê? Porque esta criança muitas das vezes teve coisas difíceis de gerir emocionalmente, com as quais teve sozinha. Por isso é que é muito importante o acompanhamento. Nós não temos agora como programa que é que que novo, que é muito importante na nossa opinião, que o acompanhamento após a adoção.
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Um casal quando adota tem que ter, tem como e porque atualmente, quando se adota, acabou, portanto, o Dr. João sensível e o filho e segue a vida é o que nós estamos a tentar fazer. É um projeto que é voluntário, mas com uma grande aceitação das famílias. E nós queremos continuar a vida das famílias adotivas não como imposição, não como vitimização, mas como uma relação de ajuda para quando começam a haver questões difíceis de digerir.
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Tem um outro filho biológico e esta criança começa a bater o outro, ou que é o outro a dizer agora o que é isto em casa? Estas coisas acontecem e é importante que as famílias fiquem sozinhas com isto e portanto, nós temos estar na relação de ajuda com as famílias para em conjunto, conseguimos ajudar a que consigam lidar com estas situações e nesse caderno imaginário ou real que mantenha ao longo dos últimos anos, onde é que estão as histórias que mais me encheram o coração?
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Eu assimilei um pouco melhor uma coisa eu estou há 25 anos do sistema. Eu bati durante 20 anos para ver que o limite familiar em Portugal e quando conseguimos finalmente lançar o programa de acolhimento familiar, aí estamos a aprender. Fomos, claro que fomos castrar, fomos estudar todos os modelos que vi na União Europeia, ver quais é que eram as melhores práticas termos colegas nossos foram um Quem andava com pessoas que não queriam lá porque temos que aprender a fazer bem.
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E quando nós percebemos que as crianças. Eu agora já não tanto, mas ao início todas as crianças que entravam nós tirávamos. Temos o grupo do WhatsApp, que é da família e com a família para trocarem fotografias a partilhar com a família de origem, porque quem está no filme de acolhimento tira a fotografia e manda para o nosso técnico, manda para os pais biológicos que eles terem acesso e nos meses ano estava e linha com quase todos as situações de uma coisa que é absolutamente inacreditável, que é a cara da fotografia da criança quando é tirada tinha sempre um ar triste, cansado, fechado, às vezes bebés recém nascidos passado uma semana e outra criança com os
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olhos a brilhar. A magia do ambiente familiar é uma coisa altamente mágica. Eu sei. Isto nos livros, mas ver isto na realidade é uma coisa absolutamente emocionante. Isso E nós temos famílias de grande qualidade. Nós temos famílias que têm cinco filhos e que acolhe núcleo familiar. Nós temos um caso de uma criança finlandesa cujos pais voltaram para a Finlândia e, passado três anos continuam a ter contacto com a família de acolhimento e fazem times e vêm cá visitar.
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E, portanto, como eu costumo dizer, o amor acrescenta sempre. A criança teve uma relação de amor na família, de acolhimento, volta para a família de origem, é adotado e transporta esse amor para outra relação e, portanto, atenua, portanto, não retrai. Isso é ser uma coisa positiva. Nada como puxar com esperança. Afinal, aquilo que todos nós, os mais afortunados sabemos, pode ser replicado nas vidas das crianças que foram maltratadas pelas suas famílias desde tenra idade.
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É bom saber que as missões de resgate podem, afinal, ter finais felizes até para a semana.
192 episódios
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Hoje, falamos de um tema urgente: a infância e como as experiências vividas nesta fase moldam o futuro. Tempo de necessidade máxima de amor e proteção.
O que acontece quando a proteção falha?
Como podemos ajudar crianças em risco?
E o que podemos aprender sobre o papel das famílias, das escolas e da sociedade? Nesta conversa ouço Rui Godinho, psicólogo e diretor da Infância e Juventude da Santa Casa da Misericórdia, um especialista com décadas de experiência a salvar, literal e simbolicamente, crianças maltratadas.
Por vezes acordamos, chocados, com as consequências diretas de uma infância infeliz.
Uma adolescente de 16 anos matou a irmã e, no tribunal, disse: “Estar na cadeia é melhor do que estar em casa.” Este caso, que começou com maus-tratos familiares e culminou numa tragédia, expõe um padrão: a comunidade, muitas vezes, não vê os sinais ou não age a tempo.
“Este não foi um crime isolado”, ouvi eu explicar Rui Godinho. “Ele é o resultado de anos de negligência e violência.” Professores relataram que a jovem era agredida pelo pai à porta da escola, e ainda assim, ninguém interveio.
Este caso levanta questões difíceis: por que motivo instituições como escolas ou centros de saúde não identificaram o problema antes? Provavelmente os sistemas de proteção estão desatualizados e focados apenas nos sinais mais óbvios, como pobreza extrema ou agressões físicas visíveis, enquanto maus-tratos psicológicos, mais subtis, continuam a ser ignorados.
Quando a negligência ou maltrato é detetada, estas crianças são retiradas do seu ambiente familiar. Idealmente para encontrar uma vida melhor.
Muitas crianças em risco são acolhidas por famílias ou colocadas para adoção. Entretanto, ficam à guarda de instituições financiadas pelo estado. Mas tanto o acolhimento como a adoção requerem mais do que boa vontade. “Estas crianças vêm de histórias difíceis”, ouvi eu “Muitas vezes, testam os limites dos novos cuidadores porque nunca tiveram estabilidade.”
Rui Godinho dá um exemplo simples: quando uma criança finalmente encontra um ambiente seguro, pode desafiar os pais adotivos como forma a verificar se os laços são reais. Esse comportamento não é de rejeição, mas sim uma tentativa de construir confiança. De validar. Uma espécie de “vamos lá ver se gostas mesmo de mim a sério”
O psicólogo sublinha a importância de preparar as famílias para lidarem com estas situações. Além disso, destaca que, em Portugal, ainda há uma cultura muito centrada em instituições, quando o ideal seria que mais crianças pudessem ser acolhidas em famílias.
A lei tem hoje várias possibilidades: da clássica adopção, às famílias de acolhimento e até ao apadrinhamento civil. E o número de crianças em instituições tem vindo a descer.
Nesta conversa olhamos também para as infâncias felizes.
E ao extremo oposto: os pais demasiado protectores.
Fixem o conceito “hiperparentalidade negligente”.
Este tipo de proteção excessiva reflete um medo exagerado dos riscos, que impede as crianças de aprenderem a lidar com desafios. Ele sugere que os pais deixem espaço para os filhos experimentarem e errarem, de forma segura. É nesse equilíbrio entre proteção e liberdade que as crianças desenvolvem competências para a vida adulta.
A educação na Primeira Infância é crítica.
As diferenças no início da vida podem determinar o sucesso ou o fracasso de uma criança. Aos 3 anos, uma criança de uma família com menos recursos pode conhecer 400 palavras, enquanto outra, de um contexto mais favorecido, pode chegar às 1200. Esta disparidade, explica, não é apenas numérica: é uma barreira que define o acesso ao conhecimento, à leitura e, mais tarde, ao emprego.
A solução? Investir na educação desde cedo. Creches e pré-escolas de qualidade são fundamentais para reduzir estas desigualdades. Mais importante ainda, criar ambientes que estimulem as crianças a explorar, pensar e interagir com o mundo.
Afinal comunicar. Saber ler e falar para o mundo.
LER A TRANSCRIÇÃO DO EPISÓDIO00:00:12:23 – 00:00:40:14
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Ora, viva! Bem vindos ao Pergunta Simples o vosso Podcasts sobre Comunicação. Nesta edição retornamos à infância, aos tempos da meninice que sequer feliz, mimada e cheia de boas memórias. Mas nem sempre assim acontece. Hoje falamos de um tema urgente a infância. Como as experiências vividas nesta fase da nossa vida moldam o nosso futuro. Tempo de necessidade máxima de amor e protecção.
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E o que acontece quando essa protecção falha? Como podemos ajudar as crianças em risco? E o que podemos aprender sobre o papel das famílias, das escolas e da sociedade? Nesta conversa ouço Rui Godinho, psicólogo e diretor de Infância e Juventude da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, um especialista com décadas de experiência a salvar, literal e simbolicamente crianças que foram maltratadas pelo mundo.
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De vez em quando acordamos chocados com as consequências directas de uma infância infeliz. Dou um exemplo. Uma adolescente de 16 anos matou a irmã e, no tribunal assumiu que estar na cadeia era melhor do que estar em casa. Neste caso, tudo começou com maus tratos familiares e culminou numa tragédia, expondo um padrão da comunidade. Muitas vezes não vê os sinais e não age a tempo e horas.
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Este não foi um crime isolado. Ouvia o explicar Rui Godinho. Ele é o resultado de anos de negligência e de violência. Professores relataram que esta jovem era agredida pelo pai à porta da escola e ainda assim, ninguém interveio. Esse caso levanta questões difíceis Por que motivo instituições como as escolas ou centros de saúde não identificaram o problema a tempo?
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Provavelmente os sistemas de protecção estão desatualizados e mais focados nos sinais mais óbvios, como a pobreza extrema ou as agressões físicas, enquanto que os maus tratos psicológicos mais subtis continuam a ser ignorados quando a negligência, o maltrato e até destas crianças são retiradas do seu ambiente familiar, idealmente para encontrar uma vida melhor. Muitas das crianças em risco são acolhidas por famílias ou colocadas no sistema para a adopção.
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Entretanto, ficam à guarda de instituições financiadas pelo Estado. Mas tanto o acolhimento como a adoção requerem muito mais do que boa vontade. Estas crianças têm histórias difíceis, ouvi eu muitas vezes. Testam os limites dos novos cuidadores, porque nunca tiveram estabilidade. Rui Godinho dá um exemplo simples quando uma criança finalmente encontra um ambiente seguro, pode desafiar os pais adoptivos como forma de verificar se os laços são reais.
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Se é mesmo a sério esse comportamento não é um comportamento de rejeição, mas sim uma tentativa de construir confiança, de validar numa espécie de vamos lá ver se gostas mesmo de mim. A sério. O psicólogo sublinha a importância de preparar as famílias para lidarem com estas situações. Além disso, destaca que em Portugal ainda há uma cultura muito centrada em instituições, quando o ideal seria que as crianças pudessem ser acolhidas em famílias.
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A lei tem hoje várias possibilidades da clássica adopção as famílias de acolhimento e até ao apadrinhamento civil e o número de crianças em instituições tem vindo a descer. Nesta conversa olhamos também para as infâncias felizes, claro, e até ao extremo oposto os pais que cuidam demais, que são demasiado protetores, que sem o conceito hiper parentalidade negligente. Parece um contrassenso, mas importa perceber de que é que estamos a falar.
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Este tipo de proteção excessiva reflete um medo exagerado dos riscos que impede as crianças de aprenderem a lidar com os desafios. Ele sugere que os pais deixem espaço para os filhos experimentarem e errarem de forma segura, claro. É neste equilíbrio entre protecção e liberdade que as crianças desenvolvem competências para a vida adulta. A educação na primeira infância é crítica.
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Já sabemos. As diferenças no início da vida podem determinar o sucesso ou o fracasso de uma criança. Aos três anos, uma criança de uma família com menos recursos pode conhecer cerca de 400 palavras, enquanto que outra, num contexto mais favorecido, pode chegar às 1200 e o triplo. Esta disparidade, explica, não é apenas numérica. É uma barreira que pode definir o acesso ao conhecimento, à leitura e, mais tarde, ao emprego.
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A solução? Investir na educação desde cedo. Creches e pré escolas de qualidade são fundamentais para reduzir estas desigualdades. Mais importante ainda, criar ambientes que estimulem as crianças a explorar, a pensar e interagir com o mundo. Afinal, comunicar, saber ler e saber falar para o mundo.
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Play Godinho licenciado em Psicologia desde 2016, que é diretor de Infância e Juventude e Família da Santa Casa da Misericórdia. Mas posso apresentá lo como um expert nestas coisas da infância e da juventude. Pode ser. Obrigado por ter aceitado o convite. Muito obrigado e esperto, eu diria, Mas diria um entusiasta e relativista também. E também não é porque vem falando muito sobre isso.
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Quando estava a preparar aqui esta esta nossa conversa. Saltou me uma uma notícia que que me. Que me afligiu. Acho que a palavra é essa. É uma. Uma história de um tribunal. Culminou num tribunal em setembro deste ano, mas tudo aconteceu em agosto de 2023. A notícia é um relato dos repórteres que estão no Tribunal de Leiria no julgamento de uma adolescente que confessa ter matado a irmã mais velha em agosto de 2023 e o que me tocou neste relato foi a maneira como esta adolescente assumiu o crime no tribunal.
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E ela disse Eu passo a citar Estar na cadeia é melhor do que estar em casa. Esta adolescente matou a irmã por causa de um telemóvel. No julgamento, não compareceu ninguém da família. Algumas das professoras estiveram lá e contaram que esta jovem, com 16 anos, na altura do crime, era maltratada em casa. Chegou a ser espancada pelo pai à porta da escola e que o telemóvel era a única porta aberta para o mundo que lhe era permitida.
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Como é que um psicólogo especialista em em jovens e em crianças de risco, muitos deles olha para este caso? Bem, o primeiro comentário é O que é que terá acontecido até este momento? E porque nós só conhecemos a história a partir desse dia do homicídio, o que é que se passou para trás? Porque isso é um caso absolutamente extremo e para ter um comportamento completamente extremo e assumido.
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Pelos vistos, da forma como disse, muita coisa passou se para trás, não sabe? E a segunda pergunta é onde é que esteve a comunidade? Onde é que teve os professores? Onde é que esteve a família? Onde é que vocês de saúde? Porque, naturalmente, não foi a 16 anos, Num episódio que isso aconteceu, há toda uma um histórico que motivou essa situação.
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Não sabemos um pormenor sobre aqui, alguma descompensação psicótica, alguma questão de saúde mental. Seguramente houve. Agora, não conhecendo o histórico, conseguimos intuir e com todo sistema, uma vida de maus tratos e de contextos adversos para o seu desenvolvimento. Portanto, na escola, nos vizinhos, seguramente na família também passavam as coisas. Elas estão relatadas pelos professores, coisas graves de humilhação desta pessoa.
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E nós, comunidade, a dormir No fundo, a fingir ser instrumentos para conseguir ver permissivos. O que é que não está a acontecer? Eu Isto tem uma resposta, uma pergunta complexa, tem uma resposta complexa, mas uma das de duas dimensões que podem explicar esta questão. E nós temos um grande estigma sobre a questão dos maus tratos a coisas, que é evidente Se uma criança aparecer com um livro, ninguém questiona que é um maltrato, mas uma humilhação psicológica está na zona cinzenta para muita gente, sendo que o efeito é muito mais.
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Até pode ser muito mais negativo para a criança ter com os neuro é uma coisa física, nós reparamos logo e temos tendência para intervir ou pelo menos para estar atentos. Se for um maltrato, uma humilhação, não é assim, pois não é porque é invisível. E depois outra questão e passa se no contexto da família e portanto, aquela coisa que entre marido e mulher se mete a colher ainda é uma coisa que, não sendo hoje uma realidade como era há uns anos atrás, ainda é muito.
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É uma esfera privada. E essas dimensões que não são tão explícita e tão evidentes no muitas vezes ficam no segundo plano e que ninguém quer interferir, interferir. Agora, esta é uma resposta a toda a comunidade, não é? Como é que nós conseguimos identificar de forma precoce uma criança que está em risco e que potencialmente alguma coisa pode correr ainda pior nos nos uns meses ou nos anos vindouros?
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Nós temos de ter. Nós temos, digamos, um radar, isto é, a escola, um radar. Os centros de saúde são um radar, As comissões de protecção de crianças e jovens são o radar. O que eu acho é que são radares. Foram criados num paradigma em que era muito. Acho que esse perigo. Eram muitas as crianças de carência económica e, portanto, há aqui um preconceito social.
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Não é? Na base. E, por outro lado, uma tipologia de perigo que é muito efetiva, como a mendicidade, os maus tratos físicos, digamos. E hoje temos uma diversão idade de de. De problemáticas que esses radares não apanham. Portanto, diria que temos radares um pouco obsoletos face à complexidade real em que vivemos. Então é que o que acontece na lente que está, em que tipo de situações são aquelas que estão para além do óbvio?
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Eu posso dar lhe até uma imagem realista. Nós temos que considerar o Metropolitano de Lisboa e para isso a ideia dos processos de protecção são que eles já chegaram ao radar. Portanto, eu ainda estou mais preocupado com aqueles que chegaram a Radar. Cerca de 35% dos processos violência doméstica e aqui no estrato socioeconómico democrático, é dos traços mais baixos aos mais altos.
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Portanto, lá cai o preconceito. Não é uma coisa das famílias pobres e carenciadas, é uma coisa que é transversal nas famílias, sim, sendo que as famílias mais diferenciadas, que têm mais condições para ocultar, porque se calhar não tem divulgados, têm especialistas. As crianças estão em escolas privadas com menor sinalização do que as escolas públicas e, portanto. Mas não deixa de lá está o problema.
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Nós temos os consultórios dos nossos colegas psicólogos completamente seis vezes desses, deste estrato de situações numa outra dimensão que vem logo a seguir. É o Conselho Parental, que era uma coisa que há 15 anos naturalmente havia, mas não tinha uma expressão. Mas cerca de 15% é conflito parental. São pais que se separaram e que a criança está no meio do conflito e que são coisas muito danosas para as crianças, porque o conflito lealdade e partido entre dois pais é um trauma primário, pode ter efeitos gravíssimos.
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Possivelmente a criança gosta mais do papel da mamã e estamos a falar desse género que implicitamente é a criança estar dividida, não é? E isto cria danos muito significativos para o desenvolvimento. Mas são matérias que, na minha opinião, há uma certa tolerância social que é intolerável. Ou seja, nós só ver uma questão a uma criança que é agredida queria ser tirada só ver uma criança durante quatro ou cinco anos em contexto de tribunal, com os pais a conflituar com auto violência, não é?
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Há uma tolerância que, na minha opinião, não deveria ser permitida porque os danos são brutais para as crianças, não é? Em que tipo de danos é que podem subsistir de uma situação, de de uma crise, de uma batalha campal entre duas das pessoas mais queridas que moram lá em casa, Eu diria. Primeiro, é um trauma que é um trauma primário, porque supostamente a pessoa que cuida de mim é a pessoa que me está a maltratar.
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É isto mesmo, não seja essa a sua vontade. Eu, até porque as crianças têm sempre mama olho é uma lente benevolente como são tratadas pelos pais, não é? Mas a criança fica perdida. Não é porque chega a casa da mãe e a mãe diz Tu o teu ser, o teu pai tem que comprar uns, teres que comprar os últimos e depois chega a casa do pai e o pai diz Tens ser a tua mãe e a criança anda aqui perdida no meio disto gerir e a gente não.
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Só pessoas muito pequenas, com uma pressão psicológica brutal e com um sofrimento muito grande. Só que como não está ligada à família, não a uma parte protetora, é muito difícil ser neutro. E é o sistema. O sistema não tem muitos mecanismos, porque a judicialização só aumenta a litigância e o conflito. Portanto, é muito difícil de atenuar esta conflitualidade.
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Eu tenho uma curiosidade que é quando as coisas correm verdadeiramente mal neste caso, ou quando há violência sobre as crianças, um maltrato sobre as crianças e elas são muito, muito pequenas. Como é que se ouve meninos e meninas de dois, três, quatro anos, se é que são ouvidas num tribunal? Bem, estamos em duas camadas, uma coisa a ser atribuídas, outra coisa a ser ouvidas no tribunal.
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Não há mecanismos de ouvir as crianças, nomeadamente os psicólogos e sobretudo, aqueles que especializaram nestas áreas. Mas na primeira infância, através do desenho, através da brincadeira, porque as crianças não têm uma capacidade de verbalização, não há um interrogatório, não há um território. Não é, portanto, aliás, o que é crítica quando são ouvidos como se fosse um inquérito policial?
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Porque a criança não sabe lidar com isto e fica muito perdida em o que é o significado que as coisas têm para ela. São muito diferentes. Portanto, eu diria sim a mecanismos tem que ser mecanismos, são muito especializados. Não basta dizer ah, eu consigo falar com crianças ou tenho jeito de falar com crianças. Não chega. Nomeadamente o tribunal, que é uma instituição muito formal.
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A verdade tem se feito um caminho. Já tribunais têm espaços próprios para ouvir crianças, mas ainda assim, na minha opinião, para falar com crianças, sobretudo crianças mais pequenas, têm que ser especialistas. Deviam ser psicólogos que saibam comunicar e trazer as questões colocadas pelos estudos. Outras vezes, com certeza. Mas porque muitas das vezes aquilo que é o impacto que tem para a criança estar num contexto tribunal ou perante o juiz, com uma pergunta bem intencionada, mas mal feita, pode até por respostas dar um sentido diferente da realidade.
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Isto é uma coisa muito fácil de acontecer e até para nós é assustador quase pisar num tribunal, naquele, naquele, naquele sítio, com pessoas vestidas de preto que falam alto e que estão lá em cima, quanto mais para intimidatório. Há sempre aquela sensação para estamos numa operação stop. Será que têm o seguro em dia? Todos os documentos têm um preço que temos sempre que comentar em falta.
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Não é para nós que somos adultos. Para as crianças é particularmente difícil. É como é que uma criança depois reage a uma coisa dessas se for exposto a um ambiente desses? Depende. Há crianças que se fecham e não partilham. Começa logo. Por exemplo, nas situações de conflito parental, a criança vai ser ouvida pelo seu futuro juiz e chega ao tribunal.
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Tem na sala de espera a família da mãe, a família do pai e ela não sabe se vai ter como é. O pai fica zangado se vai ter com o pai. Isto é dolorosíssima para as crianças e, portanto, eu acho que nós temos que muitos países já tem em Portugal também já muitos projetos desta dimensão. Acho que temos que criar um contexto que seja amigo das crianças para as crianças serem ouvidas, que proteja as crianças destas questões e que sejam ouvidas por pessoas que os ajudem.
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Porque o objetivo não é procurar litigância do pai contra a mãe ou vice versa. É dar a paz que a criança precisa e esse é o caminho. Portanto, eu acho que aqui o foco é muito mais leve. Tem uma lista de perguntas para fazer quando está a avaliar um caso de uma criança. Nessas não depende muito da circunstância, mas a questão de fundo é como é que a criança se sente.
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Não é uma grande preocupação, é sobre o bem estar da criança, porque quando os pais separam, não pode ser uma disputa de poder. Quem é que cria que fique com a criança com quem a criança tem direito a ter um pai e uma mãe por inteiro? Isso não é? E o envolvimento parental é uma coisa positiva, a não ser que haja questões e aí muitas vezes não é de pais maltratando que são pai ou mãe, ou de pais ausentes.
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Mas o que seria normal a uma criança, independentemente dos pais separados deixarem de ser um conjugal, continuam a ser os pais daquela criança e participarem na vida dela. Isso seria natural. Então e qual é a explicação para a explicação? Enfim, até pode ser bastante óbvia para o facto das crianças serem quase um joguete nesta. Nesta batalha entre entre duas pessoas que definitivamente partiram para um momento entre elas.
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Cá está a pergunta complexa. Mas eu acho que há aqui uma dimensão cultural. Nós há 20 anos isto mal, mas estava resolvido porque o normal era vir uma separação. A criança ficava com a mãe e o pai 15 em 15 dias e a criança era mau para a criança. Portanto, meu pai participa na vida dele e meus estudos sobre o efeito negativo das crianças não ter os pais ausentes.
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Então os pais, porque culturalmente eram mais os pais também havia ao contrário, mas, mas verdadeiramente eram os pais os Felizmente temos um maior envolvimento parental. Temos os pais a querer participar na vida das crianças, mas não os problemas, porque de representação social aquilo que estava resolvido fica em cima da mesa como um problema, quase como estamos a disputar a parentalidade na representação social.
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Porque? Pois não são só os pais, são os avós, são os familiares, são os amigos. E às tantas parece fica Sportem, que com vir quem é que vai ganhar o jogo? E às vezes a cria se fica um pano de fundo, fica esquecida no meio. E eu acho que aqui tem que haver uma intervenção clara e imediata para proteger a criança, porque esses danos não vão ficar só na criança enquanto acontecesse.
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A clivagem só fica para o resto da vida como futuro pai, como futuro cônjuge. Porque? Porque é o modelo que internalizou, ou seja, é o modelo que internamente tem do que teve ser uma vida de conjugal ou parental. Quem não fica esquecido lá na infância, ele continua dentro de dentro de nós. Eu, eu concluo outros colegas como Dr. Paulo Guerreiro, Pedro Gaspar.
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Há pouco menos de um ano fizemos um livro com 50 pessoas que vimos sobre a infância, chamado exatamente isso, que era o que fica. O que passa no impasse na infância, não fica na infância, porque o que passa na infância é aquilo que deixou marca para nossa vida e, portanto, não se pode menosprezar o impacto que essas posições adversas têm na infância.
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Isso falamos um pouco antes de termos a palavra nesta conversa a propósito dos modelos de aprendizagem do ir à escola. Hoje a escola primária a partir dos seis anos. Mas, de facto, muito antes, no jardim de escola em que as crianças em que as crianças começam para lá ir e onde se começa a ter contacto com as cores, com as palavras, com as primeiras letras, Fica desde logo aí um quase uma marca para a vida da decisão de um maior ou menor sucesso daquela criança enquanto adulto no futuro.
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Sem dúvida. Aliás, isso é a grande novidade. Na última década sobre educação. Para nós que somos desta área e para os pediatras, isso era uma coisa evidente. Mas hoje a própria economia tem um conhecimento profundo sobre esta matéria e sobre os impactos que isso tem para desigualdade. O foi Prémio Nobel da Economia em 2020 diz que o maior retorno de investimento é nos 3/1 anos de vida.
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E quanto anos a investir na idade adulta já temos. Já tem um efeito de retorno muito pequeno. E então o que é que está a acontecer? É o olhar, sobretudo para os 3/1 anos de vida com uma grande prioridade e há pouco dava lhe o exemplo com um estudo grande que existem na Europa e que diz o seguinte crianças vão aos três anos com protegidas, os pais protegidos pelo estatuto.
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De qualquer forma, têm um vocabulário médio de 400 palavras. Se for classe trabalhadora, working class, como dizem aqueles trabalhos mais tipo supermercado, coisas mais de funcionamento básico, 600 palavras. Se tiver pais licenciados 1200, ou seja, aos três anos de idade pode ter o dobro ou o triplo do vocabulário. Quando aos três anos temos o dobro ou o triplo do vocabulário.
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Há uma diferença entre uma vida de inclusão. A exclusão não existe, há uma igualdade de oportunidades, há uma disparidade enorme. Portanto, é logo na primeira infância que tem que se atacar este problema. E depois a maneira de recuperar. Porque, no fundo, o saber mais palavras ou menos palavras depois tem implicações na maneira como se lê um livro mais tarde, da maneira como se entende o mundo, da maneira como se fala uns com os outros, como é que depois se consegue fazer a recuperação deste, deste traço muito, muito fundamental que, segundo julgo ter entendido, é sempre possível porque recuperarmos o esforço, o investimento é muito superior.
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É, em média, a taxa de probabilidade de sucesso diminui. Claro que quando falamos de médias, há sempre os outliers, mas estamos a falar daquilo que que que é o normal. Isto não é só no vocabulário, isto é, em várias áreas, até em áreas de motricidade. Há um estudo que chamado de jump, que é o salto ao pé coxinho e por exemplo, as crianças de famílias mais diferenciadas em termos da formação, que têm mais capacidade de saltar vezes seguidas ao pé coxinho.
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Crianças com os pais em situação de exclusão, até em dimensões. Porque estas questões da motricidade e da educação e daqui cognitivas estão muito ligadas e, portanto, uma coisa impactar a outra, também a ciência está a nos oferecer cada vez mais conhecimento. Disse um pouco que há coisas que são de conhecimento comum dos psicólogos e dos que há muitos anos, todavia, a sociedade e os políticos, nós, os leigos, não tendo consciência de que essas coisas acontecem assim, continuamos infinitamente a fazer os mesmos erros durante, durante os próximos anos.
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Sem dúvida. Eu acho que hoje as tecnologias e a participação na União Europeia, ou seja, o nível de conhecimento que existe hoje é enorme para nós sabermos como é que funciona todas as crenças na Europa. Temos estudos muito aprofundados aqui. Por que é que não mudamos? Porque eu, por várias que por várias questões, eu acho que logo uma é intolerável.
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Abril 2025 Tomar as decisões técnicas sem ser na base do conhecimento, muitas vezes são questões meramente crenças ou impeditivas. Não é por todos. Fomos alunos, achamos como é que sabemos fazer funcionar a escola. Isto é um erro, não é? Outro erro é que as crianças não voltam porque se as queria, terão daqui muitos anos sim, mas até lá não há um olhar sobre isso e, portanto, estas matérias implicam um investimento.
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Só que o retorno não vai ser nas próximas eleições. As crianças. Só verei o retorno desse investimento daqui a 20 anos e, portanto, nós sabemos. Do ponto de vista da gestão política, acaba por não ser uma prioridade planejar. Eu vi no curriculum que até já tive oportunidade de aconselhar alguns políticos que argumentos e que usa para convencer os políticos de que vale a pena investir se não acho que o mundo hoje é muito complexo.
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Vivemos num mundo global. Esta questão, por exemplo, que se fala de as pessoas quererem imigrar porque os jovens querer ir para a Europa. Nós hoje temos que saber. Temos no mundo global e temos que ser competitivos não só na economia, mas também na qualidade de vida que se dá. É uma coisa que nós temos para mim, em Portugal, que é muito importante.
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Nós temos muitas situações, crianças vítimas de maus tratos e etc. E isso é apenas o tablier que tem sintomatologia daquilo que é uma sociedade que não é amiga das crianças e das famílias. Por exemplo, nós temos em Portugal uma coisa que é incomum na Europa que a escola a tempo inteiro, que as crianças chegam à escola às 08h00 e isso precisa chega tarde.
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O qual é que é o argumento? O argumento é que isto é para ajudar os pais a trabalhar, não é? É para um apoio à parentalidade. Só que isso não se resolve um problema com outro problema, o que não seria normal para os pais seria chantagear depois de entrarem as oito. Os horários de trabalho deviam ser amigos das famílias e das crianças, então resolvemos um problema de cada problema.
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Por exemplo, na Suécia, as crianças com 5 e 6 anos foram de bicicleta para a escola. Em Portugal, vão de carro com os pais para a universidade, porque criámos uma dinâmica de sociedade que não é amiga das crianças famílias. A questão é absolutamente estrutural, não é? Quando olhamos para a sintomatologia dos problemas, é já reduzida a anos. Mas é aqui que está a mudança, que é profunda.
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Não é porque as nossas cidades não estão feitas para que as crianças possam ir e nós, como pais, se calhar também com nosso jeitinho superprotetor, também estamos a fazer uma parte má do trabalho. Sim, eu uso uma expressão que é polémica, mas que o que acredito nela que eu costumo dizer que a hiper parentalidade, ou seja, uma puta de uma parentalidade excessiva por parte dos pais, não é hiper protetora, não é simétrica, é uma negligência.
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Só que é socialmente aceite porque os pais na porta da sala dos grupos de WhatsApp é uma coisa que às vezes podem ser excessivo, mas é porque gosta muito do filho, portanto, tem uma certa tolerância social. Uma mãe deixa uma criança sozinho mesmo a brincar, e uma mãe negligente é criticável. Mas o efeito é assimétrico, porque por termos a criar crianças que depois não sabe resolver os problemas da vida prática e até queremos uma situação você dar o exemplo.
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Eu já escrevi um artigo sobre isso que eu chamo de O Paradoxo do escorrega, que é quando eu era criança. Tenho 51 anos, sou de Évora e quando era criança para o parque infantil e tinha o escorrega que era muito íngreme, tinha quase dois metros de altura, tinha uma caixa de areia e quando chegava abaixo esfolava o joelho.
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Que eu saiba nunca morreu ninguém, mas aquilo era altamente desafiante. Hoje em dia, com o mito que existe, que haja perigo, o que é que acontece? O escorrega que tem um metro são quase horizontais. É que as crianças de dois anos, quando querem deslizar como no filho, ficam preso com roupa porque aquilo tem uma viga metálica que nem permite deslizar e portanto estamos a criar uma sociedade que é completamente artificial.
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O que Kardec diz? Filtramos a realidade da criança, ela destrói e nós estamos a criar uma uma sociedade muito protetora. Mas as crianças não aprendem a crescer e a viver. É o paradoxo, é isto é que a sociedade hoje é muito mais complexa na vida adulta, mas as crianças não aprendem a lidar com a diversidade durante o seu desenvolvimento.
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E estamos a criar uma sociedade menos elástica, menos responsiva. E eu acho que eu acho que sim, porque isto é como tudo, tem que haver equilíbrios, não é? Eu quando era miúdo, na primária só tinha aulas de manhã, eu à tarde. Isso quer dizer, eu almoçava em casa dos meus avós e brincava a tarde toda no bairro e lanchar a casa de um amigo ou de outro.
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Se fossemos roubar fruta ao vizinho, tínhamos a dizer que ia falar coma e portanto a comunidade por dia. E havia um contexto de vida comunitária. Hoje existe muito pouco e eu moro num prédio que eu conheço os meus vizinhos e, portanto, essa receita resulta de não haver uma partilha de responsabilidade que é da vida coletiva. E eu acho que isso é uma dimensão que temos de melhorar.
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Sem dúvida. Vamos lá regressar aos anos 80, lá está, aos anos em que estávamos na na na, na escola em Évora e o encaminha lá em cima que a escola era só uma. Da mesma forma que o infantário era só um e lá estavam as crianças das famílias mais ricas, mais pobres, mais remediadas. Estávamos todos juntos na mesma sala de aulas e todos tínhamos que fazer as mesmas tarefas e aprender o que havia para aprender.
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Já não falo nas reguadas, não é politicamente correcto. Hoje em dia há uma espécie de segregação. As pessoas que as crianças que vêm de famílias que têm mais posses económicas vão ao colégio privado ou então vão para uma escola pública que é mais reconhecida, Os outros -1 menor mistura, uma menor diversidade social. E eu julgo que genericamente, sim, particularmente nas grandes cidades, porque as as mais pequenas, por uma questão de escala, não se consegue, não se sente tanto.
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Isso eu julgo que sim e acho que é um caminho errado. Eu acho que falar de um exemplo das crenças, isto são estudos do Banco Mundial e do Banco Mundial em que diz o seguinte crianças de um setor mais carenciado, famílias mais carenciadas ter acesso uma creche de qualidade média, ganham se forem famílias de classe média com pais diferenciados.
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Se a qualidade for média e ela por elas forem pais diferenciados e com competências educativas, a criança perde. Portanto, a solução que se diz o Banco Mundial. Estamos a falar do Banco Mundial, porque quando falamos de dinheiro é importante os feliz desta vida tem também. Se para as coisas boas, o que é que se diz para haver um modelo universal, que é o que o governo português defende que é ser universal?
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O pré escolar e a creche. Temos de ter respostas de alta qualidade para todos ganharem. É claramente intuitivo nós percebermos que pessoas de famílias mais carenciadas terem crianças que vêm de outros contextos familiares ganham com isso porque creio que têm mais vocabulário, têm mais miúdos, mais sentido. Isso é intuitivo. Mas o que é interessante também é crianças de níveis de de muito diferenciados do ponto de vista das competências dos pais estarem com peixes, Então crianças também têm outro tipo de ambientes, também ganham com isso, ou seja, por terem experiência social.
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Hoje há estudos que sobre isso e que mostra que há um contexto em que inclui todos, é benéfico para todos. Não é só para as crianças mais carenciadas ou para as famílias mais carenciadas. Só que isto é uma mudança de paradigma. Tem que acontecer sobretudo na cabeça dos pais, porque há muito preconceito social sobre isto e, portanto, isto tem que ser combatido, sobretudo no campo das ideias com as quais nós estamos a proteger.
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Proteger, porque há alturas em que proteger é absolutamente necessário e quando as coisas correm definitivamente mal, há um caso de violência, há um caso de negligência. Aí o braço do Estado move se e estas crianças são retiradas das famílias. Como é que o processo de comunicação de um evento tão traumático como retirar uma criança do seio da família?
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Por razões que obviamente tem, que têm que acontecer, que são de violência, de negligência, de maltrato, enfim, podemos fazer uma lista imensa de malfeitorias, mas por uma questão que é quase filosófica nós da nossa lei, bem, nossas leis são muito boas, são ótimas, nossas leis são dos mais evoluído no país, vão para civilização. Nem sempre há uma mudança muito inicial que significativa.
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Há uns anos que os pais deixaram ter o poder paternal sobre as crianças para ter o exercício das responsabilidades parentais. Ou seja, os pais não são os donos das crianças. É um poder perpétuo e uma responsabilidade que não se habilidade que tem. Ora, se os pais não cumprem essa responsabilidade pondo as crianças em perigo, e como tem sido o Estado intervir para que a criança não esteja em perigo?
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Como é que acontece toda a comunidade pode sinalizar um centro de saúde que encontra uma criança que traz marcas ao que a criança verbaliza. Tem que comunicar imediatamente uma polícia, uma escola tem um vizinho e um dever. Todos nós, enquanto cidadãos, percecionam com calma sobre comunicar. Isto pode ser de dois níveis um primeiro nível a nível de CPCJ, a CPCJ Comissão, porque esses jovens implicam consentimento dos pais, Ou seja, para os técnicos poderem intervir, os pais têm de dar consentimento, mesmo que as coisas estejam o corrimão.
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Se tiverem corrimão e houver perigo e os pais não derem consentimento. O que acontece é que o processo para tribunal, ou seja, a CPCJ, diz a criança, está em perigo. Os pais não deram consentimento, então o processo vai para tribunal e aí já tem uma força diferente. Já não é uma questão optativa dos pais terem ajuda ou não, mas é o Estado a dizer que, independentemente da vontade dos pais, o Estado tem que intervir para proteger a criança.
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E quem é que intervém? Quem é que lá vai? Depois depende do grau de gravidade. Se estamos a falar de uma situação de perigo de vida, tem que haver uma retirada. E aí, quem é que vai? As equipas de assessoria ao Tribunal da Segurança Social ou na área municipal de Lisboa da Misericórdia, que, em articulação com as polícias e com o Tribunal, executam mandados de condução em que vão a família retirar a criança ao contexto.
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Às vezes, numa família, às vezes é mais protetiva ir à escola. A preocupação sempre é proteger a criança nesse processo, que é potencialmente muito traumático. É uma criança de repente ser afastada da família. Depende da idade, depende do contexto, mas é potencialmente muito traumático. Como é que um psicólogo explica a uma criança pequena que a sua família, que já não vai ver a sua família nos próximos tempos?
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Bem, a questão não se trata de não ver a família. Aliás, uma boa prática é ver a família. Eu fui diretor de uma casa de acolhimento durante 15 anos e a primeira coisa que fazíamos quando nos comunicavam com a polícia através do tribunal, que uma criança entre entrar, a primeira coisa que fazíamos era ligar aos pais e dizer quero que venham cá ter convosco a ver os vossos filhos para ver onde é que eles estão.
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E vamos em conjunto pensar como é que podemos ajudar, que eles possam voltar para casa. Ou seja, a forma como se lida com isso pode ser paga pela seguradora, quer das crianças, quer das famílias. Porque é o que dizia sempre vocês que somos pais, temos o vosso filho e nós somos funcionais, queremos ajudar, temos o mesmo objetivo, aquilo que tem de bom e portanto, há que fazer uma aliança.
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Agora não quer dizer que aconteça sempre desta maneira, Não é importante. Mas isto era o que seria. Quatro E e as famílias compreendem. Olhe, eu tive 15 anos no direto com contingentes. Eu diria que às vezes, no meio da crise, porque é muito abrupto em nós, imagina estrearem nos um filho que está connosco sair e muitas vezes há muita conflitualidade.
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Mas eu, em 15 anos que passaram por mim mais 500 crianças, eu diria, Houve momentos muito tensos de tentativa, pais, batavo, enfim, porque as pessoas estão muito zangadas e pois o projeto em que está à frente deles, os seus. Mas eu caminho. Eu acredito mesmo nisto. Sentiu se em risco real? Às vezes é um bocadinho, não é? Ter um pai que ande com dois metros a dizer que vai perseguir os meus filhos e que os vai matar.
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Não é uma coisa agradável de ouvir, mas eu da minha experiência. E é mesmo verdade o que eu vou dizer que eu acho que tratamos as pessoas com ética, com transparência, com clareza nos olhos mesmo, a dizer coisas difíceis, eles de momento podem não entender e ficam muito zangados, mas no médio prazo não é isso não existe. Aliás, eu encontro muitas crianças e famílias na rua da minha vida.
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Não eu no supermercado, no futebol que passaram por mim há dez anos, há 15 anos e até hoje não tive uma única situação em que as pessoas sentissem de outra maneira. Mas é isso. Temos que ser profundamente responsáveis do ponto de vista ético e muito empáticos da forma. Mesmo quando as coisas dizemos coisas difíceis. Eu já disse pais, que eu vou informar o tribunal, que vou inibir os contactos, porque a sua presença junto do seu filho é altamente prejudicial.
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Há casos, por exemplo, de abusos sexuais ou de coisas assim. É duro ver isto a um pai a zurzir isto a uma criança, mas ao dever de proteção. As pessoas podem não compreender ali, mas no médio prazo, eu acho que há o entendimento de que aquilo foi que era correto. E depois, como é que são as conversas com estas crianças?
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Muitas idades da maturidade, da capacidade intelectual. Há uma revolta. Varia muito. Eu vou dar lhe um exemplo que eu percebo que é difícil Notícias de violência doméstica um caso que conta uma história. Um jovem com 16 anos que entrou na casa de acolhimento que era a sexta vez que era retirado porque? Porque o pai batia e batia nele e no irmão eram retirados.
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E depois este jovem passou por. Quando chegou era a sexta casa de acolhimento, já tinha passado por cinco casas de acolhimento e o que acontecia quase sempre por regra, era isto. Ele na primeira semana dizia me Eu quero ir à polícia fazer queixa contra o meu pai, porque meu pai me batia para ter a minha mãe. E não pode ser.
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Ele quer que eu seja preso. E passado duas ou três semanas estávamos a dizer Não posso, me perdoou, Quero ir para casa. E eu, neste caso em concreto, está a história real O que é que eu fiz? O pai Missão de gastar essas coisas todas. E na altura o que eu fiz foi uma exposição para tribunal. Sei que esta criança não tinha capacidade psíquica como a história dele demonstrava já por seis vezes para tomar esta decisão.
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Porque estas questões da violência doméstica também é uma patologia não só do agressor, mas também da vítima, também tem dinâmicas patológicas. E o que eu disse é que havia uma toxicidade que não lhe permitia seguir aquilo que era melhor para ele e na altura usei o artifício porque eu fazia pequenos consumos da X. Propus ir para compulsivamente uma comunidade terapêutica, mas o objetivo não era desintoxicar, fumar um charro de uma forma recreativa que não tinha impacto nenhum, mas afastá lo do pai.
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E eu consegui desintoxicar. Passado três, quatro meses estávamos a trabalhar com ele. Eu ir viver para outra cidade e seguir o seu caminho, mas sempre a prerrogativa do projeto de vida para a criança. Muitos destes casos acabam até com uma retirada definida IVA por parte do duo do tribunal e os tribunais. O Ministério Público e os juízes compreendem sempre a melhor coisa para fazer.
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Ou ainda tenho uma resistência cultural em relação a. Enfim, aqui a família e a família é quase um um esteio primário da sociedade. Entrou entre o peso da família e é o direito do projeto para para a criança. Em Portugal tinha uma visão muito biologista sobre a questão da infância. Portanto, o papel dos laços de sangue ter uma importância, na minha opinião, sobre estimada.
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Faça aquilo que é o interesse da criança, porque o que a lei diz, e bem, é que a criança tem direito a família não. A sua família tem direito, a família está a crescer em família, que é diferente. Eu acho que excessivo, mas eu acho que há aqui algumas dimensões que são necessárias, que nós temos de ter protocolos de avaliação para não ficar na discricionariedade de cada um, porque estão entre o modelo de crianças, do juiz, do procurador, do psicólogo, da equipa de da casa de acolhimento e estamos a fazer.
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No fundo, é o encaixe de perceções, de crenças e de modelos, de ter sempre papel familiar distintos, com pouca tecnicidade. Onde é que está essa escala? Onde é que está essa regional? Não existe, não existe. Nós estamos a trabalhar e faz parte de uma associação, que é o projeto. Qual e porque envolve muito universidades está a Santa Casa, portanto é um laboratório colaborativo de investigação aplicada e nós estamos a tentar desenvolver exactamente um protocolo de avaliação, porque nós conseguimos avaliar as famílias de acolhimento, conseguimos avaliar as famílias adotivas por maioria de razão.
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Temos que saber avaliar as famílias biológicas para perceber estes pais têm ou não têm potencial para exercer a parentalidade e segundo, que têm potencial de mudança no tempo da criança ou não. Por ter potencial mudança em abstrato qualquer pessoa, mas tem que ser no tempo da criança. Podemos ficar à espera três anos, quatro anos, cinco anos, seis anos que a família muda e nunca tem nada.
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E depois chega um tio e depois a mãe tem um namorado novo e depois a razão? Um emprego. E passaram seis anos e temos uma criança equilibrada, sem perspectivas para o futuro. E isto porque de doença mental as pessoas pensam que a doença mental as vezes, por exemplo, a decisão é que a doença mental e vamos de Arrupe que nos vamos, que fiquemos, que a esquizofrenia não é assim.
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A doença mental resulta de experiências traumáticas, de ambivalências, de sofrimento que se vão acumulando, sobretudo crianças que não têm o nível de maturidade para processar os seus sentimentos e, portanto, nós temos de proteger as crianças, desenvolverem dinâmicas patológicas. Fruto dessas indefinições e da incapacidade do sistema em ser mais atuante. Não um dado que a mim me choca eu não tenho o número de cabeça, mas se eu disser 15.000, mas não fundo, é melhor não fazer nisto, neste número que nós retiramos crianças de famílias e depois pomos em casas de acolhimento, onde às vezes me parece que é pior a emenda que o soneto.
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Não há maneira de fazer melhor, mas no primeiro ano são 15.000. Já foram e já foram. O número já foram e fiz parte de um programa, na altura na Segurança Social, que era o plano de Ação, que era de qualificação das casas de acolhimento e quando começámos teve 15.000. Neste momento, felizmente, já melhorámos. Estamos na ordem dos 6000, 6300, portanto já foi um ganho grande.
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Ainda assim, a questão de fundo é esta é a casa de acolhimento, que são óptimas, mas independentemente de serem ótimas e misericórdia. 17 Portanto, eu já nem falamos ou só para nós e acho que são excelentes casas de acolhimento, mas o que cada criança tem direito é crescer em família. Então o ideal era era. Nós encontramos uma família de uma forma, nem que fosse temporária, para que ela conseguisse crescer.
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Sem dúvida, o que é o que acontece em praticamente todos os países europeus? Que o acolhimento residencial é residual e o acolhimento familiar e que é dominante em Portugal. Temos uma inversão por uma questão cultural. Nunca avançou o acolhimento familiar e agora está a avançar. Não é isso? Porquê? Porque o ambiente familiar. Imagine um bebé com um mês, uma casa de acolhimento não consegue dar aquilo que uma família dá, porque a pessoa que tem o biberão é sempre a mesma, as rotinas são sempre as mesmas, a tranquilidade é sempre a mesma de uma casa que tem dois ouvindo bebés é impossível.
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E portanto, aliás, a nossa lei proíbe que crianças com menos seis anos seja em casa acolhimento, Mas não diz que tem que se evidenciar, que é do interesse da criança com menos seis anos estar em casa de acolhimento. O problema é que não temos famílias de acolhimento em número suficiente. Nós damos e já temos 100 famílias de acolhimento.
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Começámos há quatro anos, estamos a conseguir e queremos aumentar significativamente, mas no país não é um grande caminho a fazer. Mas essas famílias de acolhimento são necessariamente temporárias. Isto não é uma forma de adoção paralela? Não, porque o objetivo, quando a criança é retirada, é que volta à família de origem, ou seja, a uma família que comprou na cria que estava em perigo de vida.
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Se for tirada o primeiro objetivo, a criança possa voltar para a sua expressa, a sua família e, portanto, esta família acolhimento garante o ambiente familiar até que a criança possa voltar para o seu contexto normal. Esse é o final feliz que se pretende e precisamos que as famílias de acolhimento sejam colaborantes, com famílias de origem e da nossa experiência nas crianças que já voltaram para as suas famílias ou que foram adotadas as famílias de acolhimento que continuam na vida das crianças como se fosse uma espécie de padrinhos não só da criança, mas da própria família.
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Eu acho que isso é uma coisa muito positiva. Vamos falar de adoção. Vemos muitos casais a quererem adotar. Vimos claramente que há crianças com que precisam de um projeto de família, mas volta e meia a manifestação de uma incompreensão que é mas porque é que nunca mais chega a minha criança? A minha no sentido de que ela leva me a perguntar qual é a parte do projecto que vão oferecer para a criança o projeto não fazer para si próprios.
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Mas enfim, pode ser uma contradição. Isso é mesmo utópico, porque a questão que se coloca é o processo educativo para proporcionar uma família à criança. Não é para propor ser um filho, uma família. Só que muitas vezes as expetativas são controladas. Como é que a explicação muito simples, primária de explicação, é o número de crianças para adoção é muito inferior, cerca de 20 vezes inferior ao número de casais que quer adotar.
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E então, se vamos a falar de crianças bebês brancas sem doenças, é exponencialmente inferior o número de crianças que estão disponíveis para adoção do que os casais que queria adotar. Daí o tempo. A criança quando tem um processo, a adoção rapidamente é adotada. Quando tem estas idades contra adolescentes, não conseguimos a família que está à espera porque é uma expectativa errada.
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E o que é importante é um justo expetativas para dizer se calhar não é preciso mais candidatos à adoção nesta fase, porque já temos uma lista tão grande. Não é que não é que que nunca vai adotar. Porquê? Porque o número queria ser menor. Isso é uma coisa negativa, porque é um sintoma de desenvolvimento numa sociedade. Se for na Dinamarca e crianças dinamarquesas serem adotadas apenas na Dinamarca e residual Porque?
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Porque é um país que oferece condições às famílias para cuidarem das crianças, formos a países mais subdesenvolvidos, o nível da adoção é muito maior. Nós passávamos nos últimos 15 anos 600 para 150. Portanto, isto é um lado positivo. É que as crianças conseguiram estar num contexto familiar natural e não precisaram de ser adotadas agora, pois os casais querem adotar, ficam com o sentimento.
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Mas há tantas crianças em casas de acolhimento e não podem ser adotadas. Mas estamos a falar de adolescentes. 72% das crianças em casa, com imensos adolescentes com problemas de comportamento, com comportamentos delinquentes e essas famílias não querendo falar dessas crianças, portanto, há uma rejeição. Como é que se faz a avaliação destas, destas famílias que querem adoptar? Há todo um processo de avaliação com entrevistas psicológicas com domiciliares, falar com outros familiares que se vai avaliar as competências para exercício da parentalidade.
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A grande questão é como há uma fusão muito grande entre oferta e procura? Como estava a dizer muitas das vezes quiserem um bebé, podem ter oito anos a espera porque não há. E o problema é que ao fim de oito anos já somos outra pessoa. A diferença é muitas, as vezes temos espera. Faça uma expectativa de uma coisa que não acontece, é demolidor.
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E como nós sabemos que os casais também que não conseguem ter filhos e vão para os testes de fertilidade, o impacto que isto tem também na dinâmica familiar, conjugal e portanto, este tempo de espera para uma coisa que não vai acontecer ou se acontecer, vai ser daqui muito tempo, não é? Também tem um efeito negativo para as famílias.
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Portanto, eu acho que há muito tempo defendo, devia haver maior transparência para dizer não é necessário termos mais famílias candidatas à adoção porque não temos crianças adotadas. Ou então outra coisa que termos candidaturas para perfis de crianças com deficiência. Esses mais velhos, porque essa necessidade tem de ser ao contrário, fazer ao contrário. Em Espanha fazem isso, fazem campanhas para dizer precisamos de famílias adotivas para crianças com mais de 12 anos ou para crianças com deficiência e então as motivações é ajudar essa criança.
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E isso acontece em Portugal. Continuamos a pensar que a adoção é a cegonha que leva o bebé para casa da família. Isso é quase um mercado de bebés. No fundo, hoje comparado é mais pequeno que a generalidade das pessoas. Tem melhor por vontade e desejo, mas não é claramente coincidente com aquilo que é. As características e necessidades das crianças.
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E quando se faz a avaliação das famílias, podemos chegar à conclusão que aquela família definitivamente não é uma boa família para acolher uma criança, para adotar uma criança sem atenção, a família adotiva, a família, acolhimento tem características diferentes porque pretende se coisas diferentes. Mas sim, nós fazemos muito isso porque é diferente ser pai biológico do que acolher uma criança, porque estas crianças tiveram uma experiência traumática.
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E quando chegam ao contexto familiar, sobretudo o acolhimento familiar, uma criança de oito anos que viveu oito anos em contexto de vida, tudo de exclusão. E é num contexto em que foi vítima de experiências traumáticas. Quando chega a nossa família, traz questões. Não é que é difícil uma familiaridade precisa de nós. Temos que escolher famílias. Tenho essas competências plus e temos que as ajudar a lidar com essas situações, porque há um choque.
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E essas, essas crianças testam a família. Sim, isso é normal. Mas tem a ver com a questão da vinculação. E nós queremos testar. Eu dou lhe o exemplo. Quando o meu filho, o segundo filho, nasceu, o Pedro, o João estava habituado a ser filho único, não é? De repente, o pai com uma não col exime assim o papá pode pôr o Pedrinho no chão e vai brincar.
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Como é que ele gosta muito no chão? Isso é natural das crianças. As crianças, as crianças, as crianças também querem ter a segurança do seu amor, não é? E, portanto, sobretudo crianças que nunca tiveram esse amor. Quando têm alguém que gosta deles, há uma ambivalência eles vão fazer o quê? Aquilo que nós chamamos a psicologia. Vou atacar o vínculo para confirmar.
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Deixa lá ver se isto aguenta. Deixa lá ver se posso abonar na família. Esses vocês estão bons, estão palavras é um pouco isso. É esse abanar? Não, não provoca aí umas más tensões, sem dúvida. Por isso é que nós temos de preparar as famílias perceberem. Isto vai acontecer a priori. E elas acreditam. As pessoas contam querer ter. As crianças estão muito a pensar no bebé e no que não.
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Houve muito que nós devemos ter uma audição seletiva. Mas esse trabalho das equipas técnicas, nós temos de trabalhar muito com os miúdos. Pelos peritos não teve consigo e sem ver com ele, teve com a criança que ele tem tanta insegurança que já não suporta mais ser rejeitado. Então a primeira coisa que vai fazer é tentar rejeitar para ver se o aguentas ou não.
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E se tu não aguentar mais errar mais um como os outros todos e confirmo se tu aguentares, ele começa a ficar ambivalente. Eu costumo fazer esta metáfora. É como um surfista entrar no mar contra picado, não é? O que é difícil é passar a zona de rebentação. Às vezes a onda sobe e voltamos para trás e depois, quando passamos a zona de rebentação, o mar fica mais forte e aí sim conseguimos ter uma certa estabilidade.
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Quando nós estamos a falar de filhos biológicos e eles se portam mal, nossos pais, eu, pelo menos quando me zango, posso me zangar tranquila e à vontade, porque? Porque, porque me zango e sei que nada de substantivo vai mudar nessa nossa relação. Quero imaginar que nessa relação entre pais adoptantes e crianças que têm essa biblioteca de vida difícil, seja um pouco mais difícil estabelecer a fronteira.
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Sem dúvida, essa, essa e essa é um tema muito, o que é muito rica tecnicamente. Mas é muito efetivo que nós, como pais, nós não racionalizamos a relação com os nossos filhos. Nós agimos emocionalmente. Não é isso, meu filho. Fizeram grandes separados. É isso que eu estou cansado, porque? Porque nós também não podemos ter o modelo dos pais omnipotentes, que são perfeitos.
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Nós somos carne e osso e temos excessos. E às vezes, como é que a diferença é que é inequívoco? Nós temos esse ser, o meu filho, está tudo do lado o tempo todo. Lá vai para o quarto e vamos pensar um bocado, Já vamos falar isso, levantar a voz que não devo. Isso quer dizer isto por pedido, mas ele sabe que eu o amo e a seguir evolui.
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Reparo estas crianças, como tiveram muitas experiências traumáticas, a mesmo comportamento pode reativar sentimentos mais traumáticos e activar comportamentos. Não é que são mais críticos, portanto, não podemos agir apenas com o coração como fazemos com os nossos filhos. Temos que ter um pensamento sobre aquilo que nós fazemos, aquilo que eu chamo intencionalidade terapêutica. Um Quando, já agora, aparece uma criança que é adoptada no seio de uma família que está em princípio equilibrada e aparece essa criança que oferece esse amor, mas ao mesmo tempo uma biblioteca de vou testar a ver até onde é que aguentam as fundações daquela família também podem ficar em causa.
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Podem abalar, sem dúvida, sem dúvida. Por isso é que o acompanhamento técnico é muito importante. Aliás, eu conheço vários testemunhos de famílias que adoptaram frutinhos de acolhimento e eu gosto quando são muito genuínos e dizem muitas As vezes penso porque a verdade é esta nós muitas vezes pensei desistir. Isto é muito duro. E as pessoas que conseguem compreender porque é que aquilo funciona.
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Mas é preciso muito empenho, muito importante apoio das equipas. Nós temos equipas, estão disponíveis 24 horas por dia, de forma sempre ligado, porque quando acontece, as pessoas não podem ficar sozinhas com o problema. Tem que cuidar e ter ajuda, mas depois também quando se consegue superar essas adversidades, também ficamos mais ligados, ficamos mais com isso e também somos melhores pessoas e aprendemos melhor a olhar para a vida, não é?
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Portanto, se me é exigido que exista uma visão romântica sobre a coisa, mas também muito gratificante. E quando as coisas correm definitivamente mal, até me custa usar a palavra e é uma devolução. Não quero ficar com esta criança. Uma rejeição já aconteceu, não é de quer na adoção, no acolhimento familiar, nós temos cerca de 180 cria zero 500 familiar, temos um, Temos cerca de 1% de situações de crianças que tiveram que sair.
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Muitas das vezes também foi no processo de aprendizagem de métodos. Não é que nós pensamos esta família ser esta criança e depois lá chegando, porque a gente vai ver o sobrinho do que se percebe como um erro de avaliação de função e informação que nós temos também deveria ser residual. Seguimos aquela informação naquele dia e conseguimos projetar um determinado tipo de funcionamento.
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E nem sempre nem todos os casamentos são perfeitos à primeira vista, não é? Mas o que diria? O que diria? Era isto que. Mas da adoção também, porque muitas das vezes há um romantismo sobre a coisa e não quero estar com isto. As pessoas querem adotar, mas quando adotamos uma criança que tem teve dois anos acolhida numa instituição porque foi vítima de maus tratos, as próprias crianças não verbalizar o seu sofrimento.
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O sofrimento está. Eu costumo dizer, é como se os seus órgãos emocionais estivessem danificados por dentro, só que não são vistos. E geralmente depois, ali na fase de latência, até aos seis, dez anos, a coisa não é visível. Mas quando chega a pré adolescência, aquilo que era o sofrimento estava cá dentro. Muitas vezes, vezes há uma externalização e vem cá para fora e de repente diz Eu estou me.
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Se eu era tão quietinho, agora tenho este tipo de comportamentos, agora é agressivo, agora mente, agora rouba. Porquê? Porque esta criança muitas das vezes teve coisas difíceis de gerir emocionalmente, com as quais teve sozinha. Por isso é que é muito importante o acompanhamento. Nós não temos agora como programa que é que que novo, que é muito importante na nossa opinião, que o acompanhamento após a adoção.
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Um casal quando adota tem que ter, tem como e porque atualmente, quando se adota, acabou, portanto, o Dr. João sensível e o filho e segue a vida é o que nós estamos a tentar fazer. É um projeto que é voluntário, mas com uma grande aceitação das famílias. E nós queremos continuar a vida das famílias adotivas não como imposição, não como vitimização, mas como uma relação de ajuda para quando começam a haver questões difíceis de digerir.
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Tem um outro filho biológico e esta criança começa a bater o outro, ou que é o outro a dizer agora o que é isto em casa? Estas coisas acontecem e é importante que as famílias fiquem sozinhas com isto e portanto, nós temos estar na relação de ajuda com as famílias para em conjunto, conseguimos ajudar a que consigam lidar com estas situações e nesse caderno imaginário ou real que mantenha ao longo dos últimos anos, onde é que estão as histórias que mais me encheram o coração?
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Eu assimilei um pouco melhor uma coisa eu estou há 25 anos do sistema. Eu bati durante 20 anos para ver que o limite familiar em Portugal e quando conseguimos finalmente lançar o programa de acolhimento familiar, aí estamos a aprender. Fomos, claro que fomos castrar, fomos estudar todos os modelos que vi na União Europeia, ver quais é que eram as melhores práticas termos colegas nossos foram um Quem andava com pessoas que não queriam lá porque temos que aprender a fazer bem.
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E quando nós percebemos que as crianças. Eu agora já não tanto, mas ao início todas as crianças que entravam nós tirávamos. Temos o grupo do WhatsApp, que é da família e com a família para trocarem fotografias a partilhar com a família de origem, porque quem está no filme de acolhimento tira a fotografia e manda para o nosso técnico, manda para os pais biológicos que eles terem acesso e nos meses ano estava e linha com quase todos as situações de uma coisa que é absolutamente inacreditável, que é a cara da fotografia da criança quando é tirada tinha sempre um ar triste, cansado, fechado, às vezes bebés recém nascidos passado uma semana e outra criança com os
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olhos a brilhar. A magia do ambiente familiar é uma coisa altamente mágica. Eu sei. Isto nos livros, mas ver isto na realidade é uma coisa absolutamente emocionante. Isso E nós temos famílias de grande qualidade. Nós temos famílias que têm cinco filhos e que acolhe núcleo familiar. Nós temos um caso de uma criança finlandesa cujos pais voltaram para a Finlândia e, passado três anos continuam a ter contacto com a família de acolhimento e fazem times e vêm cá visitar.
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E, portanto, como eu costumo dizer, o amor acrescenta sempre. A criança teve uma relação de amor na família, de acolhimento, volta para a família de origem, é adotado e transporta esse amor para outra relação e, portanto, atenua, portanto, não retrai. Isso é ser uma coisa positiva. Nada como puxar com esperança. Afinal, aquilo que todos nós, os mais afortunados sabemos, pode ser replicado nas vidas das crianças que foram maltratadas pelas suas famílias desde tenra idade.
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É bom saber que as missões de resgate podem, afinal, ter finais felizes até para a semana.
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