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Paris: Artista brasileira transfigura olhar pós-colonial sobre corpos dissidentes com violência do metal

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Aos 30 anos recém completos, a artista brasileira Lyz Parayzo instalou sua Tempête Magique (Tempestade Mágica) sob os gigantescos arcos de metal do Grande Pavilhão de La Villette, em Paris, logo na abertura da 100% L'Expo, uma iniciativa do Ministério da Cultura da França que visa dar vitrine a jovens artistas saídos de grandes escolas de arte. Mulher transexual, racializada e nascida em Campo Grande, na periferia do Rio, a brasileira instalou em Paris seus móbiles de aço e violência.

"Na verdade, eu comecei a fazer ações estéticas e políticas, intervenções não oficiais no Rio de Janeiro e em São Paulo. É justamente porque eu sempre desejei redistribuir as violências que eu sofria, seja como transexual na cidade, seja como artista periférica, racializada, e como mulher transexual no mundo das artes", conta Lyz Parayzo, que recebeu a RFI no parque de La Villette, no leste de Paris.

"Eu comecei com o corpo porque a minha formação era mais performática, no Parque Lage, [escola de arte] no Rio de Janeiro. A nossa finalização plástica era o corpo, era a ação. Então eu estava sempre em diálogo com os lugares que eu transitava", sinaliza Parayzo.

"Então, mesmo se no Parque Lage eu sofria diversas violências, por ser um lugar classista, racista ou etc, eu fazia intervenções de arte, por exemplo. Então sempre foi um mecanismo de receber as violências a partir do meu trabalho de arte", conta. "Depois, aqui na França [na prestigiosa escola de Beaux-Arts, em Paris], quando eu fiz o mestrado sobre [a artista plástica brasileira] Lygia Clark, que eu comecei a pensar que isso na verdade foi um processo de terapia, de cura para mim mesma", estima a artista.

"Assim começa o lugar da violência no lugar de reconfiguração, de retribuição. É para criar também, não um ataque direto, mas um debate público. Esse trabalho tem unidades de violência. Então é muito mais sobre os outros do que sobre mim mesma", analisa.

Neta de ourives: esculturas como projeções do corpo

Lyz conta que "para chegar nesse trabalho, foram anos de pesquisa". "Eu comecei a fazer esculturas em 2017; meu avô era ourives, então eu cresci vendo meu avô fazendo joias no último quartinho da casa onde a gente morava. Então eu comecei minhas primeiras esculturas em metal, que foram uma transição da performance para um objeto - as joias de prata, que eram joias bélicas para autodefesa, porque eu estava meu trabalho de performance era um lugar de crítica institucional", sublinha a artista.

"O meu corpo é um signo com muitos códigos, que catalisa várias violências por seus recortes. Ser uma pessoa racializada ser uma mulher trans, ser um de um lugar periférico, então como fazer um objeto que desse conta da ausência do meu corpo nos espaços tradicionais de arte?", questiona.

"Então tinham que ser jóias esses objetos, que eram extensões do corpo. Meu trabalho sempre teve relação com o corpo, eu fazia essas jóias de autodefesa. Depois fiz uma série chamada Bichinhas com alumínio [referência à série Bichos, de Lygia Clark], que era ressignificar essa história da arte branca, cisgênera", diz. "Como uma pessoa que nasceu em 1994 vai rever uma produção da década de 1960?", provoca a brasileira.

"Tempestade Mágica"

"Sobre a Tempête Magique, coincidentemente foi muito curioso esse nome porque eu comecei a estudar a história das bruxas, uma perseguição misógina dos séculos 14 e 15. E quando eu comecei a ler os livros eu me dei conta que, nossa, ser uma trans em 2024 é como ser uma bruxa no século 14", compara.

"Porque as trans não colonizaram nenhum país, não fizeram nenhum genocídio internacional, mas somos perseguidas justamente pela questão de nosso gênero não ser tão normativo. E aí eu comecei a pensar também nesses objetos [as esculturas] não mais só lugar muito explícito da transidentidade, mas também com um lugar mágico", elocubra.

"A obra se chama tempestades, porque são 10 obras suspensas, todas a 3m e 50 do chão, por questões de segurança, e são espirais que têm formas bélicas, formas cortantes... E também uma forma sedutora, né, porque uma espiral também seduz, elas também giram com com vento. E, além disso, todas as esculturas são acompanhadas por canhões de luz rosa que fazem refletir as formas no teto e fazem uma sombra com desenho das espirais planificadas no chão: é um trabalho óptico e cinético", explica a artista, que já conta com convites para trabalhos em diversos outros centros europeus.

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"Na verdade, eu comecei a fazer ações estéticas e políticas, intervenções não oficiais no Rio de Janeiro e em São Paulo. É justamente porque eu sempre desejei redistribuir as violências que eu sofria, seja como transexual na cidade, seja como artista periférica, racializada, e como mulher transexual no mundo das artes", conta Lyz Parayzo, que recebeu a RFI no parque de La Villette, no leste de Paris.

"Eu comecei com o corpo porque a minha formação era mais performática, no Parque Lage, [escola de arte] no Rio de Janeiro. A nossa finalização plástica era o corpo, era a ação. Então eu estava sempre em diálogo com os lugares que eu transitava", sinaliza Parayzo.

"Então, mesmo se no Parque Lage eu sofria diversas violências, por ser um lugar classista, racista ou etc, eu fazia intervenções de arte, por exemplo. Então sempre foi um mecanismo de receber as violências a partir do meu trabalho de arte", conta. "Depois, aqui na França [na prestigiosa escola de Beaux-Arts, em Paris], quando eu fiz o mestrado sobre [a artista plástica brasileira] Lygia Clark, que eu comecei a pensar que isso na verdade foi um processo de terapia, de cura para mim mesma", estima a artista.

"Assim começa o lugar da violência no lugar de reconfiguração, de retribuição. É para criar também, não um ataque direto, mas um debate público. Esse trabalho tem unidades de violência. Então é muito mais sobre os outros do que sobre mim mesma", analisa.

Neta de ourives: esculturas como projeções do corpo

Lyz conta que "para chegar nesse trabalho, foram anos de pesquisa". "Eu comecei a fazer esculturas em 2017; meu avô era ourives, então eu cresci vendo meu avô fazendo joias no último quartinho da casa onde a gente morava. Então eu comecei minhas primeiras esculturas em metal, que foram uma transição da performance para um objeto - as joias de prata, que eram joias bélicas para autodefesa, porque eu estava meu trabalho de performance era um lugar de crítica institucional", sublinha a artista.

"O meu corpo é um signo com muitos códigos, que catalisa várias violências por seus recortes. Ser uma pessoa racializada ser uma mulher trans, ser um de um lugar periférico, então como fazer um objeto que desse conta da ausência do meu corpo nos espaços tradicionais de arte?", questiona.

"Então tinham que ser jóias esses objetos, que eram extensões do corpo. Meu trabalho sempre teve relação com o corpo, eu fazia essas jóias de autodefesa. Depois fiz uma série chamada Bichinhas com alumínio [referência à série Bichos, de Lygia Clark], que era ressignificar essa história da arte branca, cisgênera", diz. "Como uma pessoa que nasceu em 1994 vai rever uma produção da década de 1960?", provoca a brasileira.

"Tempestade Mágica"

"Sobre a Tempête Magique, coincidentemente foi muito curioso esse nome porque eu comecei a estudar a história das bruxas, uma perseguição misógina dos séculos 14 e 15. E quando eu comecei a ler os livros eu me dei conta que, nossa, ser uma trans em 2024 é como ser uma bruxa no século 14", compara.

"Porque as trans não colonizaram nenhum país, não fizeram nenhum genocídio internacional, mas somos perseguidas justamente pela questão de nosso gênero não ser tão normativo. E aí eu comecei a pensar também nesses objetos [as esculturas] não mais só lugar muito explícito da transidentidade, mas também com um lugar mágico", elocubra.

"A obra se chama tempestades, porque são 10 obras suspensas, todas a 3m e 50 do chão, por questões de segurança, e são espirais que têm formas bélicas, formas cortantes... E também uma forma sedutora, né, porque uma espiral também seduz, elas também giram com com vento. E, além disso, todas as esculturas são acompanhadas por canhões de luz rosa que fazem refletir as formas no teto e fazem uma sombra com desenho das espirais planificadas no chão: é um trabalho óptico e cinético", explica a artista, que já conta com convites para trabalhos em diversos outros centros europeus.

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