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Retrospectiva 2023: a cultura como forma de protesto e de alívio em tempos difíceis

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O ano de 2023 foi de muita cultura na programação da RFI Brasil. Nossa equipe vistou as principais exposições de arte não só da França, mas pelo continente europeu. Acompanhamos juntos o lançamento de obras de escritores brasileiros na Europa, comemoramos o reconhecimento de diretores nacionais nos principais festivais de cinema do mundo e nos encantamos com as histórias contadas por meio de fotografias, quadrinhos e encenações teatrais.

Porém, foi também um ano em que guerras e conflitos tomaram conta do noticiário, e a cultura, como não podia deixar de ser, respondeu como forma de protesto contra esses movimentos ou para mostrar que a arte e o belo ainda prosperam, mesmo em tempos difíceis.

Pinturas, esculturas e artes plásticas

No campo das artes é possível destacar homenagens a grandes nomes da pintura e da escultura, como a mostra que comemorou os 50 anos da morte de Pablo Picasso e a exposição que reúne, no Museu d’Orsay, as obras de Vincent Van Gogh no período passado no pequeno vilarejo de Auvers-sur-Oise, a cerca de 30 km de Paris, onde o artista viveu, morreu e está enterrado.

Ainda no d’Orsay, uma outra exposição traçou um paralelo entre as obras de Edouard Manet e Edgard Degas, dois pintores que foram contemporâneos, frequentaram os mesmos círculos artísticos, mas seguiram caminhos diferentes, sempre mantendo uma certa rivalidade artística.

Voltando um pouco mais no tempo, até o século 17, fomos até Amsterdam e Delft, na Holanda, para acompanhar duas exposições em homenagem ao mestre holandês Johannes Vermeer, nascido em 1632. Hester Schölvinck, chefe de coleção e apresentação do museu Prinsenhof, falou sobre a exposição “Delft de Vermeer”.

“O objetivo da exposição é mostrar a Delft do século 17, período em que Vermeer viveu na cidade. Partimos do começo, com o que conhecemos e tentamos ir além,” contou.

Artistas estrangeiros também foram destaque neste último ano aqui em Paris. A Fundação Louis Vuitton apresentou uma retrospectiva do artista americano Mark Rothko, um dos nomes mais importantes da pintura do século 20, ligado ao expressionismo abstrato.

Já a exposição Paris et Nulle Part Ailleurs (Paris e nenhum outro lugar), reproduz a efervescência da capital francesa nos anos 1950 e 1960. Destacando os artistas estrangeiros que influenciaram a cidade-luz no pós-guerra, a mostra reuniu obras que narram o exílio, voluntário ou não, e a relação estabelecida com a França, como explica o curador, Jean-Paul Ameline:

“Havia cerca de 7 mil a 8 mil artistas estrangeiros presentes em Paris nesses anos do pós-guerra, o que é evidentemente enorme. Nós escolhemos 24 que são característicos de diferentes tipos de expressão neste momento. Não mostramos apenas pinturas e esculturas, mas também colagem de objetos, que são importantes, e instalações, porque Paris era também um lugar onde outros movimentos se desenvolviam”.

Meio ambiente como expressão cultural

O meio ambiente e a cultura brasileira também foram temas de exposições artísticas. A mostra “Antes da tempestade”, apresentada pela coleção Pinault, no prédio histórico da Bolsa de Comércio de Paris, convidou a uma reflexão sobre as mudanças climáticas. E em Lodève, no sul da França, um misterioso mecenas francês apresentou a Ivonne Papin-Drastik, diretora do museu local, a sua curiosa e vasta coleção de pinturas brasileiras datadas do século 20. As obras foram catalogadas, organizadas e apresentadas na mostra "Brasil, Identidades", como ela mesma conta.

“Para dizer a verdade, foi ele quem entrou em contato comigo e sugeriu que eu fosse ver sua coleção. A principio não vi uma maneira de como poderia encontrar uma forma coerente de mostrar esses pintores diferentes no Museu de Lodève. Então decidi pesquisar sobre esses artistas e percebi que havia um aspecto interessante, que é essa questão da identificação com o território e a impregnação desse imaginário que podemos ter”, explicou.

"Arado Torcido"

Na literatura, diversos lançamentos de autores brasileiros marcaram o ano por aqui. O best-seller “Torto Arado” ganhou uma versão em espanhol, intitulada “Arado Torcido”. O autor, Itamar Vieira Júnior, participou de uma série de eventos em Madri sobre realidade rural brasileira relacionados à obra.

Foi também a vez de obras focadas em temas sensíveis. O repórter João Alencar contou à RFI a experiência de cobrir um dos conflitos de maior impacto na geopolítica mundial no início do século 21. No livro “Ao Vivo da Ucrânia”, ele revela atrocidades cometidas por russos na guerra que dura quase três anos.

Já a advogada e escritora Ruth Manus percorreu as cidades francesas de Paris e Lyon, além de fazer uma visita à Genebra, para o lançamento em francês de seu "Guia Prático do Antimachismo", que busca tratar do tema com pedagogia e, ao mesmo tempo, com ativismo e combatividade, como ela contou em visita aos nossos estúdios.

“Eu adoraria que este fosse um livro 'démodé', que fosse um tema que já ficou no passado. Mas não é. Não é no Brasil, nem em Portugal, nem na França e imagino que isso se estenda a outros países. Fico muito feliz pela oportunidade de publicar aqui, mas ao mesmo tempo, fico triste de ver que num país desenvolvido como a França isso também seja necessário” comentou.

Histórias do Brasil em Quadrinhos

Apesar de ser um tipo de literatura muito apreciada pelas crianças, as histórias em quadrinhos também podem abordar temas sociais e históricos bastante complexos. No último mês de setembro, o quadrinista franco-brasileiro Matthias Lehmann lançou o álbum “Chumbo” que, mesmo sendo em francês, conta a saga de uma família durante os anos de ditadura no Brasil. O autor contou para a RFI de onde surgiu a inspiração para o trabalho.

“A minha mãe casou com um francês, veio morar na França há 40 anos e ela tinha uma saudade tremenda da familia, do Brasil e ela transmitiu esse sentimento para mim e minhas irmãs. Crescemos com esse apego muito forte pelo Brasil e sempre quisemos reafirmar esse lado brasileiro. Fazer o 'Chumbo' foi uma maneira de explorar a história brasileira, entender melhor o que é o Brasil e qual é o meu relacionamento com este país,” explicou.

Vale destacar que as HQs são tema de um importante evento literário, que acontece na França todos os anos no mês de janeiro, o Festival Internacional de Histórias em Quadrinhos de Angoulême. O quadrinista brasileiro Marcello Quintanilha, que já conquistou dois prêmios no festival, teve uma retrospectiva da sua obra apresentada no icônico Museu de História em Quadrinhos de Bruxelas.

“É incrível ter a possibilidade de expor no Centre Belge de la Bande Dessinée aqui em Bruxelas, porque Bruxelas é quase uma segunda pátria para as pessoas que se dedicam aos quadrinhos. Todo esse ambiente no que se refere ao quadrinho belga e franco-belga em maior medida é um ambiente no qual eu estou muito familiarizado”, afirmou.

A sétima arte em 2023

No cinema, os festivais europeus, mais uma vez, deram espaço para as temáticas brasileiras. O realizador carioca Leonardo Martinelli foi o vencedor do prêmio de melhor curta do Festival de Cinema Latino-Americano de Biarritz, com o filme Fantasma Neon.

Já a edição de 2023 do Festival do Curta-Metragem de Clermont-Ferrand premiou as cineastas brasileiras Clara Anastácia e Gabriela Gaia Meirelles pelo filme “Escasso”. Elas conversaram com a RFI e falaram um pouco sobre esse projeto. Anastácia explica que a obra mistura um melodrama com a estética das favelas do Rio, focando no audiovisual brasileiro.

“Escasso é uma entrevista, basicamente é um falso documentário. Um grupo de estudantes, ou de jornalistas, ou de filmmakers – a gente não coloca isso em pauta – vai entrevistar essa mulher para entender qual é a dela nessa casa. A partir disso, ele discute território, ocupação, identidade, fé, culinária, entre muitas outras coisas, dentro de uma estética da comédia e desse humor trágico que o carioca tem”, descreve.

Impossível falar em cinema sem falar no Festival de Cannes. Apesar de o Brasil não ter sido premiado, a participação do país na última edição do evento foi considerada um sucesso. Seis filmes foram selecionados em várias mostras e a presença no “Mercado do Filme” foi relevante.

O chefe de Promoção Cultural do Instituto Guimarães Rosa do Itamaraty, Adam Jayme Muniz, falou sobre a importância da promoção do audiovisual como mecanismo de diplomacia cultural do Brasil.

“O audiovisual é estratégico porque, de todas as linguagens artísticas e culturais, é a que consegue de forma mais eficaz promover a imagem do país no exterior. O audiovisual dialoga com todas as outras linguagens, a literatura, a música, a arte. É nesse contexto que o audiovisual se posiciona de forma estratégica e conta com esse apoio grande de diferentes agências do governo federal”, disse.

Fotojornalismo ovacionado

Na fotografia, 2023 teve, como destaque, o mestre Sebastião Salgado apadrinhando um prêmio com tema humanista e ambientalista em Paris; moradores apresentando seus olhares pessoais do 11º distrito da capital francesa e o fotógrafo Emílio de Azevedo fazendo uma releitura das expedições do marechal Rondon, através do resgate dos arquivos militares e de viagens à Amazônia.

Teve também o festival de fotojornalismo Visa pour l’Image, que aproximou o público europeu de temas latino-americanos em Perpignan, no sul da França, no mês de setembro. O fotógrafo brasileiro Francisco Proner, que cobriu as eleições presidenciais de 2022 para o jornal francês Le Monde, teve sua obra apresentada e ovacionada pelo público presente.

“O Brasil está muito em alta na Europa, tem muitas matérias sobre o Brasil, muito interesse, e acredito que os aplausos que recebi também foram para a vitória do Lula e para a derrota do Bolsonaro, não necessariamente para as fotos”, opinou.

Teatro, circo e dança

No teatro, circo, dança e política se misturaram em "23 fragments de ces derniers jours" (23 fragmentos dos últimos dias), um espetáculo bilíngue apresentado no Teatro Silvia Monfort. Enquanto o Festival de Avignon, no sul da França, destacou o trabalho da diretora Carolina Bianchi, uma das apostas da programação. E o Brasil esteve presente ainda no maior festival de marionetes do mundo, que contou com a participação do diretor Paulo Balardim com o espetáculo Habite-Moi, ou Habite-me, numa tradução livre para português.

"O espetáculo não apresenta uma história linear, mas três quadros que são intercalados por entreatos, que vão mesclar teatro de bonecos, máscaras e dança", diz. "É um jogo da atriz em cena. Ele vai orbitar no limite entre o inanimado e a vida e, dessa forma, fazer surgir presenças que vão contracenar com ela. Para isso, os bonecos vão adquirir vida e, à medida que vão sendo evocados, criam uma realidade ficcional íntima", completou.

Há 60 anos, o Festival de Charleville-Mézières reúne artistas, marionetistas e um público de 170 mil pessoas para assistir às produções de mais de 80 companhias, de 25 países.

No campo da cultura, o ano de 2023 foi de grandes eventos e importantes realizações não só para artistas e produtores, mas também para o público interessado, que pôde se divertir, se informar, torcer e se apaixonar com as obras, filmes, coreografias e espetáculos. E se “A arte é a mentira que nos permite conhecer a verdade”, como disse Pablo Picasso, que em 2024 possamos continuar a descobrir o mundo por meio da arte em todas as suas formas de expressão.

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O ano de 2023 foi de muita cultura na programação da RFI Brasil. Nossa equipe vistou as principais exposições de arte não só da França, mas pelo continente europeu. Acompanhamos juntos o lançamento de obras de escritores brasileiros na Europa, comemoramos o reconhecimento de diretores nacionais nos principais festivais de cinema do mundo e nos encantamos com as histórias contadas por meio de fotografias, quadrinhos e encenações teatrais.

Porém, foi também um ano em que guerras e conflitos tomaram conta do noticiário, e a cultura, como não podia deixar de ser, respondeu como forma de protesto contra esses movimentos ou para mostrar que a arte e o belo ainda prosperam, mesmo em tempos difíceis.

Pinturas, esculturas e artes plásticas

No campo das artes é possível destacar homenagens a grandes nomes da pintura e da escultura, como a mostra que comemorou os 50 anos da morte de Pablo Picasso e a exposição que reúne, no Museu d’Orsay, as obras de Vincent Van Gogh no período passado no pequeno vilarejo de Auvers-sur-Oise, a cerca de 30 km de Paris, onde o artista viveu, morreu e está enterrado.

Ainda no d’Orsay, uma outra exposição traçou um paralelo entre as obras de Edouard Manet e Edgard Degas, dois pintores que foram contemporâneos, frequentaram os mesmos círculos artísticos, mas seguiram caminhos diferentes, sempre mantendo uma certa rivalidade artística.

Voltando um pouco mais no tempo, até o século 17, fomos até Amsterdam e Delft, na Holanda, para acompanhar duas exposições em homenagem ao mestre holandês Johannes Vermeer, nascido em 1632. Hester Schölvinck, chefe de coleção e apresentação do museu Prinsenhof, falou sobre a exposição “Delft de Vermeer”.

“O objetivo da exposição é mostrar a Delft do século 17, período em que Vermeer viveu na cidade. Partimos do começo, com o que conhecemos e tentamos ir além,” contou.

Artistas estrangeiros também foram destaque neste último ano aqui em Paris. A Fundação Louis Vuitton apresentou uma retrospectiva do artista americano Mark Rothko, um dos nomes mais importantes da pintura do século 20, ligado ao expressionismo abstrato.

Já a exposição Paris et Nulle Part Ailleurs (Paris e nenhum outro lugar), reproduz a efervescência da capital francesa nos anos 1950 e 1960. Destacando os artistas estrangeiros que influenciaram a cidade-luz no pós-guerra, a mostra reuniu obras que narram o exílio, voluntário ou não, e a relação estabelecida com a França, como explica o curador, Jean-Paul Ameline:

“Havia cerca de 7 mil a 8 mil artistas estrangeiros presentes em Paris nesses anos do pós-guerra, o que é evidentemente enorme. Nós escolhemos 24 que são característicos de diferentes tipos de expressão neste momento. Não mostramos apenas pinturas e esculturas, mas também colagem de objetos, que são importantes, e instalações, porque Paris era também um lugar onde outros movimentos se desenvolviam”.

Meio ambiente como expressão cultural

O meio ambiente e a cultura brasileira também foram temas de exposições artísticas. A mostra “Antes da tempestade”, apresentada pela coleção Pinault, no prédio histórico da Bolsa de Comércio de Paris, convidou a uma reflexão sobre as mudanças climáticas. E em Lodève, no sul da França, um misterioso mecenas francês apresentou a Ivonne Papin-Drastik, diretora do museu local, a sua curiosa e vasta coleção de pinturas brasileiras datadas do século 20. As obras foram catalogadas, organizadas e apresentadas na mostra "Brasil, Identidades", como ela mesma conta.

“Para dizer a verdade, foi ele quem entrou em contato comigo e sugeriu que eu fosse ver sua coleção. A principio não vi uma maneira de como poderia encontrar uma forma coerente de mostrar esses pintores diferentes no Museu de Lodève. Então decidi pesquisar sobre esses artistas e percebi que havia um aspecto interessante, que é essa questão da identificação com o território e a impregnação desse imaginário que podemos ter”, explicou.

"Arado Torcido"

Na literatura, diversos lançamentos de autores brasileiros marcaram o ano por aqui. O best-seller “Torto Arado” ganhou uma versão em espanhol, intitulada “Arado Torcido”. O autor, Itamar Vieira Júnior, participou de uma série de eventos em Madri sobre realidade rural brasileira relacionados à obra.

Foi também a vez de obras focadas em temas sensíveis. O repórter João Alencar contou à RFI a experiência de cobrir um dos conflitos de maior impacto na geopolítica mundial no início do século 21. No livro “Ao Vivo da Ucrânia”, ele revela atrocidades cometidas por russos na guerra que dura quase três anos.

Já a advogada e escritora Ruth Manus percorreu as cidades francesas de Paris e Lyon, além de fazer uma visita à Genebra, para o lançamento em francês de seu "Guia Prático do Antimachismo", que busca tratar do tema com pedagogia e, ao mesmo tempo, com ativismo e combatividade, como ela contou em visita aos nossos estúdios.

“Eu adoraria que este fosse um livro 'démodé', que fosse um tema que já ficou no passado. Mas não é. Não é no Brasil, nem em Portugal, nem na França e imagino que isso se estenda a outros países. Fico muito feliz pela oportunidade de publicar aqui, mas ao mesmo tempo, fico triste de ver que num país desenvolvido como a França isso também seja necessário” comentou.

Histórias do Brasil em Quadrinhos

Apesar de ser um tipo de literatura muito apreciada pelas crianças, as histórias em quadrinhos também podem abordar temas sociais e históricos bastante complexos. No último mês de setembro, o quadrinista franco-brasileiro Matthias Lehmann lançou o álbum “Chumbo” que, mesmo sendo em francês, conta a saga de uma família durante os anos de ditadura no Brasil. O autor contou para a RFI de onde surgiu a inspiração para o trabalho.

“A minha mãe casou com um francês, veio morar na França há 40 anos e ela tinha uma saudade tremenda da familia, do Brasil e ela transmitiu esse sentimento para mim e minhas irmãs. Crescemos com esse apego muito forte pelo Brasil e sempre quisemos reafirmar esse lado brasileiro. Fazer o 'Chumbo' foi uma maneira de explorar a história brasileira, entender melhor o que é o Brasil e qual é o meu relacionamento com este país,” explicou.

Vale destacar que as HQs são tema de um importante evento literário, que acontece na França todos os anos no mês de janeiro, o Festival Internacional de Histórias em Quadrinhos de Angoulême. O quadrinista brasileiro Marcello Quintanilha, que já conquistou dois prêmios no festival, teve uma retrospectiva da sua obra apresentada no icônico Museu de História em Quadrinhos de Bruxelas.

“É incrível ter a possibilidade de expor no Centre Belge de la Bande Dessinée aqui em Bruxelas, porque Bruxelas é quase uma segunda pátria para as pessoas que se dedicam aos quadrinhos. Todo esse ambiente no que se refere ao quadrinho belga e franco-belga em maior medida é um ambiente no qual eu estou muito familiarizado”, afirmou.

A sétima arte em 2023

No cinema, os festivais europeus, mais uma vez, deram espaço para as temáticas brasileiras. O realizador carioca Leonardo Martinelli foi o vencedor do prêmio de melhor curta do Festival de Cinema Latino-Americano de Biarritz, com o filme Fantasma Neon.

Já a edição de 2023 do Festival do Curta-Metragem de Clermont-Ferrand premiou as cineastas brasileiras Clara Anastácia e Gabriela Gaia Meirelles pelo filme “Escasso”. Elas conversaram com a RFI e falaram um pouco sobre esse projeto. Anastácia explica que a obra mistura um melodrama com a estética das favelas do Rio, focando no audiovisual brasileiro.

“Escasso é uma entrevista, basicamente é um falso documentário. Um grupo de estudantes, ou de jornalistas, ou de filmmakers – a gente não coloca isso em pauta – vai entrevistar essa mulher para entender qual é a dela nessa casa. A partir disso, ele discute território, ocupação, identidade, fé, culinária, entre muitas outras coisas, dentro de uma estética da comédia e desse humor trágico que o carioca tem”, descreve.

Impossível falar em cinema sem falar no Festival de Cannes. Apesar de o Brasil não ter sido premiado, a participação do país na última edição do evento foi considerada um sucesso. Seis filmes foram selecionados em várias mostras e a presença no “Mercado do Filme” foi relevante.

O chefe de Promoção Cultural do Instituto Guimarães Rosa do Itamaraty, Adam Jayme Muniz, falou sobre a importância da promoção do audiovisual como mecanismo de diplomacia cultural do Brasil.

“O audiovisual é estratégico porque, de todas as linguagens artísticas e culturais, é a que consegue de forma mais eficaz promover a imagem do país no exterior. O audiovisual dialoga com todas as outras linguagens, a literatura, a música, a arte. É nesse contexto que o audiovisual se posiciona de forma estratégica e conta com esse apoio grande de diferentes agências do governo federal”, disse.

Fotojornalismo ovacionado

Na fotografia, 2023 teve, como destaque, o mestre Sebastião Salgado apadrinhando um prêmio com tema humanista e ambientalista em Paris; moradores apresentando seus olhares pessoais do 11º distrito da capital francesa e o fotógrafo Emílio de Azevedo fazendo uma releitura das expedições do marechal Rondon, através do resgate dos arquivos militares e de viagens à Amazônia.

Teve também o festival de fotojornalismo Visa pour l’Image, que aproximou o público europeu de temas latino-americanos em Perpignan, no sul da França, no mês de setembro. O fotógrafo brasileiro Francisco Proner, que cobriu as eleições presidenciais de 2022 para o jornal francês Le Monde, teve sua obra apresentada e ovacionada pelo público presente.

“O Brasil está muito em alta na Europa, tem muitas matérias sobre o Brasil, muito interesse, e acredito que os aplausos que recebi também foram para a vitória do Lula e para a derrota do Bolsonaro, não necessariamente para as fotos”, opinou.

Teatro, circo e dança

No teatro, circo, dança e política se misturaram em "23 fragments de ces derniers jours" (23 fragmentos dos últimos dias), um espetáculo bilíngue apresentado no Teatro Silvia Monfort. Enquanto o Festival de Avignon, no sul da França, destacou o trabalho da diretora Carolina Bianchi, uma das apostas da programação. E o Brasil esteve presente ainda no maior festival de marionetes do mundo, que contou com a participação do diretor Paulo Balardim com o espetáculo Habite-Moi, ou Habite-me, numa tradução livre para português.

"O espetáculo não apresenta uma história linear, mas três quadros que são intercalados por entreatos, que vão mesclar teatro de bonecos, máscaras e dança", diz. "É um jogo da atriz em cena. Ele vai orbitar no limite entre o inanimado e a vida e, dessa forma, fazer surgir presenças que vão contracenar com ela. Para isso, os bonecos vão adquirir vida e, à medida que vão sendo evocados, criam uma realidade ficcional íntima", completou.

Há 60 anos, o Festival de Charleville-Mézières reúne artistas, marionetistas e um público de 170 mil pessoas para assistir às produções de mais de 80 companhias, de 25 países.

No campo da cultura, o ano de 2023 foi de grandes eventos e importantes realizações não só para artistas e produtores, mas também para o público interessado, que pôde se divertir, se informar, torcer e se apaixonar com as obras, filmes, coreografias e espetáculos. E se “A arte é a mentira que nos permite conhecer a verdade”, como disse Pablo Picasso, que em 2024 possamos continuar a descobrir o mundo por meio da arte em todas as suas formas de expressão.

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