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Retrospectiva em Paris revisita obra de Mark Rothko, mestre das emoções através do abstrato

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A Fundação Louis Vuitton, de Paris, apresenta uma retrospectiva do artista americano Mark Rothko (1903-1970), um dos nomes mais importantes da pintura do século 20, ligado ao expressionismo abstrato.

Patrícia Moribe, da RFI

Rothko ficou conhecido por suas telas de grande formato, muitas vezes lidando com retângulos de contornos fluídos e paletas distintas – seja o laranja, amarelo e rosa ou de tons mais sombrios. Seu objetivo, sempre, era exprimir “as emoções humanas fundamentais” através de seus abstratos.

Marcus Rotkovitch nasceu em 1903 no antigo império russo, em um território que hoje faz parte da Letônia. A ameaça de pogroms contra judeus fez com que a família tomasse a decisão de imigrar. Ele chegou aos dez anos aos Estados Unidos e se instalou em Portland. Aluno brilhante, começou a estudar em Yale, mas resolveu se fixar em Nova York em 1923, passando a se dedicar à sua verdadeira vocação – as Artes. Naturalizado americano em 1938, ele adotou o nome de Mark Rothko dois anos depois.

A última retrospectiva de Rothko na capital francesa aconteceu em 1999, no Museu de Arte Moderna. São mais de 115 obras de coleções privadas e de museus internacionais.

A visita é cronológica. Na primeira sala, podemos ver ainda telas figurativas, esboços humanos, além de um único autorretrato de Rothko.

“O que se vê neste espaço são pinturas com temas europeus bastante tradicionais, nus, cenas da vida cotidiana, um autorretrato, paisagens urbanas. Mas já existe um certo estilo próprio, temas que aparecem nestas obras figurativas e que serão encontrados mais tarde nas suas obras abstratas"; explica Gaelle Melin, mediadora cultural da Fundação Louis Vuitton.

"Se olharmos para os retratos, já podemos perceber que Mark Rothko não aprendeu o realismo nas escolas de desenho e pintura. Existem problemas de proporção, não há uma representação exata do corpo. Seu objetivo antes de tudo é expressar um sentimento”, explica Melin, destacando os rostos vagos, a perspectiva chapada e as cores lavadas.

"Tudo isso acontece entre 1938 e 1939, que não é um período muito feliz nos Estados Unidos. Para Mark Rothko, também não é um começo de vida muito fácil. Após fugir dos pogroms, houve a Primeira Grande Guerra Mundial e a quebra da Bolsa em 1929. A situação econômica é difícil e a Segunda Guerra se aproxima. Entao ele expressa o sentimento de uma época bastante triste, onde as pessoas estão um tanto isoladas umas das outras. Ele vai continuar a pintar e a pensar sobre o papel do artista. Faz sentido continuar a pintar retratos, cenas do cotidiano, naturezas-mortas, nus? A resposta geral será não, mas o que devemos fazer? Mark Rothko mergulha em um novo projeto bastante ambicioso. Ele quer falar do drama humano, da tragédia de existir", relata a mediadora.

Rothko segue explorando a mitologia e bebendo nas inspirações surrealistas e desenvolve as chamadas pinturas Multiformes. Nas décadas de 1940 e 1950 surgem suas telas “clássicas”, totalmente abstratas, com algumas formas retangulares de contornos indefinidos e cores gritantes. Os formatos ganham em dimensão, ele explora outras paletas de cores, resultando em explosões sensoriais.

"Para o meu pai, a cor sempre foi um meio para atingir um fim, não um fim em si", explicou Christopher Rothko, filho do artista e co-curador da exposição em Paris, a Siegfried Forster, da RFI. "Ele não está interessado em estudar as cores, para ele a cor é um meio de evocar uma emoção. Não se trata de evocar uma emoção com o amarelo e outra com o azul. Essas cores existem em várias camadas profundas. Por exemplo, numa pintura, o que percebemos como laranja é composto de muitas camadas que podem conter vermelhos, brancos e rosa. De certa forma, essas cores são como as nossas próprias emoções. Nós também não sentimos apenas uma coisa. Na realidade, vivenciamos sentimentos muito complexos que se acumulam para criar a sensação que estamos sentindo em um determinado momento. Para meu pai, essas camadas de cor são uma forma de captar a complexidade do que sentimos".

"Graças à internet e às redes sociais, muito mais pessoas têm uma ideia de Rothko", diz o filho do artista, questionado sobre as influências da vida digital no trabalho de Rothko, apresentado pela última vez em Paris há duas décadas. "Muito mais pessoas pensam que conhecem o trabalho de Rothko. Mas, assim que se entra na exposição, é clara a sensação da importância física da pintura. O desafio deste trabalho não é ter apenas uma troca visual. Esta pintura realmente requer uma troca física com você. Meu pai falava da dimensão tátil, da credibilidade de uma pintura, porque você tem a impressão de sentir a presença de alguma coisa no ambiente. É uma sensação física. Isso é muito importante para obter a experiência completa de Rothko", explica.

Cores sombrias

No final dos anos 1950, as cores ficam sombrias, com tons escuros. Em junho de 1958, Rothko aceita uma encomenda para decorar as paredes do restaurante concebido pelo arquiteto Philip Johnson, no icônico e recém-inaugurado arranha-céu de outro mito da arquitetura, Mies van der Rohe, o prédio Seagram. Um ano depois, Rothko desiste do projeto, pois acha que suas obras não são compatíveis em um espaço de restauração. Dez anos depois, ele doa nove painéis da série à Tate Britain de Londres, encantado com a ideia de estar no mesmo prédio de um pintor inglês que ele admira, Turner, que é o grande destaque da Tate Britain.

A exposição parisiense destaca também a série Black and Gray (1969-1970), em que ele explora as fronteiras e embates do preto e do cinza. A presença de esculturas de Giacometti evocam uma encomenda monumental feita pela Unesco a Rothko, em 1969, para a nova sede do organismo em Paris. Mas, em julho, Rothko anula o contrato, mas continua trabalhando na série. O artista se suicida em fevereiro de 1970.

Em 2012, o quadro Laranja, Vermelho, Amarelo, de 1961, estipulou um novo recorde para uma obra de Mark Rothko, leiloado por mais de US$ 86 milhões. A retrospectiva de Mark Rothko fica em cartaz em Paris até 2 de abril de 2024.

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Patrícia Moribe, da RFI

Rothko ficou conhecido por suas telas de grande formato, muitas vezes lidando com retângulos de contornos fluídos e paletas distintas – seja o laranja, amarelo e rosa ou de tons mais sombrios. Seu objetivo, sempre, era exprimir “as emoções humanas fundamentais” através de seus abstratos.

Marcus Rotkovitch nasceu em 1903 no antigo império russo, em um território que hoje faz parte da Letônia. A ameaça de pogroms contra judeus fez com que a família tomasse a decisão de imigrar. Ele chegou aos dez anos aos Estados Unidos e se instalou em Portland. Aluno brilhante, começou a estudar em Yale, mas resolveu se fixar em Nova York em 1923, passando a se dedicar à sua verdadeira vocação – as Artes. Naturalizado americano em 1938, ele adotou o nome de Mark Rothko dois anos depois.

A última retrospectiva de Rothko na capital francesa aconteceu em 1999, no Museu de Arte Moderna. São mais de 115 obras de coleções privadas e de museus internacionais.

A visita é cronológica. Na primeira sala, podemos ver ainda telas figurativas, esboços humanos, além de um único autorretrato de Rothko.

“O que se vê neste espaço são pinturas com temas europeus bastante tradicionais, nus, cenas da vida cotidiana, um autorretrato, paisagens urbanas. Mas já existe um certo estilo próprio, temas que aparecem nestas obras figurativas e que serão encontrados mais tarde nas suas obras abstratas"; explica Gaelle Melin, mediadora cultural da Fundação Louis Vuitton.

"Se olharmos para os retratos, já podemos perceber que Mark Rothko não aprendeu o realismo nas escolas de desenho e pintura. Existem problemas de proporção, não há uma representação exata do corpo. Seu objetivo antes de tudo é expressar um sentimento”, explica Melin, destacando os rostos vagos, a perspectiva chapada e as cores lavadas.

"Tudo isso acontece entre 1938 e 1939, que não é um período muito feliz nos Estados Unidos. Para Mark Rothko, também não é um começo de vida muito fácil. Após fugir dos pogroms, houve a Primeira Grande Guerra Mundial e a quebra da Bolsa em 1929. A situação econômica é difícil e a Segunda Guerra se aproxima. Entao ele expressa o sentimento de uma época bastante triste, onde as pessoas estão um tanto isoladas umas das outras. Ele vai continuar a pintar e a pensar sobre o papel do artista. Faz sentido continuar a pintar retratos, cenas do cotidiano, naturezas-mortas, nus? A resposta geral será não, mas o que devemos fazer? Mark Rothko mergulha em um novo projeto bastante ambicioso. Ele quer falar do drama humano, da tragédia de existir", relata a mediadora.

Rothko segue explorando a mitologia e bebendo nas inspirações surrealistas e desenvolve as chamadas pinturas Multiformes. Nas décadas de 1940 e 1950 surgem suas telas “clássicas”, totalmente abstratas, com algumas formas retangulares de contornos indefinidos e cores gritantes. Os formatos ganham em dimensão, ele explora outras paletas de cores, resultando em explosões sensoriais.

"Para o meu pai, a cor sempre foi um meio para atingir um fim, não um fim em si", explicou Christopher Rothko, filho do artista e co-curador da exposição em Paris, a Siegfried Forster, da RFI. "Ele não está interessado em estudar as cores, para ele a cor é um meio de evocar uma emoção. Não se trata de evocar uma emoção com o amarelo e outra com o azul. Essas cores existem em várias camadas profundas. Por exemplo, numa pintura, o que percebemos como laranja é composto de muitas camadas que podem conter vermelhos, brancos e rosa. De certa forma, essas cores são como as nossas próprias emoções. Nós também não sentimos apenas uma coisa. Na realidade, vivenciamos sentimentos muito complexos que se acumulam para criar a sensação que estamos sentindo em um determinado momento. Para meu pai, essas camadas de cor são uma forma de captar a complexidade do que sentimos".

"Graças à internet e às redes sociais, muito mais pessoas têm uma ideia de Rothko", diz o filho do artista, questionado sobre as influências da vida digital no trabalho de Rothko, apresentado pela última vez em Paris há duas décadas. "Muito mais pessoas pensam que conhecem o trabalho de Rothko. Mas, assim que se entra na exposição, é clara a sensação da importância física da pintura. O desafio deste trabalho não é ter apenas uma troca visual. Esta pintura realmente requer uma troca física com você. Meu pai falava da dimensão tátil, da credibilidade de uma pintura, porque você tem a impressão de sentir a presença de alguma coisa no ambiente. É uma sensação física. Isso é muito importante para obter a experiência completa de Rothko", explica.

Cores sombrias

No final dos anos 1950, as cores ficam sombrias, com tons escuros. Em junho de 1958, Rothko aceita uma encomenda para decorar as paredes do restaurante concebido pelo arquiteto Philip Johnson, no icônico e recém-inaugurado arranha-céu de outro mito da arquitetura, Mies van der Rohe, o prédio Seagram. Um ano depois, Rothko desiste do projeto, pois acha que suas obras não são compatíveis em um espaço de restauração. Dez anos depois, ele doa nove painéis da série à Tate Britain de Londres, encantado com a ideia de estar no mesmo prédio de um pintor inglês que ele admira, Turner, que é o grande destaque da Tate Britain.

A exposição parisiense destaca também a série Black and Gray (1969-1970), em que ele explora as fronteiras e embates do preto e do cinza. A presença de esculturas de Giacometti evocam uma encomenda monumental feita pela Unesco a Rothko, em 1969, para a nova sede do organismo em Paris. Mas, em julho, Rothko anula o contrato, mas continua trabalhando na série. O artista se suicida em fevereiro de 1970.

Em 2012, o quadro Laranja, Vermelho, Amarelo, de 1961, estipulou um novo recorde para uma obra de Mark Rothko, leiloado por mais de US$ 86 milhões. A retrospectiva de Mark Rothko fica em cartaz em Paris até 2 de abril de 2024.

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