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Única bailarina brasileira na Ópera de Paris fará seus primeiros solos no clássico ‘Paquita’
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Luciana Sagioro, de 18 anos, a primeira bailarina de nacionalidade brasileira a integrar o balé da Ópera de Paris, terá seus primeiros solos no espetáculo 'Paquita', em cartaz na Ópera Bastilha até o dia 4 de janeiro de 2025. Natural de Juiz de Fora, ela entrou para o corpo de baile - com contrato profissional vitalício até sua aposentadoria - no cargo de base Quadrille. Mas em menos de um ano, Luciana foi promovida à Coryphées, se destacando mais uma vez.
Luiza Ramos, de Paris
A primeira e, até hoje, única brasileira a ingressar na equipe de dançarinos na história do balé da Ópera de Paris foi recentemente promovida e fará seus primeiros solos no clássico 'Paquita', em cartaz na Ópera Bastilha. O espetáculo, criado na própria Ópera de Paris em 1846, faz sucesso devido as suas danças alegres e por ser um balé em que os dançarinos se manifestam por gestos e mímicas.
Foi dançando um trecho de 'Paquita' que Luciana Sagioro venceu o concurso Prix de Lausanne, em 2022, aos 16 anos, quando conquistou uma vaga na prestigiada Escola de balé parisiense. Em 2024, ela foi contratada para o corpo de baile no cargo chamado Quadrille. Em menos de um ano, Luciana já foi promovida à Coryphée, se destacando mais uma vez.
Como Coryphée, Luciana terá mais destaques no corpo de baile, e por isso, alcançou a possibilidade de realizar alguns solos em 'Paquita' - nos dias 23 e 30 de dezembro e no dia 3 de janeiro.
“A Ópera de Paris são 154 bailarinos. Somos muitos e todos muito bons, todos com uma grande excelência. Eu sempre soube que eu tinha minhas qualidades e que eu queria muito ser promovida de ano em ano, de temporada em temporada, para continuar a minha progressão. Mas eu sabia que seria muito difícil com a qualidade de todas as bailarinas do corpo de baile”, reconhece a jovem.
“Eu precisei realmente trabalhar muito para isso. Não é muito comum, no primeiro ano de trabalho, já conseguir ser promovida. Então realmente eu sou muito grata por isso. Mas tudo foi pago com muito trabalho, então eu sei que eu fiz muito para chegar lá”, acredita a dançarina.
A carreira de bailarina
Na progressão profissional na Ópera de Paris após o Coryphée vêm os Sujets, que são os solistas fixos. Depois, o profissional da dança pode ser promovido a Primeiro Bailarino ou Primeira Bailarina, que fazem os papéis principais dos espetáculos. Por último, o mais alto cargo da companhia, conhecido como Étoile - a Estrela -, ao contrário dos outros cargos, não passa por concurso, e sim por nomeação da diretoria da instituição.
Luciana, que estuda balé desde os 3 anos de idade, convenceu seus pais a se mudar para o Rio de Janeiro aos 10 anos com a babá para se profissionalizar em dança. A jovem mora há três anos na capital francesa, enquanto seus pais e suas duas irmãs gêmeas mais novas continuam em Juiz de Fora. Ela, que afirma ter “um orgulho enorme de ser brasileira”, desde criança abdicou do convívio com a família pelo sonho da profissão de bailarina, que lamenta não poder ser vivido no seu país.
“Infelizmente, hoje, como bailarina, se você escolhe essa profissão e quer realmente se dedicar a 100% e ser valorizado pela profissão que escolheu, você não consegue ser bem pago no Brasil. Desde pequena eu soube, eu pesquisei que para ser bailarina profissional você vai ter que sair do seu país”, diz Luciana Sagioro.
Inclusão de talentos na Ópera de Paris
A Ópera de Paris vem, há alguns anos, tentado ser mais inclusiva. Em 2021, a direção tomou a decisão inédita de revisar seus critérios de recrutamento para encorajar a entrada de artistas que não sejam brancos e contratou um "fiscal da diversidade", a exemplo do Metropolitan Opera de Nova York. Em 2023, a tradicional instituição francesa nomeou pela primeira vez em três séculos de existência um bailarino negro como Étoile, Guillaume Diop, um dos raros dançarinos negros ou mestiços da instituição.
Como a primeira bailarina brasileira a ingressar na aclamada Ópera de Paris, Luciana afirma que o Brasil é rico em potencial para a dança. “Somos um país de muitos talentos”, confirma ela ao apontar nomes que se destacam no mundo das artes, dança e esportes na cena internacional. Luciana cita dançarinas em quem se espelha:
“Eu tenho uma grande inspiração na minha antiga mestre, a Patrícia Salgado, que foi minha mestre de balé, foi uma grande bailarina solista no balé de Stuttgard na Alemanha. Ela me inspirou muito pela forma que aprendeu tudo como bailarina, mas pela forma que ela transmite hoje como professora. A bailarina Mayara Magri, Étoile do Royal Ballet em Londres, brasileira também. E a Dorothée Gilbert, Étoile aqui da Ópera de Paris, é uma grande inspiração e hoje divido o palco com ela. Isso é demais! Marianela Nuñez também, outra grande Étoile do Royal Ballet em Londres. A lista é enorme, mas essas são algumas”, brinca.
Sonhar e realizar é possível
A mineira admira muitos artistas, mas também quer inspirar outros jovens brasileiros. Ela planeja em um dia poder ajudar outros bailarinos a alcançarem seus objetivos.
“Hoje, com meu papel, sendo bailarina da Ópera de Paris, eu crio a esperança nas pessoas de que elas são capazes de realizar os sonhos delas. E o meu maior sonho como bailarina brasileira, vendo a situação do meu país, que infelizmente é um país que é pobre, não tem muitos recursos, como aqui na França, é criar uma associação que possa ajudar bailarinos que tenham os mesmos sonhos que um dia eu tive, mas não tenham a mesma facilidade, os mesmos recursos que eu tive, graças a minha família”, agradece Luciana.
“Eu abdiquei realmente de muitas coisas. Nada disso foi fácil, foi muito trabalho, muita dedicação, muito esforço. É isso que eu quero inspirar nas pessoas. Muitas pessoas desistem porque o caminho é muito difícil e poucas pessoas falam do quão difícil é. A gente fala do glamour que chegar até lá. A gente fala que é muito gratificante, mas a gente esquece que a trajetória, os caminhos, foram difíceis”, pondera.
Para Luciana, a força do sonho fala mais alto. “Muitas coisas vão tentar impedir que você alcance seus sonhos. Mas se você não for mais forte que tudo isso, ninguém vai ser por você. Sempre falo [que] tudo é possível, basta só você acreditar”, declara.
A temporada de 'Paquita', que começou no início de dezembro e termina em 4 de janeiro de 2025, ainda tem ingressos disponíveis no site oficial da Ópera de Paris. Mas quem não conseguir ver a mineira Luciana Sagioro nesta temporada no clássico palco francês, terá ainda muitas oportunidades em espetáculos futuros. Afinal, a carreira da jovem cheia de brilho nos olhos pela dança está apenas começando.
72 episódios
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Luciana Sagioro, de 18 anos, a primeira bailarina de nacionalidade brasileira a integrar o balé da Ópera de Paris, terá seus primeiros solos no espetáculo 'Paquita', em cartaz na Ópera Bastilha até o dia 4 de janeiro de 2025. Natural de Juiz de Fora, ela entrou para o corpo de baile - com contrato profissional vitalício até sua aposentadoria - no cargo de base Quadrille. Mas em menos de um ano, Luciana foi promovida à Coryphées, se destacando mais uma vez.
Luiza Ramos, de Paris
A primeira e, até hoje, única brasileira a ingressar na equipe de dançarinos na história do balé da Ópera de Paris foi recentemente promovida e fará seus primeiros solos no clássico 'Paquita', em cartaz na Ópera Bastilha. O espetáculo, criado na própria Ópera de Paris em 1846, faz sucesso devido as suas danças alegres e por ser um balé em que os dançarinos se manifestam por gestos e mímicas.
Foi dançando um trecho de 'Paquita' que Luciana Sagioro venceu o concurso Prix de Lausanne, em 2022, aos 16 anos, quando conquistou uma vaga na prestigiada Escola de balé parisiense. Em 2024, ela foi contratada para o corpo de baile no cargo chamado Quadrille. Em menos de um ano, Luciana já foi promovida à Coryphée, se destacando mais uma vez.
Como Coryphée, Luciana terá mais destaques no corpo de baile, e por isso, alcançou a possibilidade de realizar alguns solos em 'Paquita' - nos dias 23 e 30 de dezembro e no dia 3 de janeiro.
“A Ópera de Paris são 154 bailarinos. Somos muitos e todos muito bons, todos com uma grande excelência. Eu sempre soube que eu tinha minhas qualidades e que eu queria muito ser promovida de ano em ano, de temporada em temporada, para continuar a minha progressão. Mas eu sabia que seria muito difícil com a qualidade de todas as bailarinas do corpo de baile”, reconhece a jovem.
“Eu precisei realmente trabalhar muito para isso. Não é muito comum, no primeiro ano de trabalho, já conseguir ser promovida. Então realmente eu sou muito grata por isso. Mas tudo foi pago com muito trabalho, então eu sei que eu fiz muito para chegar lá”, acredita a dançarina.
A carreira de bailarina
Na progressão profissional na Ópera de Paris após o Coryphée vêm os Sujets, que são os solistas fixos. Depois, o profissional da dança pode ser promovido a Primeiro Bailarino ou Primeira Bailarina, que fazem os papéis principais dos espetáculos. Por último, o mais alto cargo da companhia, conhecido como Étoile - a Estrela -, ao contrário dos outros cargos, não passa por concurso, e sim por nomeação da diretoria da instituição.
Luciana, que estuda balé desde os 3 anos de idade, convenceu seus pais a se mudar para o Rio de Janeiro aos 10 anos com a babá para se profissionalizar em dança. A jovem mora há três anos na capital francesa, enquanto seus pais e suas duas irmãs gêmeas mais novas continuam em Juiz de Fora. Ela, que afirma ter “um orgulho enorme de ser brasileira”, desde criança abdicou do convívio com a família pelo sonho da profissão de bailarina, que lamenta não poder ser vivido no seu país.
“Infelizmente, hoje, como bailarina, se você escolhe essa profissão e quer realmente se dedicar a 100% e ser valorizado pela profissão que escolheu, você não consegue ser bem pago no Brasil. Desde pequena eu soube, eu pesquisei que para ser bailarina profissional você vai ter que sair do seu país”, diz Luciana Sagioro.
Inclusão de talentos na Ópera de Paris
A Ópera de Paris vem, há alguns anos, tentado ser mais inclusiva. Em 2021, a direção tomou a decisão inédita de revisar seus critérios de recrutamento para encorajar a entrada de artistas que não sejam brancos e contratou um "fiscal da diversidade", a exemplo do Metropolitan Opera de Nova York. Em 2023, a tradicional instituição francesa nomeou pela primeira vez em três séculos de existência um bailarino negro como Étoile, Guillaume Diop, um dos raros dançarinos negros ou mestiços da instituição.
Como a primeira bailarina brasileira a ingressar na aclamada Ópera de Paris, Luciana afirma que o Brasil é rico em potencial para a dança. “Somos um país de muitos talentos”, confirma ela ao apontar nomes que se destacam no mundo das artes, dança e esportes na cena internacional. Luciana cita dançarinas em quem se espelha:
“Eu tenho uma grande inspiração na minha antiga mestre, a Patrícia Salgado, que foi minha mestre de balé, foi uma grande bailarina solista no balé de Stuttgard na Alemanha. Ela me inspirou muito pela forma que aprendeu tudo como bailarina, mas pela forma que ela transmite hoje como professora. A bailarina Mayara Magri, Étoile do Royal Ballet em Londres, brasileira também. E a Dorothée Gilbert, Étoile aqui da Ópera de Paris, é uma grande inspiração e hoje divido o palco com ela. Isso é demais! Marianela Nuñez também, outra grande Étoile do Royal Ballet em Londres. A lista é enorme, mas essas são algumas”, brinca.
Sonhar e realizar é possível
A mineira admira muitos artistas, mas também quer inspirar outros jovens brasileiros. Ela planeja em um dia poder ajudar outros bailarinos a alcançarem seus objetivos.
“Hoje, com meu papel, sendo bailarina da Ópera de Paris, eu crio a esperança nas pessoas de que elas são capazes de realizar os sonhos delas. E o meu maior sonho como bailarina brasileira, vendo a situação do meu país, que infelizmente é um país que é pobre, não tem muitos recursos, como aqui na França, é criar uma associação que possa ajudar bailarinos que tenham os mesmos sonhos que um dia eu tive, mas não tenham a mesma facilidade, os mesmos recursos que eu tive, graças a minha família”, agradece Luciana.
“Eu abdiquei realmente de muitas coisas. Nada disso foi fácil, foi muito trabalho, muita dedicação, muito esforço. É isso que eu quero inspirar nas pessoas. Muitas pessoas desistem porque o caminho é muito difícil e poucas pessoas falam do quão difícil é. A gente fala do glamour que chegar até lá. A gente fala que é muito gratificante, mas a gente esquece que a trajetória, os caminhos, foram difíceis”, pondera.
Para Luciana, a força do sonho fala mais alto. “Muitas coisas vão tentar impedir que você alcance seus sonhos. Mas se você não for mais forte que tudo isso, ninguém vai ser por você. Sempre falo [que] tudo é possível, basta só você acreditar”, declara.
A temporada de 'Paquita', que começou no início de dezembro e termina em 4 de janeiro de 2025, ainda tem ingressos disponíveis no site oficial da Ópera de Paris. Mas quem não conseguir ver a mineira Luciana Sagioro nesta temporada no clássico palco francês, terá ainda muitas oportunidades em espetáculos futuros. Afinal, a carreira da jovem cheia de brilho nos olhos pela dança está apenas começando.
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