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Quando suspeitar de insuficiência cardíaca e consultar um cardiologista

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A insuficiência cardíaca crônica atinge cerca de 64 milhões de pessoas no mundo, segundo estimativas da OMS (Organização Mundial da Saúde). A doença é uma das maiores causas de internação no Brasil, de acordo com dados do Ministério da Saúde. A incidência é maior entre adultos com mais de 45 anos, mas o problema também afeta pacientes mais jovens.

Taíssa Stivanin, da RFI em Paris

A insuficiência cardíaca faz com que o coração não seja mais capaz de bombear sangue suficiente para suprir as necessidades orgânicas e provoca diversos sintomas, explica a cardiologista brasileira Lídia Moura, da Sociedade Brasileira de Cardiologia. O primeiro deles é a falta de ar, que chega ao ponto de o paciente, por exemplo, não conseguir mais ficar deitado.

“Normalmente o paciente começa a sentir falta de ar durante o esforço. Em geral, essa dificuldade para respirar é progressiva e se agrava em esforços menores. Nessa fase, o paciente terá dificuldade para se deitar. Ele se sente bem sentado e, quando se deita, a falta de ar piora”, explica a especialista brasileira, que lamenta a falta de informação em torno da patologia.

A gaúcha Katia Arruda, 63 anos, descobriu que tinha o problema cardíaco em 2020, durante a epidemia de Covid-19. A brasileira, que se diz “conectada nos 200 volts”, passou a sentir um cansaço fora do normal, que mudou completamente sua rotina. Katia, que também tem lúpus, uma doença autoimune, sentiu falta de ar, cansaço e suores, que a levaram a consultar um clínico-geral.

Depois de realizar um eletrocardiograma, ela buscou a opinião de dois cardiologistas. O primeiro especialista minimizou o problema e atrasou o diagnóstico. “Ele olhou para meu eletrocardiograma e disse: você está gorda, vai procurar uma nutricionista”, conta. “Mas eu já estava com insuficiência cardíaca e cardiomiopatia grau 3”, o que equivale a um estágio bem avançado da doença, comenta Katia.

O diagnóstico foi confirmado após a consulta com o segundo profissional, que pediu um ecocardiograma - exame que utiliza ondas sonoras para obter imagens do coração. “Não sei se estaria aqui hoje se não fosse ele. O médico falou que eu poderia ter morte súbita a qualquer momento”, comenta a brasileira, que chama o cardiologista de "anjo".

Apesar das dificuldades, Katia foi medicada, aos poucos foi melhorando e hoje convive com a doença. A brasileira também administra um grupo no Facebook de 8 mil pessoas que têm insuficiência cardíaca e podem trocar experiências. Mas ela ainda se lembra de como seu cotidiano mudou de maneira repentina quando os sintomas apareceram. “Fiquei dois anos sem varrer uma casa, sem limpar um banheiro, sem nada. Foi muito difícil”.

Esse cansaço extremo que Katia sentiu quando a doença se manifestou decorre do aumento de líquido no pulmão e é característico da insuficiência cardíaca. “Em pé, esse líquido fica mais acumulado na base do pulmão. Ao se deitar, ele se espalha automaticamente, gerando desconforto no paciente, que precisa mudar de posição. Ele tenta ficar mais ereto”, explica a cardiologista.

A evolução da doença provoca o aparecimento de inchaço nas pernas, que é bilateral e ocorre com mais frequência no final do dia, explica. Com o passar do tempo, de maneira progressiva, o paciente já acorda com braços ou pernas inchados.

O que causa a doença?

Há diversos fatores que podem desencadear a insuficiência cardíaca. De acordo com a especialista brasileira, a condição equivale à fase terminal das doenças do coração e no passado a taxa de sobrevida era baixa. Mas, como os tratamentos evoluíram muito ao longo dos anos, os pacientes vivem mais tempo e com mais qualidade de vida.

“Temos várias etiologias que causam a insuficiência cardíaca, como a Doença Valvar (NR: o grupo de deficiências ou anomalias nas valvas do coração – aórtica, mitral, pulmonar e tricúspide) ou a hipertensão. Outra causa comum no Brasil e outros países desenvolvidos é a doença coronariana. Os doentes hoje têm vários infartos e cada um deles causa uma lesão na massa muscular do ventrículo. Quando vários infartos se acumulam, gera uma grande lesão ventricular”, frisa a cardiologista.

Doenças como diabetes ou a obesidade também são um fator de risco. “Nesses casos, as insuficiências cardíacas ocorrem porque os corações não dilatam, ficam pequenos, mas endurecem muito. Hoje metade das insuficiências ocorre por dilatação e a outra metade porque o coração é pequeno e o relaxamento é ruim”, resume Lídia Moura.

Ela cita ainda outras causas, como a Doença de Chagas, ainda comum em algumas regiões do Brasil e outros países da América Latina. O excesso de bebida alcoólica também pode desencadear o problema. Tratamentos contra o câncer de mama ou ósseo também podem em alguns casos provocar a insuficiência cardíaca, que raramente surge sem uma outra comorbidade associada. Há ainda as cardiomiopatias genéticas, que exigem outros diagnósticos e tratamentos.

Em todos os casos, lembra a cardiologista Lídia Moura, o acompanhamento é sempre individual. O tratamento depende de diversos fatores e deve ser adaptado à condição de saúde do paciente e suas outras eventuais doenças para se obter um equilíbrio da situação. “Cada paciente é único e tem sua história”, resume.

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A insuficiência cardíaca crônica atinge cerca de 64 milhões de pessoas no mundo, segundo estimativas da OMS (Organização Mundial da Saúde). A doença é uma das maiores causas de internação no Brasil, de acordo com dados do Ministério da Saúde. A incidência é maior entre adultos com mais de 45 anos, mas o problema também afeta pacientes mais jovens.

Taíssa Stivanin, da RFI em Paris

A insuficiência cardíaca faz com que o coração não seja mais capaz de bombear sangue suficiente para suprir as necessidades orgânicas e provoca diversos sintomas, explica a cardiologista brasileira Lídia Moura, da Sociedade Brasileira de Cardiologia. O primeiro deles é a falta de ar, que chega ao ponto de o paciente, por exemplo, não conseguir mais ficar deitado.

“Normalmente o paciente começa a sentir falta de ar durante o esforço. Em geral, essa dificuldade para respirar é progressiva e se agrava em esforços menores. Nessa fase, o paciente terá dificuldade para se deitar. Ele se sente bem sentado e, quando se deita, a falta de ar piora”, explica a especialista brasileira, que lamenta a falta de informação em torno da patologia.

A gaúcha Katia Arruda, 63 anos, descobriu que tinha o problema cardíaco em 2020, durante a epidemia de Covid-19. A brasileira, que se diz “conectada nos 200 volts”, passou a sentir um cansaço fora do normal, que mudou completamente sua rotina. Katia, que também tem lúpus, uma doença autoimune, sentiu falta de ar, cansaço e suores, que a levaram a consultar um clínico-geral.

Depois de realizar um eletrocardiograma, ela buscou a opinião de dois cardiologistas. O primeiro especialista minimizou o problema e atrasou o diagnóstico. “Ele olhou para meu eletrocardiograma e disse: você está gorda, vai procurar uma nutricionista”, conta. “Mas eu já estava com insuficiência cardíaca e cardiomiopatia grau 3”, o que equivale a um estágio bem avançado da doença, comenta Katia.

O diagnóstico foi confirmado após a consulta com o segundo profissional, que pediu um ecocardiograma - exame que utiliza ondas sonoras para obter imagens do coração. “Não sei se estaria aqui hoje se não fosse ele. O médico falou que eu poderia ter morte súbita a qualquer momento”, comenta a brasileira, que chama o cardiologista de "anjo".

Apesar das dificuldades, Katia foi medicada, aos poucos foi melhorando e hoje convive com a doença. A brasileira também administra um grupo no Facebook de 8 mil pessoas que têm insuficiência cardíaca e podem trocar experiências. Mas ela ainda se lembra de como seu cotidiano mudou de maneira repentina quando os sintomas apareceram. “Fiquei dois anos sem varrer uma casa, sem limpar um banheiro, sem nada. Foi muito difícil”.

Esse cansaço extremo que Katia sentiu quando a doença se manifestou decorre do aumento de líquido no pulmão e é característico da insuficiência cardíaca. “Em pé, esse líquido fica mais acumulado na base do pulmão. Ao se deitar, ele se espalha automaticamente, gerando desconforto no paciente, que precisa mudar de posição. Ele tenta ficar mais ereto”, explica a cardiologista.

A evolução da doença provoca o aparecimento de inchaço nas pernas, que é bilateral e ocorre com mais frequência no final do dia, explica. Com o passar do tempo, de maneira progressiva, o paciente já acorda com braços ou pernas inchados.

O que causa a doença?

Há diversos fatores que podem desencadear a insuficiência cardíaca. De acordo com a especialista brasileira, a condição equivale à fase terminal das doenças do coração e no passado a taxa de sobrevida era baixa. Mas, como os tratamentos evoluíram muito ao longo dos anos, os pacientes vivem mais tempo e com mais qualidade de vida.

“Temos várias etiologias que causam a insuficiência cardíaca, como a Doença Valvar (NR: o grupo de deficiências ou anomalias nas valvas do coração – aórtica, mitral, pulmonar e tricúspide) ou a hipertensão. Outra causa comum no Brasil e outros países desenvolvidos é a doença coronariana. Os doentes hoje têm vários infartos e cada um deles causa uma lesão na massa muscular do ventrículo. Quando vários infartos se acumulam, gera uma grande lesão ventricular”, frisa a cardiologista.

Doenças como diabetes ou a obesidade também são um fator de risco. “Nesses casos, as insuficiências cardíacas ocorrem porque os corações não dilatam, ficam pequenos, mas endurecem muito. Hoje metade das insuficiências ocorre por dilatação e a outra metade porque o coração é pequeno e o relaxamento é ruim”, resume Lídia Moura.

Ela cita ainda outras causas, como a Doença de Chagas, ainda comum em algumas regiões do Brasil e outros países da América Latina. O excesso de bebida alcoólica também pode desencadear o problema. Tratamentos contra o câncer de mama ou ósseo também podem em alguns casos provocar a insuficiência cardíaca, que raramente surge sem uma outra comorbidade associada. Há ainda as cardiomiopatias genéticas, que exigem outros diagnósticos e tratamentos.

Em todos os casos, lembra a cardiologista Lídia Moura, o acompanhamento é sempre individual. O tratamento depende de diversos fatores e deve ser adaptado à condição de saúde do paciente e suas outras eventuais doenças para se obter um equilíbrio da situação. “Cada paciente é único e tem sua história”, resume.

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